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1703368 Ano: 2008
Disciplina: Português
Banca: Marinha
Orgão: EAM
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TEXTO I

A primeira cartilha

Há coisas que a gente não esquece: a primeira namorada, a primeira professora, a primeira cartilha. Minha introdução às letras foi feita através de um livrinho chamado Queres ler? (assim mesmo, com ponto de interrogação) . Era um clássico, embora tivesse alguns problemas(D): em primeiro lugar, tratava-se de um livro uruguaio, traduzido (o que era, e é, um vexame: cartilhas, pelo menos, deveriam ser nacionais). Em segundo lugar, era uma obra aberta e indiscreta: trazia instruções pormenorizadas sobre a maneira pela qual os professores deveriam usar o livro com os alunos. Quer dizer: era, também, para os professores, uma cartilha, o que, se não chegava a solapar a imagem dos mestres, pelo menos os colocava em pé de igualdade com os alunos (pé de igualdade, não; menos. Pé de página, e em letras bem pequenas) . Isto tal vez fosse benéfico, porque um estímulo tinhamos para aprender a ler: ansiávamos para descobrir o segredo dos mestres.

Em terceiro lugar - mas isto era grave-, a cartilha começava com a palavra uva. Com a palavra só, não; havia uma ilustração mostrando um grande, suculento, lascivo cacho de uvas (estrangeiras, naturalmente). Era um suplício olhar aquelas uvas (aliás, à época(B), uva designava, e não por acaso, uma dona boa), principalmente para os alunos mais pobres cujo único contato com o fruto da videira era exatamente através daquela figura.

Bem, mas não é isto que importa. O que importa é que aquele era o nosso primeiro livro, o livro que carregávamos com orgulho em nossa pasta. E o que importa, também, é que esse livro, o livro que jamais esqueceríamos, tinha um nome provocadoramente amável(A): ele não ordenava, ele perguntava; ele não só perguntava, ele convidava. E não sei de que outra maneira se possa introduzir uma criança à leitura, se não através de um sedutor convite. Porque ler é um ato da vontade. Diante da TV se pode ficar passivo, absorvendo imagens e sons. A TV não indaga, ela se impõe. E pode se impor por força de uma tecnologia que é absolutamente totalitária: do universo eletrônico no qual vivemos ninguém(C) escapa.

Ler, não. Ler exige esforço. No mundo da leitura, só se entra pagando ingresso. Decodificar as letras, transformá-las em imagens é uma arte, como é uma arte tocar um instrumento musical. Mas aqueles que entram no mundo da leitura(E), aqueles que a ele são bem conduzidos, estes encontram nos livros um lar, uma pátria, o território dos sonhos e das emoções.

Queres ler? - pergunto a meu filho, e espero que a resposta dele seja afirmativa. Para que ele possa provar a uva da qual é feito o doce vinho da fantasia arrebatadora.

SCILIAR, Moacyr. A primeira cartilha. In: SCILIAR, Moacyr. Um país chamado Infância. São Paulo: Ática, 2003, p. 46-47.

A questão refere-se ao TEXTO I.

Em que item há uma correspondência correta entre os termos e as funções sintáticas indicadas?

 

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