Magna Concursos

Foram encontradas 60 questões.

2926084 Ano: 2023
Disciplina: Português
Banca: UFG
Orgão: UFG

“PROIBIDO ROUBAR. RISCO DE MORTE” Facções consolidam hegemonia na Amazônia e impõem falsa pacificação em áreas dominadas

Fábio Pontes

Na noite do último dia 20 de março, jovens integrantes de facções criminosas da Baixada da Sobral, região com a maior concentração populacional de Rio Branco, receberam um “salve” para sair às ruas. A ordem era marcar território pichando os muros com as iniciais do Comando Vermelho (CV) e o aviso “Proibido Roubar”. Tudo deveria ser registrado em vídeo, para ser enviado aos superiores. Um dos vídeos vazou nas redes sociais. Mostra os “soldados do CV” iluminados pelas luzes de um carro, pichando muros às pressas. Como se ouve no áudio da gravação, a pressa tem motivo: “os homem [polícia] tão atrás de nós, doido, denunciaram”, diz um dos “soldados” na conversa com o chefe. Antes de deixar o local, eles fazem três disparos na direção de uma pessoa que observa, do alto do muro, a “operação”. O alvo não é atingido.

Novidade nos muros da periferia da capital do Acre, as pichações explicitam uma conquista na guerra travada desde 2016 entre o Comando Vermelho e o Primeiro Comando da Capital (PCC) nas regiões de fronteira da Amazônia.

O domínio da região é estratégico para a sobrevivência desses grupos criminosos, que têm no tráfico de drogas a principal fonte de financiamento. Segundo dados do Fórum Brasileiro de Segurança Pública (FBSP), o tráfico de cocaína faz circular o equivalente a 4% do PIB brasileiro, o que daria uma cifra em torno de 64 bilhões de dólares. E as rotas que passam pelos estados da Amazônia Legal responderiam por 40% desse volume de dinheiro, cerca de 25 bilhões de dólares.

[...]

“Abaixe o vidro para sua segurança”, diz uma pichação característica das áreas dominadas pelo PCC/B13. “Proibido roubar morador”, lê-se em outra parede. “Passa nada”, ou “Não passa nada”, uma gíria de intimidação aos inimigos, deixando claro que entrar ali é um risco. “Proibido rouba na quebrada. Pagar com a vida”, ou “Proibido roubar. Risco de morte”, avisam os recados cercados pelas iniciais do CV. Apesar de ser mais comum encontrar marcações do PCC/B13, a maior parte dos bairros da periferia de Rio Branco está sob controle do Comando Vermelho.

[...]

O diretor-presidente do Fórum Brasileiro de Segurança Pública (FBSP), Renato Sérgio de Lima, diz que o objetivo da facção, além de impor medo, é angariar legitimidade diante da população das áreas dominadas. “É claro que é uma lei do terror, do medo, mas não é só do medo. Eles estão tentando angariar legitimidade diante da população para poder se fazer presente ali. Evitando que os roubos aconteçam, eles não querem que a polícia vá ao lugar, mas também querem que a população proteja o negócio deles. É uma relação de troca muito perversa, porque quem está com as armas são eles.” Com isso, diz, a população se torna refém desse clima de falsa paz — que na verdade é um clima de guerra.

[...]

Para o coronel da Polícia Militar José Américo Gaia, atual secretário de Justiça e Segurança Pública (Sejusp) do Acre, todos esses casos de proibição de roubos e a implementação do “tribunal do crime” não passam de uma estratégia de marketing das facções, para passar a impressão de perda de autoridade por parte do Estado. Ele classifica como hollywoodianos os relatos de moradores recorrerem aos chefes das facções para reaver bens furtados. [...] “Eu não diria que no Acre existe uma ausência do Estado. Eu diria que existe uma propaganda de algumas coisas que eles querem implementar. Eles querem colocar isso nos bairros, sendo que no Acre não podemos dizer que a gente perdeu o controle sobre a segurança pública nos bairros”, afirma o secretário. “Isso é uma propaganda. Não retrata e não condiz com a realidade.”

Disponível em: <https://piaui.folha.uol.com.br/proibido-roubar-risco-de-morte>. Acesso em: 11 jul. 2023.

As frases e expressões pichadas nos muros foram fielmente reproduzidas no texto da reportagem, inclusive com os desvios de língua, como é o caso em “Proibido rouba na quebrada. Pagar com a vida”. A presença destas frases e expressões se justifica por se tratar de

 

Provas

Questão presente nas seguintes provas
2926083 Ano: 2023
Disciplina: Português
Banca: UFG
Orgão: UFG

“PROIBIDO ROUBAR. RISCO DE MORTE” Facções consolidam hegemonia na Amazônia e impõem falsa pacificação em áreas dominadas

Fábio Pontes

Na noite do último dia 20 de março, jovens integrantes de facções criminosas da Baixada da Sobral, região com a maior concentração populacional de Rio Branco, receberam um “salve” para sair às ruas. A ordem era marcar território pichando os muros com as iniciais do Comando Vermelho (CV) e o aviso “Proibido Roubar”. Tudo deveria ser registrado em vídeo, para ser enviado aos superiores. Um dos vídeos vazou nas redes sociais. Mostra os “soldados do CV” iluminados pelas luzes de um carro, pichando muros às pressas. Como se ouve no áudio da gravação, a pressa tem motivo: “os homem [polícia] tão atrás de nós, doido, denunciaram”, diz um dos “soldados” na conversa com o chefe. Antes de deixar o local, eles fazem três disparos na direção de uma pessoa que observa, do alto do muro, a “operação”. O alvo não é atingido.

Novidade nos muros da periferia da capital do Acre, as pichações explicitam uma conquista na guerra travada desde 2016 entre o Comando Vermelho e o Primeiro Comando da Capital (PCC) nas regiões de fronteira da Amazônia.

O domínio da região é estratégico para a sobrevivência desses grupos criminosos, que têm no tráfico de drogas a principal fonte de financiamento. Segundo dados do Fórum Brasileiro de Segurança Pública (FBSP), o tráfico de cocaína faz circular o equivalente a 4% do PIB brasileiro, o que daria uma cifra em torno de 64 bilhões de dólares. E as rotas que passam pelos estados da Amazônia Legal responderiam por 40% desse volume de dinheiro, cerca de 25 bilhões de dólares.

[...]

“Abaixe o vidro para sua segurança”, diz uma pichação característica das áreas dominadas pelo PCC/B13. “Proibido roubar morador”, lê-se em outra parede. “Passa nada”, ou “Não passa nada”, uma gíria de intimidação aos inimigos, deixando claro que entrar ali é um risco. “Proibido rouba na quebrada. Pagar com a vida”, ou “Proibido roubar. Risco de morte”, avisam os recados cercados pelas iniciais do CV. Apesar de ser mais comum encontrar marcações do PCC/B13, a maior parte dos bairros da periferia de Rio Branco está sob controle do Comando Vermelho.

[...]

O diretor-presidente do Fórum Brasileiro de Segurança Pública (FBSP), Renato Sérgio de Lima, diz que o objetivo da facção, além de impor medo, é angariar legitimidade diante da população das áreas dominadas. “É claro que é uma lei do terror, do medo, mas não é só do medo. Eles estão tentando angariar legitimidade diante da população para poder se fazer presente ali. Evitando que os roubos aconteçam, eles não querem que a polícia vá ao lugar, mas também querem que a população proteja o negócio deles. É uma relação de troca muito perversa, porque quem está com as armas são eles.” Com isso, diz, a população se torna refém desse clima de falsa paz — que na verdade é um clima de guerra.

[...]

Para o coronel da Polícia Militar José Américo Gaia, atual secretário de Justiça e Segurança Pública (Sejusp) do Acre, todos esses casos de proibição de roubos e a implementação do “tribunal do crime” não passam de uma estratégia de marketing das facções, para passar a impressão de perda de autoridade por parte do Estado. Ele classifica como hollywoodianos os relatos de moradores recorrerem aos chefes das facções para reaver bens furtados. [...] “Eu não diria que no Acre existe uma ausência do Estado. Eu diria que existe uma propaganda de algumas coisas que eles querem implementar. Eles querem colocar isso nos bairros, sendo que no Acre não podemos dizer que a gente perdeu o controle sobre a segurança pública nos bairros”, afirma o secretário. “Isso é uma propaganda. Não retrata e não condiz com a realidade.”

Disponível em: <https://piaui.folha.uol.com.br/proibido-roubar-risco-de-morte>. Acesso em: 11 jul. 2023.

Ao analisar o seguinte excerto: “os homem [polícia] tão atrás de nós, doido, denunciaram”, é possível afirmar que

 

Provas

Questão presente nas seguintes provas
2926082 Ano: 2023
Disciplina: Português
Banca: UFG
Orgão: UFG

“PROIBIDO ROUBAR. RISCO DE MORTE” Facções consolidam hegemonia na Amazônia e impõem falsa pacificação em áreas dominadas

Fábio Pontes

Na noite do último dia 20 de março, jovens integrantes de facções criminosas da Baixada da Sobral, região com a maior concentração populacional de Rio Branco, receberam um “salve” para sair às ruas. A ordem era marcar território pichando os muros com as iniciais do Comando Vermelho (CV) e o aviso “Proibido Roubar”. Tudo deveria ser registrado em vídeo, para ser enviado aos superiores. Um dos vídeos vazou nas redes sociais. Mostra os “soldados do CV” iluminados pelas luzes de um carro, pichando muros às pressas. Como se ouve no áudio da gravação, a pressa tem motivo: “os homem [polícia] tão atrás de nós, doido, denunciaram”, diz um dos “soldados” na conversa com o chefe. Antes de deixar o local, eles fazem três disparos na direção de uma pessoa que observa, do alto do muro, a “operação”. O alvo não é atingido.

Novidade nos muros da periferia da capital do Acre, as pichações explicitam uma conquista na guerra travada desde 2016 entre o Comando Vermelho e o Primeiro Comando da Capital (PCC) nas regiões de fronteira da Amazônia.

O domínio da região é estratégico para a sobrevivência desses grupos criminosos, que têm no tráfico de drogas a principal fonte de financiamento. Segundo dados do Fórum Brasileiro de Segurança Pública (FBSP), o tráfico de cocaína faz circular o equivalente a 4% do PIB brasileiro, o que daria uma cifra em torno de 64 bilhões de dólares. E as rotas que passam pelos estados da Amazônia Legal responderiam por 40% desse volume de dinheiro, cerca de 25 bilhões de dólares.

[...]

“Abaixe o vidro para sua segurança”, diz uma pichação característica das áreas dominadas pelo PCC/B13. “Proibido roubar morador”, lê-se em outra parede. “Passa nada”, ou “Não passa nada”, uma gíria de intimidação aos inimigos, deixando claro que entrar ali é um risco. “Proibido rouba na quebrada. Pagar com a vida”, ou “Proibido roubar. Risco de morte”, avisam os recados cercados pelas iniciais do CV. Apesar de ser mais comum encontrar marcações do PCC/B13, a maior parte dos bairros da periferia de Rio Branco está sob controle do Comando Vermelho.

[...]

O diretor-presidente do Fórum Brasileiro de Segurança Pública (FBSP), Renato Sérgio de Lima, diz que o objetivo da facção, além de impor medo, é angariar legitimidade diante da população das áreas dominadas. “É claro que é uma lei do terror, do medo, mas não é só do medo. Eles estão tentando angariar legitimidade diante da população para poder se fazer presente ali. Evitando que os roubos aconteçam, eles não querem que a polícia vá ao lugar, mas também querem que a população proteja o negócio deles. É uma relação de troca muito perversa, porque quem está com as armas são eles.” Com isso, diz, a população se torna refém desse clima de falsa paz — que na verdade é um clima de guerra.

[...]

Para o coronel da Polícia Militar José Américo Gaia, atual secretário de Justiça e Segurança Pública (Sejusp) do Acre, todos esses casos de proibição de roubos e a implementação do “tribunal do crime” não passam de uma estratégia de marketing das facções, para passar a impressão de perda de autoridade por parte do Estado. Ele classifica como hollywoodianos os relatos de moradores recorrerem aos chefes das facções para reaver bens furtados. [...] “Eu não diria que no Acre existe uma ausência do Estado. Eu diria que existe uma propaganda de algumas coisas que eles querem implementar. Eles querem colocar isso nos bairros, sendo que no Acre não podemos dizer que a gente perdeu o controle sobre a segurança pública nos bairros”, afirma o secretário. “Isso é uma propaganda. Não retrata e não condiz com a realidade.”

Disponível em: <https://piaui.folha.uol.com.br/proibido-roubar-risco-de-morte>. Acesso em: 11 jul. 2023.

O uso de aspas como sinal de pontuação no texto

 

Provas

Questão presente nas seguintes provas
2926081 Ano: 2023
Disciplina: Português
Banca: UFG
Orgão: UFG

“PROIBIDO ROUBAR. RISCO DE MORTE” Facções consolidam hegemonia na Amazônia e impõem falsa pacificação em áreas dominadas

Fábio Pontes

Na noite do último dia 20 de março, jovens integrantes de facções criminosas da Baixada da Sobral, região com a maior concentração populacional de Rio Branco, receberam um “salve” para sair às ruas. A ordem era marcar território pichando os muros com as iniciais do Comando Vermelho (CV) e o aviso “Proibido Roubar”. Tudo deveria ser registrado em vídeo, para ser enviado aos superiores. Um dos vídeos vazou nas redes sociais. Mostra os “soldados do CV” iluminados pelas luzes de um carro, pichando muros às pressas. Como se ouve no áudio da gravação, a pressa tem motivo: “os homem [polícia] tão atrás de nós, doido, denunciaram”, diz um dos “soldados” na conversa com o chefe. Antes de deixar o local, eles fazem três disparos na direção de uma pessoa que observa, do alto do muro, a “operação”. O alvo não é atingido.

Novidade nos muros da periferia da capital do Acre, as pichações explicitam uma conquista na guerra travada desde 2016 entre o Comando Vermelho e o Primeiro Comando da Capital (PCC) nas regiões de fronteira da Amazônia.

O domínio da região é estratégico para a sobrevivência desses grupos criminosos, que têm no tráfico de drogas a principal fonte de financiamento. Segundo dados do Fórum Brasileiro de Segurança Pública (FBSP), o tráfico de cocaína faz circular o equivalente a 4% do PIB brasileiro, o que daria uma cifra em torno de 64 bilhões de dólares. E as rotas que passam pelos estados da Amazônia Legal responderiam por 40% desse volume de dinheiro, cerca de 25 bilhões de dólares.

[...]

“Abaixe o vidro para sua segurança”, diz uma pichação característica das áreas dominadas pelo PCC/B13. “Proibido roubar morador”, lê-se em outra parede. “Passa nada”, ou “Não passa nada”, uma gíria de intimidação aos inimigos, deixando claro que entrar ali é um risco. “Proibido rouba na quebrada. Pagar com a vida”, ou “Proibido roubar. Risco de morte”, avisam os recados cercados pelas iniciais do CV. Apesar de ser mais comum encontrar marcações do PCC/B13, a maior parte dos bairros da periferia de Rio Branco está sob controle do Comando Vermelho.

[...]

O diretor-presidente do Fórum Brasileiro de Segurança Pública (FBSP), Renato Sérgio de Lima, diz que o objetivo da facção, além de impor medo, é angariar legitimidade diante da população das áreas dominadas. “É claro que é uma lei do terror, do medo, mas não é só do medo. Eles estão tentando angariar legitimidade diante da população para poder se fazer presente ali. Evitando que os roubos aconteçam, eles não querem que a polícia vá ao lugar, mas também querem que a população proteja o negócio deles. É uma relação de troca muito perversa, porque quem está com as armas são eles.” Com isso, diz, a população se torna refém desse clima de falsa paz — que na verdade é um clima de guerra.

[...]

Para o coronel da Polícia Militar José Américo Gaia, atual secretário de Justiça e Segurança Pública (Sejusp) do Acre, todos esses casos de proibição de roubos e a implementação do “tribunal do crime” não passam de uma estratégia de marketing das facções, para passar a impressão de perda de autoridade por parte do Estado. Ele classifica como hollywoodianos os relatos de moradores recorrerem aos chefes das facções para reaver bens furtados. [...] “Eu não diria que no Acre existe uma ausência do Estado. Eu diria que existe uma propaganda de algumas coisas que eles querem implementar. Eles querem colocar isso nos bairros, sendo que no Acre não podemos dizer que a gente perdeu o controle sobre a segurança pública nos bairros”, afirma o secretário. “Isso é uma propaganda. Não retrata e não condiz com a realidade.”

Disponível em: <https://piaui.folha.uol.com.br/proibido-roubar-risco-de-morte>. Acesso em: 11 jul. 2023.

Nos dois últimos parágrafos, são apresentadas as falas das duas figuras de autoridade entrevistadas na reportagem. Os dois posicionamentos

 

Provas

Questão presente nas seguintes provas
2926080 Ano: 2023
Disciplina: Português
Banca: UFG
Orgão: UFG

A Falência

Julia Lopes de Almeida

Em caminho de casa, Francisco Teodoro, recostado em um bonde, persistia em querer ler um jornal da tarde, sentindo que as ideias lhe fugiam para um curso perigoso. O êxito do Torres quizilava-o. Parecia-lhe que o outro lhe taparia o caminho, impedindo-o de chegar ao seu último ponto de mira. Galgava-lhe de assalto a dianteira, para se quedar sempre na sua frente, como um obstáculo. Aquela conquista de fortuna, feita de relance, perturbava-o, desmerecia o brilho das suas riquezas, ajuntadas dia a dia na canseira do trabalho. A vida tem ironias: teria ele sido um tolo? Talvez, e para se certificar reviu a sua vida no Rio, desde simples caixeiro, quase analfabeto, com a cabeça raspada, a jaqueta russa e os sapatões barulhentos. Tinha ainda fresco na memória o dia do desembarque - estava um calor! - e de como depois rolara aos ponta-pés, mal-vestido, mal alimentado, com saudades da broa negra, das sovas da mãe e das caçadas aos grilos pelas charnecas do seu lugar. Pouco a pouco outros grilos cantaram aos seus ouvidos de ambicioso. O som do dinheiro é música; viera para o ganhar, atirou-se ao seu destino, tolerando todas as opressões, dobrando-se a todas as exigências brutais, numa resignação de cachorro. Assim correram anos, dormindo em esteiras infectas, molhando de lágrimas o travesseiro sem fronha, até que o seu mealheiro se foi enchendo, enchendo avaramente. Aquela infância de degredo era agora o seu triunfo. Vinha de longe a sua paixão pelo dinheiro; levado por ela, não conhecera outra na mocidade. Todo o seu tempo, toda a sua vida tinham sido consagrados ao negócio. O negócio era o seu sonho de noite, a sua esperança de dia, o ideal a que atirava a sua alma de adolescente e de moço. Não podia explicar, como, só pelo atrito com pessoas mais cultivadas, ele fora perdendo, aos poucos, a grossa ignorância de que viera adornado. A letra desenvolveu-se, tornou-se firme, e a sua tendência para contas fez prodígios, aguçada com o sentido na verificação de lucros. Relendo cifras, escrevendo cartas, formulando projetos, e observando atentamente o seu trabalho e o alheio, tornara-se um negociante conhecedor do que tinha sob as mãos, e um homem limpo, a quem a sociedade recebia bem. Não pudera ser menino, não soubera ser moço, dera-se todo à deusa da fortuna, sem perceber que lhe sacrificava a melhor parte da vida. Para ele, o Brasil era o balcão, era o armazém atulhado, onde o esforço de cada indivíduo tem o seu prêmio. Fora do comércio não havia nada que lhe merecesse o desvio de um olhar... Tempos de amargura e de esperança, aqueles! Sentia-se só; começava a cansar-se e a enjoar as mulheres fáceis, com quem convivia em relações momentâneas. Mesmo a Sidônia enervava-o com os seus arrufos... e as suas denguices. Atirou-se a proteger as instituições do seu país, a andar com medalhões e fazer mordomias na Beneficiência. No fundo, não era só a distração que ele buscava, nem a caridade que ele exercia; uma outra causa lhe filtrava n’alma aquela vocação para o benefício... E a comenda chegou. Foi só depois de comendador que Teodoro se sentiu vexado daquela habitação e se mudou para um segundo andar da rua da Candelária, que mobiliou a vinhático, com exuberância de cromos pelas paredes. Achou, ainda assim, que à sua casa alegre faltava qualquer coisa... Viera-lhe a dispepsia. Que insônias! Um médico, consultado, aconselhara-lhe uma viagem a terra ou o casamento, para a regularização de hábitos.

Ele achara cedo para a viagem: solidificaria primeiro a fortuna.

A ideia do casamento parecia-lhe mais salvadora. Para que lhe serviria o que juntara, se o não compartilhasse com uma esposa dedicada e meia dúzia de filhos que lhe herdassem virtudes e haveres? No seu sonho começou a esboçar-se a ideia de um herdeiro. Teria um rapaz, que usasse o seu nome, seguisse as suas tradições e fosse, sobretudo, um continuador daquela casa da rua de S. Bento, que engrandeceria com o seu prestígio, a sua mocidade, bem assente no apoio e na experiência paterna. O filho seria a sua estátua viva, nele reviveria, mais perfeito e melhor. Esse ao menos teria infância, seria instruído.

Disponível em: <http://www.dominiopublico.gov.br/pesquisa/DetalheObraForm.do?select_actio n=&co_obra=7552>. Acesso em: 10 jul. 2023.

Leia o excerto a seguir.

[...] com saudades da broa negra, das sovas da mãe e das caçadas aos grilos pelas charnecas do seu lugar. Pouco a pouco outros grilos cantaram aos seus ouvidos de ambicioso.

Em relação aos processos de produção de sentido, é possível afirmar que a palavra “grilo”, no trecho, é um exemplo de

 

Provas

Questão presente nas seguintes provas
2926079 Ano: 2023
Disciplina: Português
Banca: UFG
Orgão: UFG

A Falência

Julia Lopes de Almeida

Em caminho de casa, Francisco Teodoro, recostado em um bonde, persistia em querer ler um jornal da tarde, sentindo que as ideias lhe fugiam para um curso perigoso. O êxito do Torres quizilava-o. Parecia-lhe que o outro lhe taparia o caminho, impedindo-o de chegar ao seu último ponto de mira. Galgava-lhe de assalto a dianteira, para se quedar sempre na sua frente, como um obstáculo. Aquela conquista de fortuna, feita de relance, perturbava-o, desmerecia o brilho das suas riquezas, ajuntadas dia a dia na canseira do trabalho. A vida tem ironias: teria ele sido um tolo? Talvez, e para se certificar reviu a sua vida no Rio, desde simples caixeiro, quase analfabeto, com a cabeça raspada, a jaqueta russa e os sapatões barulhentos. Tinha ainda fresco na memória o dia do desembarque - estava um calor! - e de como depois rolara aos ponta-pés, mal-vestido, mal alimentado, com saudades da broa negra, das sovas da mãe e das caçadas aos grilos pelas charnecas do seu lugar. Pouco a pouco outros grilos cantaram aos seus ouvidos de ambicioso. O som do dinheiro é música; viera para o ganhar, atirou-se ao seu destino, tolerando todas as opressões, dobrando-se a todas as exigências brutais, numa resignação de cachorro. Assim correram anos, dormindo em esteiras infectas, molhando de lágrimas o travesseiro sem fronha, até que o seu mealheiro se foi enchendo, enchendo avaramente. Aquela infância de degredo era agora o seu triunfo. Vinha de longe a sua paixão pelo dinheiro; levado por ela, não conhecera outra na mocidade. Todo o seu tempo, toda a sua vida tinham sido consagrados ao negócio. O negócio era o seu sonho de noite, a sua esperança de dia, o ideal a que atirava a sua alma de adolescente e de moço. Não podia explicar, como, só pelo atrito com pessoas mais cultivadas, ele fora perdendo, aos poucos, a grossa ignorância de que viera adornado. A letra desenvolveu-se, tornou-se firme, e a sua tendência para contas fez prodígios, aguçada com o sentido na verificação de lucros. Relendo cifras, escrevendo cartas, formulando projetos, e observando atentamente o seu trabalho e o alheio, tornara-se um negociante conhecedor do que tinha sob as mãos, e um homem limpo, a quem a sociedade recebia bem. Não pudera ser menino, não soubera ser moço, dera-se todo à deusa da fortuna, sem perceber que lhe sacrificava a melhor parte da vida. Para ele, o Brasil era o balcão, era o armazém atulhado, onde o esforço de cada indivíduo tem o seu prêmio. Fora do comércio não havia nada que lhe merecesse o desvio de um olhar... Tempos de amargura e de esperança, aqueles! Sentia-se só; começava a cansar-se e a enjoar as mulheres fáceis, com quem convivia em relações momentâneas. Mesmo a Sidônia enervava-o com os seus arrufos... e as suas denguices. Atirou-se a proteger as instituições do seu país, a andar com medalhões e fazer mordomias na Beneficiência. No fundo, não era só a distração que ele buscava, nem a caridade que ele exercia; uma outra causa lhe filtrava n’alma aquela vocação para o benefício... E a comenda chegou. Foi só depois de comendador que Teodoro se sentiu vexado daquela habitação e se mudou para um segundo andar da rua da Candelária, que mobiliou a vinhático, com exuberância de cromos pelas paredes. Achou, ainda assim, que à sua casa alegre faltava qualquer coisa... Viera-lhe a dispepsia. Que insônias! Um médico, consultado, aconselhara-lhe uma viagem a terra ou o casamento, para a regularização de hábitos.

Ele achara cedo para a viagem: solidificaria primeiro a fortuna.

A ideia do casamento parecia-lhe mais salvadora. Para que lhe serviria o que juntara, se o não compartilhasse com uma esposa dedicada e meia dúzia de filhos que lhe herdassem virtudes e haveres? No seu sonho começou a esboçar-se a ideia de um herdeiro. Teria um rapaz, que usasse o seu nome, seguisse as suas tradições e fosse, sobretudo, um continuador daquela casa da rua de S. Bento, que engrandeceria com o seu prestígio, a sua mocidade, bem assente no apoio e na experiência paterna. O filho seria a sua estátua viva, nele reviveria, mais perfeito e melhor. Esse ao menos teria infância, seria instruído.

Disponível em: <http://www.dominiopublico.gov.br/pesquisa/DetalheObraForm.do?select_actio n=&co_obra=7552>. Acesso em: 10 jul. 2023.

No excerto “O êxito do Torres quizilava-o. Parecia-lhe que o outro lhe taparia o caminho, impedindo-o de chegar ao seu último ponto de mira. Galgava-lhe de assalto a dianteira, para se quedar sempre na sua frente, como um obstáculo”, evidencia-se a variedade linguística

 

Provas

Questão presente nas seguintes provas
2926078 Ano: 2023
Disciplina: Português
Banca: UFG
Orgão: UFG

A Falência

Julia Lopes de Almeida

Em caminho de casa, Francisco Teodoro, recostado em um bonde, persistia em querer ler um jornal da tarde, sentindo que as ideias lhe fugiam para um curso perigoso. O êxito do Torres quizilava-o. Parecia-lhe que o outro lhe taparia o caminho, impedindo-o de chegar ao seu último ponto de mira. Galgava-lhe de assalto a dianteira, para se quedar sempre na sua frente, como um obstáculo. Aquela conquista de fortuna, feita de relance, perturbava-o, desmerecia o brilho das suas riquezas, ajuntadas dia a dia na canseira do trabalho. A vida tem ironias: teria ele sido um tolo? Talvez, e para se certificar reviu a sua vida no Rio, desde simples caixeiro, quase analfabeto, com a cabeça raspada, a jaqueta russa e os sapatões barulhentos. Tinha ainda fresco na memória o dia do desembarque - estava um calor! - e de como depois rolara aos ponta-pés, mal-vestido, mal alimentado, com saudades da broa negra, das sovas da mãe e das caçadas aos grilos pelas charnecas do seu lugar. Pouco a pouco outros grilos cantaram aos seus ouvidos de ambicioso. O som do dinheiro é música; viera para o ganhar, atirou-se ao seu destino, tolerando todas as opressões, dobrando-se a todas as exigências brutais, numa resignação de cachorro. Assim correram anos, dormindo em esteiras infectas, molhando de lágrimas o travesseiro sem fronha, até que o seu mealheiro se foi enchendo, enchendo avaramente. Aquela infância de degredo era agora o seu triunfo. Vinha de longe a sua paixão pelo dinheiro; levado por ela, não conhecera outra na mocidade. Todo o seu tempo, toda a sua vida tinham sido consagrados ao negócio. O negócio era o seu sonho de noite, a sua esperança de dia, o ideal a que atirava a sua alma de adolescente e de moço. Não podia explicar, como, só pelo atrito com pessoas mais cultivadas, ele fora perdendo, aos poucos, a grossa ignorância de que viera adornado. A letra desenvolveu-se, tornou-se firme, e a sua tendência para contas fez prodígios, aguçada com o sentido na verificação de lucros. Relendo cifras, escrevendo cartas, formulando projetos, e observando atentamente o seu trabalho e o alheio, tornara-se um negociante conhecedor do que tinha sob as mãos, e um homem limpo, a quem a sociedade recebia bem. Não pudera ser menino, não soubera ser moço, dera-se todo à deusa da fortuna, sem perceber que lhe sacrificava a melhor parte da vida. Para ele, o Brasil era o balcão, era o armazém atulhado, onde o esforço de cada indivíduo tem o seu prêmio. Fora do comércio não havia nada que lhe merecesse o desvio de um olhar... Tempos de amargura e de esperança, aqueles! Sentia-se só; começava a cansar-se e a enjoar as mulheres fáceis, com quem convivia em relações momentâneas. Mesmo a Sidônia enervava-o com os seus arrufos... e as suas denguices. Atirou-se a proteger as instituições do seu país, a andar com medalhões e fazer mordomias na Beneficiência. No fundo, não era só a distração que ele buscava, nem a caridade que ele exercia; uma outra causa lhe filtrava n’alma aquela vocação para o benefício... E a comenda chegou. Foi só depois de comendador que Teodoro se sentiu vexado daquela habitação e se mudou para um segundo andar da rua da Candelária, que mobiliou a vinhático, com exuberância de cromos pelas paredes. Achou, ainda assim, que à sua casa alegre faltava qualquer coisa... Viera-lhe a dispepsia. Que insônias! Um médico, consultado, aconselhara-lhe uma viagem a terra ou o casamento, para a regularização de hábitos.

Ele achara cedo para a viagem: solidificaria primeiro a fortuna.

A ideia do casamento parecia-lhe mais salvadora. Para que lhe serviria o que juntara, se o não compartilhasse com uma esposa dedicada e meia dúzia de filhos que lhe herdassem virtudes e haveres? No seu sonho começou a esboçar-se a ideia de um herdeiro. Teria um rapaz, que usasse o seu nome, seguisse as suas tradições e fosse, sobretudo, um continuador daquela casa da rua de S. Bento, que engrandeceria com o seu prestígio, a sua mocidade, bem assente no apoio e na experiência paterna. O filho seria a sua estátua viva, nele reviveria, mais perfeito e melhor. Esse ao menos teria infância, seria instruído.

Disponível em: <http://www.dominiopublico.gov.br/pesquisa/DetalheObraForm.do?select_actio n=&co_obra=7552>. Acesso em: 10 jul. 2023.

No texto, Francisco Teodoro revê sua vida desde que chegou ao Rio de Janeiro. Considerando aspectos do romance como um gênero textual, a narrativa é realizada

 

Provas

Questão presente nas seguintes provas
2926077 Ano: 2023
Disciplina: Português
Banca: UFG
Orgão: UFG

A Falência

Julia Lopes de Almeida

Em caminho de casa, Francisco Teodoro, recostado em um bonde, persistia em querer ler um jornal da tarde, sentindo que as ideias lhe fugiam para um curso perigoso. O êxito do Torres quizilava-o. Parecia-lhe que o outro lhe taparia o caminho, impedindo-o de chegar ao seu último ponto de mira. Galgava-lhe de assalto a dianteira, para se quedar sempre na sua frente, como um obstáculo. Aquela conquista de fortuna, feita de relance, perturbava-o, desmerecia o brilho das suas riquezas, ajuntadas dia a dia na canseira do trabalho. A vida tem ironias: teria ele sido um tolo? Talvez, e para se certificar reviu a sua vida no Rio, desde simples caixeiro, quase analfabeto, com a cabeça raspada, a jaqueta russa e os sapatões barulhentos. Tinha ainda fresco na memória o dia do desembarque - estava um calor! - e de como depois rolara aos ponta-pés, mal-vestido, mal alimentado, com saudades da broa negra, das sovas da mãe e das caçadas aos grilos pelas charnecas do seu lugar. Pouco a pouco outros grilos cantaram aos seus ouvidos de ambicioso. O som do dinheiro é música; viera para o ganhar, atirou-se ao seu destino, tolerando todas as opressões, dobrando-se a todas as exigências brutais, numa resignação de cachorro. Assim correram anos, dormindo em esteiras infectas, molhando de lágrimas o travesseiro sem fronha, até que o seu mealheiro se foi enchendo, enchendo avaramente. Aquela infância de degredo era agora o seu triunfo. Vinha de longe a sua paixão pelo dinheiro; levado por ela, não conhecera outra na mocidade. Todo o seu tempo, toda a sua vida tinham sido consagrados ao negócio. O negócio era o seu sonho de noite, a sua esperança de dia, o ideal a que atirava a sua alma de adolescente e de moço. Não podia explicar, como, só pelo atrito com pessoas mais cultivadas, ele fora perdendo, aos poucos, a grossa ignorância de que viera adornado. A letra desenvolveu-se, tornou-se firme, e a sua tendência para contas fez prodígios, aguçada com o sentido na verificação de lucros. Relendo cifras, escrevendo cartas, formulando projetos, e observando atentamente o seu trabalho e o alheio, tornara-se um negociante conhecedor do que tinha sob as mãos, e um homem limpo, a quem a sociedade recebia bem. Não pudera ser menino, não soubera ser moço, dera-se todo à deusa da fortuna, sem perceber que lhe sacrificava a melhor parte da vida. Para ele, o Brasil era o balcão, era o armazém atulhado, onde o esforço de cada indivíduo tem o seu prêmio. Fora do comércio não havia nada que lhe merecesse o desvio de um olhar... Tempos de amargura e de esperança, aqueles! Sentia-se só; começava a cansar-se e a enjoar as mulheres fáceis, com quem convivia em relações momentâneas. Mesmo a Sidônia enervava-o com os seus arrufos... e as suas denguices. Atirou-se a proteger as instituições do seu país, a andar com medalhões e fazer mordomias na Beneficiência. No fundo, não era só a distração que ele buscava, nem a caridade que ele exercia; uma outra causa lhe filtrava n’alma aquela vocação para o benefício... E a comenda chegou. Foi só depois de comendador que Teodoro se sentiu vexado daquela habitação e se mudou para um segundo andar da rua da Candelária, que mobiliou a vinhático, com exuberância de cromos pelas paredes. Achou, ainda assim, que à sua casa alegre faltava qualquer coisa... Viera-lhe a dispepsia. Que insônias! Um médico, consultado, aconselhara-lhe uma viagem a terra ou o casamento, para a regularização de hábitos.

Ele achara cedo para a viagem: solidificaria primeiro a fortuna.

A ideia do casamento parecia-lhe mais salvadora. Para que lhe serviria o que juntara, se o não compartilhasse com uma esposa dedicada e meia dúzia de filhos que lhe herdassem virtudes e haveres? No seu sonho começou a esboçar-se a ideia de um herdeiro. Teria um rapaz, que usasse o seu nome, seguisse as suas tradições e fosse, sobretudo, um continuador daquela casa da rua de S. Bento, que engrandeceria com o seu prestígio, a sua mocidade, bem assente no apoio e na experiência paterna. O filho seria a sua estátua viva, nele reviveria, mais perfeito e melhor. Esse ao menos teria infância, seria instruído.

Disponível em: <http://www.dominiopublico.gov.br/pesquisa/DetalheObraForm.do?select_actio n=&co_obra=7552>. Acesso em: 10 jul. 2023.

O romance A falência, de Julia Lopes de Almeida, foi publicado em 1901, embora o seu reconhecimento devido tenha somente se solidificado nos últimos anos, especialmente pela atualidade de sua temática. Sobre a relação do personagem Francisco Teodoro com o trabalho, é possível caracterizá-la como

 

Provas

Questão presente nas seguintes provas
2926129 Ano: 2023
Disciplina: Segurança Privada e Transportes
Banca: UFG
Orgão: UFG

Qual tipo de alarme é utilizado na segurança de perímetro?

Questão Anulada

Provas

Questão presente nas seguintes provas
2926097 Ano: 2023
Disciplina: Direito Penal
Banca: UFG
Orgão: UFG

Embora sejam crimes e ensejam a responsabilidade penal, os conceitos jurídicos de injúria racial e racismo são diferentes. O primeiro está contido no Código Penal brasileiro e o segundo, previsto na Lei n° 7.716/1989. A diferença mais notável entre os crimes de injúria racial e racismo, quanto ao alcance da ofensa, é que

Questão Desatualizada

Provas

Questão presente nas seguintes provas