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Atenção: Considere a crônica “Tartaruga de arrastão”, de Rachel de Queiroz, para responder à questão..
O caso deu-se aqui na ilha, numa pescaria de arrastão. Da primeira redada veio um tal peixe que causou
espanto: ninguém podia crer que naquele côncavo de mar morasse tanto peixe assim. Havia de ser alguma
piracema que ia passando; para lá de trés toneladas de pescado foram apanhadas de uma só vez. Na segunda
redada nada veio, ou quase nada — fugira a piracema ou fora toda colhida pela rede. Entretanto, no meio
daquele quase nada apareceu um bicho estranho: uma tartaruga do mar. Tartaruga diferente daquelas fluviais
que a gente conhece, tartaruga das profundezas salinas, meio peixe, porque em vez de pernas tem nadadeiras.
Primeiro ela se debateu e tentou de todas as maneiras furar a malha. Depois foi agarrada e atirada
ignominiosamente na areia, de barriga para cima. Por fim puseram-na em posição normal; e ela, recuperando
imediatamente a compostura, estirou o pescoço enrugado e correu em torno de si um olho temeroso. Não sei
se os presentes compreenderam quanto havia de surpresa, terror e pasmo nos olhos da tartaruga. Muito pior
que um bicho da terra pego numa rede: este pode estranhar a prisão, mas afinal continua dentro de um
elemento conhecido, pisando chão, vendo árvores familiares, sentindo o cheiro da terra. A tartaruga não: para
ela, nascida e vivida no mar, aquela era a mais estranha, a mais inacreditável e terrível das aventuras. Para
aquela tartaruga era o mesmo que seria para um de nós vermo-nos transportados subitamente, sem dano
físico, até o fundo do mar. Imagine que estranho, que portentoso e medonho não parece. As caras
desconhecidas de ignorados animais - no caso, homens. E todos, todos, canibais ou pior que isso — pois bem
sentia ela sobre o seu casco grosso, sobre a carapaça encaracada, o olhar doce e atento e cobiçoso dos
comedores de carne.
A sorte da coitada foi ninguém chegar a um acordo sobre a forma de abatê-la. E sorte maior o fato de
ninguém, pessoalmente, querer se responsabilizar pela carnificina naquela quinta-feira santa. Mas levaram-na
para o galinheiro - que ignominia, uma veterana dos sete mares a ser atirada entre as galinhas, na noite que
deveria ser a última da sua vida; ela que decerto esperava sepultar-se entre areias claras, nalgum maciço
colorido de anêmonas do mar. Mas felizmente para a tartaruga, incerto é o coração do homem, incertos, os
seus impulsos. Tanto val para um lado como para o outro, tanto procura devorar hoje o seu irmão bicho, como
amanhã o festeja e liberta. O fato é que um coração se apiedou da tragédia e houve mão que abriu a porta da
capoeira e encaminhou a marcha rampante do bicho marinho em direção da prala, em direção do mar, sua
pátria. Ela também não esperou arrependimento, não hesitou, não agradeceu. Cortou a areia deixando um
rastro longo, penetrou na água como um barco a deslizar do estaleiro, mergulhou, emergiu, voltou a cabeça
ainda assustada para aquele mundo sujo, escuro, inimigo, onde viviam os homens, onde esperava nunca mais
voltar; e mergulhou de novo, abraçando toda a água que podia entre as nadadeiras abertas.
(Adaptado de: QUEIROZ, Rachel de. 100 crônicas escolhidas: um alpendre, uma rede, um açude. Rio de
Janeiro: José Olympio, 2021)
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Atenção: Considere a crônica “Tartaruga de arrastão”, de Rachel de Queiroz, para responder à questão..
O caso deu-se aqui na ilha, numa pescaria de arrastão. Da primeira redada veio um tal peixe que causou
espanto: ninguém podia crer que naquele côncavo de mar morasse tanto peixe assim. Havia de ser alguma
piracema que ia passando; para lá de trés toneladas de pescado foram apanhadas de uma só vez. Na segunda
redada nada veio, ou quase nada — fugira a piracema ou fora toda colhida pela rede. Entretanto, no meio
daquele quase nada apareceu um bicho estranho: uma tartaruga do mar. Tartaruga diferente daquelas fluviais
que a gente conhece, tartaruga das profundezas salinas, meio peixe, porque em vez de pernas tem nadadeiras.
Primeiro ela se debateu e tentou de todas as maneiras furar a malha. Depois foi agarrada e atirada
ignominiosamente na areia, de barriga para cima. Por fim puseram-na em posição normal; e ela, recuperando
imediatamente a compostura, estirou o pescoço enrugado e correu em torno de si um olho temeroso. Não sei
se os presentes compreenderam quanto havia de surpresa, terror e pasmo nos olhos da tartaruga. Muito pior
que um bicho da terra pego numa rede: este pode estranhar a prisão, mas afinal continua dentro de um
elemento conhecido, pisando chão, vendo árvores familiares, sentindo o cheiro da terra. A tartaruga não: para
ela, nascida e vivida no mar, aquela era a mais estranha, a mais inacreditável e terrível das aventuras. Para
aquela tartaruga era o mesmo que seria para um de nós vermo-nos transportados subitamente, sem dano
físico, até o fundo do mar. Imagine que estranho, que portentoso e medonho não parece. As caras
desconhecidas de ignorados animais - no caso, homens. E todos, todos, canibais ou pior que isso — pois bem
sentia ela sobre o seu casco grosso, sobre a carapaça encaracada, o olhar doce e atento e cobiçoso dos
comedores de carne.
A sorte da coitada foi ninguém chegar a um acordo sobre a forma de abatê-la. E sorte maior o fato de
ninguém, pessoalmente, querer se responsabilizar pela carnificina naquela quinta-feira santa. Mas levaram-na
para o galinheiro - que ignominia, uma veterana dos sete mares a ser atirada entre as galinhas, na noite que
deveria ser a última da sua vida; ela que decerto esperava sepultar-se entre areias claras, nalgum maciço
colorido de anêmonas do mar. Mas felizmente para a tartaruga, incerto é o coração do homem, incertos, os
seus impulsos. Tanto val para um lado como para o outro, tanto procura devorar hoje o seu irmão bicho, como
amanhã o festeja e liberta. O fato é que um coração se apiedou da tragédia e houve mão que abriu a porta da
capoeira e encaminhou a marcha rampante do bicho marinho em direção da prala, em direção do mar, sua
pátria. Ela também não esperou arrependimento, não hesitou, não agradeceu. Cortou a areia deixando um
rastro longo, penetrou na água como um barco a deslizar do estaleiro, mergulhou, emergiu, voltou a cabeça
ainda assustada para aquele mundo sujo, escuro, inimigo, onde viviam os homens, onde esperava nunca mais
voltar; e mergulhou de novo, abraçando toda a água que podia entre as nadadeiras abertas.
(Adaptado de: QUEIROZ, Rachel de. 100 crônicas escolhidas: um alpendre, uma rede, um açude. Rio de
Janeiro: José Olympio, 2021)
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Atenção: Considere o texto “A irresistível ascensão do boto”, de Marcelo Leite, para responder à questão.
Diz a lenda amazônica que os botos saem do rio, se transformam em moços formosos e conquistam as
donzelas, engravidando-as. Vaidoso, na forma humana leva sempre um chapéu na cabeça, supostamente para
cobrir o orifício reminiscente da existência aquática. Pode não ser verdade, mas serve como justificação para
barrigas inexplicáveis pela ausência de marido. Bem ao modo da natureza social da Amazônia, onde bichos
costumam virar gente, e vice-versa. O trânsito de jabutis, onças, peixes e botos entre o que nós, de fora,
enxergamos como dois mundos é um verdadeiro carnaval.
Mitos e causos à parte, não é que a ciência revela o que os amazônidas já sabiam? Botos machos são
mesmo galantes. Como seus primos humanos, muitas vezes partem para atrair fêmeas com um ramalhete —
não de flores, mas de plantas aquáticas. Essa imitação barata do comportamento humano é pesquisada por
Vera Maria Ferreira da Silva, do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (INPA), e Tony Martin, do Serviço
Antártico Britânico. Não deixa de ser irônico que a instituição de Martin promova estudos em plena região
equatorial. Nem, tampouco, que o estudo de Silva se torne público no Brasil por intermédio de uma revista de
divulgação britânica, a New Scientist.
Silva e Martin estudaram bolos-lucuxis por três anos na região amazônica. Avistaram mais de 6.000
grupos em Mamirauá, Tefé (oeste do Estado do Amazonas). Em mais de 200 dessas observações havia um
indivíduo carregando objetos com o bico, como um maço de ervas ou um pedaço de pau. Em geral o portador
era um macho. Era, portanto, forte a sugestão de que se trata de um comportamento sexual. Para comprovar
sua hipótese, Silva e Martin buscaram o socorro da genética. Os resultados preliminares indicam que os mais
assíduos portadores de ramos e paus seriam também os reprodutores mais bem-sucedidos. Em português
claro, O comportamento seria uma forma de exibicionismo — no bom sentido. Machos exibem objetos
vistosos para se valorizar sexualmente aos olhos das fêmeas.
O curioso é encontrar o expediente só em alguns grupos isolados desses cetáceos. O padrão parece
sugerir que O comportamento só faz parte do repertório de alguns bandos, disseminando-se neles, ou para
outros, por imitação e aprendizado. Numa única e controversa palavra, cultura. Não faz muito tempo, essa era
uma noção que só fazia sentido aplicar a humanos. “Cultura”, afinal, sempre foi entendida como o oposto de
“natureza”. A fronteira, tão cara às ciências humanas, foi ficando menos nítida com as sucessivas
documentações, por vários grupos de pesquisa, do uso de ferramentas por outros primatas. Pelo visto, O boto
está prestes a subir na escala social.
(Adaptado de: LEITE, Marcelo. Ciência: use com cuidado. Campinas: Editora da Unicamp, 2014)
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Atenção: Considere o texto “A irresistível ascensão do boto”, de Marcelo Leite, para responder à questão.
Diz a lenda amazônica que os botos saem do rio, se transformam em moços formosos e conquistam as
donzelas, engravidando-as. Vaidoso, na forma humana leva sempre um chapéu na cabeça, supostamente para
cobrir o orifício reminiscente da existência aquática. Pode não ser verdade, mas serve como justificação para
barrigas inexplicáveis pela ausência de marido. Bem ao modo da natureza social da Amazônia, onde bichos
costumam virar gente, e vice-versa. O trânsito de jabutis, onças, peixes e botos entre o que nós, de fora,
enxergamos como dois mundos é um verdadeiro carnaval.
Mitos e causos à parte, não é que a ciência revela o que os amazônidas já sabiam? Botos machos são
mesmo galantes. Como seus primos humanos, muitas vezes partem para atrair fêmeas com um ramalhete —
não de flores, mas de plantas aquáticas. Essa imitação barata do comportamento humano é pesquisada por
Vera Maria Ferreira da Silva, do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (INPA), e Tony Martin, do Serviço
Antártico Britânico. Não deixa de ser irônico que a instituição de Martin promova estudos em plena região
equatorial. Nem, tampouco, que o estudo de Silva se torne público no Brasil por intermédio de uma revista de
divulgação britânica, a New Scientist.
Silva e Martin estudaram bolos-lucuxis por três anos na região amazônica. Avistaram mais de 6.000
grupos em Mamirauá, Tefé (oeste do Estado do Amazonas). Em mais de 200 dessas observações havia um
indivíduo carregando objetos com o bico, como um maço de ervas ou um pedaço de pau. Em geral o portador
era um macho. Era, portanto, forte a sugestão de que se trata de um comportamento sexual. Para comprovar
sua hipótese, Silva e Martin buscaram o socorro da genética. Os resultados preliminares indicam que os mais
assíduos portadores de ramos e paus seriam também os reprodutores mais bem-sucedidos. Em português
claro, O comportamento seria uma forma de exibicionismo — no bom sentido. Machos exibem objetos
vistosos para se valorizar sexualmente aos olhos das fêmeas.
O curioso é encontrar o expediente só em alguns grupos isolados desses cetáceos. O padrão parece
sugerir que O comportamento só faz parte do repertório de alguns bandos, disseminando-se neles, ou para
outros, por imitação e aprendizado. Numa única e controversa palavra, cultura. Não faz muito tempo, essa era
uma noção que só fazia sentido aplicar a humanos. “Cultura”, afinal, sempre foi entendida como o oposto de
“natureza”. A fronteira, tão cara às ciências humanas, foi ficando menos nítida com as sucessivas
documentações, por vários grupos de pesquisa, do uso de ferramentas por outros primatas. Pelo visto, O boto
está prestes a subir na escala social.
(Adaptado de: LEITE, Marcelo. Ciência: use com cuidado. Campinas: Editora da Unicamp, 2014)
Silva e Martin buscaram o socorro da genética (3º parágrafo).
Ao se transpor o trecho acima para a voz passiva, a forma verbal resultante será:
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Atenção: Considere o texto “A irresistível ascensão do boto”, de Marcelo Leite, para responder à questão.
Diz a lenda amazônica que os botos saem do rio, se transformam em moços formosos e conquistam as
donzelas, engravidando-as. Vaidoso, na forma humana leva sempre um chapéu na cabeça, supostamente para
cobrir o orifício reminiscente da existência aquática. Pode não ser verdade, mas serve como justificação para
barrigas inexplicáveis pela ausência de marido. Bem ao modo da natureza social da Amazônia, onde bichos
costumam virar gente, e vice-versa. O trânsito de jabutis, onças, peixes e botos entre o que nós, de fora,
enxergamos como dois mundos é um verdadeiro carnaval.
Mitos e causos à parte, não é que a ciência revela o que os amazônidas já sabiam? Botos machos são
mesmo galantes. Como seus primos humanos, muitas vezes partem para atrair fêmeas com um ramalhete —
não de flores, mas de plantas aquáticas. Essa imitação barata do comportamento humano é pesquisada por
Vera Maria Ferreira da Silva, do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (INPA), e Tony Martin, do Serviço
Antártico Britânico. Não deixa de ser irônico que a instituição de Martin promova estudos em plena região
equatorial. Nem, tampouco, que o estudo de Silva se torne público no Brasil por intermédio de uma revista de
divulgação britânica, a New Scientist.
Silva e Martin estudaram bolos-lucuxis por três anos na região amazônica. Avistaram mais de 6.000
grupos em Mamirauá, Tefé (oeste do Estado do Amazonas). Em mais de 200 dessas observações havia um
indivíduo carregando objetos com o bico, como um maço de ervas ou um pedaço de pau. Em geral o portador
era um macho. Era, portanto, forte a sugestão de que se trata de um comportamento sexual. Para comprovar
sua hipótese, Silva e Martin buscaram o socorro da genética. Os resultados preliminares indicam que os mais
assíduos portadores de ramos e paus seriam também os reprodutores mais bem-sucedidos. Em português
claro, O comportamento seria uma forma de exibicionismo — no bom sentido. Machos exibem objetos
vistosos para se valorizar sexualmente aos olhos das fêmeas.
O curioso é encontrar o expediente só em alguns grupos isolados desses cetáceos. O padrão parece
sugerir que O comportamento só faz parte do repertório de alguns bandos, disseminando-se neles, ou para
outros, por imitação e aprendizado. Numa única e controversa palavra, cultura. Não faz muito tempo, essa era
uma noção que só fazia sentido aplicar a humanos. “Cultura”, afinal, sempre foi entendida como o oposto de
“natureza”. A fronteira, tão cara às ciências humanas, foi ficando menos nítida com as sucessivas
documentações, por vários grupos de pesquisa, do uso de ferramentas por outros primatas. Pelo visto, O boto
está prestes a subir na escala social.
(Adaptado de: LEITE, Marcelo. Ciência: use com cuidado. Campinas: Editora da Unicamp, 2014)
Machos exibem objetos vistosos para se valorizar sexualmente aos olhos das fêmeas. (3º parágrafo)
Em relação à oração que a precede, a oração sublinhada expressa ideia de
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Diz a lenda amazônica que os botos saem do rio, se transformam em moços formosos e conquistam as
donzelas, engravidando-as. Vaidoso, na forma humana leva sempre um chapéu na cabeça, supostamente para
cobrir o orifício reminiscente da existência aquática. Pode não ser verdade, mas serve como justificação para
barrigas inexplicáveis pela ausência de marido. Bem ao modo da natureza social da Amazônia, onde bichos
costumam virar gente, e vice-versa. O trânsito de jabutis, onças, peixes e botos entre o que nós, de fora,
enxergamos como dois mundos é um verdadeiro carnaval.
Mitos e causos à parte, não é que a ciência revela o que os amazônidas já sabiam? Botos machos são
mesmo galantes. Como seus primos humanos, muitas vezes partem para atrair fêmeas com um ramalhete —
não de flores, mas de plantas aquáticas. Essa imitação barata do comportamento humano é pesquisada por
Vera Maria Ferreira da Silva, do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (INPA), e Tony Martin, do Serviço
Antártico Britânico. Não deixa de ser irônico que a instituição de Martin promova estudos em plena região
equatorial. Nem, tampouco, que o estudo de Silva se torne público no Brasil por intermédio de uma revista de
divulgação britânica, a New Scientist.
Silva e Martin estudaram bolos-lucuxis por três anos na região amazônica. Avistaram mais de 6.000
grupos em Mamirauá, Tefé (oeste do Estado do Amazonas). Em mais de 200 dessas observações havia um
indivíduo carregando objetos com o bico, como um maço de ervas ou um pedaço de pau. Em geral o portador
era um macho. Era, portanto, forte a sugestão de que se trata de um comportamento sexual. Para comprovar
sua hipótese, Silva e Martin buscaram o socorro da genética. Os resultados preliminares indicam que os mais
assíduos portadores de ramos e paus seriam também os reprodutores mais bem-sucedidos. Em português
claro, O comportamento seria uma forma de exibicionismo — no bom sentido. Machos exibem objetos
vistosos para se valorizar sexualmente aos olhos das fêmeas.
O curioso é encontrar o expediente só em alguns grupos isolados desses cetáceos. O padrão parece
sugerir que O comportamento só faz parte do repertório de alguns bandos, disseminando-se neles, ou para
outros, por imitação e aprendizado. Numa única e controversa palavra, cultura. Não faz muito tempo, essa era
uma noção que só fazia sentido aplicar a humanos. “Cultura”, afinal, sempre foi entendida como o oposto de
“natureza”. A fronteira, tão cara às ciências humanas, foi ficando menos nítida com as sucessivas
documentações, por vários grupos de pesquisa, do uso de ferramentas por outros primatas. Pelo visto, O boto
está prestes a subir na escala social.
(Adaptado de: LEITE, Marcelo. Ciência: use com cuidado. Campinas: Editora da Unicamp, 2014)
Considerando o contexto, o termo sublinhado acima pode ser substituído, sem prejuízo para o sentido do texto, por:
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Diz a lenda amazônica que os botos saem do rio, se transformam em moços formosos e conquistam as
donzelas, engravidando-as. Vaidoso, na forma humana leva sempre um chapéu na cabeça, supostamente para
cobrir o orifício reminiscente da existência aquática. Pode não ser verdade, mas serve como justificação para
barrigas inexplicáveis pela ausência de marido. Bem ao modo da natureza social da Amazônia, onde bichos
costumam virar gente, e vice-versa. O trânsito de jabutis, onças, peixes e botos entre o que nós, de fora,
enxergamos como dois mundos é um verdadeiro carnaval.
Mitos e causos à parte, não é que a ciência revela o que os amazônidas já sabiam? Botos machos são
mesmo galantes. Como seus primos humanos, muitas vezes partem para atrair fêmeas com um ramalhete —
não de flores, mas de plantas aquáticas. Essa imitação barata do comportamento humano é pesquisada por
Vera Maria Ferreira da Silva, do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (INPA), e Tony Martin, do Serviço
Antártico Britânico. Não deixa de ser irônico que a instituição de Martin promova estudos em plena região
equatorial. Nem, tampouco, que o estudo de Silva se torne público no Brasil por intermédio de uma revista de
divulgação britânica, a New Scientist.
Silva e Martin estudaram bolos-lucuxis por três anos na região amazônica. Avistaram mais de 6.000
grupos em Mamirauá, Tefé (oeste do Estado do Amazonas). Em mais de 200 dessas observações havia um
indivíduo carregando objetos com o bico, como um maço de ervas ou um pedaço de pau. Em geral o portador
era um macho. Era, portanto, forte a sugestão de que se trata de um comportamento sexual. Para comprovar
sua hipótese, Silva e Martin buscaram o socorro da genética. Os resultados preliminares indicam que os mais
assíduos portadores de ramos e paus seriam também os reprodutores mais bem-sucedidos. Em português
claro, O comportamento seria uma forma de exibicionismo — no bom sentido. Machos exibem objetos
vistosos para se valorizar sexualmente aos olhos das fêmeas.
O curioso é encontrar o expediente só em alguns grupos isolados desses cetáceos. O padrão parece
sugerir que O comportamento só faz parte do repertório de alguns bandos, disseminando-se neles, ou para
outros, por imitação e aprendizado. Numa única e controversa palavra, cultura. Não faz muito tempo, essa era
uma noção que só fazia sentido aplicar a humanos. “Cultura”, afinal, sempre foi entendida como o oposto de
“natureza”. A fronteira, tão cara às ciências humanas, foi ficando menos nítida com as sucessivas
documentações, por vários grupos de pesquisa, do uso de ferramentas por outros primatas. Pelo visto, O boto
está prestes a subir na escala social.
(Adaptado de: LEITE, Marcelo. Ciência: use com cuidado. Campinas: Editora da Unicamp, 2014)
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Diz a lenda amazônica que os botos saem do rio, se transformam em moços formosos e conquistam as
donzelas, engravidando-as. Vaidoso, na forma humana leva sempre um chapéu na cabeça, supostamente para
cobrir o orifício reminiscente da existência aquática. Pode não ser verdade, mas serve como justificação para
barrigas inexplicáveis pela ausência de marido. Bem ao modo da natureza social da Amazônia, onde bichos
costumam virar gente, e vice-versa. O trânsito de jabutis, onças, peixes e botos entre o que nós, de fora,
enxergamos como dois mundos é um verdadeiro carnaval.
Mitos e causos à parte, não é que a ciência revela o que os amazônidas já sabiam? Botos machos são
mesmo galantes. Como seus primos humanos, muitas vezes partem para atrair fêmeas com um ramalhete —
não de flores, mas de plantas aquáticas. Essa imitação barata do comportamento humano é pesquisada por
Vera Maria Ferreira da Silva, do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (INPA), e Tony Martin, do Serviço
Antártico Britânico. Não deixa de ser irônico que a instituição de Martin promova estudos em plena região
equatorial. Nem, tampouco, que o estudo de Silva se torne público no Brasil por intermédio de uma revista de
divulgação britânica, a New Scientist.
Silva e Martin estudaram bolos-lucuxis por três anos na região amazônica. Avistaram mais de 6.000
grupos em Mamirauá, Tefé (oeste do Estado do Amazonas). Em mais de 200 dessas observações havia um
indivíduo carregando objetos com o bico, como um maço de ervas ou um pedaço de pau. Em geral o portador
era um macho. Era, portanto, forte a sugestão de que se trata de um comportamento sexual. Para comprovar
sua hipótese, Silva e Martin buscaram o socorro da genética. Os resultados preliminares indicam que os mais
assíduos portadores de ramos e paus seriam também os reprodutores mais bem-sucedidos. Em português
claro, O comportamento seria uma forma de exibicionismo — no bom sentido. Machos exibem objetos
vistosos para se valorizar sexualmente aos olhos das fêmeas.
O curioso é encontrar o expediente só em alguns grupos isolados desses cetáceos. O padrão parece
sugerir que O comportamento só faz parte do repertório de alguns bandos, disseminando-se neles, ou para
outros, por imitação e aprendizado. Numa única e controversa palavra, cultura. Não faz muito tempo, essa era
uma noção que só fazia sentido aplicar a humanos. “Cultura”, afinal, sempre foi entendida como o oposto de
“natureza”. A fronteira, tão cara às ciências humanas, foi ficando menos nítida com as sucessivas
documentações, por vários grupos de pesquisa, do uso de ferramentas por outros primatas. Pelo visto, O boto
está prestes a subir na escala social.
(Adaptado de: LEITE, Marcelo. Ciência: use com cuidado. Campinas: Editora da Unicamp, 2014)
Ao se transpor o texto acima para o discurso indireto, a forma verbal sublinhada será substituída por:
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Diz a lenda amazônica que os botos saem do rio, se transformam em moços formosos e conquistam as
donzelas, engravidando-as. Vaidoso, na forma humana leva sempre um chapéu na cabeça, supostamente para
cobrir o orifício reminiscente da existência aquática. Pode não ser verdade, mas serve como justificação para
barrigas inexplicáveis pela ausência de marido. Bem ao modo da natureza social da Amazônia, onde bichos
costumam virar gente, e vice-versa. O trânsito de jabutis, onças, peixes e botos entre o que nós, de fora,
enxergamos como dois mundos é um verdadeiro carnaval.
Mitos e causos à parte, não é que a ciência revela o que os amazônidas já sabiam? Botos machos são
mesmo galantes. Como seus primos humanos, muitas vezes partem para atrair fêmeas com um ramalhete —
não de flores, mas de plantas aquáticas. Essa imitação barata do comportamento humano é pesquisada por
Vera Maria Ferreira da Silva, do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (INPA), e Tony Martin, do Serviço
Antártico Britânico. Não deixa de ser irônico que a instituição de Martin promova estudos em plena região
equatorial. Nem, tampouco, que o estudo de Silva se torne público no Brasil por intermédio de uma revista de
divulgação britânica, a New Scientist.
Silva e Martin estudaram bolos-lucuxis por três anos na região amazônica. Avistaram mais de 6.000
grupos em Mamirauá, Tefé (oeste do Estado do Amazonas). Em mais de 200 dessas observações havia um
indivíduo carregando objetos com o bico, como um maço de ervas ou um pedaço de pau. Em geral o portador
era um macho. Era, portanto, forte a sugestão de que se trata de um comportamento sexual. Para comprovar
sua hipótese, Silva e Martin buscaram o socorro da genética. Os resultados preliminares indicam que os mais
assíduos portadores de ramos e paus seriam também os reprodutores mais bem-sucedidos. Em português
claro, O comportamento seria uma forma de exibicionismo — no bom sentido. Machos exibem objetos
vistosos para se valorizar sexualmente aos olhos das fêmeas.
O curioso é encontrar o expediente só em alguns grupos isolados desses cetáceos. O padrão parece
sugerir que O comportamento só faz parte do repertório de alguns bandos, disseminando-se neles, ou para
outros, por imitação e aprendizado. Numa única e controversa palavra, cultura. Não faz muito tempo, essa era
uma noção que só fazia sentido aplicar a humanos. “Cultura”, afinal, sempre foi entendida como o oposto de
“natureza”. A fronteira, tão cara às ciências humanas, foi ficando menos nítida com as sucessivas
documentações, por vários grupos de pesquisa, do uso de ferramentas por outros primatas. Pelo visto, O boto
está prestes a subir na escala social.
(Adaptado de: LEITE, Marcelo. Ciência: use com cuidado. Campinas: Editora da Unicamp, 2014)
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Atenção: Considere o texto “A irresistível ascensão do boto”, de Marcelo Leite, para responder à questão.
Diz a lenda amazônica que os botos saem do rio, se transformam em moços formosos e conquistam as
donzelas, engravidando-as. Vaidoso, na forma humana leva sempre um chapéu na cabeça, supostamente para
cobrir o orifício reminiscente da existência aquática. Pode não ser verdade, mas serve como justificação para
barrigas inexplicáveis pela ausência de marido. Bem ao modo da natureza social da Amazônia, onde bichos
costumam virar gente, e vice-versa. O trânsito de jabutis, onças, peixes e botos entre o que nós, de fora,
enxergamos como dois mundos é um verdadeiro carnaval.
Mitos e causos à parte, não é que a ciência revela o que os amazônidas já sabiam? Botos machos são
mesmo galantes. Como seus primos humanos, muitas vezes partem para atrair fêmeas com um ramalhete —
não de flores, mas de plantas aquáticas. Essa imitação barata do comportamento humano é pesquisada por
Vera Maria Ferreira da Silva, do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (INPA), e Tony Martin, do Serviço
Antártico Britânico. Não deixa de ser irônico que a instituição de Martin promova estudos em plena região
equatorial. Nem, tampouco, que o estudo de Silva se torne público no Brasil por intermédio de uma revista de
divulgação britânica, a New Scientist.
Silva e Martin estudaram bolos-lucuxis por três anos na região amazônica. Avistaram mais de 6.000
grupos em Mamirauá, Tefé (oeste do Estado do Amazonas). Em mais de 200 dessas observações havia um
indivíduo carregando objetos com o bico, como um maço de ervas ou um pedaço de pau. Em geral o portador
era um macho. Era, portanto, forte a sugestão de que se trata de um comportamento sexual. Para comprovar
sua hipótese, Silva e Martin buscaram o socorro da genética. Os resultados preliminares indicam que os mais
assíduos portadores de ramos e paus seriam também os reprodutores mais bem-sucedidos. Em português
claro, O comportamento seria uma forma de exibicionismo — no bom sentido. Machos exibem objetos
vistosos para se valorizar sexualmente aos olhos das fêmeas.
O curioso é encontrar o expediente só em alguns grupos isolados desses cetáceos. O padrão parece
sugerir que O comportamento só faz parte do repertório de alguns bandos, disseminando-se neles, ou para
outros, por imitação e aprendizado. Numa única e controversa palavra, cultura. Não faz muito tempo, essa era
uma noção que só fazia sentido aplicar a humanos. “Cultura”, afinal, sempre foi entendida como o oposto de
“natureza”. A fronteira, tão cara às ciências humanas, foi ficando menos nítida com as sucessivas
documentações, por vários grupos de pesquisa, do uso de ferramentas por outros primatas. Pelo visto, O boto
está prestes a subir na escala social.
(Adaptado de: LEITE, Marcelo. Ciência: use com cuidado. Campinas: Editora da Unicamp, 2014)
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