Leia o texto 1 para responder a questão.
TEXTO 1
TRABALHAR, TRABALHAR, TRABALHAR...
Já está na hora de encerrarmos de vez aquele papo-dito-popular de que trabalhador brasileiro é preguiçoso, malemolente, louco para não fazer nada e coisital. Ou trabalha se for apertado. Andei consultando uns dados da OIT (Organização Internacional do Trabalho), agência multilateral ligada à ONU. Lá está: na indústria, semanalmente, trabalhamos 8 horas a mais que o americano, 11 horas a mais que o alemão e empatamos com os tigres asiáticos. Isso, não computando às estatísticas a nossa portentosa e corajosa criatividade.
E a nossa capacidade de sobrevivência? Vai aí um caso apenas, para ilustrar.
O baiano Vildomar Aparecido dos Santos (vulgo Baião de Dois) ficou perdido por seis meses em Bagdá. Não sabia falar um a de árabe. E mal escrevia o nome. Mas se virou, vendendo bugigangas e salamaleques no suki de Rusafa. Até ser descoberto pelo pessoal da imprensa, com saia, turbante e tudo... E já arranhando o árabe direitinho.
Caminhoneiro nosso, por exemplo, rala três vezes mais que os americanos ou os franceses. E se pegarmos a coisa pelo viés da economia informal? Aí é que o urubu viaja. Camelô, por exemplo, não fica na raleira do centro da cidade menos que 12 horas diárias. E é de segunda a sábado. O que dá 72 horas por semana. Fora domingo, quando o camarada ainda faz mutirão pra ajudar vizinho a levantar o barraco. Ou muda de ramo, pra fazer mais biscate, ali, onde houver maior ajuntamento de povo. É só fazer um circuito pelo centro da cidade pra ver, ouvir e conferir. E trampando o feio, pro bonito comer.
Aí me pergunto: pra quê? Pra entregar pro desgoverno, em nome do chamado imposto-cidadão? E que imposto é esse que nos volta, apenas, com o nome de corrupção? É pra pagar a prestação de um sonho ou reinvestir no pesadelo? Qual o perfil de dignidade que deveria sobrar na alma desse trabalhador, após um dia inteiro de correria da polícia, dos fiscais da prefeitura e até dos próprios patrões?
“O trabalho dignifica o homem”, está nos livros.!$ ^{(I)} !$ Mas vá a gente, outrora pequenos burgueses (os que agora habitamos a pirâmide da famigerada Classe C ou D), enfrentar uma onça dessas?!$ ^{(II)} !$
Colega meu de Sampa, professor desempregado e meio maluco, foi ao Paraguai. Comprou tudo o que lhe sobrou do FGTS em mercadorias batizadas. Depois fez o teste: “alugou”, por um dia, um determinado ponto na 25 de Março. Montou a banca e vendeu tudo o que quis. Voltou com bolhas nos pés, garganta rouca e olho ardendo. Coluna empenada, cecê no sovaco e zumbido no ouvido. Taquicardia, pressão alta e estresse suficiente pra um mês inteiro. Diz que nunca mais volta. É o inferno travestido de purgatório. Melhor ser professor desempregado... Ou intelectual autônomo da palavra.
E eu nem falei ainda dos milhões de brasileiros que – apesar do Estatuto da Criança e do Adolescente – começam a trabalhar antes dos 14 anos. Já trocando o lápis pela foice, pelos sinais de trânsito e pela enxada.
Fonte: Antonio Barreto (Fragmento) Adaptado.
Acesso em 09/11/2012.
I – “‘O trabalho dignifica o homem’, está nos livros.”
II – “...enfrentar uma onça dessas?”
Juntando-se as duas proposições é possível concluir que o autor: