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TEXTO II
Metapoesia
Não sei o que fazer com essa falta de inspiração.
Sei que ontem a sucumbi e dormi sobre seus
escombros e agora, saudosa, a procuro;
Sei que não consigo escrever.
Nem adianta observar lagartos em sua modorra sobre lajes,
não adianta ver os beijos dos enamorados nas praças ou
apreciar o idilio dos diáfanos cisnes no lago ao lado.
Tudo me lembra poesia,
Mas ela de mim não se lembra.
Não me faz rápida visita sequer!
Quando ela chegar,
Irei dizer-lhe metáforas, prosopopeias,
Cobrirei seus ombros de pétalas
Alvas, sonoras, quentes.
Enquanto não a recebo,
vejo o menino que passa
descalço levando nas costas
as intempéries da vida.
Pior do que não versejar sobre casais enamorados,
cisnes ou lagartos
é não poder eufemizar a vida do menino pobre que passa.
GURGEL, Nádia. Metapoesia. In: MEDEIROS, Giselda. AJEB Letras. Letras. Fortaleza: RBS, 2003, p. 168.
A questão refere-se ao TEXTO II.
Sobre o uso da virgula, pode-se afirmar que
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TEXTO I
A primeira cartilha
Há coisas que a gente não esquece: a primeira namorada, a primeira professora, a primeira cartilha. Minha introdução às letras foi feita através de um livrinho chamado Queres ler? (assim mesmo, com ponto de interrogação) . Era um clássico, embora tivesse alguns problemas(D): em primeiro lugar, tratava-se de um livro uruguaio, traduzido (o que era, e é, um vexame: cartilhas, pelo menos, deveriam ser nacionais). Em segundo lugar, era uma obra aberta e indiscreta: trazia instruções pormenorizadas sobre a maneira pela qual os professores deveriam usar o livro com os alunos. Quer dizer: era, também, para os professores, uma cartilha, o que, se não chegava a solapar a imagem dos mestres, pelo menos os colocava em pé de igualdade com os alunos (pé de igualdade, não; menos. Pé de página, e em letras bem pequenas) . Isto tal vez fosse benéfico, porque um estímulo tinhamos para aprender a ler: ansiávamos para descobrir o segredo dos mestres.
Em terceiro lugar - mas isto era grave-, a cartilha começava com a palavra uva. Com a palavra só, não; havia uma ilustração mostrando um grande, suculento, lascivo cacho de uvas (estrangeiras, naturalmente). Era um suplício olhar aquelas uvas (aliás, à época(B), uva designava, e não por acaso, uma dona boa), principalmente para os alunos mais pobres cujo único contato com o fruto da videira era exatamente através daquela figura.
Bem, mas não é isto que importa. O que importa é que aquele era o nosso primeiro livro, o livro que carregávamos com orgulho em nossa pasta. E o que importa, também, é que esse livro, o livro que jamais esqueceríamos, tinha um nome provocadoramente amável(A): ele não ordenava, ele perguntava; ele não só perguntava, ele convidava. E não sei de que outra maneira se possa introduzir uma criança à leitura, se não através de um sedutor convite. Porque ler é um ato da vontade. Diante da TV se pode ficar passivo, absorvendo imagens e sons. A TV não indaga, ela se impõe. E pode se impor por força de uma tecnologia que é absolutamente totalitária: do universo eletrônico no qual vivemos ninguém(C) escapa.
Ler, não. Ler exige esforço. No mundo da leitura, só se entra pagando ingresso. Decodificar as letras, transformá-las em imagens é uma arte, como é uma arte tocar um instrumento musical. Mas aqueles que entram no mundo da leitura(E), aqueles que a ele são bem conduzidos, estes encontram nos livros um lar, uma pátria, o território dos sonhos e das emoções.
Queres ler? - pergunto a meu filho, e espero que a resposta dele seja afirmativa. Para que ele possa provar a uva da qual é feito o doce vinho da fantasia arrebatadora.
SCILIAR, Moacyr. A primeira cartilha. In: SCILIAR, Moacyr. Um país chamado Infância. São Paulo: Ática, 2003, p. 46-47.
A questão refere-se ao TEXTO I.
Em que item há uma correspondência correta entre os termos e as funções sintáticas indicadas?
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TEXTO I
A primeira cartilha
Há coisas que a gente não esquece: a primeira namorada, a primeira professora, a primeira cartilha. Minha introdução às letras foi feita através de um livrinho chamado Queres ler? (assim mesmo, com ponto de interrogação) . Era um clássico, embora tivesse alguns problemas: em primeiro lugar, tratava-se de um livro uruguaio, traduzido (o que era, e é, um vexame: cartilhas, pelo menos, deveriam ser nacionais). Em segundo lugar, era uma obra aberta e indiscreta: trazia instruções pormenorizadas sobre a maneira pela qual os professores deveriam usar o livro com os alunos. Quer dizer: era, também, para os professores, uma cartilha, o que, se não chegava a solapar a imagem dos mestres, pelo menos os colocava em pé de igualdade com os alunos (pé de igualdade, não; menos. Pé de página, e em letras bem pequenas) . Isto tal vez fosse benéfico, porque um estímulo tinhamos para aprender a ler: ansiávamos para descobrir o segredo dos mestres.
Em terceiro lugar - mas isto era grave-, a cartilha começava com a palavra uva. Com a palavra só, não; havia uma ilustração mostrando um grande, suculento, lascivo cacho de uvas (estrangeiras, naturalmente). Era um suplício olhar aquelas uvas (aliás, à época, uva designava, e não por acaso, uma dona boa), principalmente para os alunos mais pobres cujo único contato com o fruto da videira era exatamente através daquela figura.
Bem, mas não é isto que importa. O que importa é que aquele era o nosso primeiro livro, o livro que carregávamos com orgulho em nossa pasta. E o que importa, também, é que esse livro, o livro que jamais esqueceríamos, tinha um nome provocadoramente amável: ele não ordenava, ele perguntava; ele não só perguntava, ele convidava. E não sei de que outra maneira se possa introduzir uma criança à leitura, se não através de um sedutor convite. Porque ler é um ato da vontade. Diante da TV se pode ficar passivo, absorvendo imagens e sons. A TV não indaga, ela se impõe. E pode se impor por força de uma tecnologia que é absolutamente totalitária: do universo eletrônico no qual vivemos ninguém escapa.
Ler, não. Ler exige esforço. No mundo da leitura, só se entra pagando ingresso. Decodificar as letras, transformá-las em imagens é uma arte, como é uma arte tocar um instrumento musical. Mas aqueles que entram no mundo da leitura, aqueles que a ele são bem conduzidos, estes encontram nos livros um lar, uma pátria, o território dos sonhos e das emoções.
Queres ler? - pergunto a meu filho, e espero que a resposta dele seja afirmativa. Para que ele possa provar a uva da qual é feito o doce vinho da fantasia arrebatadora.
SCILIAR, Moacyr. A primeira cartilha. In: SCILIAR, Moacyr. Um país chamado Infância. São Paulo: Ática, 2003, p. 46-47.
A questão refere-se ao TEXTO I.
A palavra "uva" também possui a conotação de
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Observe a tirinha abaixo:
Jornal do Brasil, Rio de Janeiro, 23 jun. 2004.
Quantos digrafos há no primeiro quadrinho da tirinha?
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