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2342540 Ano: 2022
Disciplina: Português
Banca: IDECAN
Orgão: TJ-PI

As ruínas de culto misterioso milenar que pode mudar entendimento da pré-história

O carro deslizava suavemente pela rodovia Impecavelmente conservada de AIUla, uma região no noroeste da Arábia Saudita, quando o motorista saiu abruptamente da estrada.

"Perdi o desvio", disse ele.

Olhei pela janela meio confusa, pois não conseguia ver uma curva óbvia.

"Aqui", exclamou ele, enquanto o carro sacudia pelas rochas de basalto para pegar um caminho quase imperceptível para o deserto.

Seguimos por uma paisagem vasta e plana. Um céu azul brilhante nos cercava por todos os lados, e um punhado de nuvens brancas pairava baixo.

Depois de alguns minutos, paramos em um círculo de pedras empilhadas. Sai do carro, esperando encontrar Jane McMahon, integrante de uma equipe de arqueólogos da Universidade da Austrália Ocidental que trabalha em AIUla desde 2018.

Ao meu redor havia uma planície árida de rochas cinza-escuro levemente polvilhadas com areia rosada.

Havia algo de sobrenatural naquilo tudo: a falta de uma única árvore ou pedaço de grama; a quietude do ar que só era interrompida de vez em quando por uma rajada implacável de vento que gelava até os ossos.

Vim até aqui porque as recentes descobertas em AIUla estão lançando luz sobre um período fascinante da história na Arábia Saudita.

Como o país só abriu para pesquisas internacionais há alguns anos (e para turistas em 2019), muitos de seus sítios arqueológicos antigos estão sendo estudados pela primeira vez.

Embora os historiadores estejam familiarizados com as ruínas das cidades de cerca de 2.000 anos de Hegra e Dadan, localizadas na Rota do Incenso (as tumbas e monumentos de Hegra são Patrimônio Mundial da Unesco), eles não tinham muito conhecimento sobre a civilização que veio antes - até agora.

Eles descobriram que, espalhados pela vasta e remota paisagem de AIUla, estão vestígios arqueológicos milenares que podem mudar nossa compreensão da pré-história.

O trabalho de McMahon e seus colegas está lançando luz sobre alguns dos primeiros monumentos de pedra da história mundial - anteriores a Stonehenge e à primeira pirâmide de Gizé.

Quando McMahon chegou, explicou que o circulo de rochas ao meu lado era os restos de uma casa ocupada no período Neolítico (de 6000 a 4500 a.C.), e que essa área já foi repleta de prósperos assentamentos.

Até recentemente, o pensamento predominante era que essa região tinha pouca atividade humana até a Idade do Bronze após 4000 a.e.

Mas o trabalho de McMahon e seus colegas revelou uma história muito diferente: que a Arábia Saudita neolítica era uma paisagem dinâmica, intensamente povoada e complexa, espalhada por uma vasta área.

Ao meu redor, havia mais de 30 moradias e túmulos, e isso era apenas uma pequena fração dos vestígios encontrados aqui.

Tentei imaginar como a paisagem poderia ser há milhares de anos: verde, exuberante e repleta de pessoas que se moviam ruidosamente, pastoreando cabras e chamando umas pelas outras.

"O clima e a paisagem inerte da Arábia Saudita significam que a maior parte da arqueologia está muito bem preservada na superfície de 5 mil a 8 mil anos atrás. Então exatamente do jeito que você vê, é como era todo esse tempo atrás", diz McMahon.

Ela explica que entender mais sobre a vida desses primeiros povos também poderia esclarecer como os grandes e densos assentamentos de Hegra e Dedan se desenvolveram, e como ocorreram as mudanças culturais e tecnológicas na região - como a agricultura de irrigação, metalurgia e textos escritos - nos milênios seguintes.

"As mudanças culturais que aconteceram após o Neolítico são enormes, mas não sabemos muito como essas mudanças ocorreram", diz ela. No entanto, mesmo nas mãos de arqueólogos tão experientes, uma descoberta em AIUla continuou carecendo de explicação.

Espalhadas por uma área de impressionantes 300 mil quilômetros quadrados e construídas num modelo relativamente consistente, estão 1,6 mil estruturas monumentais retangulares de pedra que também datam do período Neolítico.

Inicialmente chamadas de "portões" devido à sua aparência vista de cima, as estruturas foram posteriormente renomeadas como "mustatil", expressão árabe que pode ser traduzida como "retângulo".

"Faz voar sua imaginação pensar que temos estruturas tão grandes quanto cinco a seis campos de futebol, feitas de milhares de toneladas de pedra, que não apenas cobrem uma região geográfica enorme, como também têm 7.000 anos", diz Hugh Thomas, codiretor dos Projetos de Arqueologia Aérea do Reino da Arábia Saudita (AAKSAU, na sigla em inglês).

Ele tem trabalhado ao lado de McMahon nos últimos dois anos, realizando pesquisas arqueológicas aéreas e escavações direcionadas para entender o propósito do mustatil.

Os mustatils são certamente impressionantes, e a única maneira real de ter uma noção do seu tamanho é pelo ar.

Quando sobrevoei as estruturas de helicóptero, pude ver as grandes pedras dispostas em linhas retas na areia, com aproximadamente o comprimento de quatro campos de futebol e uma largura de pelo menos dois.

"Na minha opinião, os mustatils estão entre as estruturas arqueológicas mais únicas identificadas até agora no mundo", avalia Thomas.

"Quando olhamos para outras estruturas que datam do Neolítico que são tão impressionantes em sua construção, tenho dificuldade de pensar em alguma que cubra uma região geográfica tão grande."

Atém de ter registrado mustatils de vários tamanhos e complexidade, a equipe de Thomas também notou características consistentes. Todos foram construídos de maneira semelhante, empilhando pedras para formar paredes baixas que são preenchidas com cascalho - e incluem uma cabeça (o topo da estrutura), uma base e paredes compridas que os conectam.

Alguns possuem entradas e vários pátios interiores estreitos. As pedras usadas para a construção foram especialmente escolhidas, de modo a se encaixar e suportar as grandes estruturas, demonstrando uma profunda compreensão dos materiais locais.

Esses monumentos pré-históricos foram registrados pela primeira vez na década de 1960 por uma equipe local que realizava levantamentos de solo, mas naquela época ninguém sabia do que se tratava.

Pesquisas de sensoriamento remoto realizadas pelo professor David Kennedy (também da Universidade da Austrália Ocidental), em 2017, acentuaram o interesse na área, e as teorias iniciais sugeriam que os mustatils eram usados como marcadores territoriais para pastagens ancestrais.

No entanto, à medida que foram encontradas cada vez mais estruturas, todas datando do mesmo período, surgiu um entendimento diferente.

Desde então, Thomas, McMahon e suas equipes descobriram evidências que sugerem a prática de um culto.

Eles acharam um grande número de crânios e chifres de gado, cabra e gazela selvagem em pequenas câmaras nas cabeças dos mustatils, mas não encontraram nenhuma indicação de que fossem mantidos para uso doméstico.

Como não foram encontradas partes do corpo de nenhum outro animal, isso levou a equipe a deduzir que eram sacrifícios. E sugeria que os animais eram sacrificados em outro lugar. Isso é importante porque é evidência de uma sociedade de culto altamente organizada, muito mais antiga do que se pensava anteriormente - antecedendo o Islã na região em 6 mil anos.

"A escavação de vários mustatits revelou artefatos sugestivos de práticas rituais que ocorriam dentro das estruturas", diz Thomas.

"As pessoas que os construíram tinham uma cultura e um sistema de crenças compartilhados, e essa não era uma prática localizada. Ela se espalhava por uma área enorme da Arábia, do tamanho da Polônia."

"A Arábia Saudita tem a aparência de ser uma paisagem árida e inóspita, vista como isolada do resto do mundo, exceto por alguns locais notáveis, como Dedan e Hegra. No entanto, evidências arqueológicas, como os mustatils, demonstram que a região tinha uma história rica e complexa. Ter uma estrutura tão amplamente dispersa em uma área tão grande sugere um sistema de crenças, idioma e cultura compartilhados em uma escala que eu pessoalmente nunca imaginei ser possível", acrescenta Thomas.

Munirah Almushawh, codiretor de um projeto arqueológico em Khaybar (outra área de AIUla), concorda, observando que essa sociedade não apenas compartilhava um sistema de crenças único, como viajou grandes distâncias para compartilhar o conhecimento que permitiu construir as estruturas.

Alguns dos mustatits pesam até 12 mil toneladas; mais do que a Torre Eiffel. Sua construção teria exigido conhecimento, habilidade e organização por longos períodos de tempo. "O mustatil sugere grandes redes sociais, habilidades arquitetônicas inovadoras e vasta exploração na Arábia pré-histórica", observa Almushawh.

Apesar dessas descobertas emocionantes, o conhecimento sobre os mustatils ainda é incipiente, com apenas cinco dos 1,6 mil escavados até agora. A única certeza é que AIUla continuará a revelar seus mistérios.

À medida que a região reabre para o turismo pós-pandemia de covid-19, há planos para construir um enorme museu a céu aberto, onde os visitantes podem se embrenhar por vários sítios arqueológicos ou contar com o serviço de um guia.

Os turistas vão poder aprender sobre o período Neolítico, ver as antigas ruínas de casas e mustatils, e imaginar como essa sociedade aparentemente altamente organizada vivia e se deslocava pela paisagem.

McMahon e Thomas estão tão animados com o futuro de AIUla quanto com seu passado.

"O significado do que descobrimos está reescrevendo a história do Neolítico no noroeste da Arábia", afirma McMahon.

"Nosso trabalho revelou até agora apenas o que sempre existiu: a complexidade do período Neolítico nessa região, que anteriormente havia sido considerada inabitável ou meramente sem importância na época."

(Demi Perera. BBC FUTURE. ln: https://www1.folha.uol.com.br/ciencia/2022/07/as- ruinas-de-

culto-misterioso-milenar-que-pode-m8udar endimento-da-pre-historia.shtml. 24.jul.2022)

Tentei imaginar como a paisagem poderia ser há milhares de anos: verde, exuberante e repleta de pessoas que se moviam ruidosamente, pastoreando cabras e chamando umas pelas outras.

O segmento após os dois-pontos apresenta natureza

 

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2342539 Ano: 2022
Disciplina: Português
Banca: IDECAN
Orgão: TJ-PI

As ruínas de culto misterioso milenar que pode mudar entendimento da pré-história

O carro deslizava suavemente pela rodovia Impecavelmente conservada de AIUla, uma região no noroeste da Arábia Saudita, quando o motorista saiu abruptamente da estrada.

"Perdi o desvio", disse ele.

Olhei pela janela meio confusa, pois não conseguia ver uma curva óbvia.

"Aqui", exclamou ele, enquanto o carro sacudia pelas rochas de basalto para pegar um caminho quase imperceptível para o deserto.

Seguimos por uma paisagem vasta e plana. Um céu azul brilhante nos cercava por todos os lados, e um punhado de nuvens brancas pairava baixo.

Depois de alguns minutos, paramos em um círculo de pedras empilhadas. Sai do carro, esperando encontrar Jane McMahon, integrante de uma equipe de arqueólogos da Universidade da Austrália Ocidental que trabalha em AIUla desde 2018.

Ao meu redor havia uma planície árida de rochas cinza-escuro levemente polvilhadas com areia rosada.

Havia algo de sobrenatural naquilo tudo: a falta de uma única árvore ou pedaço de grama; a quietude do ar que só era interrompida de vez em quando por uma rajada implacável de vento que gelava até os ossos.

Vim até aqui porque as recentes descobertas em AIUla estão lançando luz sobre um período fascinante da história na Arábia Saudita.

Como o país só abriu para pesquisas internacionais há alguns anos (e para turistas em 2019), muitos de seus sítios arqueológicos antigos estão sendo estudados pela primeira vez.

Embora os historiadores estejam familiarizados com as ruínas das cidades de cerca de 2.000 anos de Hegra e Dadan, localizadas na Rota do Incenso (as tumbas e monumentos de Hegra são Patrimônio Mundial da Unesco), eles não tinham muito conhecimento sobre a civilização que veio antes - até agora.

Eles descobriram que, espalhados pela vasta e remota paisagem de AIUla, estão vestígios arqueológicos milenares que podem mudar nossa compreensão da pré-história.

O trabalho de McMahon e seus colegas está lançando luz sobre alguns dos primeiros monumentos de pedra da história mundial - anteriores a Stonehenge e à primeira pirâmide de Gizé.

Quando McMahon chegou, explicou que o circulo de rochas ao meu lado era os restos de uma casa ocupada no período Neolítico (de 6000 a 4500 a.C.), e que essa área já foi repleta de prósperos assentamentos.

Até recentemente, o pensamento predominante era que essa região tinha pouca atividade humana até a Idade do Bronze após 4000 a.e.

Mas o trabalho de McMahon e seus colegas revelou uma história muito diferente: que a Arábia Saudita neolítica era uma paisagem dinâmica, intensamente povoada e complexa, espalhada por uma vasta área.

Ao meu redor, havia mais de 30 moradias e túmulos, e isso era apenas uma pequena fração dos vestígios encontrados aqui.

Tentei imaginar como a paisagem poderia ser há milhares de anos: verde, exuberante e repleta de pessoas que se moviam ruidosamente, pastoreando cabras e chamando umas pelas outras.

"O clima e a paisagem inerte da Arábia Saudita significam que a maior parte da arqueologia está muito bem preservada na superfície de 5 mil a 8 mil anos atrás. Então exatamente do jeito que você vê, é como era todo esse tempo atrás", diz McMahon.

Ela explica que entender mais sobre a vida desses primeiros povos também poderia esclarecer como os grandes e densos assentamentos de Hegra e Dedan se desenvolveram, e como ocorreram as mudanças culturais e tecnológicas na região - como a agricultura de irrigação, metalurgia e textos escritos - nos milênios seguintes.

"As mudanças culturais que aconteceram após o Neolítico são enormes, mas não sabemos muito como essas mudanças ocorreram", diz ela. No entanto, mesmo nas mãos de arqueólogos tão experientes, uma descoberta em AIUla continuou carecendo de explicação.

Espalhadas por uma área de impressionantes 300 mil quilômetros quadrados e construídas num modelo relativamente consistente, estão 1,6 mil estruturas monumentais retangulares de pedra que também datam do período Neolítico.

Inicialmente chamadas de "portões" devido à sua aparência vista de cima, as estruturas foram posteriormente renomeadas como "mustatil", expressão árabe que pode ser traduzida como "retângulo".

"Faz voar sua imaginação pensar que temos estruturas tão grandes quanto cinco a seis campos de futebol, feitas de milhares de toneladas de pedra, que não apenas cobrem uma região geográfica enorme, como também têm 7.000 anos", diz Hugh Thomas, codiretor dos Projetos de Arqueologia Aérea do Reino da Arábia Saudita (AAKSAU, na sigla em inglês).

Ele tem trabalhado ao lado de McMahon nos últimos dois anos, realizando pesquisas arqueológicas aéreas e escavações direcionadas para entender o propósito do mustatil.

Os mustatils são certamente impressionantes, e a única maneira real de ter uma noção do seu tamanho é pelo ar.

Quando sobrevoei as estruturas de helicóptero, pude ver as grandes pedras dispostas em linhas retas na areia, com aproximadamente o comprimento de quatro campos de futebol e uma largura de pelo menos dois.

"Na minha opinião, os mustatils estão entre as estruturas arqueológicas mais únicas identificadas até agora no mundo", avalia Thomas.

"Quando olhamos para outras estruturas que datam do Neolítico que são tão impressionantes em sua construção, tenho dificuldade de pensar em alguma que cubra uma região geográfica tão grande."

Atém de ter registrado mustatils de vários tamanhos e complexidade, a equipe de Thomas também notou características consistentes. Todos foram construídos de maneira semelhante, empilhando pedras para formar paredes baixas que são preenchidas com cascalho - e incluem uma cabeça (o topo da estrutura), uma base e paredes compridas que os conectam.

Alguns possuem entradas e vários pátios interiores estreitos. As pedras usadas para a construção foram especialmente escolhidas, de modo a se encaixar e suportar as grandes estruturas, demonstrando uma profunda compreensão dos materiais locais.

Esses monumentos pré-históricos foram registrados pela primeira vez na década de 1960 por uma equipe local que realizava levantamentos de solo, mas naquela época ninguém sabia do que se tratava.

Pesquisas de sensoriamento remoto realizadas pelo professor David Kennedy (também da Universidade da Austrália Ocidental), em 2017, acentuaram o interesse na área, e as teorias iniciais sugeriam que os mustatils eram usados como marcadores territoriais para pastagens ancestrais.

No entanto, à medida que foram encontradas cada vez mais estruturas, todas datando do mesmo período, surgiu um entendimento diferente.

Desde então, Thomas, McMahon e suas equipes descobriram evidências que sugerem a prática de um culto.

Eles acharam um grande número de crânios e chifres de gado, cabra e gazela selvagem em pequenas câmaras nas cabeças dos mustatils, mas não encontraram nenhuma indicação de que fossem mantidos para uso doméstico.

Como não foram encontradas partes do corpo de nenhum outro animal, isso levou a equipe a deduzir que eram sacrifícios. E sugeria que os animais eram sacrificados em outro lugar. Isso é importante porque é evidência de uma sociedade de culto altamente organizada, muito mais antiga do que se pensava anteriormente - antecedendo o Islã na região em 6 mil anos.

"A escavação de vários mustatits revelou artefatos sugestivos de práticas rituais que ocorriam dentro das estruturas", diz Thomas.

"As pessoas que os construíram tinham uma cultura e um sistema de crenças compartilhados, e essa não era uma prática localizada. Ela se espalhava por uma área enorme da Arábia, do tamanho da Polônia."

"A Arábia Saudita tem a aparência de ser uma paisagem árida e inóspita, vista como isolada do resto do mundo, exceto por alguns locais notáveis, como Dedan e Hegra. No entanto, evidências arqueológicas, como os mustatils, demonstram que a região tinha uma história rica e complexa. Ter uma estrutura tão amplamente dispersa em uma área tão grande sugere um sistema de crenças, idioma e cultura compartilhados em uma escala que eu pessoalmente nunca imaginei ser possível", acrescenta Thomas.

Munirah Almushawh, codiretor de um projeto arqueológico em Khaybar (outra área de AIUla), concorda, observando que essa sociedade não apenas compartilhava um sistema de crenças único, como viajou grandes distâncias para compartilhar o conhecimento que permitiu construir as estruturas.

Alguns dos mustatits pesam até 12 mil toneladas; mais do que a Torre Eiffel. Sua construção teria exigido conhecimento, habilidade e organização por longos períodos de tempo. "O mustatil sugere grandes redes sociais, habilidades arquitetônicas inovadoras e vasta exploração na Arábia pré-histórica", observa Almushawh.

Apesar dessas descobertas emocionantes, o conhecimento sobre os mustatils ainda é incipiente, com apenas cinco dos 1,6 mil escavados até agora. A única certeza é que AIUla continuará a revelar seus mistérios.

À medida que a região reabre para o turismo pós-pandemia de covid-19, há planos para construir um enorme museu a céu aberto, onde os visitantes podem se embrenhar por vários sítios arqueológicos ou contar com o serviço de um guia.

Os turistas vão poder aprender sobre o período Neolítico, ver as antigas ruínas de casas e mustatils, e imaginar como essa sociedade aparentemente altamente organizada vivia e se deslocava pela paisagem.

McMahon e Thomas estão tão animados com o futuro de AIUla quanto com seu passado.

"O significado do que descobrimos está reescrevendo a história do Neolítico no noroeste da Arábia", afirma McMahon.

"Nosso trabalho revelou até agora apenas o que sempre existiu: a complexidade do período Neolítico nessa região, que anteriormente havia sido considerada inabitável ou meramente sem importância na época."

(Demi Perera. BBC FUTURE. ln: https://www1.folha.uol.com.br/ciencia/2022/07/as- ruinas-de-

culto-misterioso-milenar-que-pode-m8udar endimento-da-pre-historia.shtml. 24.jul.2022)

Havia algo de sobrenatural naquilo tudo: a falta de uma única árvore ou pedaço de grama: a quietude do ar que só era interrompida de vez em quando por uma rajada implacável de vento que gelava até os ossos.

O segmento sublinhado no período acima, em relação à oração que o antecede, a

 

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2342538 Ano: 2022
Disciplina: Português
Banca: IDECAN
Orgão: TJ-PI

As ruínas de culto misterioso milenar que pode mudar entendimento da pré-história

O carro deslizava suavemente pela rodovia Impecavelmente conservada de AIUla, uma região no noroeste da Arábia Saudita, quando o motorista saiu abruptamente da estrada.

"Perdi o desvio", disse ele.

Olhei pela janela meio confusa, pois não conseguia ver uma curva óbvia.

"Aqui", exclamou ele, enquanto o carro sacudia pelas rochas de basalto para pegar um caminho quase imperceptível para o deserto.

Seguimos por uma paisagem vasta e plana. Um céu azul brilhante nos cercava por todos os lados, e um punhado de nuvens brancas pairava baixo.

Depois de alguns minutos, paramos em um círculo de pedras empilhadas. Sai do carro, esperando encontrar Jane McMahon, integrante de uma equipe de arqueólogos da Universidade da Austrália Ocidental que trabalha em AIUla desde 2018.

Ao meu redor havia uma planície árida de rochas cinza-escuro levemente polvilhadas com areia rosada.

Havia algo de sobrenatural naquilo tudo: a falta de uma única árvore ou pedaço de grama; a quietude do ar que só era interrompida de vez em quando por uma rajada implacável de vento que gelava até os ossos.

Vim até aqui porque as recentes descobertas em AIUla estão lançando luz sobre um período fascinante da história na Arábia Saudita.

Como o país só abriu para pesquisas internacionais há alguns anos (e para turistas em 2019), muitos de seus sítios arqueológicos antigos estão sendo estudados pela primeira vez.

Embora os historiadores estejam familiarizados com as ruínas das cidades de cerca de 2.000 anos de Hegra e Dadan, localizadas na Rota do Incenso (as tumbas e monumentos de Hegra são Patrimônio Mundial da Unesco), eles não tinham muito conhecimento sobre a civilização que veio antes - até agora.

Eles descobriram que, espalhados pela vasta e remota paisagem de AIUla, estão vestígios arqueológicos milenares que podem mudar nossa compreensão da pré-história.

O trabalho de McMahon e seus colegas está lançando luz sobre alguns dos primeiros monumentos de pedra da história mundial - anteriores a Stonehenge e à primeira pirâmide de Gizé.

Quando McMahon chegou, explicou que o circulo de rochas ao meu lado era os restos de uma casa ocupada no período Neolítico (de 6000 a 4500 a.C.), e que essa área já foi repleta de prósperos assentamentos.

Até recentemente, o pensamento predominante era que essa região tinha pouca atividade humana até a Idade do Bronze após 4000 a.e.

Mas o trabalho de McMahon e seus colegas revelou uma história muito diferente: que a Arábia Saudita neolítica era uma paisagem dinâmica, intensamente povoada e complexa, espalhada por uma vasta área.

Ao meu redor, havia mais de 30 moradias e túmulos, e isso era apenas uma pequena fração dos vestígios encontrados aqui.

Tentei imaginar como a paisagem poderia ser há milhares de anos: verde, exuberante e repleta de pessoas que se moviam ruidosamente, pastoreando cabras e chamando umas pelas outras.

"O clima e a paisagem inerte da Arábia Saudita significam que a maior parte da arqueologia está muito bem preservada na superfície de 5 mil a 8 mil anos atrás. Então exatamente do jeito que você vê, é como era todo esse tempo atrás", diz McMahon.

Ela explica que entender mais sobre a vida desses primeiros povos também poderia esclarecer como os grandes e densos assentamentos de Hegra e Dedan se desenvolveram, e como ocorreram as mudanças culturais e tecnológicas na região - como a agricultura de irrigação, metalurgia e textos escritos - nos milênios seguintes.

"As mudanças culturais que aconteceram após o Neolítico são enormes, mas não sabemos muito como essas mudanças ocorreram", diz ela. No entanto, mesmo nas mãos de arqueólogos tão experientes, uma descoberta em AIUla continuou carecendo de explicação.

Espalhadas por uma área de impressionantes 300 mil quilômetros quadrados e construídas num modelo relativamente consistente, estão 1,6 mil estruturas monumentais retangulares de pedra que também datam do período Neolítico.

Inicialmente chamadas de "portões" devido à sua aparência vista de cima, as estruturas foram posteriormente renomeadas como "mustatil", expressão árabe que pode ser traduzida como "retângulo".

"Faz voar sua imaginação pensar que temos estruturas tão grandes quanto cinco a seis campos de futebol, feitas de milhares de toneladas de pedra, que não apenas cobrem uma região geográfica enorme, como também têm 7.000 anos", diz Hugh Thomas, codiretor dos Projetos de Arqueologia Aérea do Reino da Arábia Saudita (AAKSAU, na sigla em inglês).

Ele tem trabalhado ao lado de McMahon nos últimos dois anos, realizando pesquisas arqueológicas aéreas e escavações direcionadas para entender o propósito do mustatil.

Os mustatils são certamente impressionantes, e a única maneira real de ter uma noção do seu tamanho é pelo ar.

Quando sobrevoei as estruturas de helicóptero, pude ver as grandes pedras dispostas em linhas retas na areia, com aproximadamente o comprimento de quatro campos de futebol e uma largura de pelo menos dois.

"Na minha opinião, os mustatils estão entre as estruturas arqueológicas mais únicas identificadas até agora no mundo", avalia Thomas.

"Quando olhamos para outras estruturas que datam do Neolítico que são tão impressionantes em sua construção, tenho dificuldade de pensar em alguma que cubra uma região geográfica tão grande."

Atém de ter registrado mustatils de vários tamanhos e complexidade, a equipe de Thomas também notou características consistentes. Todos foram construídos de maneira semelhante, empilhando pedras para formar paredes baixas que são preenchidas com cascalho - e incluem uma cabeça (o topo da estrutura), uma base e paredes compridas que os conectam.

Alguns possuem entradas e vários pátios interiores estreitos. As pedras usadas para a construção foram especialmente escolhidas, de modo a se encaixar e suportar as grandes estruturas, demonstrando uma profunda compreensão dos materiais locais.

Esses monumentos pré-históricos foram registrados pela primeira vez na década de 1960 por uma equipe local que realizava levantamentos de solo, mas naquela época ninguém sabia do que se tratava.

Pesquisas de sensoriamento remoto realizadas pelo professor David Kennedy (também da Universidade da Austrália Ocidental), em 2017, acentuaram o interesse na área, e as teorias iniciais sugeriam que os mustatils eram usados como marcadores territoriais para pastagens ancestrais.

No entanto, à medida que foram encontradas cada vez mais estruturas, todas datando do mesmo período, surgiu um entendimento diferente.

Desde então, Thomas, McMahon e suas equipes descobriram evidências que sugerem a prática de um culto.

Eles acharam um grande número de crânios e chifres de gado, cabra e gazela selvagem em pequenas câmaras nas cabeças dos mustatils, mas não encontraram nenhuma indicação de que fossem mantidos para uso doméstico.

Como não foram encontradas partes do corpo de nenhum outro animal, isso levou a equipe a deduzir que eram sacrifícios. E sugeria que os animais eram sacrificados em outro lugar. Isso é importante porque é evidência de uma sociedade de culto altamente organizada, muito mais antiga do que se pensava anteriormente - antecedendo o Islã na região em 6 mil anos.

"A escavação de vários mustatits revelou artefatos sugestivos de práticas rituais que ocorriam dentro das estruturas", diz Thomas.

"As pessoas que os construíram tinham uma cultura e um sistema de crenças compartilhados, e essa não era uma prática localizada. Ela se espalhava por uma área enorme da Arábia, do tamanho da Polônia."

"A Arábia Saudita tem a aparência de ser uma paisagem árida e inóspita, vista como isolada do resto do mundo, exceto por alguns locais notáveis, como Dedan e Hegra. No entanto, evidências arqueológicas, como os mustatils, demonstram que a região tinha uma história rica e complexa. Ter uma estrutura tão amplamente dispersa em uma área tão grande sugere um sistema de crenças, idioma e cultura compartilhados em uma escala que eu pessoalmente nunca imaginei ser possível", acrescenta Thomas.

Munirah Almushawh, codiretor de um projeto arqueológico em Khaybar (outra área de AIUla), concorda, observando que essa sociedade não apenas compartilhava um sistema de crenças único, como viajou grandes distâncias para compartilhar o conhecimento que permitiu construir as estruturas.

Alguns dos mustatits pesam até 12 mil toneladas; mais do que a Torre Eiffel. Sua construção teria exigido conhecimento, habilidade e organização por longos períodos de tempo. "O mustatil sugere grandes redes sociais, habilidades arquitetônicas inovadoras e vasta exploração na Arábia pré-histórica", observa Almushawh.

Apesar dessas descobertas emocionantes, o conhecimento sobre os mustatils ainda é incipiente, com apenas cinco dos 1,6 mil escavados até agora. A única certeza é que AIUla continuará a revelar seus mistérios.

À medida que a região reabre para o turismo pós-pandemia de covid-19, há planos para construir um enorme museu a céu aberto, onde os visitantes podem se embrenhar por vários sítios arqueológicos ou contar com o serviço de um guia.

Os turistas vão poder aprender sobre o período Neolítico, ver as antigas ruínas de casas e mustatils, e imaginar como essa sociedade aparentemente altamente organizada vivia e se deslocava pela paisagem.

McMahon e Thomas estão tão animados com o futuro de AIUla quanto com seu passado.

"O significado do que descobrimos está reescrevendo a história do Neolítico no noroeste da Arábia", afirma McMahon.

"Nosso trabalho revelou até agora apenas o que sempre existiu: a complexidade do período Neolítico nessa região, que anteriormente havia sido considerada inabitável ou meramente sem importância na época."

(Demi Perera. BBC FUTURE. ln: https://www1.folha.uol.com.br/ciencia/2022/07/as- ruinas-de-

culto-misterioso-milenar-que-pode-m8udar endimento-da-pre-historia.shtml. 24.jul.2022)

Ao meu redor havia uma planície árida de rochas cinza-escuro levemente polvilhadas com areia rosada.

Assinale a alternativa que poderia substituir o termo grifado no período acima e manter a adequação à norma culta.

 

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2342536 Ano: 2022
Disciplina: Português
Banca: IDECAN
Orgão: TJ-PI

As ruínas de culto misterioso milenar que pode mudar entendimento da pré-história

O carro deslizava suavemente pela rodovia Impecavelmente conservada de AIUla, uma região no noroeste da Arábia Saudita, quando o motorista saiu abruptamente da estrada.

"Perdi o desvio", disse ele.

Olhei pela janela meio confusa, pois não conseguia ver uma curva óbvia.

"Aqui", exclamou ele, enquanto o carro sacudia pelas rochas de basalto para pegar um caminho quase imperceptível para o deserto.

Seguimos por uma paisagem vasta e plana. Um céu azul brilhante nos cercava por todos os lados, e um punhado de nuvens brancas pairava baixo.

Depois de alguns minutos, paramos em um círculo de pedras empilhadas. Sai do carro, esperando encontrar Jane McMahon, integrante de uma equipe de arqueólogos da Universidade da Austrália Ocidental que trabalha em AIUla desde 2018.

Ao meu redor havia uma planície árida de rochas cinza-escuro levemente polvilhadas com areia rosada.

Havia algo de sobrenatural naquilo tudo: a falta de uma única árvore ou pedaço de grama; a quietude do ar que só era interrompida de vez em quando por uma rajada implacável de vento que gelava até os ossos.

Vim até aqui porque as recentes descobertas em AIUla estão lançando luz sobre um período fascinante da história na Arábia Saudita.

Como o país só abriu para pesquisas internacionais há alguns anos (e para turistas em 2019), muitos de seus sítios arqueológicos antigos estão sendo estudados pela primeira vez.

Embora os historiadores estejam familiarizados com as ruínas das cidades de cerca de 2.000 anos de Hegra e Dadan, localizadas na Rota do Incenso (as tumbas e monumentos de Hegra são Patrimônio Mundial da Unesco), eles não tinham muito conhecimento sobre a civilização que veio antes - até agora.

Eles descobriram que, espalhados pela vasta e remota paisagem de AIUla, estão vestígios arqueológicos milenares que podem mudar nossa compreensão da pré-história.

O trabalho de McMahon e seus colegas está lançando luz sobre alguns dos primeiros monumentos de pedra da história mundial - anteriores a Stonehenge e à primeira pirâmide de Gizé.

Quando McMahon chegou, explicou que o circulo de rochas ao meu lado era os restos de uma casa ocupada no período Neolítico (de 6000 a 4500 a.C.), e que essa área já foi repleta de prósperos assentamentos.

Até recentemente, o pensamento predominante era que essa região tinha pouca atividade humana até a Idade do Bronze após 4000 a.e.

Mas o trabalho de McMahon e seus colegas revelou uma história muito diferente: que a Arábia Saudita neolítica era uma paisagem dinâmica, intensamente povoada e complexa, espalhada por uma vasta área.

Ao meu redor, havia mais de 30 moradias e túmulos, e isso era apenas uma pequena fração dos vestígios encontrados aqui.

Tentei imaginar como a paisagem poderia ser há milhares de anos: verde, exuberante e repleta de pessoas que se moviam ruidosamente, pastoreando cabras e chamando umas pelas outras.

"O clima e a paisagem inerte da Arábia Saudita significam que a maior parte da arqueologia está muito bem preservada na superfície de 5 mil a 8 mil anos atrás. Então exatamente do jeito que você vê, é como era todo esse tempo atrás", diz McMahon.

Ela explica que entender mais sobre a vida desses primeiros povos também poderia esclarecer como os grandes e densos assentamentos de Hegra e Dedan se desenvolveram, e como ocorreram as mudanças culturais e tecnológicas na região - como a agricultura de irrigação, metalurgia e textos escritos - nos milênios seguintes.

"As mudanças culturais que aconteceram após o Neolítico são enormes, mas não sabemos muito como essas mudanças ocorreram", diz ela. No entanto, mesmo nas mãos de arqueólogos tão experientes, uma descoberta em AIUla continuou carecendo de explicação.

Espalhadas por uma área de impressionantes 300 mil quilômetros quadrados e construídas num modelo relativamente consistente, estão 1,6 mil estruturas monumentais retangulares de pedra que também datam do período Neolítico.

Inicialmente chamadas de "portões" devido à sua aparência vista de cima, as estruturas foram posteriormente renomeadas como "mustatil", expressão árabe que pode ser traduzida como "retângulo".

"Faz voar sua imaginação pensar que temos estruturas tão grandes quanto cinco a seis campos de futebol, feitas de milhares de toneladas de pedra, que não apenas cobrem uma região geográfica enorme, como também têm 7.000 anos", diz Hugh Thomas, codiretor dos Projetos de Arqueologia Aérea do Reino da Arábia Saudita (AAKSAU, na sigla em inglês).

Ele tem trabalhado ao lado de McMahon nos últimos dois anos, realizando pesquisas arqueológicas aéreas e escavações direcionadas para entender o propósito do mustatil.

Os mustatils são certamente impressionantes, e a única maneira real de ter uma noção do seu tamanho é pelo ar.

Quando sobrevoei as estruturas de helicóptero, pude ver as grandes pedras dispostas em linhas retas na areia, com aproximadamente o comprimento de quatro campos de futebol e uma largura de pelo menos dois.

"Na minha opinião, os mustatils estão entre as estruturas arqueológicas mais únicas identificadas até agora no mundo", avalia Thomas.

"Quando olhamos para outras estruturas que datam do Neolítico que são tão impressionantes em sua construção, tenho dificuldade de pensar em alguma que cubra uma região geográfica tão grande."

Atém de ter registrado mustatils de vários tamanhos e complexidade, a equipe de Thomas também notou características consistentes. Todos foram construídos de maneira semelhante, empilhando pedras para formar paredes baixas que são preenchidas com cascalho - e incluem uma cabeça (o topo da estrutura), uma base e paredes compridas que os conectam.

Alguns possuem entradas e vários pátios interiores estreitos. As pedras usadas para a construção foram especialmente escolhidas, de modo a se encaixar e suportar as grandes estruturas, demonstrando uma profunda compreensão dos materiais locais.

Esses monumentos pré-históricos foram registrados pela primeira vez na década de 1960 por uma equipe local que realizava levantamentos de solo, mas naquela época ninguém sabia do que se tratava.

Pesquisas de sensoriamento remoto realizadas pelo professor David Kennedy (também da Universidade da Austrália Ocidental), em 2017, acentuaram o interesse na área, e as teorias iniciais sugeriam que os mustatils eram usados como marcadores territoriais para pastagens ancestrais.

No entanto, à medida que foram encontradas cada vez mais estruturas, todas datando do mesmo período, surgiu um entendimento diferente.

Desde então, Thomas, McMahon e suas equipes descobriram evidências que sugerem a prática de um culto.

Eles acharam um grande número de crânios e chifres de gado, cabra e gazela selvagem em pequenas câmaras nas cabeças dos mustatils, mas não encontraram nenhuma indicação de que fossem mantidos para uso doméstico.

Como não foram encontradas partes do corpo de nenhum outro animal, isso levou a equipe a deduzir que eram sacrifícios. E sugeria que os animais eram sacrificados em outro lugar. Isso é importante porque é evidência de uma sociedade de culto altamente organizada, muito mais antiga do que se pensava anteriormente - antecedendo o Islã na região em 6 mil anos.

"A escavação de vários mustatits revelou artefatos sugestivos de práticas rituais que ocorriam dentro das estruturas", diz Thomas.

"As pessoas que os construíram tinham uma cultura e um sistema de crenças compartilhados, e essa não era uma prática localizada. Ela se espalhava por uma área enorme da Arábia, do tamanho da Polônia."

"A Arábia Saudita tem a aparência de ser uma paisagem árida e inóspita, vista como isolada do resto do mundo, exceto por alguns locais notáveis, como Dedan e Hegra. No entanto, evidências arqueológicas, como os mustatils, demonstram que a região tinha uma história rica e complexa. Ter uma estrutura tão amplamente dispersa em uma área tão grande sugere um sistema de crenças, idioma e cultura compartilhados em uma escala que eu pessoalmente nunca imaginei ser possível", acrescenta Thomas.

Munirah Almushawh, codiretor de um projeto arqueológico em Khaybar (outra área de AIUla), concorda, observando que essa sociedade não apenas compartilhava um sistema de crenças único, como viajou grandes distâncias para compartilhar o conhecimento que permitiu construir as estruturas.

Alguns dos mustatits pesam até 12 mil toneladas; mais do que a Torre Eiffel. Sua construção teria exigido conhecimento, habilidade e organização por longos períodos de tempo. "O mustatil sugere grandes redes sociais, habilidades arquitetônicas inovadoras e vasta exploração na Arábia pré-histórica", observa Almushawh.

Apesar dessas descobertas emocionantes, o conhecimento sobre os mustatils ainda é incipiente, com apenas cinco dos 1,6 mil escavados até agora. A única certeza é que AIUla continuará a revelar seus mistérios.

À medida que a região reabre para o turismo pós-pandemia de covid-19, há planos para construir um enorme museu a céu aberto, onde os visitantes podem se embrenhar por vários sítios arqueológicos ou contar com o serviço de um guia.

Os turistas vão poder aprender sobre o período Neolítico, ver as antigas ruínas de casas e mustatils, e imaginar como essa sociedade aparentemente altamente organizada vivia e se deslocava pela paisagem.

McMahon e Thomas estão tão animados com o futuro de AIUla quanto com seu passado.

"O significado do que descobrimos está reescrevendo a história do Neolítico no noroeste da Arábia", afirma McMahon.

"Nosso trabalho revelou até agora apenas o que sempre existiu: a complexidade do período Neolítico nessa região, que anteriormente havia sido considerada inabitável ou meramente sem importância na época."

(Demi Perera. BBC FUTURE. ln: https://www1.folha.uol.com.br/ciencia/2022/07/as- ruinas-de-

culto-misterioso-milenar-que-pode-m8udar endimento-da-pre-historia.shtml. 24.jul.2022)

O texto se classifica eminentemente como

 

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2342535 Ano: 2022
Disciplina: Português
Banca: IDECAN
Orgão: TJ-PI

As ruínas de culto misterioso milenar que pode mudar entendimento da pré-história

O carro deslizava suavemente pela rodovia Impecavelmente conservada de AIUla, uma região no noroeste da Arábia Saudita, quando o motorista saiu abruptamente da estrada.

"Perdi o desvio", disse ele.

Olhei pela janela meio confusa, pois não conseguia ver uma curva óbvia.

"Aqui", exclamou ele, enquanto o carro sacudia pelas rochas de basalto para pegar um caminho quase imperceptível para o deserto.

Seguimos por uma paisagem vasta e plana. Um céu azul brilhante nos cercava por todos os lados, e um punhado de nuvens brancas pairava baixo.

Depois de alguns minutos, paramos em um círculo de pedras empilhadas. Sai do carro, esperando encontrar Jane McMahon, integrante de uma equipe de arqueólogos da Universidade da Austrália Ocidental que trabalha em AIUla desde 2018.

Ao meu redor havia uma planície árida de rochas cinza-escuro levemente polvilhadas com areia rosada.

Havia algo de sobrenatural naquilo tudo: a falta de uma única árvore ou pedaço de grama; a quietude do ar que só era interrompida de vez em quando por uma rajada implacável de vento que gelava até os ossos.

Vim até aqui porque as recentes descobertas em AIUla estão lançando luz sobre um período fascinante da história na Arábia Saudita.

Como o país só abriu para pesquisas internacionais há alguns anos (e para turistas em 2019), muitos de seus sítios arqueológicos antigos estão sendo estudados pela primeira vez.

Embora os historiadores estejam familiarizados com as ruínas das cidades de cerca de 2.000 anos de Hegra e Dadan, localizadas na Rota do Incenso (as tumbas e monumentos de Hegra são Patrimônio Mundial da Unesco), eles não tinham muito conhecimento sobre a civilização que veio antes - até agora.

Eles descobriram que, espalhados pela vasta e remota paisagem de AIUla, estão vestígios arqueológicos milenares que podem mudar nossa compreensão da pré-história.

O trabalho de McMahon e seus colegas está lançando luz sobre alguns dos primeiros monumentos de pedra da história mundial - anteriores a Stonehenge e à primeira pirâmide de Gizé.

Quando McMahon chegou, explicou que o circulo de rochas ao meu lado era os restos de uma casa ocupada no período Neolítico (de 6000 a 4500 a.C.), e que essa área já foi repleta de prósperos assentamentos.

Até recentemente, o pensamento predominante era que essa região tinha pouca atividade humana até a Idade do Bronze após 4000 a.e.

Mas o trabalho de McMahon e seus colegas revelou uma história muito diferente: que a Arábia Saudita neolítica era uma paisagem dinâmica, intensamente povoada e complexa, espalhada por uma vasta área.

Ao meu redor, havia mais de 30 moradias e túmulos, e isso era apenas uma pequena fração dos vestígios encontrados aqui.

Tentei imaginar como a paisagem poderia ser há milhares de anos: verde, exuberante e repleta de pessoas que se moviam ruidosamente, pastoreando cabras e chamando umas pelas outras.

"O clima e a paisagem inerte da Arábia Saudita significam que a maior parte da arqueologia está muito bem preservada na superfície de 5 mil a 8 mil anos atrás. Então exatamente do jeito que você vê, é como era todo esse tempo atrás", diz McMahon.

Ela explica que entender mais sobre a vida desses primeiros povos também poderia esclarecer como os grandes e densos assentamentos de Hegra e Dedan se desenvolveram, e como ocorreram as mudanças culturais e tecnológicas na região - como a agricultura de irrigação, metalurgia e textos escritos - nos milênios seguintes.

"As mudanças culturais que aconteceram após o Neolítico são enormes, mas não sabemos muito como essas mudanças ocorreram", diz ela. No entanto, mesmo nas mãos de arqueólogos tão experientes, uma descoberta em AIUla continuou carecendo de explicação.

Espalhadas por uma área de impressionantes 300 mil quilômetros quadrados e construídas num modelo relativamente consistente, estão 1,6 mil estruturas monumentais retangulares de pedra que também datam do período Neolítico.

Inicialmente chamadas de "portões" devido à sua aparência vista de cima, as estruturas foram posteriormente renomeadas como "mustatil", expressão árabe que pode ser traduzida como "retângulo".

"Faz voar sua imaginação pensar que temos estruturas tão grandes quanto cinco a seis campos de futebol, feitas de milhares de toneladas de pedra, que não apenas cobrem uma região geográfica enorme, como também têm 7.000 anos", diz Hugh Thomas, codiretor dos Projetos de Arqueologia Aérea do Reino da Arábia Saudita (AAKSAU, na sigla em inglês).

Ele tem trabalhado ao lado de McMahon nos últimos dois anos, realizando pesquisas arqueológicas aéreas e escavações direcionadas para entender o propósito do mustatil.

Os mustatils são certamente impressionantes, e a única maneira real de ter uma noção do seu tamanho é pelo ar.

Quando sobrevoei as estruturas de helicóptero, pude ver as grandes pedras dispostas em linhas retas na areia, com aproximadamente o comprimento de quatro campos de futebol e uma largura de pelo menos dois.

"Na minha opinião, os mustatils estão entre as estruturas arqueológicas mais únicas identificadas até agora no mundo", avalia Thomas.

"Quando olhamos para outras estruturas que datam do Neolítico que são tão impressionantes em sua construção, tenho dificuldade de pensar em alguma que cubra uma região geográfica tão grande."

Atém de ter registrado mustatils de vários tamanhos e complexidade, a equipe de Thomas também notou características consistentes. Todos foram construídos de maneira semelhante, empilhando pedras para formar paredes baixas que são preenchidas com cascalho - e incluem uma cabeça (o topo da estrutura), uma base e paredes compridas que os conectam.

Alguns possuem entradas e vários pátios interiores estreitos. As pedras usadas para a construção foram especialmente escolhidas, de modo a se encaixar e suportar as grandes estruturas, demonstrando uma profunda compreensão dos materiais locais.

Esses monumentos pré-históricos foram registrados pela primeira vez na década de 1960 por uma equipe local que realizava levantamentos de solo, mas naquela época ninguém sabia do que se tratava.

Pesquisas de sensoriamento remoto realizadas pelo professor David Kennedy (também da Universidade da Austrália Ocidental), em 2017, acentuaram o interesse na área, e as teorias iniciais sugeriam que os mustatils eram usados como marcadores territoriais para pastagens ancestrais.

No entanto, à medida que foram encontradas cada vez mais estruturas, todas datando do mesmo período, surgiu um entendimento diferente.

Desde então, Thomas, McMahon e suas equipes descobriram evidências que sugerem a prática de um culto.

Eles acharam um grande número de crânios e chifres de gado, cabra e gazela selvagem em pequenas câmaras nas cabeças dos mustatils, mas não encontraram nenhuma indicação de que fossem mantidos para uso doméstico.

Como não foram encontradas partes do corpo de nenhum outro animal, isso levou a equipe a deduzir que eram sacrifícios. E sugeria que os animais eram sacrificados em outro lugar. Isso é importante porque é evidência de uma sociedade de culto altamente organizada, muito mais antiga do que se pensava anteriormente - antecedendo o Islã na região em 6 mil anos.

"A escavação de vários mustatits revelou artefatos sugestivos de práticas rituais que ocorriam dentro das estruturas", diz Thomas.

"As pessoas que os construíram tinham uma cultura e um sistema de crenças compartilhados, e essa não era uma prática localizada. Ela se espalhava por uma área enorme da Arábia, do tamanho da Polônia."

"A Arábia Saudita tem a aparência de ser uma paisagem árida e inóspita, vista como isolada do resto do mundo, exceto por alguns locais notáveis, como Dedan e Hegra. No entanto, evidências arqueológicas, como os mustatils, demonstram que a região tinha uma história rica e complexa. Ter uma estrutura tão amplamente dispersa em uma área tão grande sugere um sistema de crenças, idioma e cultura compartilhados em uma escala que eu pessoalmente nunca imaginei ser possível", acrescenta Thomas.

Munirah Almushawh, codiretor de um projeto arqueológico em Khaybar (outra área de AIUla), concorda, observando que essa sociedade não apenas compartilhava um sistema de crenças único, como viajou grandes distâncias para compartilhar o conhecimento que permitiu construir as estruturas.

Alguns dos mustatits pesam até 12 mil toneladas; mais do que a Torre Eiffel. Sua construção teria exigido conhecimento, habilidade e organização por longos períodos de tempo. "O mustatil sugere grandes redes sociais, habilidades arquitetônicas inovadoras e vasta exploração na Arábia pré-histórica", observa Almushawh.

Apesar dessas descobertas emocionantes, o conhecimento sobre os mustatils ainda é incipiente, com apenas cinco dos 1,6 mil escavados até agora. A única certeza é que AIUla continuará a revelar seus mistérios.

À medida que a região reabre para o turismo pós-pandemia de covid-19, há planos para construir um enorme museu a céu aberto, onde os visitantes podem se embrenhar por vários sítios arqueológicos ou contar com o serviço de um guia.

Os turistas vão poder aprender sobre o período Neolítico, ver as antigas ruínas de casas e mustatils, e imaginar como essa sociedade aparentemente altamente organizada vivia e se deslocava pela paisagem.

McMahon e Thomas estão tão animados com o futuro de AIUla quanto com seu passado.

"O significado do que descobrimos está reescrevendo a história do Neolítico no noroeste da Arábia", afirma McMahon.

"Nosso trabalho revelou até agora apenas o que sempre existiu: a complexidade do período Neolítico nessa região, que anteriormente havia sido considerada inabitável ou meramente sem importância na época."

(Demi Perera. BBC FUTURE. ln: https://www1.folha.uol.com.br/ciencia/2022/07/as- ruinas-de-

culto-misterioso-milenar-que-pode-m8udar endimento-da-pre-historia.shtml. 24.jul.2022)

A respeito do texto e suas possíveis inferências, analise as afirmativas a seguir:

I. As ruínas de Hegra e Dadan se transformaram, com as descobertas, em importante referência histórica, motivadas por serem Patrimônio Mundial da Unesco.

II. Os mustatils, como guardavam artefatos religiosos, funcionavam praticamente como pontos de peregrinação, o que possibilitou a integração cultural e religiosa de toda a Arábia Saudita.

III. As descobertas na Arábia Saudita possibilitam reescrever já parte da história do Neolítico.

Assinale

 

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Caso o adolescente cometa ato infracional, são previstas medidas socioeducativas em conjunto com medidas protetivas.

Em caráter protetivo, é aplicável ao adolescente infrator a (o)

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2342580 Ano: 2022
Disciplina: Controle Externo
Banca: IDECAN
Orgão: TJ-PI

O Tribunal de Contas da União (TCU) ostenta a condição de órgão independente na estrutura do Estado brasileiro, de natureza técnica e política, criado para fiscalizar o correto emprego dos recursos públicos.

A respeito da composição, atribuições e demais características que são relativas ao TCU, é correto afirmar que

Questão Anulada e Desatualizada

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2342578 Ano: 2022
Disciplina: Direito Constitucional
Banca: IDECAN
Orgão: TJ-PI

O Princípio da lnafastabilidade da Jurisdição consta como garantia fundamental, visto na Constituição que a lei não excluirá da apreciação do Poder Judiciário lesão ou ameaça a direito.

Submete(m)-se à atividade jurisdicional:

Questão Anulada e Desatualizada

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2342576 Ano: 2022
Disciplina: Direito Administrativo
Banca: IDECAN
Orgão: TJ-PI

Os servidores públicos titulares de cargos efetivos são beneficiários de regime previdenciário próprio, de caráter contributivo e solidário.

O servidor enquadrado nesse regime será aposentado

Questão Anulada e Desatualizada

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2342537 Ano: 2022
Disciplina: Português
Banca: IDECAN
Orgão: TJ-PI

As ruínas de culto misterioso milenar que pode mudar entendimento da pré-história

O carro deslizava suavemente pela rodovia Impecavelmente conservada de AIUla, uma região no noroeste da Arábia Saudita, quando o motorista saiu abruptamente da estrada.

"Perdi o desvio", disse ele.

Olhei pela janela meio confusa, pois não conseguia ver uma curva óbvia.

"Aqui", exclamou ele, enquanto o carro sacudia pelas rochas de basalto para pegar um caminho quase imperceptível para o deserto.

Seguimos por uma paisagem vasta e plana. Um céu azul brilhante nos cercava por todos os lados, e um punhado de nuvens brancas pairava baixo.

Depois de alguns minutos, paramos em um círculo de pedras empilhadas. Sai do carro, esperando encontrar Jane McMahon, integrante de uma equipe de arqueólogos da Universidade da Austrália Ocidental que trabalha em AIUla desde 2018.

Ao meu redor havia uma planície árida de rochas cinza-escuro levemente polvilhadas com areia rosada.

Havia algo de sobrenatural naquilo tudo: a falta de uma única árvore ou pedaço de grama; a quietude do ar que só era interrompida de vez em quando por uma rajada implacável de vento que gelava até os ossos.

Vim até aqui porque as recentes descobertas em AIUla estão lançando luz sobre um período fascinante da história na Arábia Saudita.

Como o país só abriu para pesquisas internacionais há alguns anos (e para turistas em 2019), muitos de seus sítios arqueológicos antigos estão sendo estudados pela primeira vez.

Embora os historiadores estejam familiarizados com as ruínas das cidades de cerca de 2.000 anos de Hegra e Dadan, localizadas na Rota do Incenso (as tumbas e monumentos de Hegra são Patrimônio Mundial da Unesco), eles não tinham muito conhecimento sobre a civilização que veio antes - até agora.

Eles descobriram que, espalhados pela vasta e remota paisagem de AIUla, estão vestígios arqueológicos milenares que podem mudar nossa compreensão da pré-história.

O trabalho de McMahon e seus colegas está lançando luz sobre alguns dos primeiros monumentos de pedra da história mundial - anteriores a Stonehenge e à primeira pirâmide de Gizé.

Quando McMahon chegou, explicou que o circulo de rochas ao meu lado era os restos de uma casa ocupada no período Neolítico (de 6000 a 4500 a.C.), e que essa área já foi repleta de prósperos assentamentos.

Até recentemente, o pensamento predominante era que essa região tinha pouca atividade humana até a Idade do Bronze após 4000 a.e.

Mas o trabalho de McMahon e seus colegas revelou uma história muito diferente: que a Arábia Saudita neolítica era uma paisagem dinâmica, intensamente povoada e complexa, espalhada por uma vasta área.

Ao meu redor, havia mais de 30 moradias e túmulos, e isso era apenas uma pequena fração dos vestígios encontrados aqui.

Tentei imaginar como a paisagem poderia ser há milhares de anos: verde, exuberante e repleta de pessoas que se moviam ruidosamente, pastoreando cabras e chamando umas pelas outras.

"O clima e a paisagem inerte da Arábia Saudita significam que a maior parte da arqueologia está muito bem preservada na superfície de 5 mil a 8 mil anos atrás. Então exatamente do jeito que você vê, é como era todo esse tempo atrás", diz McMahon.

Ela explica que entender mais sobre a vida desses primeiros povos também poderia esclarecer como os grandes e densos assentamentos de Hegra e Dedan se desenvolveram, e como ocorreram as mudanças culturais e tecnológicas na região - como a agricultura de irrigação, metalurgia e textos escritos - nos milênios seguintes.

"As mudanças culturais que aconteceram após o Neolítico são enormes, mas não sabemos muito como essas mudanças ocorreram", diz ela. No entanto, mesmo nas mãos de arqueólogos tão experientes, uma descoberta em AIUla continuou carecendo de explicação.

Espalhadas por uma área de impressionantes 300 mil quilômetros quadrados e construídas num modelo relativamente consistente, estão 1,6 mil estruturas monumentais retangulares de pedra que também datam do período Neolítico.

Inicialmente chamadas de "portões" devido à sua aparência vista de cima, as estruturas foram posteriormente renomeadas como "mustatil", expressão árabe que pode ser traduzida como "retângulo".

"Faz voar sua imaginação pensar que temos estruturas tão grandes quanto cinco a seis campos de futebol, feitas de milhares de toneladas de pedra, que não apenas cobrem uma região geográfica enorme, como também têm 7.000 anos", diz Hugh Thomas, codiretor dos Projetos de Arqueologia Aérea do Reino da Arábia Saudita (AAKSAU, na sigla em inglês).

Ele tem trabalhado ao lado de McMahon nos últimos dois anos, realizando pesquisas arqueológicas aéreas e escavações direcionadas para entender o propósito do mustatil.

Os mustatils são certamente impressionantes, e a única maneira real de ter uma noção do seu tamanho é pelo ar.

Quando sobrevoei as estruturas de helicóptero, pude ver as grandes pedras dispostas em linhas retas na areia, com aproximadamente o comprimento de quatro campos de futebol e uma largura de pelo menos dois.

"Na minha opinião, os mustatils estão entre as estruturas arqueológicas mais únicas identificadas até agora no mundo", avalia Thomas.

"Quando olhamos para outras estruturas que datam do Neolítico que são tão impressionantes em sua construção, tenho dificuldade de pensar em alguma que cubra uma região geográfica tão grande."

Atém de ter registrado mustatils de vários tamanhos e complexidade, a equipe de Thomas também notou características consistentes. Todos foram construídos de maneira semelhante, empilhando pedras para formar paredes baixas que são preenchidas com cascalho - e incluem uma cabeça (o topo da estrutura), uma base e paredes compridas que os conectam.

Alguns possuem entradas e vários pátios interiores estreitos. As pedras usadas para a construção foram especialmente escolhidas, de modo a se encaixar e suportar as grandes estruturas, demonstrando uma profunda compreensão dos materiais locais.

Esses monumentos pré-históricos foram registrados pela primeira vez na década de 1960 por uma equipe local que realizava levantamentos de solo, mas naquela época ninguém sabia do que se tratava.

Pesquisas de sensoriamento remoto realizadas pelo professor David Kennedy (também da Universidade da Austrália Ocidental), em 2017, acentuaram o interesse na área, e as teorias iniciais sugeriam que os mustatils eram usados como marcadores territoriais para pastagens ancestrais.

No entanto, à medida que foram encontradas cada vez mais estruturas, todas datando do mesmo período, surgiu um entendimento diferente.

Desde então, Thomas, McMahon e suas equipes descobriram evidências que sugerem a prática de um culto.

Eles acharam um grande número de crânios e chifres de gado, cabra e gazela selvagem em pequenas câmaras nas cabeças dos mustatils, mas não encontraram nenhuma indicação de que fossem mantidos para uso doméstico.

Como não foram encontradas partes do corpo de nenhum outro animal, isso levou a equipe a deduzir que eram sacrifícios. E sugeria que os animais eram sacrificados em outro lugar. Isso é importante porque é evidência de uma sociedade de culto altamente organizada, muito mais antiga do que se pensava anteriormente - antecedendo o Islã na região em 6 mil anos.

"A escavação de vários mustatits revelou artefatos sugestivos de práticas rituais que ocorriam dentro das estruturas", diz Thomas.

"As pessoas que os construíram tinham uma cultura e um sistema de crenças compartilhados, e essa não era uma prática localizada. Ela se espalhava por uma área enorme da Arábia, do tamanho da Polônia."

"A Arábia Saudita tem a aparência de ser uma paisagem árida e inóspita, vista como isolada do resto do mundo, exceto por alguns locais notáveis, como Dedan e Hegra. No entanto, evidências arqueológicas, como os mustatils, demonstram que a região tinha uma história rica e complexa. Ter uma estrutura tão amplamente dispersa em uma área tão grande sugere um sistema de crenças, idioma e cultura compartilhados em uma escala que eu pessoalmente nunca imaginei ser possível", acrescenta Thomas.

Munirah Almushawh, codiretor de um projeto arqueológico em Khaybar (outra área de AIUla), concorda, observando que essa sociedade não apenas compartilhava um sistema de crenças único, como viajou grandes distâncias para compartilhar o conhecimento que permitiu construir as estruturas.

Alguns dos mustatits pesam até 12 mil toneladas; mais do que a Torre Eiffel. Sua construção teria exigido conhecimento, habilidade e organização por longos períodos de tempo. "O mustatil sugere grandes redes sociais, habilidades arquitetônicas inovadoras e vasta exploração na Arábia pré-histórica", observa Almushawh.

Apesar dessas descobertas emocionantes, o conhecimento sobre os mustatils ainda é incipiente, com apenas cinco dos 1,6 mil escavados até agora. A única certeza é que AIUla continuará a revelar seus mistérios.

À medida que a região reabre para o turismo pós-pandemia de covid-19, há planos para construir um enorme museu a céu aberto, onde os visitantes podem se embrenhar por vários sítios arqueológicos ou contar com o serviço de um guia.

Os turistas vão poder aprender sobre o período Neolítico, ver as antigas ruínas de casas e mustatils, e imaginar como essa sociedade aparentemente altamente organizada vivia e se deslocava pela paisagem.

McMahon e Thomas estão tão animados com o futuro de AIUla quanto com seu passado.

"O significado do que descobrimos está reescrevendo a história do Neolítico no noroeste da Arábia", afirma McMahon.

"Nosso trabalho revelou até agora apenas o que sempre existiu: a complexidade do período Neolítico nessa região, que anteriormente havia sido considerada inabitável ou meramente sem importância na época."

(Demi Perera. BBC FUTURE. ln: https://www1.folha.uol.com.br/ciencia/2022/07/as- ruinas-de-

culto-misterioso-milenar-que-pode-m8udar endimento-da-pre-historia.shtml. 24.jul.2022)

Ao meu redor, havia mais de 30 moradias e túmulos, e isso era apenas uma pequena fração dos vestígios encontrados aqui.

Em relação ao segmento sublinhado no período acima, assinale a alternativa em que, alterando-o, independentemente das alterações de sentido, tenha-se mantido adequação à norma culta.

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