Foram encontradas 60 questões.
ASSINALE A RESPOSTA CORRETA.
As palavras e as coisas
Antônio Prata
Entre as sugestões que vieram da editora sobre meu novo livro, havia a
de trocar "índios" por "indígenas". Sempre fui um defensor do politicamente correto. Algumas mudanças na ética verbal, porém, me parecem contraproducentes.
Em certo momento dos anos 90, "favela" virou "comunidade". "Favelado"
era um termo pejorativo e é compreensível que os moradores destas áreas não
quisessem ser chamados assim, mas mudar para "morador de comunidade", embora amacie na semântica, não leva água encanada, esgoto e luz para ninguém.
Pelo contrário.
A gente ouve "comunidade" e dá a impressão de que aquelas pessoas
estão todas de mãos dadas fazendo uma ciranda em torno da horta orgânica, não
apinhando-se em condições sub-humanas, sem esgoto, asfalto, educação, saúde.
Talvez fosse bom deixarmos o incômodo nos tomar toda vez que disséssemos ou ouvíssemos "favela" ou "favelados". Nosso objetivo deveria ser dar condições de vida decente praquela gente, não nos sentirmos confortáveis ao mencioná-la.
O mesmo vale para "morador em situação de rua". Parece que o cara teve
um problema pra voltar pra casa numa terça, dormiu "em situação de rua" num
4
ponto de ônibus e na quarta vai retornar ao conforto do lar. É mentira. A pessoa
que mora na rua tá ferrada, é alguém que perdeu tudo na vida, até virar "mendigo".
"Mendigo" é um termo horrível não porque as vogais e consoantes se juntem de forma deselegante, mas pelo que ele nomeia: gente que dorme na calçada,
revira lixo pra comer, não tem sequer acesso a um banheiro. Mas quando a gente
fala "morador em situação de rua" vem junto o mesmo morninho no coração de
"comunidade": essa situação, pensamos, é temporária. Vai mudar. Logo, logo, ele
estará em outra.
Não, não estará se não nos indignarmos com a indigência e agirmos. Algumas palavras têm que doer, porque a realidade dói. Do contrário, a linguagem
deixa de ser uma ferramenta que busca representar a vida como ela é e se torna
um tapume nos impedindo de enxergá-la.
Sobre "índios" e "indígenas", li alguns textos. Os argumentos giram em
torno do fato de "índio" ter se tornado um termo pejorativo, ligado aos preconceitos
que os brancos sempre tiveram com os povos originários da América: preguiçosos,
atrasados, primitivos.
Tá certo. Mas o problema, pensei, não tá no termo "índio", tá no preconceito do branco. Outro dia ouvi num podcast americano um escritor judeu indignado porque ele, que sempre chamou os de sua religião de "jews" (judeus), agora
tinha que dizer "jewish people" (pessoas judias). Como se houvesse algo de errado
em ser judeu, ele disse. Como se a mudança na nomenclatura incorporasse o preconceito, quando deveria ser justamente o contrário, feito os negros americanos
dos anos 70 dizendo "say it loud, I’m black and I’m proud!" ("diga alto, sou preto e
tenho orgulho!").
Eu estava errado. Fui salvo da ignorância por minha querida prima antropóloga, Florência Ferrari, e pelo mestre Sérgio Rodrigues. "Indígena" vem de "endógeno", aquele que pertence a um lugar. Ou seja: "povos indígenas" dão uma
ideia da multiplicidade de etnias que aqui estavam. "Índio" é uma generalização
preconceituosa, tipo "paraíba", no Rio, para se referir a qualquer nordestino ou
nortista. Maravilha. Sai "índio". Entra "indígena". Viva a Paraíba.
Disponível em: https://www1.folha.uol.com.br/colunas/antonioprata/2022/07/aspalavras-e-as-coisas.shtml (Adaptado) Acesso em: 22 set. 2022,
Provas
Questão presente nas seguintes provas
ASSINALE A RESPOSTA CORRETA.
As palavras e as coisas
Antônio Prata
Entre as sugestões que vieram da editora sobre meu novo livro, havia a
de trocar "índios" por "indígenas". Sempre fui um defensor do politicamente correto. Algumas mudanças na ética verbal, porém, me parecem contraproducentes.
Em certo momento dos anos 90, "favela" virou "comunidade". "Favelado"
era um termo pejorativo e é compreensível que os moradores destas áreas não
quisessem ser chamados assim, mas mudar para "morador de comunidade", embora amacie na semântica, não leva água encanada, esgoto e luz para ninguém.
Pelo contrário.
A gente ouve "comunidade" e dá a impressão de que aquelas pessoas
estão todas de mãos dadas fazendo uma ciranda em torno da horta orgânica, não
apinhando-se em condições sub-humanas, sem esgoto, asfalto, educação, saúde.
Talvez fosse bom deixarmos o incômodo nos tomar toda vez que disséssemos ou ouvíssemos "favela" ou "favelados". Nosso objetivo deveria ser dar condições de vida decente praquela gente, não nos sentirmos confortáveis ao mencioná-la.
O mesmo vale para "morador em situação de rua". Parece que o cara teve
um problema pra voltar pra casa numa terça, dormiu "em situação de rua" num
4
ponto de ônibus e na quarta vai retornar ao conforto do lar. É mentira. A pessoa
que mora na rua tá ferrada, é alguém que perdeu tudo na vida, até virar "mendigo".
"Mendigo" é um termo horrível não porque as vogais e consoantes se juntem de forma deselegante, mas pelo que ele nomeia: gente que dorme na calçada,
revira lixo pra comer, não tem sequer acesso a um banheiro. Mas quando a gente
fala "morador em situação de rua" vem junto o mesmo morninho no coração de
"comunidade": essa situação, pensamos, é temporária. Vai mudar. Logo, logo, ele
estará em outra.
Não, não estará se não nos indignarmos com a indigência e agirmos. Algumas palavras têm que doer, porque a realidade dói. Do contrário, a linguagem
deixa de ser uma ferramenta que busca representar a vida como ela é e se torna
um tapume nos impedindo de enxergá-la.
Sobre "índios" e "indígenas", li alguns textos. Os argumentos giram em
torno do fato de "índio" ter se tornado um termo pejorativo, ligado aos preconceitos
que os brancos sempre tiveram com os povos originários da América: preguiçosos,
atrasados, primitivos.
Tá certo. Mas o problema, pensei, não tá no termo "índio", tá no preconceito do branco. Outro dia ouvi num podcast americano um escritor judeu indignado porque ele, que sempre chamou os de sua religião de "jews" (judeus), agora
tinha que dizer "jewish people" (pessoas judias). Como se houvesse algo de errado
em ser judeu, ele disse. Como se a mudança na nomenclatura incorporasse o preconceito, quando deveria ser justamente o contrário, feito os negros americanos
dos anos 70 dizendo "say it loud, I’m black and I’m proud!" ("diga alto, sou preto e
tenho orgulho!").
Eu estava errado. Fui salvo da ignorância por minha querida prima antropóloga, Florência Ferrari, e pelo mestre Sérgio Rodrigues. "Indígena" vem de "endógeno", aquele que pertence a um lugar. Ou seja: "povos indígenas" dão uma
ideia da multiplicidade de etnias que aqui estavam. "Índio" é uma generalização
preconceituosa, tipo "paraíba", no Rio, para se referir a qualquer nordestino ou
nortista. Maravilha. Sai "índio". Entra "indígena". Viva a Paraíba.
Disponível em: https://www1.folha.uol.com.br/colunas/antonioprata/2022/07/aspalavras-e-as-coisas.shtml (Adaptado) Acesso em: 22 set. 2022,
Provas
Questão presente nas seguintes provas
ASSINALE A RESPOSTA CORRETA.
As palavras e as coisas
Antônio Prata
Entre as sugestões que vieram da editora sobre meu novo livro, havia a
de trocar "índios" por "indígenas". Sempre fui um defensor do politicamente correto. Algumas mudanças na ética verbal, porém, me parecem contraproducentes.
Em certo momento dos anos 90, "favela" virou "comunidade". "Favelado"
era um termo pejorativo e é compreensível que os moradores destas áreas não
quisessem ser chamados assim, mas mudar para "morador de comunidade", embora amacie na semântica, não leva água encanada, esgoto e luz para ninguém.
Pelo contrário.
A gente ouve "comunidade" e dá a impressão de que aquelas pessoas
estão todas de mãos dadas fazendo uma ciranda em torno da horta orgânica, não
apinhando-se em condições sub-humanas, sem esgoto, asfalto, educação, saúde.
Talvez fosse bom deixarmos o incômodo nos tomar toda vez que disséssemos ou ouvíssemos "favela" ou "favelados". Nosso objetivo deveria ser dar condições de vida decente praquela gente, não nos sentirmos confortáveis ao mencioná-la.
O mesmo vale para "morador em situação de rua". Parece que o cara teve
um problema pra voltar pra casa numa terça, dormiu "em situação de rua" num
4
ponto de ônibus e na quarta vai retornar ao conforto do lar. É mentira. A pessoa
que mora na rua tá ferrada, é alguém que perdeu tudo na vida, até virar "mendigo".
"Mendigo" é um termo horrível não porque as vogais e consoantes se juntem de forma deselegante, mas pelo que ele nomeia: gente que dorme na calçada,
revira lixo pra comer, não tem sequer acesso a um banheiro. Mas quando a gente
fala "morador em situação de rua" vem junto o mesmo morninho no coração de
"comunidade": essa situação, pensamos, é temporária. Vai mudar. Logo, logo, ele
estará em outra.
Não, não estará se não nos indignarmos com a indigência e agirmos. Algumas palavras têm que doer, porque a realidade dói. Do contrário, a linguagem
deixa de ser uma ferramenta que busca representar a vida como ela é e se torna
um tapume nos impedindo de enxergá-la.
Sobre "índios" e "indígenas", li alguns textos. Os argumentos giram em
torno do fato de "índio" ter se tornado um termo pejorativo, ligado aos preconceitos
que os brancos sempre tiveram com os povos originários da América: preguiçosos,
atrasados, primitivos.
Tá certo. Mas o problema, pensei, não tá no termo "índio", tá no preconceito do branco. Outro dia ouvi num podcast americano um escritor judeu indignado porque ele, que sempre chamou os de sua religião de "jews" (judeus), agora
tinha que dizer "jewish people" (pessoas judias). Como se houvesse algo de errado
em ser judeu, ele disse. Como se a mudança na nomenclatura incorporasse o preconceito, quando deveria ser justamente o contrário, feito os negros americanos
dos anos 70 dizendo "say it loud, I’m black and I’m proud!" ("diga alto, sou preto e
tenho orgulho!").
Eu estava errado. Fui salvo da ignorância por minha querida prima antropóloga, Florência Ferrari, e pelo mestre Sérgio Rodrigues. "Indígena" vem de "endógeno", aquele que pertence a um lugar. Ou seja: "povos indígenas" dão uma
ideia da multiplicidade de etnias que aqui estavam. "Índio" é uma generalização
preconceituosa, tipo "paraíba", no Rio, para se referir a qualquer nordestino ou
nortista. Maravilha. Sai "índio". Entra "indígena". Viva a Paraíba.
Disponível em: https://www1.folha.uol.com.br/colunas/antonioprata/2022/07/aspalavras-e-as-coisas.shtml (Adaptado) Acesso em: 22 set. 2022,
Provas
Questão presente nas seguintes provas
ASSINALE A RESPOSTA CORRETA.
As palavras e as coisas
Antônio Prata
Entre as sugestões que vieram da editora sobre meu novo livro, havia a
de trocar "índios" por "indígenas". Sempre fui um defensor do politicamente correto. Algumas mudanças na ética verbal, porém, me parecem contraproducentes.
Em certo momento dos anos 90, "favela" virou "comunidade". "Favelado"
era um termo pejorativo e é compreensível que os moradores destas áreas não
quisessem ser chamados assim, mas mudar para "morador de comunidade", embora amacie na semântica, não leva água encanada, esgoto e luz para ninguém.
Pelo contrário.
A gente ouve "comunidade" e dá a impressão de que aquelas pessoas
estão todas de mãos dadas fazendo uma ciranda em torno da horta orgânica, não
apinhando-se em condições sub-humanas, sem esgoto, asfalto, educação, saúde.
Talvez fosse bom deixarmos o incômodo nos tomar toda vez que disséssemos ou ouvíssemos "favela" ou "favelados". Nosso objetivo deveria ser dar condições de vida decente praquela gente, não nos sentirmos confortáveis ao mencioná-la.
O mesmo vale para "morador em situação de rua". Parece que o cara teve
um problema pra voltar pra casa numa terça, dormiu "em situação de rua" num
4
ponto de ônibus e na quarta vai retornar ao conforto do lar. É mentira. A pessoa
que mora na rua tá ferrada, é alguém que perdeu tudo na vida, até virar "mendigo".
"Mendigo" é um termo horrível não porque as vogais e consoantes se juntem de forma deselegante, mas pelo que ele nomeia: gente que dorme na calçada,
revira lixo pra comer, não tem sequer acesso a um banheiro. Mas quando a gente
fala "morador em situação de rua" vem junto o mesmo morninho no coração de
"comunidade": essa situação, pensamos, é temporária. Vai mudar. Logo, logo, ele
estará em outra.
Não, não estará se não nos indignarmos com a indigência e agirmos. Algumas palavras têm que doer, porque a realidade dói. Do contrário, a linguagem
deixa de ser uma ferramenta que busca representar a vida como ela é e se torna
um tapume nos impedindo de enxergá-la.
Sobre "índios" e "indígenas", li alguns textos. Os argumentos giram em
torno do fato de "índio" ter se tornado um termo pejorativo, ligado aos preconceitos
que os brancos sempre tiveram com os povos originários da América: preguiçosos,
atrasados, primitivos.
Tá certo. Mas o problema, pensei, não tá no termo "índio", tá no preconceito do branco. Outro dia ouvi num podcast americano um escritor judeu indignado porque ele, que sempre chamou os de sua religião de "jews" (judeus), agora
tinha que dizer "jewish people" (pessoas judias). Como se houvesse algo de errado
em ser judeu, ele disse. Como se a mudança na nomenclatura incorporasse o preconceito, quando deveria ser justamente o contrário, feito os negros americanos
dos anos 70 dizendo "say it loud, I’m black and I’m proud!" ("diga alto, sou preto e
tenho orgulho!").
Eu estava errado. Fui salvo da ignorância por minha querida prima antropóloga, Florência Ferrari, e pelo mestre Sérgio Rodrigues. "Indígena" vem de "endógeno", aquele que pertence a um lugar. Ou seja: "povos indígenas" dão uma
ideia da multiplicidade de etnias que aqui estavam. "Índio" é uma generalização
preconceituosa, tipo "paraíba", no Rio, para se referir a qualquer nordestino ou
nortista. Maravilha. Sai "índio". Entra "indígena". Viva a Paraíba.
Disponível em: https://www1.folha.uol.com.br/colunas/antonioprata/2022/07/aspalavras-e-as-coisas.shtml (Adaptado) Acesso em: 22 set. 2022,
Provas
Questão presente nas seguintes provas
ASSINALE A RESPOSTA CORRETA.
As palavras e as coisas
Antônio Prata
Entre as sugestões que vieram da editora sobre meu novo livro, havia a
de trocar "índios" por "indígenas". Sempre fui um defensor do politicamente correto. Algumas mudanças na ética verbal, porém, me parecem contraproducentes.
Em certo momento dos anos 90, "favela" virou "comunidade". "Favelado"
era um termo pejorativo e é compreensível que os moradores destas áreas não
quisessem ser chamados assim, mas mudar para "morador de comunidade", embora amacie na semântica, não leva água encanada, esgoto e luz para ninguém.
Pelo contrário.
A gente ouve "comunidade" e dá a impressão de que aquelas pessoas
estão todas de mãos dadas fazendo uma ciranda em torno da horta orgânica, não
apinhando-se em condições sub-humanas, sem esgoto, asfalto, educação, saúde.
Talvez fosse bom deixarmos o incômodo nos tomar toda vez que disséssemos ou ouvíssemos "favela" ou "favelados". Nosso objetivo deveria ser dar condições de vida decente praquela gente, não nos sentirmos confortáveis ao mencioná-la.
O mesmo vale para "morador em situação de rua". Parece que o cara teve
um problema pra voltar pra casa numa terça, dormiu "em situação de rua" num
4
ponto de ônibus e na quarta vai retornar ao conforto do lar. É mentira. A pessoa
que mora na rua tá ferrada, é alguém que perdeu tudo na vida, até virar "mendigo".
"Mendigo" é um termo horrível não porque as vogais e consoantes se juntem de forma deselegante, mas pelo que ele nomeia: gente que dorme na calçada,
revira lixo pra comer, não tem sequer acesso a um banheiro. Mas quando a gente
fala "morador em situação de rua" vem junto o mesmo morninho no coração de
"comunidade": essa situação, pensamos, é temporária. Vai mudar. Logo, logo, ele
estará em outra.
Não, não estará se não nos indignarmos com a indigência e agirmos. Algumas palavras têm que doer, porque a realidade dói. Do contrário, a linguagem
deixa de ser uma ferramenta que busca representar a vida como ela é e se torna
um tapume nos impedindo de enxergá-la.
Sobre "índios" e "indígenas", li alguns textos. Os argumentos giram em
torno do fato de "índio" ter se tornado um termo pejorativo, ligado aos preconceitos
que os brancos sempre tiveram com os povos originários da América: preguiçosos,
atrasados, primitivos.
Tá certo. Mas o problema, pensei, não tá no termo "índio", tá no preconceito do branco. Outro dia ouvi num podcast americano um escritor judeu indignado porque ele, que sempre chamou os de sua religião de "jews" (judeus), agora
tinha que dizer "jewish people" (pessoas judias). Como se houvesse algo de errado
em ser judeu, ele disse. Como se a mudança na nomenclatura incorporasse o preconceito, quando deveria ser justamente o contrário, feito os negros americanos
dos anos 70 dizendo "say it loud, I’m black and I’m proud!" ("diga alto, sou preto e
tenho orgulho!").
Eu estava errado. Fui salvo da ignorância por minha querida prima antropóloga, Florência Ferrari, e pelo mestre Sérgio Rodrigues. "Indígena" vem de "endógeno", aquele que pertence a um lugar. Ou seja: "povos indígenas" dão uma
ideia da multiplicidade de etnias que aqui estavam. "Índio" é uma generalização
preconceituosa, tipo "paraíba", no Rio, para se referir a qualquer nordestino ou
nortista. Maravilha. Sai "índio". Entra "indígena". Viva a Paraíba.
Disponível em: https://www1.folha.uol.com.br/colunas/antonioprata/2022/07/aspalavras-e-as-coisas.shtml (Adaptado) Acesso em: 22 set. 2022,
Provas
Questão presente nas seguintes provas
ASSINALE A RESPOSTA CORRETA.
As palavras e as coisas
Antônio Prata
Entre as sugestões que vieram da editora sobre meu novo livro, havia a
de trocar "índios" por "indígenas". Sempre fui um defensor do politicamente correto. Algumas mudanças na ética verbal, porém, me parecem contraproducentes.
Em certo momento dos anos 90, "favela" virou "comunidade". "Favelado"
era um termo pejorativo e é compreensível que os moradores destas áreas não
quisessem ser chamados assim, mas mudar para "morador de comunidade", embora amacie na semântica, não leva água encanada, esgoto e luz para ninguém.
Pelo contrário.
A gente ouve "comunidade" e dá a impressão de que aquelas pessoas
estão todas de mãos dadas fazendo uma ciranda em torno da horta orgânica, não
apinhando-se em condições sub-humanas, sem esgoto, asfalto, educação, saúde.
Talvez fosse bom deixarmos o incômodo nos tomar toda vez que disséssemos ou ouvíssemos "favela" ou "favelados". Nosso objetivo deveria ser dar condições de vida decente praquela gente, não nos sentirmos confortáveis ao mencioná-la.
O mesmo vale para "morador em situação de rua". Parece que o cara teve
um problema pra voltar pra casa numa terça, dormiu "em situação de rua" num
4
ponto de ônibus e na quarta vai retornar ao conforto do lar. É mentira. A pessoa
que mora na rua tá ferrada, é alguém que perdeu tudo na vida, até virar "mendigo".
"Mendigo" é um termo horrível não porque as vogais e consoantes se juntem de forma deselegante, mas pelo que ele nomeia: gente que dorme na calçada,
revira lixo pra comer, não tem sequer acesso a um banheiro. Mas quando a gente
fala "morador em situação de rua" vem junto o mesmo morninho no coração de
"comunidade": essa situação, pensamos, é temporária. Vai mudar. Logo, logo, ele
estará em outra.
Não, não estará se não nos indignarmos com a indigência e agirmos. Algumas palavras têm que doer, porque a realidade dói. Do contrário, a linguagem
deixa de ser uma ferramenta que busca representar a vida como ela é e se torna
um tapume nos impedindo de enxergá-la.
Sobre "índios" e "indígenas", li alguns textos. Os argumentos giram em
torno do fato de "índio" ter se tornado um termo pejorativo, ligado aos preconceitos
que os brancos sempre tiveram com os povos originários da América: preguiçosos,
atrasados, primitivos.
Tá certo. Mas o problema, pensei, não tá no termo "índio", tá no preconceito do branco. Outro dia ouvi num podcast americano um escritor judeu indignado porque ele, que sempre chamou os de sua religião de "jews" (judeus), agora
tinha que dizer "jewish people" (pessoas judias). Como se houvesse algo de errado
em ser judeu, ele disse. Como se a mudança na nomenclatura incorporasse o preconceito, quando deveria ser justamente o contrário, feito os negros americanos
dos anos 70 dizendo "say it loud, I’m black and I’m proud!" ("diga alto, sou preto e
tenho orgulho!").
Eu estava errado. Fui salvo da ignorância por minha querida prima antropóloga, Florência Ferrari, e pelo mestre Sérgio Rodrigues. "Indígena" vem de "endógeno", aquele que pertence a um lugar. Ou seja: "povos indígenas" dão uma
ideia da multiplicidade de etnias que aqui estavam. "Índio" é uma generalização
preconceituosa, tipo "paraíba", no Rio, para se referir a qualquer nordestino ou
nortista. Maravilha. Sai "índio". Entra "indígena". Viva a Paraíba.
Disponível em: https://www1.folha.uol.com.br/colunas/antonioprata/2022/07/aspalavras-e-as-coisas.shtml (Adaptado) Acesso em: 22 set. 2022,
Provas
Questão presente nas seguintes provas
ASSINALE A RESPOSTA CORRETA.
As palavras e as coisas
Antônio Prata
Entre as sugestões que vieram da editora sobre meu novo livro, havia a
de trocar "índios" por "indígenas". Sempre fui um defensor do politicamente correto. Algumas mudanças na ética verbal, porém, me parecem contraproducentes.
Em certo momento dos anos 90, "favela" virou "comunidade". "Favelado"
era um termo pejorativo e é compreensível que os moradores destas áreas não
quisessem ser chamados assim, mas mudar para "morador de comunidade", embora amacie na semântica, não leva água encanada, esgoto e luz para ninguém.
Pelo contrário.
A gente ouve "comunidade" e dá a impressão de que aquelas pessoas
estão todas de mãos dadas fazendo uma ciranda em torno da horta orgânica, não
apinhando-se em condições sub-humanas, sem esgoto, asfalto, educação, saúde.
Talvez fosse bom deixarmos o incômodo nos tomar toda vez que disséssemos ou ouvíssemos "favela" ou "favelados". Nosso objetivo deveria ser dar condições de vida decente praquela gente, não nos sentirmos confortáveis ao mencioná-la.
O mesmo vale para "morador em situação de rua". Parece que o cara teve
um problema pra voltar pra casa numa terça, dormiu "em situação de rua" num
4
ponto de ônibus e na quarta vai retornar ao conforto do lar. É mentira. A pessoa
que mora na rua tá ferrada, é alguém que perdeu tudo na vida, até virar "mendigo".
"Mendigo" é um termo horrível não porque as vogais e consoantes se juntem de forma deselegante, mas pelo que ele nomeia: gente que dorme na calçada,
revira lixo pra comer, não tem sequer acesso a um banheiro. Mas quando a gente
fala "morador em situação de rua" vem junto o mesmo morninho no coração de
"comunidade": essa situação, pensamos, é temporária. Vai mudar. Logo, logo, ele
estará em outra.
Não, não estará se não nos indignarmos com a indigência e agirmos. Algumas palavras têm que doer, porque a realidade dói. Do contrário, a linguagem
deixa de ser uma ferramenta que busca representar a vida como ela é e se torna
um tapume nos impedindo de enxergá-la.
Sobre "índios" e "indígenas", li alguns textos. Os argumentos giram em
torno do fato de "índio" ter se tornado um termo pejorativo, ligado aos preconceitos
que os brancos sempre tiveram com os povos originários da América: preguiçosos,
atrasados, primitivos.
Tá certo. Mas o problema, pensei, não tá no termo "índio", tá no preconceito do branco. Outro dia ouvi num podcast americano um escritor judeu indignado porque ele, que sempre chamou os de sua religião de "jews" (judeus), agora
tinha que dizer "jewish people" (pessoas judias). Como se houvesse algo de errado
em ser judeu, ele disse. Como se a mudança na nomenclatura incorporasse o preconceito, quando deveria ser justamente o contrário, feito os negros americanos
dos anos 70 dizendo "say it loud, I’m black and I’m proud!" ("diga alto, sou preto e
tenho orgulho!").
Eu estava errado. Fui salvo da ignorância por minha querida prima antropóloga, Florência Ferrari, e pelo mestre Sérgio Rodrigues. "Indígena" vem de "endógeno", aquele que pertence a um lugar. Ou seja: "povos indígenas" dão uma
ideia da multiplicidade de etnias que aqui estavam. "Índio" é uma generalização
preconceituosa, tipo "paraíba", no Rio, para se referir a qualquer nordestino ou
nortista. Maravilha. Sai "índio". Entra "indígena". Viva a Paraíba.
Disponível em: https://www1.folha.uol.com.br/colunas/antonioprata/2022/07/aspalavras-e-as-coisas.shtml (Adaptado) Acesso em: 22 set. 2022,
Provas
Questão presente nas seguintes provas
ASSINALE A RESPOSTA CORRETA.
As palavras e as coisas
Antônio Prata
Entre as sugestões que vieram da editora sobre meu novo livro, havia a
de trocar "índios" por "indígenas". Sempre fui um defensor do politicamente correto. Algumas mudanças na ética verbal, porém, me parecem contraproducentes.
Em certo momento dos anos 90, "favela" virou "comunidade". "Favelado"
era um termo pejorativo e é compreensível que os moradores destas áreas não
quisessem ser chamados assim, mas mudar para "morador de comunidade", embora amacie na semântica, não leva água encanada, esgoto e luz para ninguém.
Pelo contrário.
A gente ouve "comunidade" e dá a impressão de que aquelas pessoas
estão todas de mãos dadas fazendo uma ciranda em torno da horta orgânica, não
apinhando-se em condições sub-humanas, sem esgoto, asfalto, educação, saúde.
Talvez fosse bom deixarmos o incômodo nos tomar toda vez que disséssemos ou ouvíssemos "favela" ou "favelados". Nosso objetivo deveria ser dar condições de vida decente praquela gente, não nos sentirmos confortáveis ao mencioná-la.
O mesmo vale para "morador em situação de rua". Parece que o cara teve
um problema pra voltar pra casa numa terça, dormiu "em situação de rua" num
4
ponto de ônibus e na quarta vai retornar ao conforto do lar. É mentira. A pessoa
que mora na rua tá ferrada, é alguém que perdeu tudo na vida, até virar "mendigo".
"Mendigo" é um termo horrível não porque as vogais e consoantes se juntem de forma deselegante, mas pelo que ele nomeia: gente que dorme na calçada,
revira lixo pra comer, não tem sequer acesso a um banheiro. Mas quando a gente
fala "morador em situação de rua" vem junto o mesmo morninho no coração de
"comunidade": essa situação, pensamos, é temporária. Vai mudar. Logo, logo, ele
estará em outra.
Não, não estará se não nos indignarmos com a indigência e agirmos. Algumas palavras têm que doer, porque a realidade dói. Do contrário, a linguagem
deixa de ser uma ferramenta que busca representar a vida como ela é e se torna
um tapume nos impedindo de enxergá-la.
Sobre "índios" e "indígenas", li alguns textos. Os argumentos giram em
torno do fato de "índio" ter se tornado um termo pejorativo, ligado aos preconceitos
que os brancos sempre tiveram com os povos originários da América: preguiçosos,
atrasados, primitivos.
Tá certo. Mas o problema, pensei, não tá no termo "índio", tá no preconceito do branco. Outro dia ouvi num podcast americano um escritor judeu indignado porque ele, que sempre chamou os de sua religião de "jews" (judeus), agora
tinha que dizer "jewish people" (pessoas judias). Como se houvesse algo de errado
em ser judeu, ele disse. Como se a mudança na nomenclatura incorporasse o preconceito, quando deveria ser justamente o contrário, feito os negros americanos
dos anos 70 dizendo "say it loud, I’m black and I’m proud!" ("diga alto, sou preto e
tenho orgulho!").
Eu estava errado. Fui salvo da ignorância por minha querida prima antropóloga, Florência Ferrari, e pelo mestre Sérgio Rodrigues. "Indígena" vem de "endógeno", aquele que pertence a um lugar. Ou seja: "povos indígenas" dão uma
ideia da multiplicidade de etnias que aqui estavam. "Índio" é uma generalização
preconceituosa, tipo "paraíba", no Rio, para se referir a qualquer nordestino ou
nortista. Maravilha. Sai "índio". Entra "indígena". Viva a Paraíba.
Disponível em: https://www1.folha.uol.com.br/colunas/antonioprata/2022/07/aspalavras-e-as-coisas.shtml (Adaptado) Acesso em: 22 set. 2022,
Provas
Questão presente nas seguintes provas
ASSINALE A RESPOSTA CORRETA.
As palavras e as coisas
Antônio Prata
Entre as sugestões que vieram da editora sobre meu novo livro, havia a
de trocar "índios" por "indígenas". Sempre fui um defensor do politicamente correto. Algumas mudanças na ética verbal, porém, me parecem contraproducentes.
Em certo momento dos anos 90, "favela" virou "comunidade". "Favelado"
era um termo pejorativo e é compreensível que os moradores destas áreas não
quisessem ser chamados assim, mas mudar para "morador de comunidade", embora amacie na semântica, não leva água encanada, esgoto e luz para ninguém.
Pelo contrário.
A gente ouve "comunidade" e dá a impressão de que aquelas pessoas
estão todas de mãos dadas fazendo uma ciranda em torno da horta orgânica, não
apinhando-se em condições sub-humanas, sem esgoto, asfalto, educação, saúde.
Talvez fosse bom deixarmos o incômodo nos tomar toda vez que disséssemos ou ouvíssemos "favela" ou "favelados". Nosso objetivo deveria ser dar condições de vida decente praquela gente, não nos sentirmos confortáveis ao mencioná-la.
O mesmo vale para "morador em situação de rua". Parece que o cara teve
um problema pra voltar pra casa numa terça, dormiu "em situação de rua" num
4
ponto de ônibus e na quarta vai retornar ao conforto do lar. É mentira. A pessoa
que mora na rua tá ferrada, é alguém que perdeu tudo na vida, até virar "mendigo".
"Mendigo" é um termo horrível não porque as vogais e consoantes se juntem de forma deselegante, mas pelo que ele nomeia: gente que dorme na calçada,
revira lixo pra comer, não tem sequer acesso a um banheiro. Mas quando a gente
fala "morador em situação de rua" vem junto o mesmo morninho no coração de
"comunidade": essa situação, pensamos, é temporária. Vai mudar. Logo, logo, ele
estará em outra.
Não, não estará se não nos indignarmos com a indigência e agirmos. Algumas palavras têm que doer, porque a realidade dói. Do contrário, a linguagem
deixa de ser uma ferramenta que busca representar a vida como ela é e se torna
um tapume nos impedindo de enxergá-la.
Sobre "índios" e "indígenas", li alguns textos. Os argumentos giram em
torno do fato de "índio" ter se tornado um termo pejorativo, ligado aos preconceitos
que os brancos sempre tiveram com os povos originários da América: preguiçosos,
atrasados, primitivos.
Tá certo. Mas o problema, pensei, não tá no termo "índio", tá no preconceito do branco. Outro dia ouvi num podcast americano um escritor judeu indignado porque ele, que sempre chamou os de sua religião de "jews" (judeus), agora
tinha que dizer "jewish people" (pessoas judias). Como se houvesse algo de errado
em ser judeu, ele disse. Como se a mudança na nomenclatura incorporasse o preconceito, quando deveria ser justamente o contrário, feito os negros americanos
dos anos 70 dizendo "say it loud, I’m black and I’m proud!" ("diga alto, sou preto e
tenho orgulho!").
Eu estava errado. Fui salvo da ignorância por minha querida prima antropóloga, Florência Ferrari, e pelo mestre Sérgio Rodrigues. "Indígena" vem de "endógeno", aquele que pertence a um lugar. Ou seja: "povos indígenas" dão uma
ideia da multiplicidade de etnias que aqui estavam. "Índio" é uma generalização
preconceituosa, tipo "paraíba", no Rio, para se referir a qualquer nordestino ou
nortista. Maravilha. Sai "índio". Entra "indígena". Viva a Paraíba.
Disponível em: https://www1.folha.uol.com.br/colunas/antonioprata/2022/07/aspalavras-e-as-coisas.shtml (Adaptado) Acesso em: 22 set. 2022,
Provas
Questão presente nas seguintes provas
A altura manométrica de um sistema elevatório é definida como sendo a quantidade de energia que deve ser absorvida por uma unidade de peso de fluido que
atravessa a bomba. Essa energia é necessária, para que o mesmo vença o desnível da instalação, a diferença de pressão entre os dois reservatórios e a resistência natural que as tubulações e acessórios oferecem ao escoamento dos fluidos
(perda de carga).
Tendo em vista a situação descrita anteriormente, qual a altura manométrica da
instalação da figura abaixo se a perda de carga vale 2 m.c.a., não há diferença de
pressão entre os reservatórios, ha=2 m, hr=12 m e hr=2 m?
![Enunciado 3570909-1](/images/concursos/d/1/7/d1776648-2a62-9fae-5bf9-905e2b67e381.png)
Os valores do desnível e da altura manométrica da instalação são, respectivamente, em m.c.a. (metro da coluna água):
![Enunciado 3570909-1](/images/concursos/d/1/7/d1776648-2a62-9fae-5bf9-905e2b67e381.png)
Os valores do desnível e da altura manométrica da instalação são, respectivamente, em m.c.a. (metro da coluna água):
Provas
Questão presente nas seguintes provas
Cadernos
Caderno Container