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Foram encontradas 50 questões.

3009026 Ano: 2019
Disciplina: Português
Banca: IDECAN
Orgão: IF-PB

TEXTO PARA A QUESTÃO.

É normal que a vida pessoal de um autor permeie e seja presente em olhos vistos a sua obra. Essa máxima foi uma constante na época do apogeu de Franz Kafka, pelos idos de 1925, e sua obra é fruto deste meio. O escritor nascido em Praga era acostumado com uma figura opressora dentro do seio familiar, František via em seu genitor a figura de Pai-Patrão, que preconizava o segundo império da existência humana, explicitado pelo psicanalista MD Magno. A figura tirânica e punitiva ganhou contornos de vilania em Metamorfose e Carta ao Pai, sendo literalmente o objeto a ser deposto, enquanto em O Processo, essa autoridade suprema é representada pelo Estado absoluto e opressor, que se mune de uma autoridade imposta para extinguir a liberdade do indivíduo.

O despotismo familiar certamente influenciou o modo como o autor retrata a perseguição a Joseph K. O narrador faz uma escolha ligada ao juízo de valor, batendo o martelo a favor da total inocência de K, grifando até suas qualidades de otimismo, assim como sua ingenuidade diante da culpa que é jogada em seu colo. A sensação de que tudo não passa de um “mal entendido” visa tratar o objeto analisado em um alguém completamente eximido de culpa. Mas a adjetivação de credulidade sem base logo é desconstruída, com as mostras de um cidadão que tem noção plena dos próprios direitos e que, a priori, não se desespera diante do problema que o aflige.

O julgamento corre, e o protagonista consegue até ter um bom início a defender a si próprio, mas como já era esperado, ele é levado a cárcere. Uma vez na prisão, percebe o quanto o sistema é punitivo e açoitador. Pouco antes do carrasco impingir seu designado castigo, o agente da lei trata de tentar aplacar a expectativa de sofrimento que K poderia ter, o que é claramente um ato de ironia, visto que ele sentiria o prazer de causar dano a carne do acusado.

O sistema segue reduzindo Joseph K a quase nada. Suas tentativas de reverter sua situação não encontram êxito, ao contrário, falham demais apesar do enorme esforço dele e de sua boa fala. Nada parece ser suficiente para afastar a culpa dele. Quando percebe que suas chances são mínimas, ele começa até a ouvir com atenção demasiada os conselhos para que bajule o juiz e se adeque ao regime, pois sendo subserviente, haveria ao menos a possibilidade de ter sua pena amenizada.

O certame jurídico avança de modo complicado para o réu, e sua culpabilidade torna-se cada vez mais certa, tendo sobre si um julgo até eclesiástico, muito pautado na moral e bons costumes. A religião ajuda a oprimir K e a reprovar sua conduta, mesmo que seja discutível. Um dos sacerdotes serve para tentar aplacar a volúpia de Joseph por provar sua inocência, onde ele somente descreve a verdade de que, é praticamente impossível ele mostrar sua inocência.

O texto original de Kafka contém algumas anotações extra-romance, como partes riscadas do manuscrito original, que evidenciam toda reticência e emoção do autor, ao por as palavras no lugar onde deveriam, e claro, optar por algumas em detrimento de outras. O motivo disto não é conhecido, uma das possibilidade aventadas seria uma “auto-censura”, o que parece provável, outra talvez seria a tentativa de tornar a fala o mais universal possível, o que seria plausível, porque por mais que O Processo seja muito ligado a sua vivência, contém em si temas muito coletivos, profundamente ligados ao bem estar comum.

Apesar do já esperado fim de ciclo, o desfecho pelo qual passa Joseph K ainda guarda bastante surpresas, especialmente pela truculência com que é levado o arbítrio. O modo como é levado o capítulo final é a pá de cal, o último suspiro de um sujeito que perdeu tudo, sua liberdade, sua voz e até sua dignidade, em um movimento de puro desrespeito a sua existência. Kafka usa a história de seu personagem para demonstrar o quão diminuto pode ser o homem em comparação com o sistema que o cerca, sua crítica é certeira e pontual em tocar a alma do seu leitor.

Filipe Pereira.

http://www.vortexcultural.com.br/literatura/resenha-o-processo-franz-kafka/

Assinale a alternativa que não apresenta uma característica do gênero textual presente no texto.

 

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3008885 Ano: 2019
Disciplina: Português
Banca: IDECAN
Orgão: IF-PB

TEXTO PARA A QUESTÃO.

Caso pluvioso (Carlos Drummond de Andrade. Viola de Bolso, 1955)

A chuva me irritava. Até que um dia

descobri que Maria é que chovia.

A chuva era Maria. E cada pingo

de Maria ensopava o meu domingo.

E meus ossos molhando, me deixava

como terra que a chuva lavra e lava.

Eu era todo barro, sem verdura...

Maria, chuvosíssima criatura!

Ela chovia em mim, em cada gesto,

pensamento, desejo, sono, e o resto.

Era chuva fininha e chuva grossa,

matinal e noturna, ativa... Nossa!

Não me chovas, Maria, mais que o justo

chuvisco de um momento, apenas susto.

Não me inundes de teu líquido plasma,

não sejas tão aquático fantasma!

Eu lhe dizia em vão - pois que Maria

quanto mais eu rogava, mais chovia.

E chuveirando atroz em meu caminho,

o deixava banhado em triste vinho,

que não aquece, pois água de chuva

mosto é de cinza, não de boa uva.

Chuvadeira Maria, chuvadonha,

chuvinhenta, chuvil, pluvimedonha!

Eu lhe gritava: Pára! e ela chovendo,

poças d'água gelada ia tecendo.

Choveu tanto Maria em minha casa

que a correnteza forte criou asa

e um rio se formou, ou mar, não sei,

sei apenas que nele me afundei.

E quanto mais as ondas me levavam,

as fontes de Maria mais chuvavam,

de sorte que com pouco, e sem recurso,

as coisas se lançaram no seu curso,

e eis o mundo molhado e sovertido

sob aquele sinistro e atro chuvido.

Os seres mais estranhos se juntando

na mesma aquosa pasta iam clamando

contra essa chuva estúpida e mortal

catarata (jamais houve outra igual).

Anti-petendam cânticos se ouviram.

Que nada! As cordas d'água mais deliram,

e Maria, torneira desatada,

mais se dilata em sua chuvarada.

Os navios soçobram. Continentes

já submergem com todos os viventes,

e Maria chovendo. Eis que a essa altura,

delida e fluida a humana enfibratura,

e a terra não sofrendo tal chuvência,

comoveu-se a Divina Providência,

e Deus, piedoso e enérgico, bradou:

Não chove mais, Maria! - e ela parou.

Assinale a alternativa que apresenta um exemplo de gradação.

 

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3008873 Ano: 2019
Disciplina: Português
Banca: IDECAN
Orgão: IF-PB

E nós estamos ainda no processo de aprender como fazer democracia. E a luta

por ela passa pela luta contra todo tipo de autoritarismo.

Paulo Freire, 2000: 136.

1.1 O ALUNO QUE CONSTRÓI GRAMÁTICAS

Este livro busca refletir sobre a contribuição que a Linguística atual pode dar para a formação (continuada) do professor de Língua Portuguesa, ao mesmo tempo em que pretende mostrar possibilidades de atuação do bacharel em Linguística na escola que vão para além da sala de aula. Pode parecer surpreendente à primeira vista, mas a Linguística, uma disciplina científica que busca compreender as línguas naturais, aquelas que adquirimos em casa, sem instrução formal, tem um lugar na escola e não apenas na sala de aula. O seu papel no ensino não é tema novo. Há várias propostas para a Linguística entrar na escola. Nossa proposta é que o professor juntamente com os seus alunos se aventure a elaborar gramáticas (ou fragmentos de gramáticas). Fomos influenciadas pela leitura das experiências didáticas descritas em Chomsky et al. (1985), Carey et al. (1989), O'Neil et al. (2004) e O'Neil et al. (2010), entre outros, que mostram que a reflexão sobre uma língua natural ensina o método científico, auxilia no ensino de ciências e matemática e desenvolve as capacidades de leitura e escrita. Esses projetos foram desenvolvidos com comunidades carentes nos Estados Unidos — em comunidades indígenas americanas — e na África, em escolas sem infraestrutura, sem laboratórios, sem bibliotecas. Refletir sobre a linguagem exige apenas um bom professor, quadro-negro e a intuição dos alunos. Essa é uma maneira de ensinar a raciocinar cientificamente com pouquíssimos recursos. Além disso, essas experiências mostram que realizar essa reflexão resultou em escritores e leitores mais habilidosos. Uma outra razão para utilizarmos a Linguística na escola é o fato de que ela permite a inclusão de todos os falares (e, portanto, de todos os falantes), não apenas de variedades diferentes do português, variedades que são estigmatizadas socialmente — e esse é também um aspecto que a Linguística ajuda a esclarecer —, mas principalmente de falantes de outras línguas, como, por exemplo, a língua de sinais brasileira. As aulas de língua portuguesa podem não apenas versar sobre o português e suas variedades, elas podem ser uma oportunidade para se conhecer outras línguas, compará-las.

Neste livro, imaginamos aulas de português diferentes, como momentos em que as línguas e suas gramáticas ganham proeminência, o que permite tornar essas aulas espaços de interação com outras disciplinas, com as quais em geral não há conversa, como, por exemplo, a matemática; são também uma intervenção na sociedade, não apenas para desmistificar muitos dos preconceitos que a sociedade brasileira ainda tem quanto à língua, mas principalmente para formar cidadãos críticos, que sabem avaliar um argumento.

As aulas de português, nesta proposta, são momentos privilegiados em que o aluno se reconhece, valoriza sua fala, entende o lugar da sua fala e a do outro na sociedade, ao mesmo tempo em que aprende a construir modelos científicos, a raciocinar através da formulação e refutação de hipóteses; afinal, gramáticas nada mais são do que modos de explicação para um fenômeno da natureza — as línguas naturais, que são uma característica exclusiva dos seres humanos. Um dos objetivos deste livro é pavimentar um caminho que nos leve a entender as línguas sob esse outro prisma, que não é nem literário, nem o da sua utilidade para aprender a ler e a escrever — ambos, obviamente, legítimos e necessários —, mas sim aquele do olhar curioso para um fenômeno natural, que caracteriza a atividade científica. Esse fenômeno é a língua que falamos em casa, na nossa intimidade, com os nossos familiares e amigos. A língua que o aluno traz para a escola.

Essa perspectiva permite o florescimento da cidadania, porque leva o aluno a perceber a língua de maneira diferente, como a sua maneira de ser. A sua língua é a sua maneira de ser, e a exclusão dessa maneira de ser tem efeitos negativos também na aprendizagem da leitura e da escrita. Somos as línguas que falamos. Nossa língua materna é um componente fundamental da nossa identidade, não apenas como pessoa, mas também como povo. Não somos cidadãos plenos se temos vergonha da nossa fala, se negamos até hoje que há um português brasileiro, que tem características próprias reconhecidas há séculos, e se vemos no português da gente, na feliz expressão de Ilari e Basso (2006), um motivo de chacota porque "não sabemos falar". Note que é a colônia que não sabe falar; é a fala da colônia que é errada. Esses são indícios de uma subjetividade em desacordo consigo, porque não aceita o que é. Legitimar a língua que falamos, nossa identidade linguística, é uma das funções da escola, que pode ser realizada observando as línguas, construindo, juntamente com os alunos, gramáticas para explicá-las. Nesse percurso vão aparecer outras línguas, outras gramáticas. Contrariamente ao senso comum, que acredita haver uma única língua no Brasil, há muitas línguas no Brasil, somos multilíngues.

O texto acima trata-se do primeiro capítulo da obra “Gramática na escolas”, escrita pelas pesquisadoras Roberta Pires e Sandra Quarezemin. Na obra, as autoras procuram gerar reflexão sobre o papel do linguista nas salas de aula e nas escolas, com o objetivo de demonstrar que, em razão da chamada “língua natural”, é possível construir “gramáticas” e melhorar a educação do País. Com base nesse texto, em seus conhecimentos em linguística, em gramática, em literatura e em ensino de língua, responda a questão abaixo.

No trecho, “Contrariamente ao senso comum, que acredita haver uma única língua no Brasil, há muitas línguas no Brasil, somos multilíngues.”, pode-se depreender fala que faz uma análise

 

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3008872 Ano: 2019
Disciplina: Português
Banca: IDECAN
Orgão: IF-PB

E nós estamos ainda no processo de aprender como fazer democracia. E a luta

por ela passa pela luta contra todo tipo de autoritarismo.

Paulo Freire, 2000: 136.

1.1 O ALUNO QUE CONSTRÓI GRAMÁTICAS

Este livro busca refletir sobre a contribuição que a Linguística atual pode dar para a formação (continuada) do professor de Língua Portuguesa, ao mesmo tempo em que pretende mostrar possibilidades de atuação do bacharel em Linguística na escola que vão para além da sala de aula. Pode parecer surpreendente à primeira vista, mas a Linguística, uma disciplina científica que busca compreender as línguas naturais, aquelas que adquirimos em casa, sem instrução formal, tem um lugar na escola e não apenas na sala de aula. O seu papel no ensino não é tema novo. Há várias propostas para a Linguística entrar na escola. Nossa proposta é que o professor juntamente com os seus alunos se aventure a elaborar gramáticas (ou fragmentos de gramáticas). Fomos influenciadas pela leitura das experiências didáticas descritas em Chomsky et al. (1985), Carey et al. (1989), O'Neil et al. (2004) e O'Neil et al. (2010), entre outros, que mostram que a reflexão sobre uma língua natural ensina o método científico, auxilia no ensino de ciências e matemática e desenvolve as capacidades de leitura e escrita. Esses projetos foram desenvolvidos com comunidades carentes nos Estados Unidos — em comunidades indígenas americanas — e na África, em escolas sem infraestrutura, sem laboratórios, sem bibliotecas. Refletir sobre a linguagem exige apenas um bom professor, quadro-negro e a intuição dos alunos. Essa é uma maneira de ensinar a raciocinar cientificamente com pouquíssimos recursos. Além disso, essas experiências mostram que realizar essa reflexão resultou em escritores e leitores mais habilidosos. Uma outra razão para utilizarmos a Linguística na escola é o fato de que ela permite a inclusão de todos os falares (e, portanto, de todos os falantes), não apenas de variedades diferentes do português, variedades que são estigmatizadas socialmente — e esse é também um aspecto que a Linguística ajuda a esclarecer —, mas principalmente de falantes de outras línguas, como, por exemplo, a língua de sinais brasileira. As aulas de língua portuguesa podem não apenas versar sobre o português e suas variedades, elas podem ser uma oportunidade para se conhecer outras línguas, compará-las.

Neste livro, imaginamos aulas de português diferentes, como momentos em que as línguas e suas gramáticas ganham proeminência, o que permite tornar essas aulas espaços de interação com outras disciplinas, com as quais em geral não há conversa, como, por exemplo, a matemática; são também uma intervenção na sociedade, não apenas para desmistificar muitos dos preconceitos que a sociedade brasileira ainda tem quanto à língua, mas principalmente para formar cidadãos críticos, que sabem avaliar um argumento.

As aulas de português, nesta proposta, são momentos privilegiados em que o aluno se reconhece, valoriza sua fala, entende o lugar da sua fala e a do outro na sociedade, ao mesmo tempo em que aprende a construir modelos científicos, a raciocinar através da formulação e refutação de hipóteses; afinal, gramáticas nada mais são do que modos de explicação para um fenômeno da natureza — as línguas naturais, que são uma característica exclusiva dos seres humanos. Um dos objetivos deste livro é pavimentar um caminho que nos leve a entender as línguas sob esse outro prisma, que não é nem literário, nem o da sua utilidade para aprender a ler e a escrever — ambos, obviamente, legítimos e necessários —, mas sim aquele do olhar curioso para um fenômeno natural, que caracteriza a atividade científica. Esse fenômeno é a língua que falamos em casa, na nossa intimidade, com os nossos familiares e amigos. A língua que o aluno traz para a escola.

Essa perspectiva permite o florescimento da cidadania, porque leva o aluno a perceber a língua de maneira diferente, como a sua maneira de ser. A sua língua é a sua maneira de ser, e a exclusão dessa maneira de ser tem efeitos negativos também na aprendizagem da leitura e da escrita. Somos as línguas que falamos. Nossa língua materna é um componente fundamental da nossa identidade, não apenas como pessoa, mas também como povo. Não somos cidadãos plenos se temos vergonha da nossa fala, se negamos até hoje que há um português brasileiro, que tem características próprias reconhecidas há séculos, e se vemos no português da gente, na feliz expressão de Ilari e Basso (2006), um motivo de chacota porque "não sabemos falar". Note que é a colônia que não sabe falar; é a fala da colônia que é errada. Esses são indícios de uma subjetividade em desacordo consigo, porque não aceita o que é. Legitimar a língua que falamos, nossa identidade linguística, é uma das funções da escola, que pode ser realizada observando as línguas, construindo, juntamente com os alunos, gramáticas para explicá-las. Nesse percurso vão aparecer outras línguas, outras gramáticas. Contrariamente ao senso comum, que acredita haver uma única língua no Brasil, há muitas línguas no Brasil, somos multilíngues.

O texto acima trata-se do primeiro capítulo da obra “Gramática na escolas”, escrita pelas pesquisadoras Roberta Pires e Sandra Quarezemin. Na obra, as autoras procuram gerar reflexão sobre o papel do linguista nas salas de aula e nas escolas, com o objetivo de demonstrar que, em razão da chamada “língua natural”, é possível construir “gramáticas” e melhorar a educação do País. Com base nesse texto, em seus conhecimentos em linguística, em gramática, em literatura e em ensino de língua, responda a questão abaixo.

Infere-se do excerto “Refletir sobre a linguagem exige apenas um bom professor, quadro-negro e a intuição dos alunos. Essa é uma maneira de ensinar a raciocinar cientificamente com pouquíssimos recursos.” que o signo “apenas” possui, no texto, caráter predominantemente

 

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3008871 Ano: 2019
Disciplina: Pedagogia
Banca: IDECAN
Orgão: IF-PB

E nós estamos ainda no processo de aprender como fazer democracia. E a luta

por ela passa pela luta contra todo tipo de autoritarismo.

Paulo Freire, 2000: 136.

1.1 O ALUNO QUE CONSTRÓI GRAMÁTICAS

Este livro busca refletir sobre a contribuição que a Linguística atual pode dar para a formação (continuada) do professor de Língua Portuguesa, ao mesmo tempo em que pretende mostrar possibilidades de atuação do bacharel em Linguística na escola que vão para além da sala de aula. Pode parecer surpreendente à primeira vista, mas a Linguística, uma disciplina científica que busca compreender as línguas naturais, aquelas que adquirimos em casa, sem instrução formal, tem um lugar na escola e não apenas na sala de aula. O seu papel no ensino não é tema novo. Há várias propostas para a Linguística entrar na escola. Nossa proposta é que o professor juntamente com os seus alunos se aventure a elaborar gramáticas (ou fragmentos de gramáticas). Fomos influenciadas pela leitura das experiências didáticas descritas em Chomsky et al. (1985), Carey et al. (1989), O'Neil et al. (2004) e O'Neil et al. (2010), entre outros, que mostram que a reflexão sobre uma língua natural ensina o método científico, auxilia no ensino de ciências e matemática e desenvolve as capacidades de leitura e escrita. Esses projetos foram desenvolvidos com comunidades carentes nos Estados Unidos — em comunidades indígenas americanas — e na África, em escolas sem infraestrutura, sem laboratórios, sem bibliotecas. Refletir sobre a linguagem exige apenas um bom professor, quadro-negro e a intuição dos alunos. Essa é uma maneira de ensinar a raciocinar cientificamente com pouquíssimos recursos. Além disso, essas experiências mostram que realizar essa reflexão resultou em escritores e leitores mais habilidosos. Uma outra razão para utilizarmos a Linguística na escola é o fato de que ela permite a inclusão de todos os falares (e, portanto, de todos os falantes), não apenas de variedades diferentes do português, variedades que são estigmatizadas socialmente — e esse é também um aspecto que a Linguística ajuda a esclarecer —, mas principalmente de falantes de outras línguas, como, por exemplo, a língua de sinais brasileira. As aulas de língua portuguesa podem não apenas versar sobre o português e suas variedades, elas podem ser uma oportunidade para se conhecer outras línguas, compará-las.

Neste livro, imaginamos aulas de português diferentes, como momentos em que as línguas e suas gramáticas ganham proeminência, o que permite tornar essas aulas espaços de interação com outras disciplinas, com as quais em geral não há conversa, como, por exemplo, a matemática; são também uma intervenção na sociedade, não apenas para desmistificar muitos dos preconceitos que a sociedade brasileira ainda tem quanto à língua, mas principalmente para formar cidadãos críticos, que sabem avaliar um argumento.

As aulas de português, nesta proposta, são momentos privilegiados em que o aluno se reconhece, valoriza sua fala, entende o lugar da sua fala e a do outro na sociedade, ao mesmo tempo em que aprende a construir modelos científicos, a raciocinar através da formulação e refutação de hipóteses; afinal, gramáticas nada mais são do que modos de explicação para um fenômeno da natureza — as línguas naturais, que são uma característica exclusiva dos seres humanos. Um dos objetivos deste livro é pavimentar um caminho que nos leve a entender as línguas sob esse outro prisma, que não é nem literário, nem o da sua utilidade para aprender a ler e a escrever — ambos, obviamente, legítimos e necessários —, mas sim aquele do olhar curioso para um fenômeno natural, que caracteriza a atividade científica. Esse fenômeno é a língua que falamos em casa, na nossa intimidade, com os nossos familiares e amigos. A língua que o aluno traz para a escola.

Essa perspectiva permite o florescimento da cidadania, porque leva o aluno a perceber a língua de maneira diferente, como a sua maneira de ser. A sua língua é a sua maneira de ser, e a exclusão dessa maneira de ser tem efeitos negativos também na aprendizagem da leitura e da escrita. Somos as línguas que falamos. Nossa língua materna é um componente fundamental da nossa identidade, não apenas como pessoa, mas também como povo. Não somos cidadãos plenos se temos vergonha da nossa fala, se negamos até hoje que há um português brasileiro, que tem características próprias reconhecidas há séculos, e se vemos no português da gente, na feliz expressão de Ilari e Basso (2006), um motivo de chacota porque "não sabemos falar". Note que é a colônia que não sabe falar; é a fala da colônia que é errada. Esses são indícios de uma subjetividade em desacordo consigo, porque não aceita o que é. Legitimar a língua que falamos, nossa identidade linguística, é uma das funções da escola, que pode ser realizada observando as línguas, construindo, juntamente com os alunos, gramáticas para explicá-las. Nesse percurso vão aparecer outras línguas, outras gramáticas. Contrariamente ao senso comum, que acredita haver uma única língua no Brasil, há muitas línguas no Brasil, somos multilíngues.

O texto acima trata-se do primeiro capítulo da obra “Gramática na escolas”, escrita pelas pesquisadoras Roberta Pires e Sandra Quarezemin. Na obra, as autoras procuram gerar reflexão sobre o papel do linguista nas salas de aula e nas escolas, com o objetivo de demonstrar que, em razão da chamada “língua natural”, é possível construir “gramáticas” e melhorar a educação do País. Com base nesse texto, em seus conhecimentos em linguística, em gramática, em literatura e em ensino de língua, responda a questão abaixo.

Ainda sobre o trecho “Uma outra razão para utilizarmos a Linguística na escola é o fato de que ela permite a inclusão de todos os falares (e, portanto, de todos os falantes), não apenas de variedades diferentes do português, variedades que são estigmatizadas socialmente” , pode-se afirmar que um (uma) dos (das) linguistas (as) autores (as) que mais segue a linha da sociolinguística como fundamental para o ensino de língua na escola e que tem, inclusive, obras sobre o assunto é

 

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3008870 Ano: 2019
Disciplina: Pedagogia
Banca: IDECAN
Orgão: IF-PB

E nós estamos ainda no processo de aprender como fazer democracia. E a luta

por ela passa pela luta contra todo tipo de autoritarismo.

Paulo Freire, 2000: 136.

1.1 O ALUNO QUE CONSTRÓI GRAMÁTICAS

Este livro busca refletir sobre a contribuição que a Linguística atual pode dar para a formação (continuada) do professor de Língua Portuguesa, ao mesmo tempo em que pretende mostrar possibilidades de atuação do bacharel em Linguística na escola que vão para além da sala de aula. Pode parecer surpreendente à primeira vista, mas a Linguística, uma disciplina científica que busca compreender as línguas naturais, aquelas que adquirimos em casa, sem instrução formal, tem um lugar na escola e não apenas na sala de aula. O seu papel no ensino não é tema novo. Há várias propostas para a Linguística entrar na escola. Nossa proposta é que o professor juntamente com os seus alunos se aventure a elaborar gramáticas (ou fragmentos de gramáticas). Fomos influenciadas pela leitura das experiências didáticas descritas em Chomsky et al. (1985), Carey et al. (1989), O'Neil et al. (2004) e O'Neil et al. (2010), entre outros, que mostram que a reflexão sobre uma língua natural ensina o método científico, auxilia no ensino de ciências e matemática e desenvolve as capacidades de leitura e escrita. Esses projetos foram desenvolvidos com comunidades carentes nos Estados Unidos — em comunidades indígenas americanas — e na África, em escolas sem infraestrutura, sem laboratórios, sem bibliotecas. Refletir sobre a linguagem exige apenas um bom professor, quadro-negro e a intuição dos alunos. Essa é uma maneira de ensinar a raciocinar cientificamente com pouquíssimos recursos. Além disso, essas experiências mostram que realizar essa reflexão resultou em escritores e leitores mais habilidosos. Uma outra razão para utilizarmos a Linguística na escola é o fato de que ela permite a inclusão de todos os falares (e, portanto, de todos os falantes), não apenas de variedades diferentes do português, variedades que são estigmatizadas socialmente — e esse é também um aspecto que a Linguística ajuda a esclarecer —, mas principalmente de falantes de outras línguas, como, por exemplo, a língua de sinais brasileira. As aulas de língua portuguesa podem não apenas versar sobre o português e suas variedades, elas podem ser uma oportunidade para se conhecer outras línguas, compará-las.

Neste livro, imaginamos aulas de português diferentes, como momentos em que as línguas e suas gramáticas ganham proeminência, o que permite tornar essas aulas espaços de interação com outras disciplinas, com as quais em geral não há conversa, como, por exemplo, a matemática; são também uma intervenção na sociedade, não apenas para desmistificar muitos dos preconceitos que a sociedade brasileira ainda tem quanto à língua, mas principalmente para formar cidadãos críticos, que sabem avaliar um argumento.

As aulas de português, nesta proposta, são momentos privilegiados em que o aluno se reconhece, valoriza sua fala, entende o lugar da sua fala e a do outro na sociedade, ao mesmo tempo em que aprende a construir modelos científicos, a raciocinar através da formulação e refutação de hipóteses; afinal, gramáticas nada mais são do que modos de explicação para um fenômeno da natureza — as línguas naturais, que são uma característica exclusiva dos seres humanos. Um dos objetivos deste livro é pavimentar um caminho que nos leve a entender as línguas sob esse outro prisma, que não é nem literário, nem o da sua utilidade para aprender a ler e a escrever — ambos, obviamente, legítimos e necessários —, mas sim aquele do olhar curioso para um fenômeno natural, que caracteriza a atividade científica. Esse fenômeno é a língua que falamos em casa, na nossa intimidade, com os nossos familiares e amigos. A língua que o aluno traz para a escola.

Essa perspectiva permite o florescimento da cidadania, porque leva o aluno a perceber a língua de maneira diferente, como a sua maneira de ser. A sua língua é a sua maneira de ser, e a exclusão dessa maneira de ser tem efeitos negativos também na aprendizagem da leitura e da escrita. Somos as línguas que falamos. Nossa língua materna é um componente fundamental da nossa identidade, não apenas como pessoa, mas também como povo. Não somos cidadãos plenos se temos vergonha da nossa fala, se negamos até hoje que há um português brasileiro, que tem características próprias reconhecidas há séculos, e se vemos no português da gente, na feliz expressão de Ilari e Basso (2006), um motivo de chacota porque "não sabemos falar". Note que é a colônia que não sabe falar; é a fala da colônia que é errada. Esses são indícios de uma subjetividade em desacordo consigo, porque não aceita o que é. Legitimar a língua que falamos, nossa identidade linguística, é uma das funções da escola, que pode ser realizada observando as línguas, construindo, juntamente com os alunos, gramáticas para explicá-las. Nesse percurso vão aparecer outras línguas, outras gramáticas. Contrariamente ao senso comum, que acredita haver uma única língua no Brasil, há muitas línguas no Brasil, somos multilíngues.

O texto acima trata-se do primeiro capítulo da obra “Gramática na escolas”, escrita pelas pesquisadoras Roberta Pires e Sandra Quarezemin. Na obra, as autoras procuram gerar reflexão sobre o papel do linguista nas salas de aula e nas escolas, com o objetivo de demonstrar que, em razão da chamada “língua natural”, é possível construir “gramáticas” e melhorar a educação do País. Com base nesse texto, em seus conhecimentos em linguística, em gramática, em literatura e em ensino de língua, responda a questão abaixo.

Do trecho “Uma outra razão para utilizarmos a Linguística na escola é o fato de que ela permite a inclusão de todos os falares (e, portanto, de todos os falantes), não apenas de variedades diferentes do português, variedades que são estigmatizadas socialmente" infere-se que as autoras trabalham a percepção da sociolinguística, ciência que tem como um dos principais pesquisadores

 

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Questão presente nas seguintes provas
3008673 Ano: 2019
Disciplina: Português
Banca: IDECAN
Orgão: IF-PB

TEXTO I PARA A QUESTÃO.

CIDADANIA NO BRASIL

Discorda-se da extensão, profundidade e rapidez do fenômeno, não de sua existência. A internacionalização do sistema capitalista, iniciada há séculos mas muito acelerada pelos avanços tecnológicos recentes, e a criação de blocos econômicos e políticos têm causado uma redução do poder dos Estados e uma mudança das identidades nacionais existentes. As várias nações que compunham o antigo império soviético se transformaram em novos Estados-nação. No caso da Europa Ocidental, os vários Estados-nação se fundem em um grande Estado multinacional. A redução do poder do Estado afeta a natureza dos antigos direitos, sobretudo dos direitos políticos e sociais.

Se os direitos políticos significam participação no governo, uma diminuição no poder do governo reduz também a relevância do direito de participar. Por outro lado, a ampliação da competição internacional coloca pressão sobre o custo da mão-de-obra e sobre as finanças estatais, o que acaba afetando o emprego e os gastos do governo, do qual dependem os direitos sociais. Desse modo, as mudanças recentes têm recolocado em pauta o debate sobre o problema da cidadania, mesmo nos países em que ele parecia estar razoavelmente resolvido.

Tudo isso mostra a complexidade do problema. O enfrentamento dessa complexidade pode ajudar a identificar melhor as pedras no caminho da construção democrática. Não ofereço receita da cidadania. Também não escrevo para especialistas. Faço convite a todos os que se preocupam com a democracia para uma viagem pelos caminhos tortuosos que a cidadania tem seguido no Brasil. Seguindo-lhe o percurso, o eventual companheiro ou companheira de jornada poderá desenvolver visão própria do problema. Ao fazê-lo, estará exercendo sua cidadania.

(http://www.do.ufgd.edu.br/mariojunior/arquivos/cidadania_brasil.pdf)

No trecho “Tudo isso mostra a complexidade do problema.”, o elemento textual “isso” possui natureza de coesão

 

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Questão presente nas seguintes provas
1858725 Ano: 2019
Disciplina: Português
Banca: IDECAN
Orgão: IF-PB
enunciado 1858725-1

A mesma voz verbal de “cortou-se a sintaxe desse rio” pode ser encontrada em

 

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1858724 Ano: 2019
Disciplina: Português
Banca: IDECAN
Orgão: IF-PB
enunciado 1858724-1

Observe o trecho abaixo:

[...]

e muda porque com nenhuma comunica,

porque cortou-se a sintaxe desse rio,

o fio de água por que ele discorria

[...] (linhas 10 a 12)

Pode-se afirmar que as palavras destacadas funcionam, respectivamente, como

 

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Questão presente nas seguintes provas
1858723 Ano: 2019
Disciplina: Português
Banca: IDECAN
Orgão: IF-PB
enunciado 1858723-1

A julgar pela estrutura e pelo conteúdo que apresenta, é correto afirmar que o texto seja condizente com

 

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