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3179731 Ano: 2024
Disciplina: Português
Banca: CETREDE
Orgão: Pref. Pires Ferreira-CE
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Leia o Texto I a seguir para responder às questões de 1 a 10.

TEXTO 1

Antissemitismo e islamofobia como ideologias da guerra e da crise global

A normalização da narrativa racista anti-palestina e islamofóbica de um lado assim como a normalização de uma narrativa antissemita contra israelenses e judeus de outro não são questões secundárias no que diz respeito ao conflito

Daniel Feldman

Escrito por Ben Gidley, Daniel Mang, Daniel Randall e assinado por ativistas, coletivos e intelectuais de diferentes países, entre eles talvez o mais conhecido Slavoj Žižek, o Manifesto que ora apresentamos neste artigo intitulado “Por uma esquerda consistentemente internacionalista e democrática” propõe um enfoque original e a nosso ver bastante oportuno para a reflexão, não apenas sobre os acontecimentos recentes em Israel/Palestina, mas também para uma reflexão mais de fundo sobre certos posicionamentos do campo da esquerda em meio ao caos global em que estamos atolados. Como uma primeira aproximação, retenhamos uma das suas afirmações: “A esquerda pode e deve se opor incondicionalmente ao preconceito anti-palestino e anti-muçulmano sem endossar o Hamas; ela pode e deve se opor incondicionalmente ao antissemitismo sem endossar o chauvinismo israelense”.

Parte-se assim da premissa que as narrativas, as ideologias e as visões de mundo não são algo menor em relação às questões concretas e mais prementes que implicam diretamente a vida das pessoas, em especial no que tange à questão Israel/Palestina. Por certo que, dada a destruição de Gaza, a terrível crise humanitária e o assassinato de tantos milhares de civis causados pelos bombardeios e invasão de Israel, a questão mais imediata e urgente que se coloca é a do cessar-fogo imediato e uma negociação para a liberação dos reféns israelenses em troca dos prisioneiros palestinos. No entanto, justamente o problema que o Manifesto nos propõe é o seguinte: a normalização da narrativa racista anti-palestina e islamofóbica de um lado, assim como a normalização de uma narrativa antissemita contra israelenses e judeus de outro, não são questões secundárias no que diz respeito ao conflito. O combate a tais narrativas não se limita a uma questão de bons modos ou de mera correção política, mas sim uma é postura que, ao ser negligenciada, contribui para um enredo pernicioso muito real que ajuda, nos fatos, a prolongar a tragédia.

Isso nos leva ao que cremos ser a originalidade do manifesto: abordar o problema da islamofobia e do antissemitismo como fenômenos que têm sim as suas singularidades, mas que ao mesmo tempo são correlatos e logo só podem ser encarados de forma satisfatória se forem combatidos em conjunto: “A crescente polarização e divisão tem contribuído para a desumanização não apenas de israelenses e palestinos, mas de judeus, muçulmanos e árabes em todo lugar, e para o aprofundamento de uma cultura de vitimização competitiva de soma zero, em vez de solidariedade”. E aqui chegamos naquilo que os autores preconizam como uma atitude consistente no título de seu manifesto: jogar a denúncia de um tipo de ódio social contra o outro é trair a luta contra ambos, pois, sobretudo na conjuntura que se abriu após o 7 de outubro, eles estão intimamente imbricados e se reforçam mutuamente. A intenção dos que querem matar palestinos (ou árabes e muçulmanos de forma mais ampla) assim como a intenção dos que querem obliterar a nação palestina alimentam e corroboram as intenções dos que querem matar judeus e obliterar a nação israelense. E vice-versa. No entanto, para que tais intenções – que cresceram sobremaneira no mundo nesses dois meses – se transformem em ato, é preciso antes que elas estejam embebidas na demonização e na estigmatização do Outro, no caso, embebidas nas narrativas islamofóbica e antissemita. Tais narrativas, assim, deixam o plano abstrato das ideias e se encarnam na vida concreta, envenenando-a.

Calibrando aqui o argumento. Se é inegável que a antissemitismo e o racismo anti-palestino (e a islamofobia) crescem perigosamente no mundo como um todo e se alçam cada vez mais como formas degradadas de digestão ideológica da crise da sociabilidade capitalista do Ocidente ao Oriente (voltaremos a este ponto), é preciso dizer, por outro lado, que na história e no presente do conflito, o peso da violência tem recaído com intensidade muito maior do lado palestino do que no lado judeu. O conflito Israel/Palestina é, num sentido, eminentemente assimétrico e desigual, afinal Israel exerce uma ocupação militar e desse ponto de vista é o opressor inequívoco sobre palestinos, perpetuando sua despossessão e negação de direitos nacionais. Contudo, ao mesmo tempo, de outro lado, trata-se de um conflito simétrico no sentido de que há duas nacionalidades com aspirações igualmente legítimas que se defrontam na região. A ligação da maioria dos judeus do mundo para com Israel se deriva do fato deste ter se tornado a válvula de escape derradeira para muitos refugiados tanto do antissemitismo europeu como do antissemitismo do mundo muçulmano pós-1948. Encarar de frente essa relação contraditória entre aquilo que é assimétrico e o que é simétrico, a saber, entre o que é uma opressão nacional a um povo que demanda o fim da ocupação militar e uma questão nacional que demanda o entendimento real entre dois povos, não é uma mera formulação teórica, mas sim uma pré-condição sine qua non para uma saída positiva. Do contrário, são as narrativas fundamentalistas e reacionárias de politização do ódio nacional de ambos os lados que vão se impor ainda mais, tornando o impasse definitivamente insolúvel.

[...]

ANTISSEMITISMO E ISLAMOFOBIA COMO IDEOLOGIAS DA CRISE GLOBAL

A falsa crítica ao capitalismo acima remete, por fim, a outra questão do Manifesto: “Por que grande parte da esquerda tem dificuldade em identificar e resistir ao antissemitismo em suas fileiras?” Antes de retomar a pergunta, cabe aqui apontar a singularidade de cada uma das formas de ódio social. A islamofobia, se seguirmos a pista de Edward Said, fetichiza o palestino (ou o árabe e muçulmano) como alguém atrasado, violento por natureza, exótico, fanático, impermeável a argumentos racionais, irascível e intolerante. Sua atualidade como ideologia da crise contemporânea reside na estigmatização do imigrante, do refugiado ou de bárbaros inferiores que não se adequam à “civilização” moderna e para quem não há mais lugar. Já no caso do antissemitismo, a fetichização do judeu passa por outras características: conspirador, ardiloso, dotado de superpoderes ocultos e misteriosos, cosmopolita sem raízes, artificial e fantasmagórico. Isso permite, como afirma o Manifesto citando Moishe Postone, que “o antissemitismo muitas vezes atue como uma forma fetichizada de ‘anticapitalismo’. O poder misterioso do capital, que é intangível, global e que agita nações, áreas e vidas das pessoas, é atribuído aos judeus. A dominação abstrata do capitalismo é personificada nos judeus”. Ora, na crise global da sociedade da mercadoria e do valor (o abstrato e intangível por excelência), o antissemitismo se recrudesce e os judeus como tais são identificados como culpados: não como inferiores, ou incivilizados, mas como os usurpadores maléficos da civilização.

E é neste caos da civilização, em que campeia a desorientação e uma dificuldade real de se formular alternativas efetivas diante da sociabilidade vigente, que cresce também a tendência de uma certa esquerda de buscar atalhos supostamente “antissistêmicos”, flertando em menor ou maior grau com a demagogia antissemita se pautando “não tanto na luta contra o capitalismo enquanto relação social, mas na rejeição da ‘hegemonia americana’, ‘globalização’, ‘finanças’ – ou às vezes, ‘sionismo’, visto como vanguarda de todas essas forças. Isso levou muitas pessoas que se consideram esquerdistas a simpatizar com alternativas reacionárias às atuais disposições políticas e econômicas”. E aqui reside o perigo de se cruzar o Rubicão. Num tweet recente respondido por Elon Musk, um influenciador americano de extrema-direita afirmou que os “judeus estimulam o ódio dialético contra os brancos” por apoiarem a imigração para o Ocidente de “hordas de minorias”.

Ou seja, contra o Ocidente branco, o judeu conspirador e indesejável seria o responsável por estimular a imigração de minorias, aí certamente inclusos árabes e muçulmanos indesejáveis. Eis aqui mais um exemplo do porquê a luta conjunta contra o antissemitismo e a islamofobia é tão desejável.

Fonte: https://diplomatique.org.br/antissemitismo-islamofobia-manifesto-esquerda-internacionalista/

Em “(...)abordar o problema da islamofobia e do antissemitismo como fenômenos que têm sim as suas singularidades, mas que ao mesmo tempo são correlatos e logo só podem ser encarados de forma satisfatória se forem combatidos em conjunto(...)”, a vírgula foi usada para:

 

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3179730 Ano: 2024
Disciplina: Português
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TEXTO 1

Antissemitismo e islamofobia como ideologias da guerra e da crise global

A normalização da narrativa racista anti-palestina e islamofóbica de um lado assim como a normalização de uma narrativa antissemita contra israelenses e judeus de outro não são questões secundárias no que diz respeito ao conflito

Daniel Feldman

Escrito por Ben Gidley, Daniel Mang, Daniel Randall e assinado por ativistas, coletivos e intelectuais de diferentes países, entre eles talvez o mais conhecido Slavoj Žižek, o Manifesto que ora apresentamos neste artigo intitulado “Por uma esquerda consistentemente internacionalista e democrática” propõe um enfoque original e a nosso ver bastante oportuno para a reflexão, não apenas sobre os acontecimentos recentes em Israel/Palestina, mas também para uma reflexão mais de fundo sobre certos posicionamentos do campo da esquerda em meio ao caos global em que estamos atolados. Como uma primeira aproximação, retenhamos uma das suas afirmações: “A esquerda pode e deve se opor incondicionalmente ao preconceito anti-palestino e anti-muçulmano sem endossar o Hamas; ela pode e deve se opor incondicionalmente ao antissemitismo sem endossar o chauvinismo israelense”.

Parte-se assim da premissa que as narrativas, as ideologias e as visões de mundo não são algo menor em relação às questões concretas e mais prementes que implicam diretamente a vida das pessoas, em especial no que tange à questão Israel/Palestina. Por certo que, dada a destruição de Gaza, a terrível crise humanitária e o assassinato de tantos milhares de civis causados pelos bombardeios e invasão de Israel, a questão mais imediata e urgente que se coloca é a do cessar-fogo imediato e uma negociação para a liberação dos reféns israelenses em troca dos prisioneiros palestinos. No entanto, justamente o problema que o Manifesto nos propõe é o seguinte: a normalização da narrativa racista anti-palestina e islamofóbica de um lado, assim como a normalização de uma narrativa antissemita contra israelenses e judeus de outro, não são questões secundárias no que diz respeito ao conflito. O combate a tais narrativas não se limita a uma questão de bons modos ou de mera correção política, mas sim uma é postura que, ao ser negligenciada, contribui para um enredo pernicioso muito real que ajuda, nos fatos, a prolongar a tragédia.

Isso nos leva ao que cremos ser a originalidade do manifesto: abordar o problema da islamofobia e do antissemitismo como fenômenos que têm sim as suas singularidades, mas que ao mesmo tempo são correlatos e logo só podem ser encarados de forma satisfatória se forem combatidos em conjunto: “A crescente polarização e divisão tem contribuído para a desumanização não apenas de israelenses e palestinos, mas de judeus, muçulmanos e árabes em todo lugar, e para o aprofundamento de uma cultura de vitimização competitiva de soma zero, em vez de solidariedade”. E aqui chegamos naquilo que os autores preconizam como uma atitude consistente no título de seu manifesto: jogar a denúncia de um tipo de ódio social contra o outro é trair a luta contra ambos, pois, sobretudo na conjuntura que se abriu após o 7 de outubro, eles estão intimamente imbricados e se reforçam mutuamente. A intenção dos que querem matar palestinos (ou árabes e muçulmanos de forma mais ampla) assim como a intenção dos que querem obliterar a nação palestina alimentam e corroboram as intenções dos que querem matar judeus e obliterar a nação israelense. E vice-versa. No entanto, para que tais intenções – que cresceram sobremaneira no mundo nesses dois meses – se transformem em ato, é preciso antes que elas estejam embebidas na demonização e na estigmatização do Outro, no caso, embebidas nas narrativas islamofóbica e antissemita. Tais narrativas, assim, deixam o plano abstrato das ideias e se encarnam na vida concreta, envenenando-a.

Calibrando aqui o argumento. Se é inegável que a antissemitismo e o racismo anti-palestino (e a islamofobia) crescem perigosamente no mundo como um todo e se alçam cada vez mais como formas degradadas de digestão ideológica da crise da sociabilidade capitalista do Ocidente ao Oriente (voltaremos a este ponto), é preciso dizer, por outro lado, que na história e no presente do conflito, o peso da violência tem recaído com intensidade muito maior do lado palestino do que no lado judeu. O conflito Israel/Palestina é, num sentido, eminentemente assimétrico e desigual, afinal Israel exerce uma ocupação militar e desse ponto de vista é o opressor inequívoco sobre palestinos, perpetuando sua despossessão e negação de direitos nacionais. Contudo, ao mesmo tempo, de outro lado, trata-se de um conflito simétrico no sentido de que há duas nacionalidades com aspirações igualmente legítimas que se defrontam na região. A ligação da maioria dos judeus do mundo para com Israel se deriva do fato deste ter se tornado a válvula de escape derradeira para muitos refugiados tanto do antissemitismo europeu como do antissemitismo do mundo muçulmano pós-1948. Encarar de frente essa relação contraditória entre aquilo que é assimétrico e o que é simétrico, a saber, entre o que é uma opressão nacional a um povo que demanda o fim da ocupação militar e uma questão nacional que demanda o entendimento real entre dois povos, não é uma mera formulação teórica, mas sim uma pré-condição sine qua non para uma saída positiva. Do contrário, são as narrativas fundamentalistas e reacionárias de politização do ódio nacional de ambos os lados que vão se impor ainda mais, tornando o impasse definitivamente insolúvel.

[...]

ANTISSEMITISMO E ISLAMOFOBIA COMO IDEOLOGIAS DA CRISE GLOBAL

A falsa crítica ao capitalismo acima remete, por fim, a outra questão do Manifesto: “Por que grande parte da esquerda tem dificuldade em identificar e resistir ao antissemitismo em suas fileiras?” Antes de retomar a pergunta, cabe aqui apontar a singularidade de cada uma das formas de ódio social. A islamofobia, se seguirmos a pista de Edward Said, fetichiza o palestino (ou o árabe e muçulmano) como alguém atrasado, violento por natureza, exótico, fanático, impermeável a argumentos racionais, irascível e intolerante. Sua atualidade como ideologia da crise contemporânea reside na estigmatização do imigrante, do refugiado ou de bárbaros inferiores que não se adequam à “civilização” moderna e para quem não há mais lugar. Já no caso do antissemitismo, a fetichização do judeu passa por outras características: conspirador, ardiloso, dotado de superpoderes ocultos e misteriosos, cosmopolita sem raízes, artificial e fantasmagórico. Isso permite, como afirma o Manifesto citando Moishe Postone, que “o antissemitismo muitas vezes atue como uma forma fetichizada de ‘anticapitalismo’. O poder misterioso do capital, que é intangível, global e que agita nações, áreas e vidas das pessoas, é atribuído aos judeus. A dominação abstrata do capitalismo é personificada nos judeus”. Ora, na crise global da sociedade da mercadoria e do valor (o abstrato e intangível por excelência), o antissemitismo se recrudesce e os judeus como tais são identificados como culpados: não como inferiores, ou incivilizados, mas como os usurpadores maléficos da civilização.

E é neste caos da civilização, em que campeia a desorientação e uma dificuldade real de se formular alternativas efetivas diante da sociabilidade vigente, que cresce também a tendência de uma certa esquerda de buscar atalhos supostamente “antissistêmicos”, flertando em menor ou maior grau com a demagogia antissemita se pautando “não tanto na luta contra o capitalismo enquanto relação social, mas na rejeição da ‘hegemonia americana’, ‘globalização’, ‘finanças’ – ou às vezes, ‘sionismo’, visto como vanguarda de todas essas forças. Isso levou muitas pessoas que se consideram esquerdistas a simpatizar com alternativas reacionárias às atuais disposições políticas e econômicas”. E aqui reside o perigo de se cruzar o Rubicão. Num tweet recente respondido por Elon Musk, um influenciador americano de extrema-direita afirmou que os “judeus estimulam o ódio dialético contra os brancos” por apoiarem a imigração para o Ocidente de “hordas de minorias”.

Ou seja, contra o Ocidente branco, o judeu conspirador e indesejável seria o responsável por estimular a imigração de minorias, aí certamente inclusos árabes e muçulmanos indesejáveis. Eis aqui mais um exemplo do porquê a luta conjunta contra o antissemitismo e a islamofobia é tão desejável.

Fonte: https://diplomatique.org.br/antissemitismo-islamofobia-manifesto-esquerda-internacionalista/

De acordo com a leitura sobre a análise e a reflexão do autor Daniel Feldman, assinale a alternativa que NÃO está de acordo com o ponto de vista exposto no texto.

 

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3179729 Ano: 2024
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Antissemitismo e islamofobia como ideologias da guerra e da crise global

A normalização da narrativa racista anti-palestina e islamofóbica de um lado assim como a normalização de uma narrativa antissemita contra israelenses e judeus de outro não são questões secundárias no que diz respeito ao conflito

Daniel Feldman

Escrito por Ben Gidley, Daniel Mang, Daniel Randall e assinado por ativistas, coletivos e intelectuais de diferentes países, entre eles talvez o mais conhecido Slavoj Žižek, o Manifesto que ora apresentamos neste artigo intitulado “Por uma esquerda consistentemente internacionalista e democrática” propõe um enfoque original e a nosso ver bastante oportuno para a reflexão, não apenas sobre os acontecimentos recentes em Israel/Palestina, mas também para uma reflexão mais de fundo sobre certos posicionamentos do campo da esquerda em meio ao caos global em que estamos atolados. Como uma primeira aproximação, retenhamos uma das suas afirmações: “A esquerda pode e deve se opor incondicionalmente ao preconceito anti-palestino e anti-muçulmano sem endossar o Hamas; ela pode e deve se opor incondicionalmente ao antissemitismo sem endossar o chauvinismo israelense”.

Parte-se assim da premissa que as narrativas, as ideologias e as visões de mundo não são algo menor em relação às questões concretas e mais prementes que implicam diretamente a vida das pessoas, em especial no que tange à questão Israel/Palestina. Por certo que, dada a destruição de Gaza, a terrível crise humanitária e o assassinato de tantos milhares de civis causados pelos bombardeios e invasão de Israel, a questão mais imediata e urgente que se coloca é a do cessar-fogo imediato e uma negociação para a liberação dos reféns israelenses em troca dos prisioneiros palestinos. No entanto, justamente o problema que o Manifesto nos propõe é o seguinte: a normalização da narrativa racista anti-palestina e islamofóbica de um lado, assim como a normalização de uma narrativa antissemita contra israelenses e judeus de outro, não são questões secundárias no que diz respeito ao conflito. O combate a tais narrativas não se limita a uma questão de bons modos ou de mera correção política, mas sim uma é postura que, ao ser negligenciada, contribui para um enredo pernicioso muito real que ajuda, nos fatos, a prolongar a tragédia.

Isso nos leva ao que cremos ser a originalidade do manifesto: abordar o problema da islamofobia e do antissemitismo como fenômenos que têm sim as suas singularidades, mas que ao mesmo tempo são correlatos e logo só podem ser encarados de forma satisfatória se forem combatidos em conjunto: “A crescente polarização e divisão tem contribuído para a desumanização não apenas de israelenses e palestinos, mas de judeus, muçulmanos e árabes em todo lugar, e para o aprofundamento de uma cultura de vitimização competitiva de soma zero, em vez de solidariedade”. E aqui chegamos naquilo que os autores preconizam como uma atitude consistente no título de seu manifesto: jogar a denúncia de um tipo de ódio social contra o outro é trair a luta contra ambos, pois, sobretudo na conjuntura que se abriu após o 7 de outubro, eles estão intimamente imbricados e se reforçam mutuamente. A intenção dos que querem matar palestinos (ou árabes e muçulmanos de forma mais ampla) assim como a intenção dos que querem obliterar a nação palestina alimentam e corroboram as intenções dos que querem matar judeus e obliterar a nação israelense. E vice-versa. No entanto, para que tais intenções – que cresceram sobremaneira no mundo nesses dois meses – se transformem em ato, é preciso antes que elas estejam embebidas na demonização e na estigmatização do Outro, no caso, embebidas nas narrativas islamofóbica e antissemita. Tais narrativas, assim, deixam o plano abstrato das ideias e se encarnam na vida concreta, envenenando-a.

Calibrando aqui o argumento. Se é inegável que a antissemitismo e o racismo anti-palestino (e a islamofobia) crescem perigosamente no mundo como um todo e se alçam cada vez mais como formas degradadas de digestão ideológica da crise da sociabilidade capitalista do Ocidente ao Oriente (voltaremos a este ponto), é preciso dizer, por outro lado, que na história e no presente do conflito, o peso da violência tem recaído com intensidade muito maior do lado palestino do que no lado judeu. O conflito Israel/Palestina é, num sentido, eminentemente assimétrico e desigual, afinal Israel exerce uma ocupação militar e desse ponto de vista é o opressor inequívoco sobre palestinos, perpetuando sua despossessão e negação de direitos nacionais. Contudo, ao mesmo tempo, de outro lado, trata-se de um conflito simétrico no sentido de que há duas nacionalidades com aspirações igualmente legítimas que se defrontam na região. A ligação da maioria dos judeus do mundo para com Israel se deriva do fato deste ter se tornado a válvula de escape derradeira para muitos refugiados tanto do antissemitismo europeu como do antissemitismo do mundo muçulmano pós-1948. Encarar de frente essa relação contraditória entre aquilo que é assimétrico e o que é simétrico, a saber, entre o que é uma opressão nacional a um povo que demanda o fim da ocupação militar e uma questão nacional que demanda o entendimento real entre dois povos, não é uma mera formulação teórica, mas sim uma pré-condição sine qua non para uma saída positiva. Do contrário, são as narrativas fundamentalistas e reacionárias de politização do ódio nacional de ambos os lados que vão se impor ainda mais, tornando o impasse definitivamente insolúvel.

[...]

ANTISSEMITISMO E ISLAMOFOBIA COMO IDEOLOGIAS DA CRISE GLOBAL

A falsa crítica ao capitalismo acima remete, por fim, a outra questão do Manifesto: “Por que grande parte da esquerda tem dificuldade em identificar e resistir ao antissemitismo em suas fileiras?” Antes de retomar a pergunta, cabe aqui apontar a singularidade de cada uma das formas de ódio social. A islamofobia, se seguirmos a pista de Edward Said, fetichiza o palestino (ou o árabe e muçulmano) como alguém atrasado, violento por natureza, exótico, fanático, impermeável a argumentos racionais, irascível e intolerante. Sua atualidade como ideologia da crise contemporânea reside na estigmatização do imigrante, do refugiado ou de bárbaros inferiores que não se adequam à “civilização” moderna e para quem não há mais lugar. Já no caso do antissemitismo, a fetichização do judeu passa por outras características: conspirador, ardiloso, dotado de superpoderes ocultos e misteriosos, cosmopolita sem raízes, artificial e fantasmagórico. Isso permite, como afirma o Manifesto citando Moishe Postone, que “o antissemitismo muitas vezes atue como uma forma fetichizada de ‘anticapitalismo’. O poder misterioso do capital, que é intangível, global e que agita nações, áreas e vidas das pessoas, é atribuído aos judeus. A dominação abstrata do capitalismo é personificada nos judeus”. Ora, na crise global da sociedade da mercadoria e do valor (o abstrato e intangível por excelência), o antissemitismo se recrudesce e os judeus como tais são identificados como culpados: não como inferiores, ou incivilizados, mas como os usurpadores maléficos da civilização.

E é neste caos da civilização, em que campeia a desorientação e uma dificuldade real de se formular alternativas efetivas diante da sociabilidade vigente, que cresce também a tendência de uma certa esquerda de buscar atalhos supostamente “antissistêmicos”, flertando em menor ou maior grau com a demagogia antissemita se pautando “não tanto na luta contra o capitalismo enquanto relação social, mas na rejeição da ‘hegemonia americana’, ‘globalização’, ‘finanças’ – ou às vezes, ‘sionismo’, visto como vanguarda de todas essas forças. Isso levou muitas pessoas que se consideram esquerdistas a simpatizar com alternativas reacionárias às atuais disposições políticas e econômicas”. E aqui reside o perigo de se cruzar o Rubicão. Num tweet recente respondido por Elon Musk, um influenciador americano de extrema-direita afirmou que os “judeus estimulam o ódio dialético contra os brancos” por apoiarem a imigração para o Ocidente de “hordas de minorias”.

Ou seja, contra o Ocidente branco, o judeu conspirador e indesejável seria o responsável por estimular a imigração de minorias, aí certamente inclusos árabes e muçulmanos indesejáveis. Eis aqui mais um exemplo do porquê a luta conjunta contra o antissemitismo e a islamofobia é tão desejável.

Fonte: https://diplomatique.org.br/antissemitismo-islamofobia-manifesto-esquerda-internacionalista/

De acordo com a leitura do texto, pode-se inferir que a tese defendida pelo autor, Daniel Feldman, é:

 

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TEXTO 1

Antissemitismo e islamofobia como ideologias da guerra e da crise global

A normalização da narrativa racista anti-palestina e islamofóbica de um lado assim como a normalização de uma narrativa antissemita contra israelenses e judeus de outro não são questões secundárias no que diz respeito ao conflito

Daniel Feldman

Escrito por Ben Gidley, Daniel Mang, Daniel Randall e assinado por ativistas, coletivos e intelectuais de diferentes países, entre eles talvez o mais conhecido Slavoj Žižek, o Manifesto que ora apresentamos neste artigo intitulado “Por uma esquerda consistentemente internacionalista e democrática” propõe um enfoque original e a nosso ver bastante oportuno para a reflexão, não apenas sobre os acontecimentos recentes em Israel/Palestina, mas também para uma reflexão mais de fundo sobre certos posicionamentos do campo da esquerda em meio ao caos global em que estamos atolados. Como uma primeira aproximação, retenhamos uma das suas afirmações: “A esquerda pode e deve se opor incondicionalmente ao preconceito anti-palestino e anti-muçulmano sem endossar o Hamas; ela pode e deve se opor incondicionalmente ao antissemitismo sem endossar o chauvinismo israelense”.

Parte-se assim da premissa que as narrativas, as ideologias e as visões de mundo não são algo menor em relação às questões concretas e mais prementes que implicam diretamente a vida das pessoas, em especial no que tange à questão Israel/Palestina. Por certo que, dada a destruição de Gaza, a terrível crise humanitária e o assassinato de tantos milhares de civis causados pelos bombardeios e invasão de Israel, a questão mais imediata e urgente que se coloca é a do cessar-fogo imediato e uma negociação para a liberação dos reféns israelenses em troca dos prisioneiros palestinos. No entanto, justamente o problema que o Manifesto nos propõe é o seguinte: a normalização da narrativa racista anti-palestina e islamofóbica de um lado, assim como a normalização de uma narrativa antissemita contra israelenses e judeus de outro, não são questões secundárias no que diz respeito ao conflito. O combate a tais narrativas não se limita a uma questão de bons modos ou de mera correção política, mas sim uma é postura que, ao ser negligenciada, contribui para um enredo pernicioso muito real que ajuda, nos fatos, a prolongar a tragédia.

Isso nos leva ao que cremos ser a originalidade do manifesto: abordar o problema da islamofobia e do antissemitismo como fenômenos que têm sim as suas singularidades, mas que ao mesmo tempo são correlatos e logo só podem ser encarados de forma satisfatória se forem combatidos em conjunto: “A crescente polarização e divisão tem contribuído para a desumanização não apenas de israelenses e palestinos, mas de judeus, muçulmanos e árabes em todo lugar, e para o aprofundamento de uma cultura de vitimização competitiva de soma zero, em vez de solidariedade”. E aqui chegamos naquilo que os autores preconizam como uma atitude consistente no título de seu manifesto: jogar a denúncia de um tipo de ódio social contra o outro é trair a luta contra ambos, pois, sobretudo na conjuntura que se abriu após o 7 de outubro, eles estão intimamente imbricados e se reforçam mutuamente. A intenção dos que querem matar palestinos (ou árabes e muçulmanos de forma mais ampla) assim como a intenção dos que querem obliterar a nação palestina alimentam e corroboram as intenções dos que querem matar judeus e obliterar a nação israelense. E vice-versa. No entanto, para que tais intenções – que cresceram sobremaneira no mundo nesses dois meses – se transformem em ato, é preciso antes que elas estejam embebidas na demonização e na estigmatização do Outro, no caso, embebidas nas narrativas islamofóbica e antissemita. Tais narrativas, assim, deixam o plano abstrato das ideias e se encarnam na vida concreta, envenenando-a.

Calibrando aqui o argumento. Se é inegável que a antissemitismo e o racismo anti-palestino (e a islamofobia) crescem perigosamente no mundo como um todo e se alçam cada vez mais como formas degradadas de digestão ideológica da crise da sociabilidade capitalista do Ocidente ao Oriente (voltaremos a este ponto), é preciso dizer, por outro lado, que na história e no presente do conflito, o peso da violência tem recaído com intensidade muito maior do lado palestino do que no lado judeu. O conflito Israel/Palestina é, num sentido, eminentemente assimétrico e desigual, afinal Israel exerce uma ocupação militar e desse ponto de vista é o opressor inequívoco sobre palestinos, perpetuando sua despossessão e negação de direitos nacionais. Contudo, ao mesmo tempo, de outro lado, trata-se de um conflito simétrico no sentido de que há duas nacionalidades com aspirações igualmente legítimas que se defrontam na região. A ligação da maioria dos judeus do mundo para com Israel se deriva do fato deste ter se tornado a válvula de escape derradeira para muitos refugiados tanto do antissemitismo europeu como do antissemitismo do mundo muçulmano pós-1948. Encarar de frente essa relação contraditória entre aquilo que é assimétrico e o que é simétrico, a saber, entre o que é uma opressão nacional a um povo que demanda o fim da ocupação militar e uma questão nacional que demanda o entendimento real entre dois povos, não é uma mera formulação teórica, mas sim uma pré-condição sine qua non para uma saída positiva. Do contrário, são as narrativas fundamentalistas e reacionárias de politização do ódio nacional de ambos os lados que vão se impor ainda mais, tornando o impasse definitivamente insolúvel.

[...]

ANTISSEMITISMO E ISLAMOFOBIA COMO IDEOLOGIAS DA CRISE GLOBAL

A falsa crítica ao capitalismo acima remete, por fim, a outra questão do Manifesto: “Por que grande parte da esquerda tem dificuldade em identificar e resistir ao antissemitismo em suas fileiras?” Antes de retomar a pergunta, cabe aqui apontar a singularidade de cada uma das formas de ódio social. A islamofobia, se seguirmos a pista de Edward Said, fetichiza o palestino (ou o árabe e muçulmano) como alguém atrasado, violento por natureza, exótico, fanático, impermeável a argumentos racionais, irascível e intolerante. Sua atualidade como ideologia da crise contemporânea reside na estigmatização do imigrante, do refugiado ou de bárbaros inferiores que não se adequam à “civilização” moderna e para quem não há mais lugar. Já no caso do antissemitismo, a fetichização do judeu passa por outras características: conspirador, ardiloso, dotado de superpoderes ocultos e misteriosos, cosmopolita sem raízes, artificial e fantasmagórico. Isso permite, como afirma o Manifesto citando Moishe Postone, que “o antissemitismo muitas vezes atue como uma forma fetichizada de ‘anticapitalismo’. O poder misterioso do capital, que é intangível, global e que agita nações, áreas e vidas das pessoas, é atribuído aos judeus. A dominação abstrata do capitalismo é personificada nos judeus”. Ora, na crise global da sociedade da mercadoria e do valor (o abstrato e intangível por excelência), o antissemitismo se recrudesce e os judeus como tais são identificados como culpados: não como inferiores, ou incivilizados, mas como os usurpadores maléficos da civilização.

E é neste caos da civilização, em que campeia a desorientação e uma dificuldade real de se formular alternativas efetivas diante da sociabilidade vigente, que cresce também a tendência de uma certa esquerda de buscar atalhos supostamente “antissistêmicos”, flertando em menor ou maior grau com a demagogia antissemita se pautando “não tanto na luta contra o capitalismo enquanto relação social, mas na rejeição da ‘hegemonia americana’, ‘globalização’, ‘finanças’ – ou às vezes, ‘sionismo’, visto como vanguarda de todas essas forças. Isso levou muitas pessoas que se consideram esquerdistas a simpatizar com alternativas reacionárias às atuais disposições políticas e econômicas”. E aqui reside o perigo de se cruzar o Rubicão. Num tweet recente respondido por Elon Musk, um influenciador americano de extrema-direita afirmou que os “judeus estimulam o ódio dialético contra os brancos” por apoiarem a imigração para o Ocidente de “hordas de minorias”.

Ou seja, contra o Ocidente branco, o judeu conspirador e indesejável seria o responsável por estimular a imigração de minorias, aí certamente inclusos árabes e muçulmanos indesejáveis. Eis aqui mais um exemplo do porquê a luta conjunta contra o antissemitismo e a islamofobia é tão desejável.

Fonte: https://diplomatique.org.br/antissemitismo-islamofobia-manifesto-esquerda-internacionalista/

Para se elaborar um texto, o autor busca estruturar as ideias em torno de uma palavra ou ideia-chave para que não fuja do tema. Assinale a alternativa em que apresenta a palavra-chave do texto.

 

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3179727 Ano: 2024
Disciplina: Português
Banca: CETREDE
Orgão: Pref. Pires Ferreira-CE
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Leia o Texto I a seguir para responder às questões de 1 a 10.

TEXTO 1

Antissemitismo e islamofobia como ideologias da guerra e da crise global

A normalização da narrativa racista anti-palestina e islamofóbica de um lado assim como a normalização de uma narrativa antissemita contra israelenses e judeus de outro não são questões secundárias no que diz respeito ao conflito

Daniel Feldman

Escrito por Ben Gidley, Daniel Mang, Daniel Randall e assinado por ativistas, coletivos e intelectuais de diferentes países, entre eles talvez o mais conhecido Slavoj Žižek, o Manifesto que ora apresentamos neste artigo intitulado “Por uma esquerda consistentemente internacionalista e democrática” propõe um enfoque original e a nosso ver bastante oportuno para a reflexão, não apenas sobre os acontecimentos recentes em Israel/Palestina, mas também para uma reflexão mais de fundo sobre certos posicionamentos do campo da esquerda em meio ao caos global em que estamos atolados. Como uma primeira aproximação, retenhamos uma das suas afirmações: “A esquerda pode e deve se opor incondicionalmente ao preconceito anti-palestino e anti-muçulmano sem endossar o Hamas; ela pode e deve se opor incondicionalmente ao antissemitismo sem endossar o chauvinismo israelense”.

Parte-se assim da premissa que as narrativas, as ideologias e as visões de mundo não são algo menor em relação às questões concretas e mais prementes que implicam diretamente a vida das pessoas, em especial no que tange à questão Israel/Palestina. Por certo que, dada a destruição de Gaza, a terrível crise humanitária e o assassinato de tantos milhares de civis causados pelos bombardeios e invasão de Israel, a questão mais imediata e urgente que se coloca é a do cessar-fogo imediato e uma negociação para a liberação dos reféns israelenses em troca dos prisioneiros palestinos. No entanto, justamente o problema que o Manifesto nos propõe é o seguinte: a normalização da narrativa racista anti-palestina e islamofóbica de um lado, assim como a normalização de uma narrativa antissemita contra israelenses e judeus de outro, não são questões secundárias no que diz respeito ao conflito. O combate a tais narrativas não se limita a uma questão de bons modos ou de mera correção política, mas sim uma é postura que, ao ser negligenciada, contribui para um enredo pernicioso muito real que ajuda, nos fatos, a prolongar a tragédia.

Isso nos leva ao que cremos ser a originalidade do manifesto: abordar o problema da islamofobia e do antissemitismo como fenômenos que têm sim as suas singularidades, mas que ao mesmo tempo são correlatos e logo só podem ser encarados de forma satisfatória se forem combatidos em conjunto: “A crescente polarização e divisão tem contribuído para a desumanização não apenas de israelenses e palestinos, mas de judeus, muçulmanos e árabes em todo lugar, e para o aprofundamento de uma cultura de vitimização competitiva de soma zero, em vez de solidariedade”. E aqui chegamos naquilo que os autores preconizam como uma atitude consistente no título de seu manifesto: jogar a denúncia de um tipo de ódio social contra o outro é trair a luta contra ambos, pois, sobretudo na conjuntura que se abriu após o 7 de outubro, eles estão intimamente imbricados e se reforçam mutuamente. A intenção dos que querem matar palestinos (ou árabes e muçulmanos de forma mais ampla) assim como a intenção dos que querem obliterar a nação palestina alimentam e corroboram as intenções dos que querem matar judeus e obliterar a nação israelense. E vice-versa. No entanto, para que tais intenções – que cresceram sobremaneira no mundo nesses dois meses – se transformem em ato, é preciso antes que elas estejam embebidas na demonização e na estigmatização do Outro, no caso, embebidas nas narrativas islamofóbica e antissemita. Tais narrativas, assim, deixam o plano abstrato das ideias e se encarnam na vida concreta, envenenando-a.

Calibrando aqui o argumento. Se é inegável que a antissemitismo e o racismo anti-palestino (e a islamofobia) crescem perigosamente no mundo como um todo e se alçam cada vez mais como formas degradadas de digestão ideológica da crise da sociabilidade capitalista do Ocidente ao Oriente (voltaremos a este ponto), é preciso dizer, por outro lado, que na história e no presente do conflito, o peso da violência tem recaído com intensidade muito maior do lado palestino do que no lado judeu. O conflito Israel/Palestina é, num sentido, eminentemente assimétrico e desigual, afinal Israel exerce uma ocupação militar e desse ponto de vista é o opressor inequívoco sobre palestinos, perpetuando sua despossessão e negação de direitos nacionais. Contudo, ao mesmo tempo, de outro lado, trata-se de um conflito simétrico no sentido de que há duas nacionalidades com aspirações igualmente legítimas que se defrontam na região. A ligação da maioria dos judeus do mundo para com Israel se deriva do fato deste ter se tornado a válvula de escape derradeira para muitos refugiados tanto do antissemitismo europeu como do antissemitismo do mundo muçulmano pós-1948. Encarar de frente essa relação contraditória entre aquilo que é assimétrico e o que é simétrico, a saber, entre o que é uma opressão nacional a um povo que demanda o fim da ocupação militar e uma questão nacional que demanda o entendimento real entre dois povos, não é uma mera formulação teórica, mas sim uma pré-condição sine qua non para uma saída positiva. Do contrário, são as narrativas fundamentalistas e reacionárias de politização do ódio nacional de ambos os lados que vão se impor ainda mais, tornando o impasse definitivamente insolúvel.

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ANTISSEMITISMO E ISLAMOFOBIA COMO IDEOLOGIAS DA CRISE GLOBAL

A falsa crítica ao capitalismo acima remete, por fim, a outra questão do Manifesto: “Por que grande parte da esquerda tem dificuldade em identificar e resistir ao antissemitismo em suas fileiras?” Antes de retomar a pergunta, cabe aqui apontar a singularidade de cada uma das formas de ódio social. A islamofobia, se seguirmos a pista de Edward Said, fetichiza o palestino (ou o árabe e muçulmano) como alguém atrasado, violento por natureza, exótico, fanático, impermeável a argumentos racionais, irascível e intolerante. Sua atualidade como ideologia da crise contemporânea reside na estigmatização do imigrante, do refugiado ou de bárbaros inferiores que não se adequam à “civilização” moderna e para quem não há mais lugar. Já no caso do antissemitismo, a fetichização do judeu passa por outras características: conspirador, ardiloso, dotado de superpoderes ocultos e misteriosos, cosmopolita sem raízes, artificial e fantasmagórico. Isso permite, como afirma o Manifesto citando Moishe Postone, que “o antissemitismo muitas vezes atue como uma forma fetichizada de ‘anticapitalismo’. O poder misterioso do capital, que é intangível, global e que agita nações, áreas e vidas das pessoas, é atribuído aos judeus. A dominação abstrata do capitalismo é personificada nos judeus”. Ora, na crise global da sociedade da mercadoria e do valor (o abstrato e intangível por excelência), o antissemitismo se recrudesce e os judeus como tais são identificados como culpados: não como inferiores, ou incivilizados, mas como os usurpadores maléficos da civilização.

E é neste caos da civilização, em que campeia a desorientação e uma dificuldade real de se formular alternativas efetivas diante da sociabilidade vigente, que cresce também a tendência de uma certa esquerda de buscar atalhos supostamente “antissistêmicos”, flertando em menor ou maior grau com a demagogia antissemita se pautando “não tanto na luta contra o capitalismo enquanto relação social, mas na rejeição da ‘hegemonia americana’, ‘globalização’, ‘finanças’ – ou às vezes, ‘sionismo’, visto como vanguarda de todas essas forças. Isso levou muitas pessoas que se consideram esquerdistas a simpatizar com alternativas reacionárias às atuais disposições políticas e econômicas”. E aqui reside o perigo de se cruzar o Rubicão. Num tweet recente respondido por Elon Musk, um influenciador americano de extrema-direita afirmou que os “judeus estimulam o ódio dialético contra os brancos” por apoiarem a imigração para o Ocidente de “hordas de minorias”.

Ou seja, contra o Ocidente branco, o judeu conspirador e indesejável seria o responsável por estimular a imigração de minorias, aí certamente inclusos árabes e muçulmanos indesejáveis. Eis aqui mais um exemplo do porquê a luta conjunta contra o antissemitismo e a islamofobia é tão desejável.

Fonte: https://diplomatique.org.br/antissemitismo-islamofobia-manifesto-esquerda-internacionalista/

Pode-se dizer que, nos parágrafos iniciais do texto, o autor apresenta a intenção de:

 

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3179806 Ano: 2024
Disciplina: Matemática
Banca: CETREDE
Orgão: Pref. Pires Ferreira-CE
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A potenciação ou exponenciação é a operação matemática que representa a multiplicação de fatores iguais. Portanto, é CORRETO afirmar que a quarta parte de 213 é igual a:

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3179805 Ano: 2024
Disciplina: Matemática
Banca: CETREDE
Orgão: Pref. Pires Ferreira-CE
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Mario comprou um carro na promoção com 25% de desconto e pagou R$ 50.000,00. Dessa forma, pode-se afirmar que o valor do carro, antes da promoção, era de:

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3179804 Ano: 2024
Disciplina: Saúde Pública
Banca: CETREDE
Orgão: Pref. Pires Ferreira-CE

São doenças classificadas como de notificação compulsória, EXCETO:

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3179803 Ano: 2024
Disciplina: Matemática
Banca: CETREDE
Orgão: Pref. Pires Ferreira-CE
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Considere que a sala de certo setor de uma empresa possui formato retangular com área igual a 400 m² e comprimento igual a 8 metros. O responsável pelo setor deseja que essa sala tenha as suas medidas aumentadas em 50%, permanecendo o formato. Então, o perímetro da nova sala será igual a:

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3179802 Ano: 2024
Disciplina: Saúde Pública
Banca: CETREDE
Orgão: Pref. Pires Ferreira-CE

Leia as afirmativas a seguir acerca da coqueluche.

I. Compromete, especificamente, as juntas do corpo e se caracteriza por dor aguda.

II. O homem é o único reservatório natural.

III. Não se transmite de pessoa para pessoa.

IV. Em alguns casos, pode ocorrer a transmissão por objetos recentemente contaminados com secreções de pessoas doentes, mas isso é pouco frequente, pela dificuldade de o agente sobreviver fora do hospedeiro.

Marque a opção que apresenta as afirmativas CORRETAS.

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