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Durante o século passado, a doutrina da tábula rasa norteou os trabalhos de boa parte das ciências sociais e humanidades. A psicologia procurou explicar todo pensamento, sentimento e comportamento com alguns mecanismos simples de aprendizado. As ciências sociais procuram explicar todos os costumes e disposições sociais como um produto da socialização das crianças pela cultura circundante: um sistema de palavras, imagens, estereótipos, modelos e contingências de recompensa e punição. Uma longa e crescente lista de conceitos que pareceriam naturais ao modo de pensar humano (emoções, parentesco, os sexos, doença, natureza, o mundo) passou então a ser vista como “inventada” ou “socialmente construída”.
A tábula rasa também serviu de sagrada escritura para crenças políticas e éticas. Segundo a doutrina, toda diferença que vemos entre raças, grupos étnicos, sexos e indivíduos provém não de diferenças em sua constituição inata, mas de diferenças em suas experiências. Mudando as experiências – reformando o modo de criar os filhos, a educação, a mídia e as recompensas sociais – podemos mudar a pessoa. Notas baixas, pobreza e comportamento antissocial podem ser melhorados; de fato, não fazê-lo é uma irresponsabilidade. Toda discriminação com base em características ditas inatas de um sexo ou grupo étnico é absolutamente irracional.
É consternador pensarmos em nós como enobrecidos conjuntos de molas e engrenagens. Máquinas são insensíveis, construídas para ser usadas e descartadas; seres humanos têm sensibilidade, possuem dignidade e direitos e são infinitamente preciosos. Uma máquina tem algum propósito prosaico, como moer grãos ou apontar lápis; um ser humano tem propósitos mais elevados, como amor, devoção, boas obras e criação de conhecimento e beleza. O comportamento das máquinas é determinado pelas leis da física e da química; o comportamento das pessoas é livremente escolhido. Com a escolha vem a liberdade e, portanto, o otimismo quanto às nossas possibilidades para o futuro. Com a escolha vem também a responsabilidade, o que nos permite sustentar que as pessoas têm de responder por suas ações.
O filósofo Rousseau não acreditava exatamente numa tábula rasa, mas acreditava que o comportamento ruim era produto do aprendizado e socialização. As pessoas educadas procuram ser conscientes de seus preconceitos ocultos e avaliá-los com base nos fatos e nas sensibilidades dos outros. Na vida pública, tentamos julgar as pessoas como indivíduos, e não como espécimes de um sexo ou grupo étnico. Tentamos distinguir entre força e direito e assim respeitar culturas que são diferentes da nossa. Ocorreu uma revolução no tratamento da natureza humana pelos cientistas e estudiosos.
Pesquisadores das ciências humanas começaram a dar corpo à hipótese de que a mente evoluiu como uma estrutura universal complexa. A ideia de que a seleção natural dotou os humanos com uma mente universal complexa recebeu apoio de outras áreas. Com tantas capacidades mentais aparecendo em todas as culturas humanas, a mente nas crianças já não parece uma massa informe que a cultura molda. Do mesmo modo, nossa compreensão de nós mesmos e de nossas culturas só pode ser enriquecida pela descoberta de que nossa mente se compõe de intrincados circuitos neurais para pensar, sentir e aprender, ao invés de tábulas rasas, massas informes ou fantasmas inescrutáveis.
PINKER, Steven. Tábula rasa: a negação contemporânea da natureza humana. São Paulo: Companhia das Letras, 2004. p. 19-31. [adaptado]
Indique com (V) a(s) afirmativa(s) verdadeira(s) e com (F) a(s) falsa(s), de acordo com o Texto.
( ) Entre as estratégias argumentativas a que o autor recorre para reforçar seu ponto de vista de que os seres humanos não nascem como uma tábula rasa está o uso da expressão “pesquisadores das ciências humanas”.
( ) Somente as ciências humanas, na contemporaneidade, acreditam que a mente humana é dotada de uma estrutura universal complexa.
( ) O título da obra “Tábula rasa: a negação contemporânea da natureza humana” já marca a posição contrária do autor em relação à tese de que o ser humano é moldado pela “cultura circundante”.
Assinale a alternativa que apresenta a sequência CORRETA, de cima para baixo.
 

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