Foram encontradas 51 questões.
Leia atentamente o texto a seguir e responda às questões de 1 a 13.
Por uma ciência mais pop e diversa
O nome já diz tudo. O Pop Ciência, Programa Nacional de
Popularização da Ciência do Ministério de Ciência, Tecnologia
e Inovação (MCTI), foi lançado em outubro passado (2023)
com a meta de superar dois desafios recorrentes na ciência
5 brasileira: criar iniciativas para aproximá-la do público em
geral e facilitar o acesso de jovens de grupos sociais
vulneráveis a carreiras científicas e tecnológicas. À frente do
projeto, Juana Nunes reconhece os obstáculos. “Precisamos
de ampla divulgação científica para romper com os
10 estereótipos da branquitude, óculos e jaleco”, diz a diretora
de Popularização da Ciência, Tecnologia e Educação Científica
da Secretaria de Ciência e Tecnologia para o Desenvolvimento
Social (Sedes/MCTI).
Entre os esforços para evoluir nessas questões estão
15 parcerias com redes estaduais para ações locais e mais
colaboração com os ministérios da Educação e da Cultura.
Este último faz parte da trajetória de Juana, que, formada em
História da Arte e professora da rede dos institutos federais,
foi gestora de políticas culturais. “Minha passagem pelo
20 Ministério da Cultura foi marcada pela coordenação de
políticas de cidadania, diversidade cultural e comunicação.
Essa experiência proporcionou uma compreensão profunda
da importância de integrar diferentes perspectivas e saberes
na construção de políticas públicas”, afirma. O objetivo agora,
25 diz, é transformar a popularização da ciência em uma política
pública de Estado.
CIÊNCIA HOJE: O Programa Nacional de Popularização da
Ciência (Pop Ciência) foi lançado em outubro passado pelo
MCTI. Que balanço faz dos meses iniciais? E o que podemos
30 esperar no futuro?
JUANA NUNES: O decreto Pop Ciência é resultado de um
diálogo com a comunidade científica e a sociedade civil. Ele
nasce do desejo de fortalecer as ações de popularização da
ciência que já existiam, como olimpíadas, feiras de ciência e
35 mostras científicas, dentre outras, promovendo a
institucionalidade necessária para a popularização se tornar
uma política pública de Estado. Isso se expressou na
assinatura do decreto pelo presidente Lula e pela definição
do maior orçamento direto da história por parte da ministra
40 Luciana Santos (da pasta de Ciência, Tecnologia e Inovação).
O Pop Ciência permite potencializar o alcance do que já
existia ao mesmo tempo em que propõe uma atuação mais
sistemática por parte do MCTI, com a criação dos Pontos de
Ciência, que vão reconhecer e apoiar quem já atua nessa área
45 e novos atores divulgadores da ciência; a Virada da Ciência, e
o fomento a espaços científicos culturais permanentes.
Os primeiros meses do Pop Ciência foram de muito
engajamento e interesse da sociedade e observamos uma
receptividade positiva a iniciativas que visam a aproximar a
50 ciência do público em geral. Em dezembro, realizamos em
Brasília o Encontro Nacional de Popularização da Ciência,
onde reunimos mais de 450 divulgadores de ciência de todo
o Brasil, discutindo desafios e estratégias para a
implementação do Pop Ciência. A criação de redes estaduais
55 já está em andamento com adesão e já é uma realidade no
Ceará e no Paraná. As redes estaduais visam a fortalecer o
conjunto de instituições públicas e privadas que realizam
ações de popularização da ciência. Serão estimuladas ações
para a criação de clubes de ciência, participação de
60 estudantes em feiras de ciências e olimpíadas científicas,
dentre outras iniciativas.
Nossa meta é consolidar esta rede com todas as 27
unidades da federação. Para o futuro, planejamos
implementar as novas ações do Pop Ciência, ampliando o
65 público-alvo da política, para além do universo escolar.
Queremos chegar a toda a sociedade com recorte claro de
inclusão e diversidade dialogando mais com o campo da
cultura e da comunicação.
CH: Apesar dos muitos esforços e transformações dos
70 últimos anos, a comunidade acadêmica ainda é
predominantemente branca, principalmente nos postos de
liderança. Como o Pop Ciência contribui para mudar essa
realidade?
JN: Temos uma ação voltada para fomentar maior
75 participação de grupos sociais vulneráveis e historicamente
excluídos para garantir mais diversidade na ciência. Teremos
chamadas específicas com esse objetivo, com cotas para
negros, indígenas e mulheres. A chamada da Semana
Nacional de Ciência e Tecnologia de 2023, por exemplo, teve
80 50% das vagas para coordenadoras mulheres. Nesse sentido,
procuramos estimular projetos em diálogo com os povos e
comunidades tradicionais, moradores de áreas rurais e
periferias urbanas, população negra, quilombolas, povos
indígenas, pessoas com deficiência.
85 CH: Dos grupos menos representados na comunidade
acadêmica, há algum que veja como ponto mais crítico e que
encara maiores obstáculos para seguir a carreira científica?
JN: Certamente, grupos menos representados enfrentam
desafios significativos. Temos como grande desafio atender a
90 um percentual significativo de jovens em situação de
desalento, objetivando o reingresso, a permanência nos
estudos e a qualificação profissional. Segundo estudo da FGV
(Fundação Getulio Vargas) e dados do IBGE (Instituto
Brasileiro de Geografia e Estatística), temos atualmente no
95 Brasil um universo de 7,1 milhões de jovens em desalento,
dos quais 73% são pretos/pardos, e em sua maioria,
mulheres. Isso demonstra o tamanho dos desafios que temos
para promover ações indutoras que permitam a esses jovens
o acesso às carreiras científicas e tecnológicas.
100 Quero destacar o desafio de mais meninas e mulheres na
ciência. Lançamos agora em março uma chamada via CNPq
(Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e
Tecnológico) de R$ 100 milhões para fomentar projetos de
educação científica para meninas dos anos finais do ensino
105 fundamental e ensino médio em diálogo com pesquisadoras
para estimular o ingresso, a formação, a permanência e a
ascensão de meninas e mulheres nas carreiras científicas.
CH: A necessidade de mais diversidade nesses espaços
acaba se refletindo na percepção que a população tem dos
110 cientistas. O que está sendo e pode ser feito para que no
imaginário da população o cientista não seja apenas um
homem branco, de óculos, vestindo jaleco em um
laboratório?
JN: Precisamos de ampla divulgação científica para
115 romper com os estereótipos da branquitude, óculos e jaleco.
A representação diversificada na ciência é fundamental para
mudar a percepção pública. O Pop Ciência realizará esforços
contínuos para representar a pluralidade de cientistas na
mídia, contribuindo para uma imagem mais realista e
120 inclusiva da comunidade científica. Temos um compromisso
de estimular a comunicação pública da ciência. Isso foi
destacado no decreto, quando definimos que serão
realizadas ações que promovam a comunicação pública da
ciência, em linguagem simples, que valorizem o engajamento
125 do público na ciência e visem a alcançar diversas camadas da
população. Precisamos dar visibilidade à ciência brasileira.
Temos excelentes cientistas que contribuíram no passado,
como Oswaldo Cruz, Carlos Chagas, Johanna Döbereiner,
Cesar Lattes, e também cientistas contemporâneos, como
130 Thaisa Bergmann, Mayana Zatz, Miguel Nicolelis, Suzana
Herculano-Houzel, Niède Guidon, Jaqueline Goes de Jesus
(cientista que mapeou o genoma do coronavírus), e tantos
outros que o Brasil precisa conhecer.
CH: Segundo a ministra Luciana Santos, em entrevista à
135 CH, a cada quatro anos o MCTI encomenda uma pesquisa
sobre a Percepção Pública da Ciência. A última foi em 2019.
Será realizada nova pesquisa neste ano? Na de 2018, apesar
de o nível de confiança na ciência ser bastante alto (73%),
ficou evidente que a maioria dos brasileiros desconhece os
140 pesquisadores, os laboratórios e as nossas unidades de
pesquisas. Espera que esses ponteiros tenham se movido?
JN: A Pesquisa de Percepção Pública da Ciência está
ocorrendo neste ano em todo o Brasil, em parceria com o
Centro de Gestão e Estudos Estratégicos. Acreditamos que
145 ainda é muito cedo para observarmos uma mudança no
comportamento do cidadão brasileiro acerca da percepção
da ciência. Precisamos de uma política de popularização da
ciência mais robusta. É o que estamos buscando com o Pop
Ciência. Esse é um trabalho que deve começar na base, com
150 ação massiva nas escolas. E para isso a parceria com o MEC é
estratégica. As políticas públicas de ciência e tecnologia e a
de educação devem andar juntas, para o desenvolvimento
científico tecnológico do país.
CH: O trabalho de muitos divulgadores de ciência nas
155 redes sociais mostra que a ciência pode, sim, ser pop. Como
vê esse tipo de iniciativa? Contribui para a educação científica
e o interesse por ciência pelos mais jovens? Há riscos de fazer
uma comunicação superficial demais?
JN: A popularização da ciência nas redes sociais é uma
160 ferramenta valiosa. Iniciativas online podem despertar o
interesse dos jovens e proporcionar acesso fácil à informação
científica de qualidade. Devemos, porém, enfatizar que o
“despertar o interesse pela ciência” é um primeiro passo para
uma alfabetização científica. Em muitos casos, esse despertar
165 do interesse passa por uma informação simples, direta,
encantadora, que em primeiro plano pode ser interpretada
como uma comunicação superficial, porém é um processo
educativo que envolve diversas etapas, no qual nas fases
iniciais se constrói um conhecimento que vai sendo
170 aprimorado com o decorrer do tempo. Em janeiro, criamos o
grupo de Embaixadores Mirins do Pop Ciência, que são
crianças e jovens cientistas com idades entre seis e 15 anos
que realizam e divulgam experimentos, conteúdos e ações de
popularização da ciência nas suas redes. O objetivo é
175 fomentar a educação científica junto à infância e juventude.
CH: Além de termos grupos menos representados na
ciência, há também grande diferença entre as regiões do país.
O Pop Ciência tem o foco de desenvolver mais as áreas que
costumam ser menos favorecidas pelos investimentos?
180 JN: Sim, o Pop Ciência considera as desigualdades
regionais. Em nossas ações, a prioridade de atendimento
ocorrerá nas regiões Norte, Nordeste e Centro-Oeste, onde
há um menor número de equipamentos científicos em
detrimento das regiões Sul e Sudeste, onde há maior
185 concentração. Pretende-se atender de forma igualitária todas
as cinco regiões do Brasil, respeitando-se, portanto, as
desigualdades regionais.
CH: Um dos grandes desafios da contemporaneidade é a
proliferação da desinformação através das redes sociais.
190 Como efetivamente a popularização da ciência pode
combater a desinformação? De que forma isso está presente
no Pop Ciência?
JN: A popularização da ciência é um instrumento
poderoso contra a desinformação. Fornecer informações
195 cientificamente embasadas e promover a literacia científica
são estratégias-chave do Pop Ciência para combater a
propagação de informações falsas. No decreto, por exemplo,
instituímos o “Hackathon contra Desinformação”, ação do
Programa Pop Ciência a ser realizada anualmente. Esta ação
200 será conjunta entre o MCTI e a Secretaria de Políticas Digitais
da Secretaria de Comunicação Social da Presidência da
República, com a colaboração das entidades científicas, de
educação midiática, democratização das mídias e de
promoção de direitos nas redes.
205 CH: Este ano (2024) teremos a Conferência Nacional de
Ciência, Tecnologia e Inovação. As conferências anteriores da
área, em contraste com conferências de outros campos,
como saúde, educação e cultura, acabam mobilizando apenas
acadêmicos e cientistas, sem engajamento dos movimentos
210 sociais e com pouca participação popular. O campo da
popularização da ciência pode ajudar a dar uma cara
diferente à conferência deste ano?
JN: Com certeza! A popularização da ciência é feita por
estudantes, professores das escolas e divulgadores, que são
215 verdadeiros militantes na construção de ações em diferentes
níveis e com o lançamento do decreto estão em diálogo
permanente com o MCTI. Além disso, estamos articulando e
mobilizando conferências livres para a 5ª Conferência
Nacional e a construção das Conferências Temáticas para o
220 Desenvolvimento Social e de meninas e mulheres na ciência,
promovendo a participação popular e o engajamento social
desse público.
CH: O departamento que a senhora dirige inclui a área da
educação científica. Sabemos pelos exames do Pisa e outras
225 formas de avaliação que a formação em ciências na educação
básica é muito deficiente em comparação com outros países.
Quais são as estratégias do ministério para contribuir com
essa área?
JN: O MCTI está trabalhando em colaboração com o MEC
230 para fortalecer a formação em ciências na educação básica.
Em breve vamos lançar o Programa “Mais Ciência na Escola”,
que tem a finalidade de disseminar a educação científica e o
letramento digital na educação básica, por meio da
implantação de laboratórios makers em escolas públicas,
235 acompanhados de planos de atividades, formação de
professores e bolsas para professores e estudantes nas
escolas que conduzirão as atividades. A ideia é estimular a
parceria entre escolas e iniciativas científicas, tecnológicas e
de inovação. É nosso objetivo também contribuir com o
240 processo de fortalecimento da educação em tempo integral,
para oportunizar o desenvolvimento de competências e
habilidades relacionadas a conhecimentos em ciência e
tecnologia com abordagem STEAM (sigla em inglês para
ciência, tecnologia, engenharia, artes e matemática) com
245 vistas à inclusão produtiva e ao fomento do uso pedagógico
de tecnologias digitais nas escolas. Vamos incentivar
metodologias ativas para o ensino, como aprendizagem por
investigação e experimentação científica voltados à solução
de problemas estimulando o interesse dos estudantes pelas
250 carreiras científicas e tecnológicas. O programa também vai
fomentar a organização de clubes de ciência e a participação
dos estudantes em atividades como feiras de ciências e
olimpíadas científicas. Queremos incentivar as universidades
a adotarem as vagas olímpicas, a exemplo da Unicamp, USP,
255 Unesp, Unifei, Instituto Federal Sul de Minas e UFMS, que são
referências no Brasil na concessão de cotas para alunos
medalhistas de olimpíadas científicas.
CH: Historicamente, a ciência foi muito pouco permeável
a contribuições de fora, e sempre manteve posição
260 hierarquizada em relação aos outros conhecimentos. Mesmo
a divulgação científica, em seu modelo dominante, ou de
déficit como também é chamado, desconsidera os outros
saberes. Como pensar em modelos de popularização da
ciência que de fato mobilizem e incluam a população no
265 processo de produção da ciência?
JN: A ciência tem sido historicamente percebida como
um domínio especializado e muitas vezes distante da
compreensão pública. A abordagem tradicional de divulgação
científica, conhecida como o modelo de déficit,
270 frequentemente falha em reconhecer e valorizar os
conhecimentos e perspectivas que as comunidades fora do
meio acadêmico podem oferecer. Estamos cientes da
importância de mudar essa dinâmica. A popularização da
ciência, como buscada pelo Pop Ciência, não deve ser apenas
275 uma via de mão única, onde os cientistas comunicam
resultados para o público. Em vez disso, é crucial criar um
ambiente que promova a cocriação do conhecimento,
incorporando as experiências e saberes das comunidades
tradicionais. Isso envolve a adoção de práticas de ciência
280 cidadã, na qual membros da comunidade participam
ativamente do processo científico, desde a formulação de
perguntas de pesquisa até a coleta de dados e a interpretação
dos resultados. Iniciativas como essa não apenas
democratizam o acesso à ciência, mas também enriquecem a
285 pesquisa ao integrar diferentes perspectivas e
conhecimentos. Além disso, é fundamental reconhecer e
respeitar os saberes tradicionais e indígenas, integrando
essas formas de conhecimento na produção científica. Isso
contribui para a diversidade epistemológica e fortalece a
290 sustentabilidade e a relevância das pesquisas. O Pop Ciência
está comprometido em avançar nessa direção, construindo
uma cultura científica mais diversa, colaborativa e acessível a
todos.
(Elisa Martins. Valquiria Daher. https://cienciahoje.org.br/artigo/por-uma-ciencia-mais-pop-e-diversa/. Abril 2024)
Assinale a alternativa em que a palavra indicada tenha sido acentuada seguindo regra distinta da das demais.
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Leia atentamente o texto a seguir e responda às questões de 1 a 13.
Por uma ciência mais pop e diversa
O nome já diz tudo. O Pop Ciência, Programa Nacional de
Popularização da Ciência do Ministério de Ciência, Tecnologia
e Inovação (MCTI), foi lançado em outubro passado (2023)
com a meta de superar dois desafios recorrentes na ciência
5 brasileira: criar iniciativas para aproximá-la do público em
geral e facilitar o acesso de jovens de grupos sociais
vulneráveis a carreiras científicas e tecnológicas. À frente do
projeto, Juana Nunes reconhece os obstáculos. “Precisamos
de ampla divulgação científica para romper com os
10 estereótipos da branquitude, óculos e jaleco”, diz a diretora
de Popularização da Ciência, Tecnologia e Educação Científica
da Secretaria de Ciência e Tecnologia para o Desenvolvimento
Social (Sedes/MCTI).
Entre os esforços para evoluir nessas questões estão
15 parcerias com redes estaduais para ações locais e mais
colaboração com os ministérios da Educação e da Cultura.
Este último faz parte da trajetória de Juana, que, formada em
História da Arte e professora da rede dos institutos federais,
foi gestora de políticas culturais. “Minha passagem pelo
20 Ministério da Cultura foi marcada pela coordenação de
políticas de cidadania, diversidade cultural e comunicação.
Essa experiência proporcionou uma compreensão profunda
da importância de integrar diferentes perspectivas e saberes
na construção de políticas públicas”, afirma. O objetivo agora,
25 diz, é transformar a popularização da ciência em uma política
pública de Estado.
CIÊNCIA HOJE: O Programa Nacional de Popularização da
Ciência (Pop Ciência) foi lançado em outubro passado pelo
MCTI. Que balanço faz dos meses iniciais? E o que podemos
30 esperar no futuro?
JUANA NUNES: O decreto Pop Ciência é resultado de um
diálogo com a comunidade científica e a sociedade civil. Ele
nasce do desejo de fortalecer as ações de popularização da
ciência que já existiam, como olimpíadas, feiras de ciência e
35 mostras científicas, dentre outras, promovendo a
institucionalidade necessária para a popularização se tornar
uma política pública de Estado. Isso se expressou na
assinatura do decreto pelo presidente Lula e pela definição
do maior orçamento direto da história por parte da ministra
40 Luciana Santos (da pasta de Ciência, Tecnologia e Inovação).
O Pop Ciência permite potencializar o alcance do que já
existia ao mesmo tempo em que propõe uma atuação mais
sistemática por parte do MCTI, com a criação dos Pontos de
Ciência, que vão reconhecer e apoiar quem já atua nessa área
45 e novos atores divulgadores da ciência; a Virada da Ciência, e
o fomento a espaços científicos culturais permanentes.
Os primeiros meses do Pop Ciência foram de muito
engajamento e interesse da sociedade e observamos uma
receptividade positiva a iniciativas que visam a aproximar a
50 ciência do público em geral. Em dezembro, realizamos em
Brasília o Encontro Nacional de Popularização da Ciência,
onde reunimos mais de 450 divulgadores de ciência de todo
o Brasil, discutindo desafios e estratégias para a
implementação do Pop Ciência. A criação de redes estaduais
55 já está em andamento com adesão e já é uma realidade no
Ceará e no Paraná. As redes estaduais visam a fortalecer o
conjunto de instituições públicas e privadas que realizam
ações de popularização da ciência. Serão estimuladas ações
para a criação de clubes de ciência, participação de
60 estudantes em feiras de ciências e olimpíadas científicas,
dentre outras iniciativas.
Nossa meta é consolidar esta rede com todas as 27
unidades da federação. Para o futuro, planejamos
implementar as novas ações do Pop Ciência, ampliando o
65 público-alvo da política, para além do universo escolar.
Queremos chegar a toda a sociedade com recorte claro de
inclusão e diversidade dialogando mais com o campo da
cultura e da comunicação.
CH: Apesar dos muitos esforços e transformações dos
70 últimos anos, a comunidade acadêmica ainda é
predominantemente branca, principalmente nos postos de
liderança. Como o Pop Ciência contribui para mudar essa
realidade?
JN: Temos uma ação voltada para fomentar maior
75 participação de grupos sociais vulneráveis e historicamente
excluídos para garantir mais diversidade na ciência. Teremos
chamadas específicas com esse objetivo, com cotas para
negros, indígenas e mulheres. A chamada da Semana
Nacional de Ciência e Tecnologia de 2023, por exemplo, teve
80 50% das vagas para coordenadoras mulheres. Nesse sentido,
procuramos estimular projetos em diálogo com os povos e
comunidades tradicionais, moradores de áreas rurais e
periferias urbanas, população negra, quilombolas, povos
indígenas, pessoas com deficiência.
85 CH: Dos grupos menos representados na comunidade
acadêmica, há algum que veja como ponto mais crítico e que
encara maiores obstáculos para seguir a carreira científica?
JN: Certamente, grupos menos representados enfrentam
desafios significativos. Temos como grande desafio atender a
90 um percentual significativo de jovens em situação de
desalento, objetivando o reingresso, a permanência nos
estudos e a qualificação profissional. Segundo estudo da FGV
(Fundação Getulio Vargas) e dados do IBGE (Instituto
Brasileiro de Geografia e Estatística), temos atualmente no
95 Brasil um universo de 7,1 milhões de jovens em desalento,
dos quais 73% são pretos/pardos, e em sua maioria,
mulheres. Isso demonstra o tamanho dos desafios que temos
para promover ações indutoras que permitam a esses jovens
o acesso às carreiras científicas e tecnológicas.
100 Quero destacar o desafio de mais meninas e mulheres na
ciência. Lançamos agora em março uma chamada via CNPq
(Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e
Tecnológico) de R$ 100 milhões para fomentar projetos de
educação científica para meninas dos anos finais do ensino
105 fundamental e ensino médio em diálogo com pesquisadoras
para estimular o ingresso, a formação, a permanência e a
ascensão de meninas e mulheres nas carreiras científicas.
CH: A necessidade de mais diversidade nesses espaços
acaba se refletindo na percepção que a população tem dos
110 cientistas. O que está sendo e pode ser feito para que no
imaginário da população o cientista não seja apenas um
homem branco, de óculos, vestindo jaleco em um
laboratório?
JN: Precisamos de ampla divulgação científica para
115 romper com os estereótipos da branquitude, óculos e jaleco.
A representação diversificada na ciência é fundamental para
mudar a percepção pública. O Pop Ciência realizará esforços
contínuos para representar a pluralidade de cientistas na
mídia, contribuindo para uma imagem mais realista e
120 inclusiva da comunidade científica. Temos um compromisso
de estimular a comunicação pública da ciência. Isso foi
destacado no decreto, quando definimos que serão
realizadas ações que promovam a comunicação pública da
ciência, em linguagem simples, que valorizem o engajamento
125 do público na ciência e visem a alcançar diversas camadas da
população. Precisamos dar visibilidade à ciência brasileira.
Temos excelentes cientistas que contribuíram no passado,
como Oswaldo Cruz, Carlos Chagas, Johanna Döbereiner,
Cesar Lattes, e também cientistas contemporâneos, como
130 Thaisa Bergmann, Mayana Zatz, Miguel Nicolelis, Suzana
Herculano-Houzel, Niède Guidon, Jaqueline Goes de Jesus
(cientista que mapeou o genoma do coronavírus), e tantos
outros que o Brasil precisa conhecer.
CH: Segundo a ministra Luciana Santos, em entrevista à
135 CH, a cada quatro anos o MCTI encomenda uma pesquisa
sobre a Percepção Pública da Ciência. A última foi em 2019.
Será realizada nova pesquisa neste ano? Na de 2018, apesar
de o nível de confiança na ciência ser bastante alto (73%),
ficou evidente que a maioria dos brasileiros desconhece os
140 pesquisadores, os laboratórios e as nossas unidades de
pesquisas. Espera que esses ponteiros tenham se movido?
JN: A Pesquisa de Percepção Pública da Ciência está
ocorrendo neste ano em todo o Brasil, em parceria com o
Centro de Gestão e Estudos Estratégicos. Acreditamos que
145 ainda é muito cedo para observarmos uma mudança no
comportamento do cidadão brasileiro acerca da percepção
da ciência. Precisamos de uma política de popularização da
ciência mais robusta. É o que estamos buscando com o Pop
Ciência. Esse é um trabalho que deve começar na base, com
150 ação massiva nas escolas. E para isso a parceria com o MEC é
estratégica. As políticas públicas de ciência e tecnologia e a
de educação devem andar juntas, para o desenvolvimento
científico tecnológico do país.
CH: O trabalho de muitos divulgadores de ciência nas
155 redes sociais mostra que a ciência pode, sim, ser pop. Como
vê esse tipo de iniciativa? Contribui para a educação científica
e o interesse por ciência pelos mais jovens? Há riscos de fazer
uma comunicação superficial demais?
JN: A popularização da ciência nas redes sociais é uma
160 ferramenta valiosa. Iniciativas online podem despertar o
interesse dos jovens e proporcionar acesso fácil à informação
científica de qualidade. Devemos, porém, enfatizar que o
“despertar o interesse pela ciência” é um primeiro passo para
uma alfabetização científica. Em muitos casos, esse despertar
165 do interesse passa por uma informação simples, direta,
encantadora, que em primeiro plano pode ser interpretada
como uma comunicação superficial, porém é um processo
educativo que envolve diversas etapas, no qual nas fases
iniciais se constrói um conhecimento que vai sendo
170 aprimorado com o decorrer do tempo. Em janeiro, criamos o
grupo de Embaixadores Mirins do Pop Ciência, que são
crianças e jovens cientistas com idades entre seis e 15 anos
que realizam e divulgam experimentos, conteúdos e ações de
popularização da ciência nas suas redes. O objetivo é
175 fomentar a educação científica junto à infância e juventude.
CH: Além de termos grupos menos representados na
ciência, há também grande diferença entre as regiões do país.
O Pop Ciência tem o foco de desenvolver mais as áreas que
costumam ser menos favorecidas pelos investimentos?
180 JN: Sim, o Pop Ciência considera as desigualdades
regionais. Em nossas ações, a prioridade de atendimento
ocorrerá nas regiões Norte, Nordeste e Centro-Oeste, onde
há um menor número de equipamentos científicos em
detrimento das regiões Sul e Sudeste, onde há maior
185 concentração. Pretende-se atender de forma igualitária todas
as cinco regiões do Brasil, respeitando-se, portanto, as
desigualdades regionais.
CH: Um dos grandes desafios da contemporaneidade é a
proliferação da desinformação através das redes sociais.
190 Como efetivamente a popularização da ciência pode
combater a desinformação? De que forma isso está presente
no Pop Ciência?
JN: A popularização da ciência é um instrumento
poderoso contra a desinformação. Fornecer informações
195 cientificamente embasadas e promover a literacia científica
são estratégias-chave do Pop Ciência para combater a
propagação de informações falsas. No decreto, por exemplo,
instituímos o “Hackathon contra Desinformação”, ação do
Programa Pop Ciência a ser realizada anualmente. Esta ação
200 será conjunta entre o MCTI e a Secretaria de Políticas Digitais
da Secretaria de Comunicação Social da Presidência da
República, com a colaboração das entidades científicas, de
educação midiática, democratização das mídias e de
promoção de direitos nas redes.
205 CH: Este ano (2024) teremos a Conferência Nacional de
Ciência, Tecnologia e Inovação. As conferências anteriores da
área, em contraste com conferências de outros campos,
como saúde, educação e cultura, acabam mobilizando apenas
acadêmicos e cientistas, sem engajamento dos movimentos
210 sociais e com pouca participação popular. O campo da
popularização da ciência pode ajudar a dar uma cara
diferente à conferência deste ano?
JN: Com certeza! A popularização da ciência é feita por
estudantes, professores das escolas e divulgadores, que são
215 verdadeiros militantes na construção de ações em diferentes
níveis e com o lançamento do decreto estão em diálogo
permanente com o MCTI. Além disso, estamos articulando e
mobilizando conferências livres para a 5ª Conferência
Nacional e a construção das Conferências Temáticas para o
220 Desenvolvimento Social e de meninas e mulheres na ciência,
promovendo a participação popular e o engajamento social
desse público.
CH: O departamento que a senhora dirige inclui a área da
educação científica. Sabemos pelos exames do Pisa e outras
225 formas de avaliação que a formação em ciências na educação
básica é muito deficiente em comparação com outros países.
Quais são as estratégias do ministério para contribuir com
essa área?
JN: O MCTI está trabalhando em colaboração com o MEC
230 para fortalecer a formação em ciências na educação básica.
Em breve vamos lançar o Programa “Mais Ciência na Escola”,
que tem a finalidade de disseminar a educação científica e o
letramento digital na educação básica, por meio da
implantação de laboratórios makers em escolas públicas,
235 acompanhados de planos de atividades, formação de
professores e bolsas para professores e estudantes nas
escolas que conduzirão as atividades. A ideia é estimular a
parceria entre escolas e iniciativas científicas, tecnológicas e
de inovação. É nosso objetivo também contribuir com o
240 processo de fortalecimento da educação em tempo integral,
para oportunizar o desenvolvimento de competências e
habilidades relacionadas a conhecimentos em ciência e
tecnologia com abordagem STEAM (sigla em inglês para
ciência, tecnologia, engenharia, artes e matemática) com
245 vistas à inclusão produtiva e ao fomento do uso pedagógico
de tecnologias digitais nas escolas. Vamos incentivar
metodologias ativas para o ensino, como aprendizagem por
investigação e experimentação científica voltados à solução
de problemas estimulando o interesse dos estudantes pelas
250 carreiras científicas e tecnológicas. O programa também vai
fomentar a organização de clubes de ciência e a participação
dos estudantes em atividades como feiras de ciências e
olimpíadas científicas. Queremos incentivar as universidades
a adotarem as vagas olímpicas, a exemplo da Unicamp, USP,
255 Unesp, Unifei, Instituto Federal Sul de Minas e UFMS, que são
referências no Brasil na concessão de cotas para alunos
medalhistas de olimpíadas científicas.
CH: Historicamente, a ciência foi muito pouco permeável
a contribuições de fora, e sempre manteve posição
260 hierarquizada em relação aos outros conhecimentos. Mesmo
a divulgação científica, em seu modelo dominante, ou de
déficit como também é chamado, desconsidera os outros
saberes. Como pensar em modelos de popularização da
ciência que de fato mobilizem e incluam a população no
265 processo de produção da ciência?
JN: A ciência tem sido historicamente percebida como
um domínio especializado e muitas vezes distante da
compreensão pública. A abordagem tradicional de divulgação
científica, conhecida como o modelo de déficit,
270 frequentemente falha em reconhecer e valorizar os
conhecimentos e perspectivas que as comunidades fora do
meio acadêmico podem oferecer. Estamos cientes da
importância de mudar essa dinâmica. A popularização da
ciência, como buscada pelo Pop Ciência, não deve ser apenas
275 uma via de mão única, onde os cientistas comunicam
resultados para o público. Em vez disso, é crucial criar um
ambiente que promova a cocriação do conhecimento,
incorporando as experiências e saberes das comunidades
tradicionais. Isso envolve a adoção de práticas de ciência
280 cidadã, na qual membros da comunidade participam
ativamente do processo científico, desde a formulação de
perguntas de pesquisa até a coleta de dados e a interpretação
dos resultados. Iniciativas como essa não apenas
democratizam o acesso à ciência, mas também enriquecem a
285 pesquisa ao integrar diferentes perspectivas e
conhecimentos. Além disso, é fundamental reconhecer e
respeitar os saberes tradicionais e indígenas, integrando
essas formas de conhecimento na produção científica. Isso
contribui para a diversidade epistemológica e fortalece a
290 sustentabilidade e a relevância das pesquisas. O Pop Ciência
está comprometido em avançar nessa direção, construindo
uma cultura científica mais diversa, colaborativa e acessível a
todos.
(Elisa Martins. Valquiria Daher. https://cienciahoje.org.br/artigo/por-uma-ciencia-mais-pop-e-diversa/. Abril 2024)
Esta ação será conjunta entre o MCTI e a Secretaria de Políticas Digitais da Secretaria de Comunicação Social da Presidência da República, com a colaboração das entidades científicas (1), de educação midiática, democratização das mídias e de promoção de direitos nas redes (2). (L.199-204)
Os termos (1) e (2) desempenham, respectivamente, função sintática de
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Leia atentamente o texto a seguir e responda às questões de 1 a 13.
Por uma ciência mais pop e diversa
O nome já diz tudo. O Pop Ciência, Programa Nacional de
Popularização da Ciência do Ministério de Ciência, Tecnologia
e Inovação (MCTI), foi lançado em outubro passado (2023)
com a meta de superar dois desafios recorrentes na ciência
5 brasileira: criar iniciativas para aproximá-la do público em
geral e facilitar o acesso de jovens de grupos sociais
vulneráveis a carreiras científicas e tecnológicas. À frente do
projeto, Juana Nunes reconhece os obstáculos. “Precisamos
de ampla divulgação científica para romper com os
10 estereótipos da branquitude, óculos e jaleco”, diz a diretora
de Popularização da Ciência, Tecnologia e Educação Científica
da Secretaria de Ciência e Tecnologia para o Desenvolvimento
Social (Sedes/MCTI).
Entre os esforços para evoluir nessas questões estão
15 parcerias com redes estaduais para ações locais e mais
colaboração com os ministérios da Educação e da Cultura.
Este último faz parte da trajetória de Juana, que, formada em
História da Arte e professora da rede dos institutos federais,
foi gestora de políticas culturais. “Minha passagem pelo
20 Ministério da Cultura foi marcada pela coordenação de
políticas de cidadania, diversidade cultural e comunicação.
Essa experiência proporcionou uma compreensão profunda
da importância de integrar diferentes perspectivas e saberes
na construção de políticas públicas”, afirma. O objetivo agora,
25 diz, é transformar a popularização da ciência em uma política
pública de Estado.
CIÊNCIA HOJE: O Programa Nacional de Popularização da
Ciência (Pop Ciência) foi lançado em outubro passado pelo
MCTI. Que balanço faz dos meses iniciais? E o que podemos
30 esperar no futuro?
JUANA NUNES: O decreto Pop Ciência é resultado de um
diálogo com a comunidade científica e a sociedade civil. Ele
nasce do desejo de fortalecer as ações de popularização da
ciência que já existiam, como olimpíadas, feiras de ciência e
35 mostras científicas, dentre outras, promovendo a
institucionalidade necessária para a popularização se tornar
uma política pública de Estado. Isso se expressou na
assinatura do decreto pelo presidente Lula e pela definição
do maior orçamento direto da história por parte da ministra
40 Luciana Santos (da pasta de Ciência, Tecnologia e Inovação).
O Pop Ciência permite potencializar o alcance do que já
existia ao mesmo tempo em que propõe uma atuação mais
sistemática por parte do MCTI, com a criação dos Pontos de
Ciência, que vão reconhecer e apoiar quem já atua nessa área
45 e novos atores divulgadores da ciência; a Virada da Ciência, e
o fomento a espaços científicos culturais permanentes.
Os primeiros meses do Pop Ciência foram de muito
engajamento e interesse da sociedade e observamos uma
receptividade positiva a iniciativas que visam a aproximar a
50 ciência do público em geral. Em dezembro, realizamos em
Brasília o Encontro Nacional de Popularização da Ciência,
onde reunimos mais de 450 divulgadores de ciência de todo
o Brasil, discutindo desafios e estratégias para a
implementação do Pop Ciência. A criação de redes estaduais
55 já está em andamento com adesão e já é uma realidade no
Ceará e no Paraná. As redes estaduais visam a fortalecer o
conjunto de instituições públicas e privadas que realizam
ações de popularização da ciência. Serão estimuladas ações
para a criação de clubes de ciência, participação de
60 estudantes em feiras de ciências e olimpíadas científicas,
dentre outras iniciativas.
Nossa meta é consolidar esta rede com todas as 27
unidades da federação. Para o futuro, planejamos
implementar as novas ações do Pop Ciência, ampliando o
65 público-alvo da política, para além do universo escolar.
Queremos chegar a toda a sociedade com recorte claro de
inclusão e diversidade dialogando mais com o campo da
cultura e da comunicação.
CH: Apesar dos muitos esforços e transformações dos
70 últimos anos, a comunidade acadêmica ainda é
predominantemente branca, principalmente nos postos de
liderança. Como o Pop Ciência contribui para mudar essa
realidade?
JN: Temos uma ação voltada para fomentar maior
75 participação de grupos sociais vulneráveis e historicamente
excluídos para garantir mais diversidade na ciência. Teremos
chamadas específicas com esse objetivo, com cotas para
negros, indígenas e mulheres. A chamada da Semana
Nacional de Ciência e Tecnologia de 2023, por exemplo, teve
80 50% das vagas para coordenadoras mulheres. Nesse sentido,
procuramos estimular projetos em diálogo com os povos e
comunidades tradicionais, moradores de áreas rurais e
periferias urbanas, população negra, quilombolas, povos
indígenas, pessoas com deficiência.
85 CH: Dos grupos menos representados na comunidade
acadêmica, há algum que veja como ponto mais crítico e que
encara maiores obstáculos para seguir a carreira científica?
JN: Certamente, grupos menos representados enfrentam
desafios significativos. Temos como grande desafio atender a
90 um percentual significativo de jovens em situação de
desalento, objetivando o reingresso, a permanência nos
estudos e a qualificação profissional. Segundo estudo da FGV
(Fundação Getulio Vargas) e dados do IBGE (Instituto
Brasileiro de Geografia e Estatística), temos atualmente no
95 Brasil um universo de 7,1 milhões de jovens em desalento,
dos quais 73% são pretos/pardos, e em sua maioria,
mulheres. Isso demonstra o tamanho dos desafios que temos
para promover ações indutoras que permitam a esses jovens
o acesso às carreiras científicas e tecnológicas.
100 Quero destacar o desafio de mais meninas e mulheres na
ciência. Lançamos agora em março uma chamada via CNPq
(Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e
Tecnológico) de R$ 100 milhões para fomentar projetos de
educação científica para meninas dos anos finais do ensino
105 fundamental e ensino médio em diálogo com pesquisadoras
para estimular o ingresso, a formação, a permanência e a
ascensão de meninas e mulheres nas carreiras científicas.
CH: A necessidade de mais diversidade nesses espaços
acaba se refletindo na percepção que a população tem dos
110 cientistas. O que está sendo e pode ser feito para que no
imaginário da população o cientista não seja apenas um
homem branco, de óculos, vestindo jaleco em um
laboratório?
JN: Precisamos de ampla divulgação científica para
115 romper com os estereótipos da branquitude, óculos e jaleco.
A representação diversificada na ciência é fundamental para
mudar a percepção pública. O Pop Ciência realizará esforços
contínuos para representar a pluralidade de cientistas na
mídia, contribuindo para uma imagem mais realista e
120 inclusiva da comunidade científica. Temos um compromisso
de estimular a comunicação pública da ciência. Isso foi
destacado no decreto, quando definimos que serão
realizadas ações que promovam a comunicação pública da
ciência, em linguagem simples, que valorizem o engajamento
125 do público na ciência e visem a alcançar diversas camadas da
população. Precisamos dar visibilidade à ciência brasileira.
Temos excelentes cientistas que contribuíram no passado,
como Oswaldo Cruz, Carlos Chagas, Johanna Döbereiner,
Cesar Lattes, e também cientistas contemporâneos, como
130 Thaisa Bergmann, Mayana Zatz, Miguel Nicolelis, Suzana
Herculano-Houzel, Niède Guidon, Jaqueline Goes de Jesus
(cientista que mapeou o genoma do coronavírus), e tantos
outros que o Brasil precisa conhecer.
CH: Segundo a ministra Luciana Santos, em entrevista à
135 CH, a cada quatro anos o MCTI encomenda uma pesquisa
sobre a Percepção Pública da Ciência. A última foi em 2019.
Será realizada nova pesquisa neste ano? Na de 2018, apesar
de o nível de confiança na ciência ser bastante alto (73%),
ficou evidente que a maioria dos brasileiros desconhece os
140 pesquisadores, os laboratórios e as nossas unidades de
pesquisas. Espera que esses ponteiros tenham se movido?
JN: A Pesquisa de Percepção Pública da Ciência está
ocorrendo neste ano em todo o Brasil, em parceria com o
Centro de Gestão e Estudos Estratégicos. Acreditamos que
145 ainda é muito cedo para observarmos uma mudança no
comportamento do cidadão brasileiro acerca da percepção
da ciência. Precisamos de uma política de popularização da
ciência mais robusta. É o que estamos buscando com o Pop
Ciência. Esse é um trabalho que deve começar na base, com
150 ação massiva nas escolas. E para isso a parceria com o MEC é
estratégica. As políticas públicas de ciência e tecnologia e a
de educação devem andar juntas, para o desenvolvimento
científico tecnológico do país.
CH: O trabalho de muitos divulgadores de ciência nas
155 redes sociais mostra que a ciência pode, sim, ser pop. Como
vê esse tipo de iniciativa? Contribui para a educação científica
e o interesse por ciência pelos mais jovens? Há riscos de fazer
uma comunicação superficial demais?
JN: A popularização da ciência nas redes sociais é uma
160 ferramenta valiosa. Iniciativas online podem despertar o
interesse dos jovens e proporcionar acesso fácil à informação
científica de qualidade. Devemos, porém, enfatizar que o
“despertar o interesse pela ciência” é um primeiro passo para
uma alfabetização científica. Em muitos casos, esse despertar
165 do interesse passa por uma informação simples, direta,
encantadora, que em primeiro plano pode ser interpretada
como uma comunicação superficial, porém é um processo
educativo que envolve diversas etapas, no qual nas fases
iniciais se constrói um conhecimento que vai sendo
170 aprimorado com o decorrer do tempo. Em janeiro, criamos o
grupo de Embaixadores Mirins do Pop Ciência, que são
crianças e jovens cientistas com idades entre seis e 15 anos
que realizam e divulgam experimentos, conteúdos e ações de
popularização da ciência nas suas redes. O objetivo é
175 fomentar a educação científica junto à infância e juventude.
CH: Além de termos grupos menos representados na
ciência, há também grande diferença entre as regiões do país.
O Pop Ciência tem o foco de desenvolver mais as áreas que
costumam ser menos favorecidas pelos investimentos?
180 JN: Sim, o Pop Ciência considera as desigualdades
regionais. Em nossas ações, a prioridade de atendimento
ocorrerá nas regiões Norte, Nordeste e Centro-Oeste, onde
há um menor número de equipamentos científicos em
detrimento das regiões Sul e Sudeste, onde há maior
185 concentração. Pretende-se atender de forma igualitária todas
as cinco regiões do Brasil, respeitando-se, portanto, as
desigualdades regionais.
CH: Um dos grandes desafios da contemporaneidade é a
proliferação da desinformação através das redes sociais.
190 Como efetivamente a popularização da ciência pode
combater a desinformação? De que forma isso está presente
no Pop Ciência?
JN: A popularização da ciência é um instrumento
poderoso contra a desinformação. Fornecer informações
195 cientificamente embasadas e promover a literacia científica
são estratégias-chave do Pop Ciência para combater a
propagação de informações falsas. No decreto, por exemplo,
instituímos o “Hackathon contra Desinformação”, ação do
Programa Pop Ciência a ser realizada anualmente. Esta ação
200 será conjunta entre o MCTI e a Secretaria de Políticas Digitais
da Secretaria de Comunicação Social da Presidência da
República, com a colaboração das entidades científicas, de
educação midiática, democratização das mídias e de
promoção de direitos nas redes.
205 CH: Este ano (2024) teremos a Conferência Nacional de
Ciência, Tecnologia e Inovação. As conferências anteriores da
área, em contraste com conferências de outros campos,
como saúde, educação e cultura, acabam mobilizando apenas
acadêmicos e cientistas, sem engajamento dos movimentos
210 sociais e com pouca participação popular. O campo da
popularização da ciência pode ajudar a dar uma cara
diferente à conferência deste ano?
JN: Com certeza! A popularização da ciência é feita por
estudantes, professores das escolas e divulgadores, que são
215 verdadeiros militantes na construção de ações em diferentes
níveis e com o lançamento do decreto estão em diálogo
permanente com o MCTI. Além disso, estamos articulando e
mobilizando conferências livres para a 5ª Conferência
Nacional e a construção das Conferências Temáticas para o
220 Desenvolvimento Social e de meninas e mulheres na ciência,
promovendo a participação popular e o engajamento social
desse público.
CH: O departamento que a senhora dirige inclui a área da
educação científica. Sabemos pelos exames do Pisa e outras
225 formas de avaliação que a formação em ciências na educação
básica é muito deficiente em comparação com outros países.
Quais são as estratégias do ministério para contribuir com
essa área?
JN: O MCTI está trabalhando em colaboração com o MEC
230 para fortalecer a formação em ciências na educação básica.
Em breve vamos lançar o Programa “Mais Ciência na Escola”,
que tem a finalidade de disseminar a educação científica e o
letramento digital na educação básica, por meio da
implantação de laboratórios makers em escolas públicas,
235 acompanhados de planos de atividades, formação de
professores e bolsas para professores e estudantes nas
escolas que conduzirão as atividades. A ideia é estimular a
parceria entre escolas e iniciativas científicas, tecnológicas e
de inovação. É nosso objetivo também contribuir com o
240 processo de fortalecimento da educação em tempo integral,
para oportunizar o desenvolvimento de competências e
habilidades relacionadas a conhecimentos em ciência e
tecnologia com abordagem STEAM (sigla em inglês para
ciência, tecnologia, engenharia, artes e matemática) com
245 vistas à inclusão produtiva e ao fomento do uso pedagógico
de tecnologias digitais nas escolas. Vamos incentivar
metodologias ativas para o ensino, como aprendizagem por
investigação e experimentação científica voltados à solução
de problemas estimulando o interesse dos estudantes pelas
250 carreiras científicas e tecnológicas. O programa também vai
fomentar a organização de clubes de ciência e a participação
dos estudantes em atividades como feiras de ciências e
olimpíadas científicas. Queremos incentivar as universidades
a adotarem as vagas olímpicas, a exemplo da Unicamp, USP,
255 Unesp, Unifei, Instituto Federal Sul de Minas e UFMS, que são
referências no Brasil na concessão de cotas para alunos
medalhistas de olimpíadas científicas.
CH: Historicamente, a ciência foi muito pouco permeável
a contribuições de fora, e sempre manteve posição
260 hierarquizada em relação aos outros conhecimentos. Mesmo
a divulgação científica, em seu modelo dominante, ou de
déficit como também é chamado, desconsidera os outros
saberes. Como pensar em modelos de popularização da
ciência que de fato mobilizem e incluam a população no
265 processo de produção da ciência?
JN: A ciência tem sido historicamente percebida como
um domínio especializado e muitas vezes distante da
compreensão pública. A abordagem tradicional de divulgação
científica, conhecida como o modelo de déficit,
270 frequentemente falha em reconhecer e valorizar os
conhecimentos e perspectivas que as comunidades fora do
meio acadêmico podem oferecer. Estamos cientes da
importância de mudar essa dinâmica. A popularização da
ciência, como buscada pelo Pop Ciência, não deve ser apenas
275 uma via de mão única, onde os cientistas comunicam
resultados para o público. Em vez disso, é crucial criar um
ambiente que promova a cocriação do conhecimento,
incorporando as experiências e saberes das comunidades
tradicionais. Isso envolve a adoção de práticas de ciência
280 cidadã, na qual membros da comunidade participam
ativamente do processo científico, desde a formulação de
perguntas de pesquisa até a coleta de dados e a interpretação
dos resultados. Iniciativas como essa não apenas
democratizam o acesso à ciência, mas também enriquecem a
285 pesquisa ao integrar diferentes perspectivas e
conhecimentos. Além disso, é fundamental reconhecer e
respeitar os saberes tradicionais e indígenas, integrando
essas formas de conhecimento na produção científica. Isso
contribui para a diversidade epistemológica e fortalece a
290 sustentabilidade e a relevância das pesquisas. O Pop Ciência
está comprometido em avançar nessa direção, construindo
uma cultura científica mais diversa, colaborativa e acessível a
todos.
(Elisa Martins. Valquiria Daher. https://cienciahoje.org.br/artigo/por-uma-ciencia-mais-pop-e-diversa/. Abril 2024)
Apesar dos muitos esforços e transformações dos últimos anos, a comunidade acadêmica ainda é predominantemente branca, principalmente nos postos de liderança. (L.69-72)
Assinale a alternativa em que a modificação do segmento sublinhado no período acima tenha provocado grave alteração de sentido.
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Leia atentamente o texto a seguir e responda às questões de 1 a 13.
Por uma ciência mais pop e diversa
O nome já diz tudo. O Pop Ciência, Programa Nacional de
Popularização da Ciência do Ministério de Ciência, Tecnologia
e Inovação (MCTI), foi lançado em outubro passado (2023)
com a meta de superar dois desafios recorrentes na ciência
5 brasileira: criar iniciativas para aproximá-la do público em
geral e facilitar o acesso de jovens de grupos sociais
vulneráveis a carreiras científicas e tecnológicas. À frente do
projeto, Juana Nunes reconhece os obstáculos. “Precisamos
de ampla divulgação científica para romper com os
10 estereótipos da branquitude, óculos e jaleco”, diz a diretora
de Popularização da Ciência, Tecnologia e Educação Científica
da Secretaria de Ciência e Tecnologia para o Desenvolvimento
Social (Sedes/MCTI).
Entre os esforços para evoluir nessas questões estão
15 parcerias com redes estaduais para ações locais e mais
colaboração com os ministérios da Educação e da Cultura.
Este último faz parte da trajetória de Juana, que, formada em
História da Arte e professora da rede dos institutos federais,
foi gestora de políticas culturais. “Minha passagem pelo
20 Ministério da Cultura foi marcada pela coordenação de
políticas de cidadania, diversidade cultural e comunicação.
Essa experiência proporcionou uma compreensão profunda
da importância de integrar diferentes perspectivas e saberes
na construção de políticas públicas”, afirma. O objetivo agora,
25 diz, é transformar a popularização da ciência em uma política
pública de Estado.
CIÊNCIA HOJE: O Programa Nacional de Popularização da
Ciência (Pop Ciência) foi lançado em outubro passado pelo
MCTI. Que balanço faz dos meses iniciais? E o que podemos
30 esperar no futuro?
JUANA NUNES: O decreto Pop Ciência é resultado de um
diálogo com a comunidade científica e a sociedade civil. Ele
nasce do desejo de fortalecer as ações de popularização da
ciência que já existiam, como olimpíadas, feiras de ciência e
35 mostras científicas, dentre outras, promovendo a
institucionalidade necessária para a popularização se tornar
uma política pública de Estado. Isso se expressou na
assinatura do decreto pelo presidente Lula e pela definição
do maior orçamento direto da história por parte da ministra
40 Luciana Santos (da pasta de Ciência, Tecnologia e Inovação).
O Pop Ciência permite potencializar o alcance do que já
existia ao mesmo tempo em que propõe uma atuação mais
sistemática por parte do MCTI, com a criação dos Pontos de
Ciência, que vão reconhecer e apoiar quem já atua nessa área
45 e novos atores divulgadores da ciência; a Virada da Ciência, e
o fomento a espaços científicos culturais permanentes.
Os primeiros meses do Pop Ciência foram de muito
engajamento e interesse da sociedade e observamos uma
receptividade positiva a iniciativas que visam a aproximar a
50 ciência do público em geral. Em dezembro, realizamos em
Brasília o Encontro Nacional de Popularização da Ciência,
onde reunimos mais de 450 divulgadores de ciência de todo
o Brasil, discutindo desafios e estratégias para a
implementação do Pop Ciência. A criação de redes estaduais
55 já está em andamento com adesão e já é uma realidade no
Ceará e no Paraná. As redes estaduais visam a fortalecer o
conjunto de instituições públicas e privadas que realizam
ações de popularização da ciência. Serão estimuladas ações
para a criação de clubes de ciência, participação de
60 estudantes em feiras de ciências e olimpíadas científicas,
dentre outras iniciativas.
Nossa meta é consolidar esta rede com todas as 27
unidades da federação. Para o futuro, planejamos
implementar as novas ações do Pop Ciência, ampliando o
65 público-alvo da política, para além do universo escolar.
Queremos chegar a toda a sociedade com recorte claro de
inclusão e diversidade dialogando mais com o campo da
cultura e da comunicação.
CH: Apesar dos muitos esforços e transformações dos
70 últimos anos, a comunidade acadêmica ainda é
predominantemente branca, principalmente nos postos de
liderança. Como o Pop Ciência contribui para mudar essa
realidade?
JN: Temos uma ação voltada para fomentar maior
75 participação de grupos sociais vulneráveis e historicamente
excluídos para garantir mais diversidade na ciência. Teremos
chamadas específicas com esse objetivo, com cotas para
negros, indígenas e mulheres. A chamada da Semana
Nacional de Ciência e Tecnologia de 2023, por exemplo, teve
80 50% das vagas para coordenadoras mulheres. Nesse sentido,
procuramos estimular projetos em diálogo com os povos e
comunidades tradicionais, moradores de áreas rurais e
periferias urbanas, população negra, quilombolas, povos
indígenas, pessoas com deficiência.
85 CH: Dos grupos menos representados na comunidade
acadêmica, há algum que veja como ponto mais crítico e que
encara maiores obstáculos para seguir a carreira científica?
JN: Certamente, grupos menos representados enfrentam
desafios significativos. Temos como grande desafio atender a
90 um percentual significativo de jovens em situação de
desalento, objetivando o reingresso, a permanência nos
estudos e a qualificação profissional. Segundo estudo da FGV
(Fundação Getulio Vargas) e dados do IBGE (Instituto
Brasileiro de Geografia e Estatística), temos atualmente no
95 Brasil um universo de 7,1 milhões de jovens em desalento,
dos quais 73% são pretos/pardos, e em sua maioria,
mulheres. Isso demonstra o tamanho dos desafios que temos
para promover ações indutoras que permitam a esses jovens
o acesso às carreiras científicas e tecnológicas.
100 Quero destacar o desafio de mais meninas e mulheres na
ciência. Lançamos agora em março uma chamada via CNPq
(Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e
Tecnológico) de R$ 100 milhões para fomentar projetos de
educação científica para meninas dos anos finais do ensino
105 fundamental e ensino médio em diálogo com pesquisadoras
para estimular o ingresso, a formação, a permanência e a
ascensão de meninas e mulheres nas carreiras científicas.
CH: A necessidade de mais diversidade nesses espaços
acaba se refletindo na percepção que a população tem dos
110 cientistas. O que está sendo e pode ser feito para que no
imaginário da população o cientista não seja apenas um
homem branco, de óculos, vestindo jaleco em um
laboratório?
JN: Precisamos de ampla divulgação científica para
115 romper com os estereótipos da branquitude, óculos e jaleco.
A representação diversificada na ciência é fundamental para
mudar a percepção pública. O Pop Ciência realizará esforços
contínuos para representar a pluralidade de cientistas na
mídia, contribuindo para uma imagem mais realista e
120 inclusiva da comunidade científica. Temos um compromisso
de estimular a comunicação pública da ciência. Isso foi
destacado no decreto, quando definimos que serão
realizadas ações que promovam a comunicação pública da
ciência, em linguagem simples, que valorizem o engajamento
125 do público na ciência e visem a alcançar diversas camadas da
população. Precisamos dar visibilidade à ciência brasileira.
Temos excelentes cientistas que contribuíram no passado,
como Oswaldo Cruz, Carlos Chagas, Johanna Döbereiner,
Cesar Lattes, e também cientistas contemporâneos, como
130 Thaisa Bergmann, Mayana Zatz, Miguel Nicolelis, Suzana
Herculano-Houzel, Niède Guidon, Jaqueline Goes de Jesus
(cientista que mapeou o genoma do coronavírus), e tantos
outros que o Brasil precisa conhecer.
CH: Segundo a ministra Luciana Santos, em entrevista à
135 CH, a cada quatro anos o MCTI encomenda uma pesquisa
sobre a Percepção Pública da Ciência. A última foi em 2019.
Será realizada nova pesquisa neste ano? Na de 2018, apesar
de o nível de confiança na ciência ser bastante alto (73%),
ficou evidente que a maioria dos brasileiros desconhece os
140 pesquisadores, os laboratórios e as nossas unidades de
pesquisas. Espera que esses ponteiros tenham se movido?
JN: A Pesquisa de Percepção Pública da Ciência está
ocorrendo neste ano em todo o Brasil, em parceria com o
Centro de Gestão e Estudos Estratégicos. Acreditamos que
145 ainda é muito cedo para observarmos uma mudança no
comportamento do cidadão brasileiro acerca da percepção
da ciência. Precisamos de uma política de popularização da
ciência mais robusta. É o que estamos buscando com o Pop
Ciência. Esse é um trabalho que deve começar na base, com
150 ação massiva nas escolas. E para isso a parceria com o MEC é
estratégica. As políticas públicas de ciência e tecnologia e a
de educação devem andar juntas, para o desenvolvimento
científico tecnológico do país.
CH: O trabalho de muitos divulgadores de ciência nas
155 redes sociais mostra que a ciência pode, sim, ser pop. Como
vê esse tipo de iniciativa? Contribui para a educação científica
e o interesse por ciência pelos mais jovens? Há riscos de fazer
uma comunicação superficial demais?
JN: A popularização da ciência nas redes sociais é uma
160 ferramenta valiosa. Iniciativas online podem despertar o
interesse dos jovens e proporcionar acesso fácil à informação
científica de qualidade. Devemos, porém, enfatizar que o
“despertar o interesse pela ciência” é um primeiro passo para
uma alfabetização científica. Em muitos casos, esse despertar
165 do interesse passa por uma informação simples, direta,
encantadora, que em primeiro plano pode ser interpretada
como uma comunicação superficial, porém é um processo
educativo que envolve diversas etapas, no qual nas fases
iniciais se constrói um conhecimento que vai sendo
170 aprimorado com o decorrer do tempo. Em janeiro, criamos o
grupo de Embaixadores Mirins do Pop Ciência, que são
crianças e jovens cientistas com idades entre seis e 15 anos
que realizam e divulgam experimentos, conteúdos e ações de
popularização da ciência nas suas redes. O objetivo é
175 fomentar a educação científica junto à infância e juventude.
CH: Além de termos grupos menos representados na
ciência, há também grande diferença entre as regiões do país.
O Pop Ciência tem o foco de desenvolver mais as áreas que
costumam ser menos favorecidas pelos investimentos?
180 JN: Sim, o Pop Ciência considera as desigualdades
regionais. Em nossas ações, a prioridade de atendimento
ocorrerá nas regiões Norte, Nordeste e Centro-Oeste, onde
há um menor número de equipamentos científicos em
detrimento das regiões Sul e Sudeste, onde há maior
185 concentração. Pretende-se atender de forma igualitária todas
as cinco regiões do Brasil, respeitando-se, portanto, as
desigualdades regionais.
CH: Um dos grandes desafios da contemporaneidade é a
proliferação da desinformação através das redes sociais.
190 Como efetivamente a popularização da ciência pode
combater a desinformação? De que forma isso está presente
no Pop Ciência?
JN: A popularização da ciência é um instrumento
poderoso contra a desinformação. Fornecer informações
195 cientificamente embasadas e promover a literacia científica
são estratégias-chave do Pop Ciência para combater a
propagação de informações falsas. No decreto, por exemplo,
instituímos o “Hackathon contra Desinformação”, ação do
Programa Pop Ciência a ser realizada anualmente. Esta ação
200 será conjunta entre o MCTI e a Secretaria de Políticas Digitais
da Secretaria de Comunicação Social da Presidência da
República, com a colaboração das entidades científicas, de
educação midiática, democratização das mídias e de
promoção de direitos nas redes.
205 CH: Este ano (2024) teremos a Conferência Nacional de
Ciência, Tecnologia e Inovação. As conferências anteriores da
área, em contraste com conferências de outros campos,
como saúde, educação e cultura, acabam mobilizando apenas
acadêmicos e cientistas, sem engajamento dos movimentos
210 sociais e com pouca participação popular. O campo da
popularização da ciência pode ajudar a dar uma cara
diferente à conferência deste ano?
JN: Com certeza! A popularização da ciência é feita por
estudantes, professores das escolas e divulgadores, que são
215 verdadeiros militantes na construção de ações em diferentes
níveis e com o lançamento do decreto estão em diálogo
permanente com o MCTI. Além disso, estamos articulando e
mobilizando conferências livres para a 5ª Conferência
Nacional e a construção das Conferências Temáticas para o
220 Desenvolvimento Social e de meninas e mulheres na ciência,
promovendo a participação popular e o engajamento social
desse público.
CH: O departamento que a senhora dirige inclui a área da
educação científica. Sabemos pelos exames do Pisa e outras
225 formas de avaliação que a formação em ciências na educação
básica é muito deficiente em comparação com outros países.
Quais são as estratégias do ministério para contribuir com
essa área?
JN: O MCTI está trabalhando em colaboração com o MEC
230 para fortalecer a formação em ciências na educação básica.
Em breve vamos lançar o Programa “Mais Ciência na Escola”,
que tem a finalidade de disseminar a educação científica e o
letramento digital na educação básica, por meio da
implantação de laboratórios makers em escolas públicas,
235 acompanhados de planos de atividades, formação de
professores e bolsas para professores e estudantes nas
escolas que conduzirão as atividades. A ideia é estimular a
parceria entre escolas e iniciativas científicas, tecnológicas e
de inovação. É nosso objetivo também contribuir com o
240 processo de fortalecimento da educação em tempo integral,
para oportunizar o desenvolvimento de competências e
habilidades relacionadas a conhecimentos em ciência e
tecnologia com abordagem STEAM (sigla em inglês para
ciência, tecnologia, engenharia, artes e matemática) com
245 vistas à inclusão produtiva e ao fomento do uso pedagógico
de tecnologias digitais nas escolas. Vamos incentivar
metodologias ativas para o ensino, como aprendizagem por
investigação e experimentação científica voltados à solução
de problemas estimulando o interesse dos estudantes pelas
250 carreiras científicas e tecnológicas. O programa também vai
fomentar a organização de clubes de ciência e a participação
dos estudantes em atividades como feiras de ciências e
olimpíadas científicas. Queremos incentivar as universidades
a adotarem as vagas olímpicas, a exemplo da Unicamp, USP,
255 Unesp, Unifei, Instituto Federal Sul de Minas e UFMS, que são
referências no Brasil na concessão de cotas para alunos
medalhistas de olimpíadas científicas.
CH: Historicamente, a ciência foi muito pouco permeável
a contribuições de fora, e sempre manteve posição
260 hierarquizada em relação aos outros conhecimentos. Mesmo
a divulgação científica, em seu modelo dominante, ou de
déficit como também é chamado, desconsidera os outros
saberes. Como pensar em modelos de popularização da
ciência que de fato mobilizem e incluam a população no
265 processo de produção da ciência?
JN: A ciência tem sido historicamente percebida como
um domínio especializado e muitas vezes distante da
compreensão pública. A abordagem tradicional de divulgação
científica, conhecida como o modelo de déficit,
270 frequentemente falha em reconhecer e valorizar os
conhecimentos e perspectivas que as comunidades fora do
meio acadêmico podem oferecer. Estamos cientes da
importância de mudar essa dinâmica. A popularização da
ciência, como buscada pelo Pop Ciência, não deve ser apenas
275 uma via de mão única, onde os cientistas comunicam
resultados para o público. Em vez disso, é crucial criar um
ambiente que promova a cocriação do conhecimento,
incorporando as experiências e saberes das comunidades
tradicionais. Isso envolve a adoção de práticas de ciência
280 cidadã, na qual membros da comunidade participam
ativamente do processo científico, desde a formulação de
perguntas de pesquisa até a coleta de dados e a interpretação
dos resultados. Iniciativas como essa não apenas
democratizam o acesso à ciência, mas também enriquecem a
285 pesquisa ao integrar diferentes perspectivas e
conhecimentos. Além disso, é fundamental reconhecer e
respeitar os saberes tradicionais e indígenas, integrando
essas formas de conhecimento na produção científica. Isso
contribui para a diversidade epistemológica e fortalece a
290 sustentabilidade e a relevância das pesquisas. O Pop Ciência
está comprometido em avançar nessa direção, construindo
uma cultura científica mais diversa, colaborativa e acessível a
todos.
(Elisa Martins. Valquiria Daher. https://cienciahoje.org.br/artigo/por-uma-ciencia-mais-pop-e-diversa/. Abril 2024)
Assinale a alternativa em que a palavra indicada não desempenhe, no texto, papel adverbial.
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Leia atentamente o texto a seguir e responda às questões de 1 a 13.
Por uma ciência mais pop e diversa
O nome já diz tudo. O Pop Ciência, Programa Nacional de
Popularização da Ciência do Ministério de Ciência, Tecnologia
e Inovação (MCTI), foi lançado em outubro passado (2023)
com a meta de superar dois desafios recorrentes na ciência
5 brasileira: criar iniciativas para aproximá-la do público em
geral e facilitar o acesso de jovens de grupos sociais
vulneráveis a carreiras científicas e tecnológicas. À frente do
projeto, Juana Nunes reconhece os obstáculos. “Precisamos
de ampla divulgação científica para romper com os
10 estereótipos da branquitude, óculos e jaleco”, diz a diretora
de Popularização da Ciência, Tecnologia e Educação Científica
da Secretaria de Ciência e Tecnologia para o Desenvolvimento
Social (Sedes/MCTI).
Entre os esforços para evoluir nessas questões estão
15 parcerias com redes estaduais para ações locais e mais
colaboração com os ministérios da Educação e da Cultura.
Este último faz parte da trajetória de Juana, que, formada em
História da Arte e professora da rede dos institutos federais,
foi gestora de políticas culturais. “Minha passagem pelo
20 Ministério da Cultura foi marcada pela coordenação de
políticas de cidadania, diversidade cultural e comunicação.
Essa experiência proporcionou uma compreensão profunda
da importância de integrar diferentes perspectivas e saberes
na construção de políticas públicas”, afirma. O objetivo agora,
25 diz, é transformar a popularização da ciência em uma política
pública de Estado.
CIÊNCIA HOJE: O Programa Nacional de Popularização da
Ciência (Pop Ciência) foi lançado em outubro passado pelo
MCTI. Que balanço faz dos meses iniciais? E o que podemos
30 esperar no futuro?
JUANA NUNES: O decreto Pop Ciência é resultado de um
diálogo com a comunidade científica e a sociedade civil. Ele
nasce do desejo de fortalecer as ações de popularização da
ciência que já existiam, como olimpíadas, feiras de ciência e
35 mostras científicas, dentre outras, promovendo a
institucionalidade necessária para a popularização se tornar
uma política pública de Estado. Isso se expressou na
assinatura do decreto pelo presidente Lula e pela definição
do maior orçamento direto da história por parte da ministra
40 Luciana Santos (da pasta de Ciência, Tecnologia e Inovação).
O Pop Ciência permite potencializar o alcance do que já
existia ao mesmo tempo em que propõe uma atuação mais
sistemática por parte do MCTI, com a criação dos Pontos de
Ciência, que vão reconhecer e apoiar quem já atua nessa área
45 e novos atores divulgadores da ciência; a Virada da Ciência, e
o fomento a espaços científicos culturais permanentes.
Os primeiros meses do Pop Ciência foram de muito
engajamento e interesse da sociedade e observamos uma
receptividade positiva a iniciativas que visam a aproximar a
50 ciência do público em geral. Em dezembro, realizamos em
Brasília o Encontro Nacional de Popularização da Ciência,
onde reunimos mais de 450 divulgadores de ciência de todo
o Brasil, discutindo desafios e estratégias para a
implementação do Pop Ciência. A criação de redes estaduais
55 já está em andamento com adesão e já é uma realidade no
Ceará e no Paraná. As redes estaduais visam a fortalecer o
conjunto de instituições públicas e privadas que realizam
ações de popularização da ciência. Serão estimuladas ações
para a criação de clubes de ciência, participação de
60 estudantes em feiras de ciências e olimpíadas científicas,
dentre outras iniciativas.
Nossa meta é consolidar esta rede com todas as 27
unidades da federação. Para o futuro, planejamos
implementar as novas ações do Pop Ciência, ampliando o
65 público-alvo da política, para além do universo escolar.
Queremos chegar a toda a sociedade com recorte claro de
inclusão e diversidade dialogando mais com o campo da
cultura e da comunicação.
CH: Apesar dos muitos esforços e transformações dos
70 últimos anos, a comunidade acadêmica ainda é
predominantemente branca, principalmente nos postos de
liderança. Como o Pop Ciência contribui para mudar essa
realidade?
JN: Temos uma ação voltada para fomentar maior
75 participação de grupos sociais vulneráveis e historicamente
excluídos para garantir mais diversidade na ciência. Teremos
chamadas específicas com esse objetivo, com cotas para
negros, indígenas e mulheres. A chamada da Semana
Nacional de Ciência e Tecnologia de 2023, por exemplo, teve
80 50% das vagas para coordenadoras mulheres. Nesse sentido,
procuramos estimular projetos em diálogo com os povos e
comunidades tradicionais, moradores de áreas rurais e
periferias urbanas, população negra, quilombolas, povos
indígenas, pessoas com deficiência.
85 CH: Dos grupos menos representados na comunidade
acadêmica, há algum que veja como ponto mais crítico e que
encara maiores obstáculos para seguir a carreira científica?
JN: Certamente, grupos menos representados enfrentam
desafios significativos. Temos como grande desafio atender a
90 um percentual significativo de jovens em situação de
desalento, objetivando o reingresso, a permanência nos
estudos e a qualificação profissional. Segundo estudo da FGV
(Fundação Getulio Vargas) e dados do IBGE (Instituto
Brasileiro de Geografia e Estatística), temos atualmente no
95 Brasil um universo de 7,1 milhões de jovens em desalento,
dos quais 73% são pretos/pardos, e em sua maioria,
mulheres. Isso demonstra o tamanho dos desafios que temos
para promover ações indutoras que permitam a esses jovens
o acesso às carreiras científicas e tecnológicas.
100 Quero destacar o desafio de mais meninas e mulheres na
ciência. Lançamos agora em março uma chamada via CNPq
(Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e
Tecnológico) de R$ 100 milhões para fomentar projetos de
educação científica para meninas dos anos finais do ensino
105 fundamental e ensino médio em diálogo com pesquisadoras
para estimular o ingresso, a formação, a permanência e a
ascensão de meninas e mulheres nas carreiras científicas.
CH: A necessidade de mais diversidade nesses espaços
acaba se refletindo na percepção que a população tem dos
110 cientistas. O que está sendo e pode ser feito para que no
imaginário da população o cientista não seja apenas um
homem branco, de óculos, vestindo jaleco em um
laboratório?
JN: Precisamos de ampla divulgação científica para
115 romper com os estereótipos da branquitude, óculos e jaleco.
A representação diversificada na ciência é fundamental para
mudar a percepção pública. O Pop Ciência realizará esforços
contínuos para representar a pluralidade de cientistas na
mídia, contribuindo para uma imagem mais realista e
120 inclusiva da comunidade científica. Temos um compromisso
de estimular a comunicação pública da ciência. Isso foi
destacado no decreto, quando definimos que serão
realizadas ações que promovam a comunicação pública da
ciência, em linguagem simples, que valorizem o engajamento
125 do público na ciência e visem a alcançar diversas camadas da
população. Precisamos dar visibilidade à ciência brasileira.
Temos excelentes cientistas que contribuíram no passado,
como Oswaldo Cruz, Carlos Chagas, Johanna Döbereiner,
Cesar Lattes, e também cientistas contemporâneos, como
130 Thaisa Bergmann, Mayana Zatz, Miguel Nicolelis, Suzana
Herculano-Houzel, Niède Guidon, Jaqueline Goes de Jesus
(cientista que mapeou o genoma do coronavírus), e tantos
outros que o Brasil precisa conhecer.
CH: Segundo a ministra Luciana Santos, em entrevista à
135 CH, a cada quatro anos o MCTI encomenda uma pesquisa
sobre a Percepção Pública da Ciência. A última foi em 2019.
Será realizada nova pesquisa neste ano? Na de 2018, apesar
de o nível de confiança na ciência ser bastante alto (73%),
ficou evidente que a maioria dos brasileiros desconhece os
140 pesquisadores, os laboratórios e as nossas unidades de
pesquisas. Espera que esses ponteiros tenham se movido?
JN: A Pesquisa de Percepção Pública da Ciência está
ocorrendo neste ano em todo o Brasil, em parceria com o
Centro de Gestão e Estudos Estratégicos. Acreditamos que
145 ainda é muito cedo para observarmos uma mudança no
comportamento do cidadão brasileiro acerca da percepção
da ciência. Precisamos de uma política de popularização da
ciência mais robusta. É o que estamos buscando com o Pop
Ciência. Esse é um trabalho que deve começar na base, com
150 ação massiva nas escolas. E para isso a parceria com o MEC é
estratégica. As políticas públicas de ciência e tecnologia e a
de educação devem andar juntas, para o desenvolvimento
científico tecnológico do país.
CH: O trabalho de muitos divulgadores de ciência nas
155 redes sociais mostra que a ciência pode, sim, ser pop. Como
vê esse tipo de iniciativa? Contribui para a educação científica
e o interesse por ciência pelos mais jovens? Há riscos de fazer
uma comunicação superficial demais?
JN: A popularização da ciência nas redes sociais é uma
160 ferramenta valiosa. Iniciativas online podem despertar o
interesse dos jovens e proporcionar acesso fácil à informação
científica de qualidade. Devemos, porém, enfatizar que o
“despertar o interesse pela ciência” é um primeiro passo para
uma alfabetização científica. Em muitos casos, esse despertar
165 do interesse passa por uma informação simples, direta,
encantadora, que em primeiro plano pode ser interpretada
como uma comunicação superficial, porém é um processo
educativo que envolve diversas etapas, no qual nas fases
iniciais se constrói um conhecimento que vai sendo
170 aprimorado com o decorrer do tempo. Em janeiro, criamos o
grupo de Embaixadores Mirins do Pop Ciência, que são
crianças e jovens cientistas com idades entre seis e 15 anos
que realizam e divulgam experimentos, conteúdos e ações de
popularização da ciência nas suas redes. O objetivo é
175 fomentar a educação científica junto à infância e juventude.
CH: Além de termos grupos menos representados na
ciência, há também grande diferença entre as regiões do país.
O Pop Ciência tem o foco de desenvolver mais as áreas que
costumam ser menos favorecidas pelos investimentos?
180 JN: Sim, o Pop Ciência considera as desigualdades
regionais. Em nossas ações, a prioridade de atendimento
ocorrerá nas regiões Norte, Nordeste e Centro-Oeste, onde
há um menor número de equipamentos científicos em
detrimento das regiões Sul e Sudeste, onde há maior
185 concentração. Pretende-se atender de forma igualitária todas
as cinco regiões do Brasil, respeitando-se, portanto, as
desigualdades regionais.
CH: Um dos grandes desafios da contemporaneidade é a
proliferação da desinformação através das redes sociais.
190 Como efetivamente a popularização da ciência pode
combater a desinformação? De que forma isso está presente
no Pop Ciência?
JN: A popularização da ciência é um instrumento
poderoso contra a desinformação. Fornecer informações
195 cientificamente embasadas e promover a literacia científica
são estratégias-chave do Pop Ciência para combater a
propagação de informações falsas. No decreto, por exemplo,
instituímos o “Hackathon contra Desinformação”, ação do
Programa Pop Ciência a ser realizada anualmente. Esta ação
200 será conjunta entre o MCTI e a Secretaria de Políticas Digitais
da Secretaria de Comunicação Social da Presidência da
República, com a colaboração das entidades científicas, de
educação midiática, democratização das mídias e de
promoção de direitos nas redes.
205 CH: Este ano (2024) teremos a Conferência Nacional de
Ciência, Tecnologia e Inovação. As conferências anteriores da
área, em contraste com conferências de outros campos,
como saúde, educação e cultura, acabam mobilizando apenas
acadêmicos e cientistas, sem engajamento dos movimentos
210 sociais e com pouca participação popular. O campo da
popularização da ciência pode ajudar a dar uma cara
diferente à conferência deste ano?
JN: Com certeza! A popularização da ciência é feita por
estudantes, professores das escolas e divulgadores, que são
215 verdadeiros militantes na construção de ações em diferentes
níveis e com o lançamento do decreto estão em diálogo
permanente com o MCTI. Além disso, estamos articulando e
mobilizando conferências livres para a 5ª Conferência
Nacional e a construção das Conferências Temáticas para o
220 Desenvolvimento Social e de meninas e mulheres na ciência,
promovendo a participação popular e o engajamento social
desse público.
CH: O departamento que a senhora dirige inclui a área da
educação científica. Sabemos pelos exames do Pisa e outras
225 formas de avaliação que a formação em ciências na educação
básica é muito deficiente em comparação com outros países.
Quais são as estratégias do ministério para contribuir com
essa área?
JN: O MCTI está trabalhando em colaboração com o MEC
230 para fortalecer a formação em ciências na educação básica.
Em breve vamos lançar o Programa “Mais Ciência na Escola”,
que tem a finalidade de disseminar a educação científica e o
letramento digital na educação básica, por meio da
implantação de laboratórios makers em escolas públicas,
235 acompanhados de planos de atividades, formação de
professores e bolsas para professores e estudantes nas
escolas que conduzirão as atividades. A ideia é estimular a
parceria entre escolas e iniciativas científicas, tecnológicas e
de inovação. É nosso objetivo também contribuir com o
240 processo de fortalecimento da educação em tempo integral,
para oportunizar o desenvolvimento de competências e
habilidades relacionadas a conhecimentos em ciência e
tecnologia com abordagem STEAM (sigla em inglês para
ciência, tecnologia, engenharia, artes e matemática) com
245 vistas à inclusão produtiva e ao fomento do uso pedagógico
de tecnologias digitais nas escolas. Vamos incentivar
metodologias ativas para o ensino, como aprendizagem por
investigação e experimentação científica voltados à solução
de problemas estimulando o interesse dos estudantes pelas
250 carreiras científicas e tecnológicas. O programa também vai
fomentar a organização de clubes de ciência e a participação
dos estudantes em atividades como feiras de ciências e
olimpíadas científicas. Queremos incentivar as universidades
a adotarem as vagas olímpicas, a exemplo da Unicamp, USP,
255 Unesp, Unifei, Instituto Federal Sul de Minas e UFMS, que são
referências no Brasil na concessão de cotas para alunos
medalhistas de olimpíadas científicas.
CH: Historicamente, a ciência foi muito pouco permeável
a contribuições de fora, e sempre manteve posição
260 hierarquizada em relação aos outros conhecimentos. Mesmo
a divulgação científica, em seu modelo dominante, ou de
déficit como também é chamado, desconsidera os outros
saberes. Como pensar em modelos de popularização da
ciência que de fato mobilizem e incluam a população no
265 processo de produção da ciência?
JN: A ciência tem sido historicamente percebida como
um domínio especializado e muitas vezes distante da
compreensão pública. A abordagem tradicional de divulgação
científica, conhecida como o modelo de déficit,
270 frequentemente falha em reconhecer e valorizar os
conhecimentos e perspectivas que as comunidades fora do
meio acadêmico podem oferecer. Estamos cientes da
importância de mudar essa dinâmica. A popularização da
ciência, como buscada pelo Pop Ciência, não deve ser apenas
275 uma via de mão única, onde os cientistas comunicam
resultados para o público. Em vez disso, é crucial criar um
ambiente que promova a cocriação do conhecimento,
incorporando as experiências e saberes das comunidades
tradicionais. Isso envolve a adoção de práticas de ciência
280 cidadã, na qual membros da comunidade participam
ativamente do processo científico, desde a formulação de
perguntas de pesquisa até a coleta de dados e a interpretação
dos resultados. Iniciativas como essa não apenas
democratizam o acesso à ciência, mas também enriquecem a
285 pesquisa ao integrar diferentes perspectivas e
conhecimentos. Além disso, é fundamental reconhecer e
respeitar os saberes tradicionais e indígenas, integrando
essas formas de conhecimento na produção científica. Isso
contribui para a diversidade epistemológica e fortalece a
290 sustentabilidade e a relevância das pesquisas. O Pop Ciência
está comprometido em avançar nessa direção, construindo
uma cultura científica mais diversa, colaborativa e acessível a
todos.
(Elisa Martins. Valquiria Daher. https://cienciahoje.org.br/artigo/por-uma-ciencia-mais-pop-e-diversa/. Abril 2024)
Iniciativas online podem despertar o interesse dos jovens e proporcionar acesso fácil à informação científica de qualidade. (L.160-162)
O período acima poderia ser representado com a simbologia a seguir:
Ωλ ππ λΩλ(=ξλΩ) + π Ωλ β(=ξλΩλλ(=ξΩ)).
Com base nessa lógica sintática, analise o segmento sublinhado a seguir:
“Essa experiência proporcionou uma compreensão profunda da importância de integrar diferentes perspectivas e saberes na construção de políticas públicas”, afirma. (L.22-24)
Com base nessa análise e empregando lógica sintática, assinale a alternativa que represente o segmento sublinhado.
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Leia atentamente o texto a seguir e responda às questões de 1 a 13.
Por uma ciência mais pop e diversa
O nome já diz tudo. O Pop Ciência, Programa Nacional de
Popularização da Ciência do Ministério de Ciência, Tecnologia
e Inovação (MCTI), foi lançado em outubro passado (2023)
com a meta de superar dois desafios recorrentes na ciência
5 brasileira: criar iniciativas para aproximá-la do público em
geral e facilitar o acesso de jovens de grupos sociais
vulneráveis a carreiras científicas e tecnológicas. À frente do
projeto, Juana Nunes reconhece os obstáculos. “Precisamos
de ampla divulgação científica para romper com os
10 estereótipos da branquitude, óculos e jaleco”, diz a diretora
de Popularização da Ciência, Tecnologia e Educação Científica
da Secretaria de Ciência e Tecnologia para o Desenvolvimento
Social (Sedes/MCTI).
Entre os esforços para evoluir nessas questões estão
15 parcerias com redes estaduais para ações locais e mais
colaboração com os ministérios da Educação e da Cultura.
Este último faz parte da trajetória de Juana, que, formada em
História da Arte e professora da rede dos institutos federais,
foi gestora de políticas culturais. “Minha passagem pelo
20 Ministério da Cultura foi marcada pela coordenação de
políticas de cidadania, diversidade cultural e comunicação.
Essa experiência proporcionou uma compreensão profunda
da importância de integrar diferentes perspectivas e saberes
na construção de políticas públicas”, afirma. O objetivo agora,
25 diz, é transformar a popularização da ciência em uma política
pública de Estado.
CIÊNCIA HOJE: O Programa Nacional de Popularização da
Ciência (Pop Ciência) foi lançado em outubro passado pelo
MCTI. Que balanço faz dos meses iniciais? E o que podemos
30 esperar no futuro?
JUANA NUNES: O decreto Pop Ciência é resultado de um
diálogo com a comunidade científica e a sociedade civil. Ele
nasce do desejo de fortalecer as ações de popularização da
ciência que já existiam, como olimpíadas, feiras de ciência e
35 mostras científicas, dentre outras, promovendo a
institucionalidade necessária para a popularização se tornar
uma política pública de Estado. Isso se expressou na
assinatura do decreto pelo presidente Lula e pela definição
do maior orçamento direto da história por parte da ministra
40 Luciana Santos (da pasta de Ciência, Tecnologia e Inovação).
O Pop Ciência permite potencializar o alcance do que já
existia ao mesmo tempo em que propõe uma atuação mais
sistemática por parte do MCTI, com a criação dos Pontos de
Ciência, que vão reconhecer e apoiar quem já atua nessa área
45 e novos atores divulgadores da ciência; a Virada da Ciência, e
o fomento a espaços científicos culturais permanentes.
Os primeiros meses do Pop Ciência foram de muito
engajamento e interesse da sociedade e observamos uma
receptividade positiva a iniciativas que visam a aproximar a
50 ciência do público em geral. Em dezembro, realizamos em
Brasília o Encontro Nacional de Popularização da Ciência,
onde reunimos mais de 450 divulgadores de ciência de todo
o Brasil, discutindo desafios e estratégias para a
implementação do Pop Ciência. A criação de redes estaduais
55 já está em andamento com adesão e já é uma realidade no
Ceará e no Paraná. As redes estaduais visam a fortalecer o
conjunto de instituições públicas e privadas que realizam
ações de popularização da ciência. Serão estimuladas ações
para a criação de clubes de ciência, participação de
60 estudantes em feiras de ciências e olimpíadas científicas,
dentre outras iniciativas.
Nossa meta é consolidar esta rede com todas as 27
unidades da federação. Para o futuro, planejamos
implementar as novas ações do Pop Ciência, ampliando o
65 público-alvo da política, para além do universo escolar.
Queremos chegar a toda a sociedade com recorte claro de
inclusão e diversidade dialogando mais com o campo da
cultura e da comunicação.
CH: Apesar dos muitos esforços e transformações dos
70 últimos anos, a comunidade acadêmica ainda é
predominantemente branca, principalmente nos postos de
liderança. Como o Pop Ciência contribui para mudar essa
realidade?
JN: Temos uma ação voltada para fomentar maior
75 participação de grupos sociais vulneráveis e historicamente
excluídos para garantir mais diversidade na ciência. Teremos
chamadas específicas com esse objetivo, com cotas para
negros, indígenas e mulheres. A chamada da Semana
Nacional de Ciência e Tecnologia de 2023, por exemplo, teve
80 50% das vagas para coordenadoras mulheres. Nesse sentido,
procuramos estimular projetos em diálogo com os povos e
comunidades tradicionais, moradores de áreas rurais e
periferias urbanas, população negra, quilombolas, povos
indígenas, pessoas com deficiência.
85 CH: Dos grupos menos representados na comunidade
acadêmica, há algum que veja como ponto mais crítico e que
encara maiores obstáculos para seguir a carreira científica?
JN: Certamente, grupos menos representados enfrentam
desafios significativos. Temos como grande desafio atender a
90 um percentual significativo de jovens em situação de
desalento, objetivando o reingresso, a permanência nos
estudos e a qualificação profissional. Segundo estudo da FGV
(Fundação Getulio Vargas) e dados do IBGE (Instituto
Brasileiro de Geografia e Estatística), temos atualmente no
95 Brasil um universo de 7,1 milhões de jovens em desalento,
dos quais 73% são pretos/pardos, e em sua maioria,
mulheres. Isso demonstra o tamanho dos desafios que temos
para promover ações indutoras que permitam a esses jovens
o acesso às carreiras científicas e tecnológicas.
100 Quero destacar o desafio de mais meninas e mulheres na
ciência. Lançamos agora em março uma chamada via CNPq
(Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e
Tecnológico) de R$ 100 milhões para fomentar projetos de
educação científica para meninas dos anos finais do ensino
105 fundamental e ensino médio em diálogo com pesquisadoras
para estimular o ingresso, a formação, a permanência e a
ascensão de meninas e mulheres nas carreiras científicas.
CH: A necessidade de mais diversidade nesses espaços
acaba se refletindo na percepção que a população tem dos
110 cientistas. O que está sendo e pode ser feito para que no
imaginário da população o cientista não seja apenas um
homem branco, de óculos, vestindo jaleco em um
laboratório?
JN: Precisamos de ampla divulgação científica para
115 romper com os estereótipos da branquitude, óculos e jaleco.
A representação diversificada na ciência é fundamental para
mudar a percepção pública. O Pop Ciência realizará esforços
contínuos para representar a pluralidade de cientistas na
mídia, contribuindo para uma imagem mais realista e
120 inclusiva da comunidade científica. Temos um compromisso
de estimular a comunicação pública da ciência. Isso foi
destacado no decreto, quando definimos que serão
realizadas ações que promovam a comunicação pública da
ciência, em linguagem simples, que valorizem o engajamento
125 do público na ciência e visem a alcançar diversas camadas da
população. Precisamos dar visibilidade à ciência brasileira.
Temos excelentes cientistas que contribuíram no passado,
como Oswaldo Cruz, Carlos Chagas, Johanna Döbereiner,
Cesar Lattes, e também cientistas contemporâneos, como
130 Thaisa Bergmann, Mayana Zatz, Miguel Nicolelis, Suzana
Herculano-Houzel, Niède Guidon, Jaqueline Goes de Jesus
(cientista que mapeou o genoma do coronavírus), e tantos
outros que o Brasil precisa conhecer.
CH: Segundo a ministra Luciana Santos, em entrevista à
135 CH, a cada quatro anos o MCTI encomenda uma pesquisa
sobre a Percepção Pública da Ciência. A última foi em 2019.
Será realizada nova pesquisa neste ano? Na de 2018, apesar
de o nível de confiança na ciência ser bastante alto (73%),
ficou evidente que a maioria dos brasileiros desconhece os
140 pesquisadores, os laboratórios e as nossas unidades de
pesquisas. Espera que esses ponteiros tenham se movido?
JN: A Pesquisa de Percepção Pública da Ciência está
ocorrendo neste ano em todo o Brasil, em parceria com o
Centro de Gestão e Estudos Estratégicos. Acreditamos que
145 ainda é muito cedo para observarmos uma mudança no
comportamento do cidadão brasileiro acerca da percepção
da ciência. Precisamos de uma política de popularização da
ciência mais robusta. É o que estamos buscando com o Pop
Ciência. Esse é um trabalho que deve começar na base, com
150 ação massiva nas escolas. E para isso a parceria com o MEC é
estratégica. As políticas públicas de ciência e tecnologia e a
de educação devem andar juntas, para o desenvolvimento
científico tecnológico do país.
CH: O trabalho de muitos divulgadores de ciência nas
155 redes sociais mostra que a ciência pode, sim, ser pop. Como
vê esse tipo de iniciativa? Contribui para a educação científica
e o interesse por ciência pelos mais jovens? Há riscos de fazer
uma comunicação superficial demais?
JN: A popularização da ciência nas redes sociais é uma
160 ferramenta valiosa. Iniciativas online podem despertar o
interesse dos jovens e proporcionar acesso fácil à informação
científica de qualidade. Devemos, porém, enfatizar que o
“despertar o interesse pela ciência” é um primeiro passo para
uma alfabetização científica. Em muitos casos, esse despertar
165 do interesse passa por uma informação simples, direta,
encantadora, que em primeiro plano pode ser interpretada
como uma comunicação superficial, porém é um processo
educativo que envolve diversas etapas, no qual nas fases
iniciais se constrói um conhecimento que vai sendo
170 aprimorado com o decorrer do tempo. Em janeiro, criamos o
grupo de Embaixadores Mirins do Pop Ciência, que são
crianças e jovens cientistas com idades entre seis e 15 anos
que realizam e divulgam experimentos, conteúdos e ações de
popularização da ciência nas suas redes. O objetivo é
175 fomentar a educação científica junto à infância e juventude.
CH: Além de termos grupos menos representados na
ciência, há também grande diferença entre as regiões do país.
O Pop Ciência tem o foco de desenvolver mais as áreas que
costumam ser menos favorecidas pelos investimentos?
180 JN: Sim, o Pop Ciência considera as desigualdades
regionais. Em nossas ações, a prioridade de atendimento
ocorrerá nas regiões Norte, Nordeste e Centro-Oeste, onde
há um menor número de equipamentos científicos em
detrimento das regiões Sul e Sudeste, onde há maior
185 concentração. Pretende-se atender de forma igualitária todas
as cinco regiões do Brasil, respeitando-se, portanto, as
desigualdades regionais.
CH: Um dos grandes desafios da contemporaneidade é a
proliferação da desinformação através das redes sociais.
190 Como efetivamente a popularização da ciência pode
combater a desinformação? De que forma isso está presente
no Pop Ciência?
JN: A popularização da ciência é um instrumento
poderoso contra a desinformação. Fornecer informações
195 cientificamente embasadas e promover a literacia científica
são estratégias-chave do Pop Ciência para combater a
propagação de informações falsas. No decreto, por exemplo,
instituímos o “Hackathon contra Desinformação”, ação do
Programa Pop Ciência a ser realizada anualmente. Esta ação
200 será conjunta entre o MCTI e a Secretaria de Políticas Digitais
da Secretaria de Comunicação Social da Presidência da
República, com a colaboração das entidades científicas, de
educação midiática, democratização das mídias e de
promoção de direitos nas redes.
205 CH: Este ano (2024) teremos a Conferência Nacional de
Ciência, Tecnologia e Inovação. As conferências anteriores da
área, em contraste com conferências de outros campos,
como saúde, educação e cultura, acabam mobilizando apenas
acadêmicos e cientistas, sem engajamento dos movimentos
210 sociais e com pouca participação popular. O campo da
popularização da ciência pode ajudar a dar uma cara
diferente à conferência deste ano?
JN: Com certeza! A popularização da ciência é feita por
estudantes, professores das escolas e divulgadores, que são
215 verdadeiros militantes na construção de ações em diferentes
níveis e com o lançamento do decreto estão em diálogo
permanente com o MCTI. Além disso, estamos articulando e
mobilizando conferências livres para a 5ª Conferência
Nacional e a construção das Conferências Temáticas para o
220 Desenvolvimento Social e de meninas e mulheres na ciência,
promovendo a participação popular e o engajamento social
desse público.
CH: O departamento que a senhora dirige inclui a área da
educação científica. Sabemos pelos exames do Pisa e outras
225 formas de avaliação que a formação em ciências na educação
básica é muito deficiente em comparação com outros países.
Quais são as estratégias do ministério para contribuir com
essa área?
JN: O MCTI está trabalhando em colaboração com o MEC
230 para fortalecer a formação em ciências na educação básica.
Em breve vamos lançar o Programa “Mais Ciência na Escola”,
que tem a finalidade de disseminar a educação científica e o
letramento digital na educação básica, por meio da
implantação de laboratórios makers em escolas públicas,
235 acompanhados de planos de atividades, formação de
professores e bolsas para professores e estudantes nas
escolas que conduzirão as atividades. A ideia é estimular a
parceria entre escolas e iniciativas científicas, tecnológicas e
de inovação. É nosso objetivo também contribuir com o
240 processo de fortalecimento da educação em tempo integral,
para oportunizar o desenvolvimento de competências e
habilidades relacionadas a conhecimentos em ciência e
tecnologia com abordagem STEAM (sigla em inglês para
ciência, tecnologia, engenharia, artes e matemática) com
245 vistas à inclusão produtiva e ao fomento do uso pedagógico
de tecnologias digitais nas escolas. Vamos incentivar
metodologias ativas para o ensino, como aprendizagem por
investigação e experimentação científica voltados à solução
de problemas estimulando o interesse dos estudantes pelas
250 carreiras científicas e tecnológicas. O programa também vai
fomentar a organização de clubes de ciência e a participação
dos estudantes em atividades como feiras de ciências e
olimpíadas científicas. Queremos incentivar as universidades
a adotarem as vagas olímpicas, a exemplo da Unicamp, USP,
255 Unesp, Unifei, Instituto Federal Sul de Minas e UFMS, que são
referências no Brasil na concessão de cotas para alunos
medalhistas de olimpíadas científicas.
CH: Historicamente, a ciência foi muito pouco permeável
a contribuições de fora, e sempre manteve posição
260 hierarquizada em relação aos outros conhecimentos. Mesmo
a divulgação científica, em seu modelo dominante, ou de
déficit como também é chamado, desconsidera os outros
saberes. Como pensar em modelos de popularização da
ciência que de fato mobilizem e incluam a população no
265 processo de produção da ciência?
JN: A ciência tem sido historicamente percebida como
um domínio especializado e muitas vezes distante da
compreensão pública. A abordagem tradicional de divulgação
científica, conhecida como o modelo de déficit,
270 frequentemente falha em reconhecer e valorizar os
conhecimentos e perspectivas que as comunidades fora do
meio acadêmico podem oferecer. Estamos cientes da
importância de mudar essa dinâmica. A popularização da
ciência, como buscada pelo Pop Ciência, não deve ser apenas
275 uma via de mão única, onde os cientistas comunicam
resultados para o público. Em vez disso, é crucial criar um
ambiente que promova a cocriação do conhecimento,
incorporando as experiências e saberes das comunidades
tradicionais. Isso envolve a adoção de práticas de ciência
280 cidadã, na qual membros da comunidade participam
ativamente do processo científico, desde a formulação de
perguntas de pesquisa até a coleta de dados e a interpretação
dos resultados. Iniciativas como essa não apenas
democratizam o acesso à ciência, mas também enriquecem a
285 pesquisa ao integrar diferentes perspectivas e
conhecimentos. Além disso, é fundamental reconhecer e
respeitar os saberes tradicionais e indígenas, integrando
essas formas de conhecimento na produção científica. Isso
contribui para a diversidade epistemológica e fortalece a
290 sustentabilidade e a relevância das pesquisas. O Pop Ciência
está comprometido em avançar nessa direção, construindo
uma cultura científica mais diversa, colaborativa e acessível a
todos.
(Elisa Martins. Valquiria Daher. https://cienciahoje.org.br/artigo/por-uma-ciencia-mais-pop-e-diversa/. Abril 2024)
Assinale a alternativa em que não haja exemplo de voz passiva.
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Leia atentamente o texto a seguir e responda às questões de 1 a 13.
Por uma ciência mais pop e diversa
O nome já diz tudo. O Pop Ciência, Programa Nacional de
Popularização da Ciência do Ministério de Ciência, Tecnologia
e Inovação (MCTI), foi lançado em outubro passado (2023)
com a meta de superar dois desafios recorrentes na ciência
5 brasileira: criar iniciativas para aproximá-la do público em
geral e facilitar o acesso de jovens de grupos sociais
vulneráveis a carreiras científicas e tecnológicas. À frente do
projeto, Juana Nunes reconhece os obstáculos. “Precisamos
de ampla divulgação científica para romper com os
10 estereótipos da branquitude, óculos e jaleco”, diz a diretora
de Popularização da Ciência, Tecnologia e Educação Científica
da Secretaria de Ciência e Tecnologia para o Desenvolvimento
Social (Sedes/MCTI).
Entre os esforços para evoluir nessas questões estão
15 parcerias com redes estaduais para ações locais e mais
colaboração com os ministérios da Educação e da Cultura.
Este último faz parte da trajetória de Juana, que, formada em
História da Arte e professora da rede dos institutos federais,
foi gestora de políticas culturais. “Minha passagem pelo
20 Ministério da Cultura foi marcada pela coordenação de
políticas de cidadania, diversidade cultural e comunicação.
Essa experiência proporcionou uma compreensão profunda
da importância de integrar diferentes perspectivas e saberes
na construção de políticas públicas”, afirma. O objetivo agora,
25 diz, é transformar a popularização da ciência em uma política
pública de Estado.
CIÊNCIA HOJE: O Programa Nacional de Popularização da
Ciência (Pop Ciência) foi lançado em outubro passado pelo
MCTI. Que balanço faz dos meses iniciais? E o que podemos
30 esperar no futuro?
JUANA NUNES: O decreto Pop Ciência é resultado de um
diálogo com a comunidade científica e a sociedade civil. Ele
nasce do desejo de fortalecer as ações de popularização da
ciência que já existiam, como olimpíadas, feiras de ciência e
35 mostras científicas, dentre outras, promovendo a
institucionalidade necessária para a popularização se tornar
uma política pública de Estado. Isso se expressou na
assinatura do decreto pelo presidente Lula e pela definição
do maior orçamento direto da história por parte da ministra
40 Luciana Santos (da pasta de Ciência, Tecnologia e Inovação).
O Pop Ciência permite potencializar o alcance do que já
existia ao mesmo tempo em que propõe uma atuação mais
sistemática por parte do MCTI, com a criação dos Pontos de
Ciência, que vão reconhecer e apoiar quem já atua nessa área
45 e novos atores divulgadores da ciência; a Virada da Ciência, e
o fomento a espaços científicos culturais permanentes.
Os primeiros meses do Pop Ciência foram de muito
engajamento e interesse da sociedade e observamos uma
receptividade positiva a iniciativas que visam a aproximar a
50 ciência do público em geral. Em dezembro, realizamos em
Brasília o Encontro Nacional de Popularização da Ciência,
onde reunimos mais de 450 divulgadores de ciência de todo
o Brasil, discutindo desafios e estratégias para a
implementação do Pop Ciência. A criação de redes estaduais
55 já está em andamento com adesão e já é uma realidade no
Ceará e no Paraná. As redes estaduais visam a fortalecer o
conjunto de instituições públicas e privadas que realizam
ações de popularização da ciência. Serão estimuladas ações
para a criação de clubes de ciência, participação de
60 estudantes em feiras de ciências e olimpíadas científicas,
dentre outras iniciativas.
Nossa meta é consolidar esta rede com todas as 27
unidades da federação. Para o futuro, planejamos
implementar as novas ações do Pop Ciência, ampliando o
65 público-alvo da política, para além do universo escolar.
Queremos chegar a toda a sociedade com recorte claro de
inclusão e diversidade dialogando mais com o campo da
cultura e da comunicação.
CH: Apesar dos muitos esforços e transformações dos
70 últimos anos, a comunidade acadêmica ainda é
predominantemente branca, principalmente nos postos de
liderança. Como o Pop Ciência contribui para mudar essa
realidade?
JN: Temos uma ação voltada para fomentar maior
75 participação de grupos sociais vulneráveis e historicamente
excluídos para garantir mais diversidade na ciência. Teremos
chamadas específicas com esse objetivo, com cotas para
negros, indígenas e mulheres. A chamada da Semana
Nacional de Ciência e Tecnologia de 2023, por exemplo, teve
80 50% das vagas para coordenadoras mulheres. Nesse sentido,
procuramos estimular projetos em diálogo com os povos e
comunidades tradicionais, moradores de áreas rurais e
periferias urbanas, população negra, quilombolas, povos
indígenas, pessoas com deficiência.
85 CH: Dos grupos menos representados na comunidade
acadêmica, há algum que veja como ponto mais crítico e que
encara maiores obstáculos para seguir a carreira científica?
JN: Certamente, grupos menos representados enfrentam
desafios significativos. Temos como grande desafio atender a
90 um percentual significativo de jovens em situação de
desalento, objetivando o reingresso, a permanência nos
estudos e a qualificação profissional. Segundo estudo da FGV
(Fundação Getulio Vargas) e dados do IBGE (Instituto
Brasileiro de Geografia e Estatística), temos atualmente no
95 Brasil um universo de 7,1 milhões de jovens em desalento,
dos quais 73% são pretos/pardos, e em sua maioria,
mulheres. Isso demonstra o tamanho dos desafios que temos
para promover ações indutoras que permitam a esses jovens
o acesso às carreiras científicas e tecnológicas.
100 Quero destacar o desafio de mais meninas e mulheres na
ciência. Lançamos agora em março uma chamada via CNPq
(Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e
Tecnológico) de R$ 100 milhões para fomentar projetos de
educação científica para meninas dos anos finais do ensino
105 fundamental e ensino médio em diálogo com pesquisadoras
para estimular o ingresso, a formação, a permanência e a
ascensão de meninas e mulheres nas carreiras científicas.
CH: A necessidade de mais diversidade nesses espaços
acaba se refletindo na percepção que a população tem dos
110 cientistas. O que está sendo e pode ser feito para que no
imaginário da população o cientista não seja apenas um
homem branco, de óculos, vestindo jaleco em um
laboratório?
JN: Precisamos de ampla divulgação científica para
115 romper com os estereótipos da branquitude, óculos e jaleco.
A representação diversificada na ciência é fundamental para
mudar a percepção pública. O Pop Ciência realizará esforços
contínuos para representar a pluralidade de cientistas na
mídia, contribuindo para uma imagem mais realista e
120 inclusiva da comunidade científica. Temos um compromisso
de estimular a comunicação pública da ciência. Isso foi
destacado no decreto, quando definimos que serão
realizadas ações que promovam a comunicação pública da
ciência, em linguagem simples, que valorizem o engajamento
125 do público na ciência e visem a alcançar diversas camadas da
população. Precisamos dar visibilidade à ciência brasileira.
Temos excelentes cientistas que contribuíram no passado,
como Oswaldo Cruz, Carlos Chagas, Johanna Döbereiner,
Cesar Lattes, e também cientistas contemporâneos, como
130 Thaisa Bergmann, Mayana Zatz, Miguel Nicolelis, Suzana
Herculano-Houzel, Niède Guidon, Jaqueline Goes de Jesus
(cientista que mapeou o genoma do coronavírus), e tantos
outros que o Brasil precisa conhecer.
CH: Segundo a ministra Luciana Santos, em entrevista à
135 CH, a cada quatro anos o MCTI encomenda uma pesquisa
sobre a Percepção Pública da Ciência. A última foi em 2019.
Será realizada nova pesquisa neste ano? Na de 2018, apesar
de o nível de confiança na ciência ser bastante alto (73%),
ficou evidente que a maioria dos brasileiros desconhece os
140 pesquisadores, os laboratórios e as nossas unidades de
pesquisas. Espera que esses ponteiros tenham se movido?
JN: A Pesquisa de Percepção Pública da Ciência está
ocorrendo neste ano em todo o Brasil, em parceria com o
Centro de Gestão e Estudos Estratégicos. Acreditamos que
145 ainda é muito cedo para observarmos uma mudança no
comportamento do cidadão brasileiro acerca da percepção
da ciência. Precisamos de uma política de popularização da
ciência mais robusta. É o que estamos buscando com o Pop
Ciência. Esse é um trabalho que deve começar na base, com
150 ação massiva nas escolas. E para isso a parceria com o MEC é
estratégica. As políticas públicas de ciência e tecnologia e a
de educação devem andar juntas, para o desenvolvimento
científico tecnológico do país.
CH: O trabalho de muitos divulgadores de ciência nas
155 redes sociais mostra que a ciência pode, sim, ser pop. Como
vê esse tipo de iniciativa? Contribui para a educação científica
e o interesse por ciência pelos mais jovens? Há riscos de fazer
uma comunicação superficial demais?
JN: A popularização da ciência nas redes sociais é uma
160 ferramenta valiosa. Iniciativas online podem despertar o
interesse dos jovens e proporcionar acesso fácil à informação
científica de qualidade. Devemos, porém, enfatizar que o
“despertar o interesse pela ciência” é um primeiro passo para
uma alfabetização científica. Em muitos casos, esse despertar
165 do interesse passa por uma informação simples, direta,
encantadora, que em primeiro plano pode ser interpretada
como uma comunicação superficial, porém é um processo
educativo que envolve diversas etapas, no qual nas fases
iniciais se constrói um conhecimento que vai sendo
170 aprimorado com o decorrer do tempo. Em janeiro, criamos o
grupo de Embaixadores Mirins do Pop Ciência, que são
crianças e jovens cientistas com idades entre seis e 15 anos
que realizam e divulgam experimentos, conteúdos e ações de
popularização da ciência nas suas redes. O objetivo é
175 fomentar a educação científica junto à infância e juventude.
CH: Além de termos grupos menos representados na
ciência, há também grande diferença entre as regiões do país.
O Pop Ciência tem o foco de desenvolver mais as áreas que
costumam ser menos favorecidas pelos investimentos?
180 JN: Sim, o Pop Ciência considera as desigualdades
regionais. Em nossas ações, a prioridade de atendimento
ocorrerá nas regiões Norte, Nordeste e Centro-Oeste, onde
há um menor número de equipamentos científicos em
detrimento das regiões Sul e Sudeste, onde há maior
185 concentração. Pretende-se atender de forma igualitária todas
as cinco regiões do Brasil, respeitando-se, portanto, as
desigualdades regionais.
CH: Um dos grandes desafios da contemporaneidade é a
proliferação da desinformação através das redes sociais.
190 Como efetivamente a popularização da ciência pode
combater a desinformação? De que forma isso está presente
no Pop Ciência?
JN: A popularização da ciência é um instrumento
poderoso contra a desinformação. Fornecer informações
195 cientificamente embasadas e promover a literacia científica
são estratégias-chave do Pop Ciência para combater a
propagação de informações falsas. No decreto, por exemplo,
instituímos o “Hackathon contra Desinformação”, ação do
Programa Pop Ciência a ser realizada anualmente. Esta ação
200 será conjunta entre o MCTI e a Secretaria de Políticas Digitais
da Secretaria de Comunicação Social da Presidência da
República, com a colaboração das entidades científicas, de
educação midiática, democratização das mídias e de
promoção de direitos nas redes.
205 CH: Este ano (2024) teremos a Conferência Nacional de
Ciência, Tecnologia e Inovação. As conferências anteriores da
área, em contraste com conferências de outros campos,
como saúde, educação e cultura, acabam mobilizando apenas
acadêmicos e cientistas, sem engajamento dos movimentos
210 sociais e com pouca participação popular. O campo da
popularização da ciência pode ajudar a dar uma cara
diferente à conferência deste ano?
JN: Com certeza! A popularização da ciência é feita por
estudantes, professores das escolas e divulgadores, que são
215 verdadeiros militantes na construção de ações em diferentes
níveis e com o lançamento do decreto estão em diálogo
permanente com o MCTI. Além disso, estamos articulando e
mobilizando conferências livres para a 5ª Conferência
Nacional e a construção das Conferências Temáticas para o
220 Desenvolvimento Social e de meninas e mulheres na ciência,
promovendo a participação popular e o engajamento social
desse público.
CH: O departamento que a senhora dirige inclui a área da
educação científica. Sabemos pelos exames do Pisa e outras
225 formas de avaliação que a formação em ciências na educação
básica é muito deficiente em comparação com outros países.
Quais são as estratégias do ministério para contribuir com
essa área?
JN: O MCTI está trabalhando em colaboração com o MEC
230 para fortalecer a formação em ciências na educação básica.
Em breve vamos lançar o Programa “Mais Ciência na Escola”,
que tem a finalidade de disseminar a educação científica e o
letramento digital na educação básica, por meio da
implantação de laboratórios makers em escolas públicas,
235 acompanhados de planos de atividades, formação de
professores e bolsas para professores e estudantes nas
escolas que conduzirão as atividades. A ideia é estimular a
parceria entre escolas e iniciativas científicas, tecnológicas e
de inovação. É nosso objetivo também contribuir com o
240 processo de fortalecimento da educação em tempo integral,
para oportunizar o desenvolvimento de competências e
habilidades relacionadas a conhecimentos em ciência e
tecnologia com abordagem STEAM (sigla em inglês para
ciência, tecnologia, engenharia, artes e matemática) com
245 vistas à inclusão produtiva e ao fomento do uso pedagógico
de tecnologias digitais nas escolas. Vamos incentivar
metodologias ativas para o ensino, como aprendizagem por
investigação e experimentação científica voltados à solução
de problemas estimulando o interesse dos estudantes pelas
250 carreiras científicas e tecnológicas. O programa também vai
fomentar a organização de clubes de ciência e a participação
dos estudantes em atividades como feiras de ciências e
olimpíadas científicas. Queremos incentivar as universidades
a adotarem as vagas olímpicas, a exemplo da Unicamp, USP,
255 Unesp, Unifei, Instituto Federal Sul de Minas e UFMS, que são
referências no Brasil na concessão de cotas para alunos
medalhistas de olimpíadas científicas.
CH: Historicamente, a ciência foi muito pouco permeável
a contribuições de fora, e sempre manteve posição
260 hierarquizada em relação aos outros conhecimentos. Mesmo
a divulgação científica, em seu modelo dominante, ou de
déficit como também é chamado, desconsidera os outros
saberes. Como pensar em modelos de popularização da
ciência que de fato mobilizem e incluam a população no
265 processo de produção da ciência?
JN: A ciência tem sido historicamente percebida como
um domínio especializado e muitas vezes distante da
compreensão pública. A abordagem tradicional de divulgação
científica, conhecida como o modelo de déficit,
270 frequentemente falha em reconhecer e valorizar os
conhecimentos e perspectivas que as comunidades fora do
meio acadêmico podem oferecer. Estamos cientes da
importância de mudar essa dinâmica. A popularização da
ciência, como buscada pelo Pop Ciência, não deve ser apenas
275 uma via de mão única, onde os cientistas comunicam
resultados para o público. Em vez disso, é crucial criar um
ambiente que promova a cocriação do conhecimento,
incorporando as experiências e saberes das comunidades
tradicionais. Isso envolve a adoção de práticas de ciência
280 cidadã, na qual membros da comunidade participam
ativamente do processo científico, desde a formulação de
perguntas de pesquisa até a coleta de dados e a interpretação
dos resultados. Iniciativas como essa não apenas
democratizam o acesso à ciência, mas também enriquecem a
285 pesquisa ao integrar diferentes perspectivas e
conhecimentos. Além disso, é fundamental reconhecer e
respeitar os saberes tradicionais e indígenas, integrando
essas formas de conhecimento na produção científica. Isso
contribui para a diversidade epistemológica e fortalece a
290 sustentabilidade e a relevância das pesquisas. O Pop Ciência
está comprometido em avançar nessa direção, construindo
uma cultura científica mais diversa, colaborativa e acessível a
todos.
(Elisa Martins. Valquiria Daher. https://cienciahoje.org.br/artigo/por-uma-ciencia-mais-pop-e-diversa/. Abril 2024)
Há riscos de fazer uma comunicação superficial demais? (L.157-158) Assinale a alternativa em que a alteração do período acima tenha sido feita de acordo com a norma culta. Não leve em conta as alterações de sentido.
Provas
Leia atentamente o texto a seguir e responda às questões de 1 a 13.
Por uma ciência mais pop e diversa
O nome já diz tudo. O Pop Ciência, Programa Nacional de
Popularização da Ciência do Ministério de Ciência, Tecnologia
e Inovação (MCTI), foi lançado em outubro passado (2023)
com a meta de superar dois desafios recorrentes na ciência
5 brasileira: criar iniciativas para aproximá-la do público em
geral e facilitar o acesso de jovens de grupos sociais
vulneráveis a carreiras científicas e tecnológicas. À frente do
projeto, Juana Nunes reconhece os obstáculos. “Precisamos
de ampla divulgação científica para romper com os
10 estereótipos da branquitude, óculos e jaleco”, diz a diretora
de Popularização da Ciência, Tecnologia e Educação Científica
da Secretaria de Ciência e Tecnologia para o Desenvolvimento
Social (Sedes/MCTI).
Entre os esforços para evoluir nessas questões estão
15 parcerias com redes estaduais para ações locais e mais
colaboração com os ministérios da Educação e da Cultura.
Este último faz parte da trajetória de Juana, que, formada em
História da Arte e professora da rede dos institutos federais,
foi gestora de políticas culturais. “Minha passagem pelo
20 Ministério da Cultura foi marcada pela coordenação de
políticas de cidadania, diversidade cultural e comunicação.
Essa experiência proporcionou uma compreensão profunda
da importância de integrar diferentes perspectivas e saberes
na construção de políticas públicas”, afirma. O objetivo agora,
25 diz, é transformar a popularização da ciência em uma política
pública de Estado.
CIÊNCIA HOJE: O Programa Nacional de Popularização da
Ciência (Pop Ciência) foi lançado em outubro passado pelo
MCTI. Que balanço faz dos meses iniciais? E o que podemos
30 esperar no futuro?
JUANA NUNES: O decreto Pop Ciência é resultado de um
diálogo com a comunidade científica e a sociedade civil. Ele
nasce do desejo de fortalecer as ações de popularização da
ciência que já existiam, como olimpíadas, feiras de ciência e
35 mostras científicas, dentre outras, promovendo a
institucionalidade necessária para a popularização se tornar
uma política pública de Estado. Isso se expressou na
assinatura do decreto pelo presidente Lula e pela definição
do maior orçamento direto da história por parte da ministra
40 Luciana Santos (da pasta de Ciência, Tecnologia e Inovação).
O Pop Ciência permite potencializar o alcance do que já
existia ao mesmo tempo em que propõe uma atuação mais
sistemática por parte do MCTI, com a criação dos Pontos de
Ciência, que vão reconhecer e apoiar quem já atua nessa área
45 e novos atores divulgadores da ciência; a Virada da Ciência, e
o fomento a espaços científicos culturais permanentes.
Os primeiros meses do Pop Ciência foram de muito
engajamento e interesse da sociedade e observamos uma
receptividade positiva a iniciativas que visam a aproximar a
50 ciência do público em geral. Em dezembro, realizamos em
Brasília o Encontro Nacional de Popularização da Ciência,
onde reunimos mais de 450 divulgadores de ciência de todo
o Brasil, discutindo desafios e estratégias para a
implementação do Pop Ciência. A criação de redes estaduais
55 já está em andamento com adesão e já é uma realidade no
Ceará e no Paraná. As redes estaduais visam a fortalecer o
conjunto de instituições públicas e privadas que realizam
ações de popularização da ciência. Serão estimuladas ações
para a criação de clubes de ciência, participação de
60 estudantes em feiras de ciências e olimpíadas científicas,
dentre outras iniciativas.
Nossa meta é consolidar esta rede com todas as 27
unidades da federação. Para o futuro, planejamos
implementar as novas ações do Pop Ciência, ampliando o
65 público-alvo da política, para além do universo escolar.
Queremos chegar a toda a sociedade com recorte claro de
inclusão e diversidade dialogando mais com o campo da
cultura e da comunicação.
CH: Apesar dos muitos esforços e transformações dos
70 últimos anos, a comunidade acadêmica ainda é
predominantemente branca, principalmente nos postos de
liderança. Como o Pop Ciência contribui para mudar essa
realidade?
JN: Temos uma ação voltada para fomentar maior
75 participação de grupos sociais vulneráveis e historicamente
excluídos para garantir mais diversidade na ciência. Teremos
chamadas específicas com esse objetivo, com cotas para
negros, indígenas e mulheres. A chamada da Semana
Nacional de Ciência e Tecnologia de 2023, por exemplo, teve
80 50% das vagas para coordenadoras mulheres. Nesse sentido,
procuramos estimular projetos em diálogo com os povos e
comunidades tradicionais, moradores de áreas rurais e
periferias urbanas, população negra, quilombolas, povos
indígenas, pessoas com deficiência.
85 CH: Dos grupos menos representados na comunidade
acadêmica, há algum que veja como ponto mais crítico e que
encara maiores obstáculos para seguir a carreira científica?
JN: Certamente, grupos menos representados enfrentam
desafios significativos. Temos como grande desafio atender a
90 um percentual significativo de jovens em situação de
desalento, objetivando o reingresso, a permanência nos
estudos e a qualificação profissional. Segundo estudo da FGV
(Fundação Getulio Vargas) e dados do IBGE (Instituto
Brasileiro de Geografia e Estatística), temos atualmente no
95 Brasil um universo de 7,1 milhões de jovens em desalento,
dos quais 73% são pretos/pardos, e em sua maioria,
mulheres. Isso demonstra o tamanho dos desafios que temos
para promover ações indutoras que permitam a esses jovens
o acesso às carreiras científicas e tecnológicas.
100 Quero destacar o desafio de mais meninas e mulheres na
ciência. Lançamos agora em março uma chamada via CNPq
(Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e
Tecnológico) de R$ 100 milhões para fomentar projetos de
educação científica para meninas dos anos finais do ensino
105 fundamental e ensino médio em diálogo com pesquisadoras
para estimular o ingresso, a formação, a permanência e a
ascensão de meninas e mulheres nas carreiras científicas.
CH: A necessidade de mais diversidade nesses espaços
acaba se refletindo na percepção que a população tem dos
110 cientistas. O que está sendo e pode ser feito para que no
imaginário da população o cientista não seja apenas um
homem branco, de óculos, vestindo jaleco em um
laboratório?
JN: Precisamos de ampla divulgação científica para
115 romper com os estereótipos da branquitude, óculos e jaleco.
A representação diversificada na ciência é fundamental para
mudar a percepção pública. O Pop Ciência realizará esforços
contínuos para representar a pluralidade de cientistas na
mídia, contribuindo para uma imagem mais realista e
120 inclusiva da comunidade científica. Temos um compromisso
de estimular a comunicação pública da ciência. Isso foi
destacado no decreto, quando definimos que serão
realizadas ações que promovam a comunicação pública da
ciência, em linguagem simples, que valorizem o engajamento
125 do público na ciência e visem a alcançar diversas camadas da
população. Precisamos dar visibilidade à ciência brasileira.
Temos excelentes cientistas que contribuíram no passado,
como Oswaldo Cruz, Carlos Chagas, Johanna Döbereiner,
Cesar Lattes, e também cientistas contemporâneos, como
130 Thaisa Bergmann, Mayana Zatz, Miguel Nicolelis, Suzana
Herculano-Houzel, Niède Guidon, Jaqueline Goes de Jesus
(cientista que mapeou o genoma do coronavírus), e tantos
outros que o Brasil precisa conhecer.
CH: Segundo a ministra Luciana Santos, em entrevista à
135 CH, a cada quatro anos o MCTI encomenda uma pesquisa
sobre a Percepção Pública da Ciência. A última foi em 2019.
Será realizada nova pesquisa neste ano? Na de 2018, apesar
de o nível de confiança na ciência ser bastante alto (73%),
ficou evidente que a maioria dos brasileiros desconhece os
140 pesquisadores, os laboratórios e as nossas unidades de
pesquisas. Espera que esses ponteiros tenham se movido?
JN: A Pesquisa de Percepção Pública da Ciência está
ocorrendo neste ano em todo o Brasil, em parceria com o
Centro de Gestão e Estudos Estratégicos. Acreditamos que
145 ainda é muito cedo para observarmos uma mudança no
comportamento do cidadão brasileiro acerca da percepção
da ciência. Precisamos de uma política de popularização da
ciência mais robusta. É o que estamos buscando com o Pop
Ciência. Esse é um trabalho que deve começar na base, com
150 ação massiva nas escolas. E para isso a parceria com o MEC é
estratégica. As políticas públicas de ciência e tecnologia e a
de educação devem andar juntas, para o desenvolvimento
científico tecnológico do país.
CH: O trabalho de muitos divulgadores de ciência nas
155 redes sociais mostra que a ciência pode, sim, ser pop. Como
vê esse tipo de iniciativa? Contribui para a educação científica
e o interesse por ciência pelos mais jovens? Há riscos de fazer
uma comunicação superficial demais?
JN: A popularização da ciência nas redes sociais é uma
160 ferramenta valiosa. Iniciativas online podem despertar o
interesse dos jovens e proporcionar acesso fácil à informação
científica de qualidade. Devemos, porém, enfatizar que o
“despertar o interesse pela ciência” é um primeiro passo para
uma alfabetização científica. Em muitos casos, esse despertar
165 do interesse passa por uma informação simples, direta,
encantadora, que em primeiro plano pode ser interpretada
como uma comunicação superficial, porém é um processo
educativo que envolve diversas etapas, no qual nas fases
iniciais se constrói um conhecimento que vai sendo
170 aprimorado com o decorrer do tempo. Em janeiro, criamos o
grupo de Embaixadores Mirins do Pop Ciência, que são
crianças e jovens cientistas com idades entre seis e 15 anos
que realizam e divulgam experimentos, conteúdos e ações de
popularização da ciência nas suas redes. O objetivo é
175 fomentar a educação científica junto à infância e juventude.
CH: Além de termos grupos menos representados na
ciência, há também grande diferença entre as regiões do país.
O Pop Ciência tem o foco de desenvolver mais as áreas que
costumam ser menos favorecidas pelos investimentos?
180 JN: Sim, o Pop Ciência considera as desigualdades
regionais. Em nossas ações, a prioridade de atendimento
ocorrerá nas regiões Norte, Nordeste e Centro-Oeste, onde
há um menor número de equipamentos científicos em
detrimento das regiões Sul e Sudeste, onde há maior
185 concentração. Pretende-se atender de forma igualitária todas
as cinco regiões do Brasil, respeitando-se, portanto, as
desigualdades regionais.
CH: Um dos grandes desafios da contemporaneidade é a
proliferação da desinformação através das redes sociais.
190 Como efetivamente a popularização da ciência pode
combater a desinformação? De que forma isso está presente
no Pop Ciência?
JN: A popularização da ciência é um instrumento
poderoso contra a desinformação. Fornecer informações
195 cientificamente embasadas e promover a literacia científica
são estratégias-chave do Pop Ciência para combater a
propagação de informações falsas. No decreto, por exemplo,
instituímos o “Hackathon contra Desinformação”, ação do
Programa Pop Ciência a ser realizada anualmente. Esta ação
200 será conjunta entre o MCTI e a Secretaria de Políticas Digitais
da Secretaria de Comunicação Social da Presidência da
República, com a colaboração das entidades científicas, de
educação midiática, democratização das mídias e de
promoção de direitos nas redes.
205 CH: Este ano (2024) teremos a Conferência Nacional de
Ciência, Tecnologia e Inovação. As conferências anteriores da
área, em contraste com conferências de outros campos,
como saúde, educação e cultura, acabam mobilizando apenas
acadêmicos e cientistas, sem engajamento dos movimentos
210 sociais e com pouca participação popular. O campo da
popularização da ciência pode ajudar a dar uma cara
diferente à conferência deste ano?
JN: Com certeza! A popularização da ciência é feita por
estudantes, professores das escolas e divulgadores, que são
215 verdadeiros militantes na construção de ações em diferentes
níveis e com o lançamento do decreto estão em diálogo
permanente com o MCTI. Além disso, estamos articulando e
mobilizando conferências livres para a 5ª Conferência
Nacional e a construção das Conferências Temáticas para o
220 Desenvolvimento Social e de meninas e mulheres na ciência,
promovendo a participação popular e o engajamento social
desse público.
CH: O departamento que a senhora dirige inclui a área da
educação científica. Sabemos pelos exames do Pisa e outras
225 formas de avaliação que a formação em ciências na educação
básica é muito deficiente em comparação com outros países.
Quais são as estratégias do ministério para contribuir com
essa área?
JN: O MCTI está trabalhando em colaboração com o MEC
230 para fortalecer a formação em ciências na educação básica.
Em breve vamos lançar o Programa “Mais Ciência na Escola”,
que tem a finalidade de disseminar a educação científica e o
letramento digital na educação básica, por meio da
implantação de laboratórios makers em escolas públicas,
235 acompanhados de planos de atividades, formação de
professores e bolsas para professores e estudantes nas
escolas que conduzirão as atividades. A ideia é estimular a
parceria entre escolas e iniciativas científicas, tecnológicas e
de inovação. É nosso objetivo também contribuir com o
240 processo de fortalecimento da educação em tempo integral,
para oportunizar o desenvolvimento de competências e
habilidades relacionadas a conhecimentos em ciência e
tecnologia com abordagem STEAM (sigla em inglês para
ciência, tecnologia, engenharia, artes e matemática) com
245 vistas à inclusão produtiva e ao fomento do uso pedagógico
de tecnologias digitais nas escolas. Vamos incentivar
metodologias ativas para o ensino, como aprendizagem por
investigação e experimentação científica voltados à solução
de problemas estimulando o interesse dos estudantes pelas
250 carreiras científicas e tecnológicas. O programa também vai
fomentar a organização de clubes de ciência e a participação
dos estudantes em atividades como feiras de ciências e
olimpíadas científicas. Queremos incentivar as universidades
a adotarem as vagas olímpicas, a exemplo da Unicamp, USP,
255 Unesp, Unifei, Instituto Federal Sul de Minas e UFMS, que são
referências no Brasil na concessão de cotas para alunos
medalhistas de olimpíadas científicas.
CH: Historicamente, a ciência foi muito pouco permeável
a contribuições de fora, e sempre manteve posição
260 hierarquizada em relação aos outros conhecimentos. Mesmo
a divulgação científica, em seu modelo dominante, ou de
déficit como também é chamado, desconsidera os outros
saberes. Como pensar em modelos de popularização da
ciência que de fato mobilizem e incluam a população no
265 processo de produção da ciência?
JN: A ciência tem sido historicamente percebida como
um domínio especializado e muitas vezes distante da
compreensão pública. A abordagem tradicional de divulgação
científica, conhecida como o modelo de déficit,
270 frequentemente falha em reconhecer e valorizar os
conhecimentos e perspectivas que as comunidades fora do
meio acadêmico podem oferecer. Estamos cientes da
importância de mudar essa dinâmica. A popularização da
ciência, como buscada pelo Pop Ciência, não deve ser apenas
275 uma via de mão única, onde os cientistas comunicam
resultados para o público. Em vez disso, é crucial criar um
ambiente que promova a cocriação do conhecimento,
incorporando as experiências e saberes das comunidades
tradicionais. Isso envolve a adoção de práticas de ciência
280 cidadã, na qual membros da comunidade participam
ativamente do processo científico, desde a formulação de
perguntas de pesquisa até a coleta de dados e a interpretação
dos resultados. Iniciativas como essa não apenas
democratizam o acesso à ciência, mas também enriquecem a
285 pesquisa ao integrar diferentes perspectivas e
conhecimentos. Além disso, é fundamental reconhecer e
respeitar os saberes tradicionais e indígenas, integrando
essas formas de conhecimento na produção científica. Isso
contribui para a diversidade epistemológica e fortalece a
290 sustentabilidade e a relevância das pesquisas. O Pop Ciência
está comprometido em avançar nessa direção, construindo
uma cultura científica mais diversa, colaborativa e acessível a
todos.
(Elisa Martins. Valquiria Daher. https://cienciahoje.org.br/artigo/por-uma-ciencia-mais-pop-e-diversa/. Abril 2024)
Queremos incentivar as universidades a adotarem as vagas olímpicas, a exemplo da Unicamp, USP, Unesp, Unifei, Instituto Federal Sul de Minas e UFMS, que são referências no Brasil na concessão de cotas para alunos medalhistas de olimpíadas científicas. (L.253-257)
No segmento acima, grafou-se corretamente cada exemplo de sigla ou acrônimo.
Assinale a alternativa em que isso não tenha acontecido.
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Leia atentamente o texto a seguir e responda às questões de 1 a 13.
Por uma ciência mais pop e diversa
O nome já diz tudo. O Pop Ciência, Programa Nacional de
Popularização da Ciência do Ministério de Ciência, Tecnologia
e Inovação (MCTI), foi lançado em outubro passado (2023)
com a meta de superar dois desafios recorrentes na ciência
5 brasileira: criar iniciativas para aproximá-la do público em
geral e facilitar o acesso de jovens de grupos sociais
vulneráveis a carreiras científicas e tecnológicas. À frente do
projeto, Juana Nunes reconhece os obstáculos. “Precisamos
de ampla divulgação científica para romper com os
10 estereótipos da branquitude, óculos e jaleco”, diz a diretora
de Popularização da Ciência, Tecnologia e Educação Científica
da Secretaria de Ciência e Tecnologia para o Desenvolvimento
Social (Sedes/MCTI).
Entre os esforços para evoluir nessas questões estão
15 parcerias com redes estaduais para ações locais e mais
colaboração com os ministérios da Educação e da Cultura.
Este último faz parte da trajetória de Juana, que, formada em
História da Arte e professora da rede dos institutos federais,
foi gestora de políticas culturais. “Minha passagem pelo
20 Ministério da Cultura foi marcada pela coordenação de
políticas de cidadania, diversidade cultural e comunicação.
Essa experiência proporcionou uma compreensão profunda
da importância de integrar diferentes perspectivas e saberes
na construção de políticas públicas”, afirma. O objetivo agora,
25 diz, é transformar a popularização da ciência em uma política
pública de Estado.
CIÊNCIA HOJE: O Programa Nacional de Popularização da
Ciência (Pop Ciência) foi lançado em outubro passado pelo
MCTI. Que balanço faz dos meses iniciais? E o que podemos
30 esperar no futuro?
JUANA NUNES: O decreto Pop Ciência é resultado de um
diálogo com a comunidade científica e a sociedade civil. Ele
nasce do desejo de fortalecer as ações de popularização da
ciência que já existiam, como olimpíadas, feiras de ciência e
35 mostras científicas, dentre outras, promovendo a
institucionalidade necessária para a popularização se tornar
uma política pública de Estado. Isso se expressou na
assinatura do decreto pelo presidente Lula e pela definição
do maior orçamento direto da história por parte da ministra
40 Luciana Santos (da pasta de Ciência, Tecnologia e Inovação).
O Pop Ciência permite potencializar o alcance do que já
existia ao mesmo tempo em que propõe uma atuação mais
sistemática por parte do MCTI, com a criação dos Pontos de
Ciência, que vão reconhecer e apoiar quem já atua nessa área
45 e novos atores divulgadores da ciência; a Virada da Ciência, e
o fomento a espaços científicos culturais permanentes.
Os primeiros meses do Pop Ciência foram de muito
engajamento e interesse da sociedade e observamos uma
receptividade positiva a iniciativas que visam a aproximar a
50 ciência do público em geral. Em dezembro, realizamos em
Brasília o Encontro Nacional de Popularização da Ciência,
onde reunimos mais de 450 divulgadores de ciência de todo
o Brasil, discutindo desafios e estratégias para a
implementação do Pop Ciência. A criação de redes estaduais
55 já está em andamento com adesão e já é uma realidade no
Ceará e no Paraná. As redes estaduais visam a fortalecer o
conjunto de instituições públicas e privadas que realizam
ações de popularização da ciência. Serão estimuladas ações
para a criação de clubes de ciência, participação de
60 estudantes em feiras de ciências e olimpíadas científicas,
dentre outras iniciativas.
Nossa meta é consolidar esta rede com todas as 27
unidades da federação. Para o futuro, planejamos
implementar as novas ações do Pop Ciência, ampliando o
65 público-alvo da política, para além do universo escolar.
Queremos chegar a toda a sociedade com recorte claro de
inclusão e diversidade dialogando mais com o campo da
cultura e da comunicação.
CH: Apesar dos muitos esforços e transformações dos
70 últimos anos, a comunidade acadêmica ainda é
predominantemente branca, principalmente nos postos de
liderança. Como o Pop Ciência contribui para mudar essa
realidade?
JN: Temos uma ação voltada para fomentar maior
75 participação de grupos sociais vulneráveis e historicamente
excluídos para garantir mais diversidade na ciência. Teremos
chamadas específicas com esse objetivo, com cotas para
negros, indígenas e mulheres. A chamada da Semana
Nacional de Ciência e Tecnologia de 2023, por exemplo, teve
80 50% das vagas para coordenadoras mulheres. Nesse sentido,
procuramos estimular projetos em diálogo com os povos e
comunidades tradicionais, moradores de áreas rurais e
periferias urbanas, população negra, quilombolas, povos
indígenas, pessoas com deficiência.
85 CH: Dos grupos menos representados na comunidade
acadêmica, há algum que veja como ponto mais crítico e que
encara maiores obstáculos para seguir a carreira científica?
JN: Certamente, grupos menos representados enfrentam
desafios significativos. Temos como grande desafio atender a
90 um percentual significativo de jovens em situação de
desalento, objetivando o reingresso, a permanência nos
estudos e a qualificação profissional. Segundo estudo da FGV
(Fundação Getulio Vargas) e dados do IBGE (Instituto
Brasileiro de Geografia e Estatística), temos atualmente no
95 Brasil um universo de 7,1 milhões de jovens em desalento,
dos quais 73% são pretos/pardos, e em sua maioria,
mulheres. Isso demonstra o tamanho dos desafios que temos
para promover ações indutoras que permitam a esses jovens
o acesso às carreiras científicas e tecnológicas.
100 Quero destacar o desafio de mais meninas e mulheres na
ciência. Lançamos agora em março uma chamada via CNPq
(Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e
Tecnológico) de R$ 100 milhões para fomentar projetos de
educação científica para meninas dos anos finais do ensino
105 fundamental e ensino médio em diálogo com pesquisadoras
para estimular o ingresso, a formação, a permanência e a
ascensão de meninas e mulheres nas carreiras científicas.
CH: A necessidade de mais diversidade nesses espaços
acaba se refletindo na percepção que a população tem dos
110 cientistas. O que está sendo e pode ser feito para que no
imaginário da população o cientista não seja apenas um
homem branco, de óculos, vestindo jaleco em um
laboratório?
JN: Precisamos de ampla divulgação científica para
115 romper com os estereótipos da branquitude, óculos e jaleco.
A representação diversificada na ciência é fundamental para
mudar a percepção pública. O Pop Ciência realizará esforços
contínuos para representar a pluralidade de cientistas na
mídia, contribuindo para uma imagem mais realista e
120 inclusiva da comunidade científica. Temos um compromisso
de estimular a comunicação pública da ciência. Isso foi
destacado no decreto, quando definimos que serão
realizadas ações que promovam a comunicação pública da
ciência, em linguagem simples, que valorizem o engajamento
125 do público na ciência e visem a alcançar diversas camadas da
população. Precisamos dar visibilidade à ciência brasileira.
Temos excelentes cientistas que contribuíram no passado,
como Oswaldo Cruz, Carlos Chagas, Johanna Döbereiner,
Cesar Lattes, e também cientistas contemporâneos, como
130 Thaisa Bergmann, Mayana Zatz, Miguel Nicolelis, Suzana
Herculano-Houzel, Niède Guidon, Jaqueline Goes de Jesus
(cientista que mapeou o genoma do coronavírus), e tantos
outros que o Brasil precisa conhecer.
CH: Segundo a ministra Luciana Santos, em entrevista à
135 CH, a cada quatro anos o MCTI encomenda uma pesquisa
sobre a Percepção Pública da Ciência. A última foi em 2019.
Será realizada nova pesquisa neste ano? Na de 2018, apesar
de o nível de confiança na ciência ser bastante alto (73%),
ficou evidente que a maioria dos brasileiros desconhece os
140 pesquisadores, os laboratórios e as nossas unidades de
pesquisas. Espera que esses ponteiros tenham se movido?
JN: A Pesquisa de Percepção Pública da Ciência está
ocorrendo neste ano em todo o Brasil, em parceria com o
Centro de Gestão e Estudos Estratégicos. Acreditamos que
145 ainda é muito cedo para observarmos uma mudança no
comportamento do cidadão brasileiro acerca da percepção
da ciência. Precisamos de uma política de popularização da
ciência mais robusta. É o que estamos buscando com o Pop
Ciência. Esse é um trabalho que deve começar na base, com
150 ação massiva nas escolas. E para isso a parceria com o MEC é
estratégica. As políticas públicas de ciência e tecnologia e a
de educação devem andar juntas, para o desenvolvimento
científico tecnológico do país.
CH: O trabalho de muitos divulgadores de ciência nas
155 redes sociais mostra que a ciência pode, sim, ser pop. Como
vê esse tipo de iniciativa? Contribui para a educação científica
e o interesse por ciência pelos mais jovens? Há riscos de fazer
uma comunicação superficial demais?
JN: A popularização da ciência nas redes sociais é uma
160 ferramenta valiosa. Iniciativas online podem despertar o
interesse dos jovens e proporcionar acesso fácil à informação
científica de qualidade. Devemos, porém, enfatizar que o
“despertar o interesse pela ciência” é um primeiro passo para
uma alfabetização científica. Em muitos casos, esse despertar
165 do interesse passa por uma informação simples, direta,
encantadora, que em primeiro plano pode ser interpretada
como uma comunicação superficial, porém é um processo
educativo que envolve diversas etapas, no qual nas fases
iniciais se constrói um conhecimento que vai sendo
170 aprimorado com o decorrer do tempo. Em janeiro, criamos o
grupo de Embaixadores Mirins do Pop Ciência, que são
crianças e jovens cientistas com idades entre seis e 15 anos
que realizam e divulgam experimentos, conteúdos e ações de
popularização da ciência nas suas redes. O objetivo é
175 fomentar a educação científica junto à infância e juventude.
CH: Além de termos grupos menos representados na
ciência, há também grande diferença entre as regiões do país.
O Pop Ciência tem o foco de desenvolver mais as áreas que
costumam ser menos favorecidas pelos investimentos?
180 JN: Sim, o Pop Ciência considera as desigualdades
regionais. Em nossas ações, a prioridade de atendimento
ocorrerá nas regiões Norte, Nordeste e Centro-Oeste, onde
há um menor número de equipamentos científicos em
detrimento das regiões Sul e Sudeste, onde há maior
185 concentração. Pretende-se atender de forma igualitária todas
as cinco regiões do Brasil, respeitando-se, portanto, as
desigualdades regionais.
CH: Um dos grandes desafios da contemporaneidade é a
proliferação da desinformação através das redes sociais.
190 Como efetivamente a popularização da ciência pode
combater a desinformação? De que forma isso está presente
no Pop Ciência?
JN: A popularização da ciência é um instrumento
poderoso contra a desinformação. Fornecer informações
195 cientificamente embasadas e promover a literacia científica
são estratégias-chave do Pop Ciência para combater a
propagação de informações falsas. No decreto, por exemplo,
instituímos o “Hackathon contra Desinformação”, ação do
Programa Pop Ciência a ser realizada anualmente. Esta ação
200 será conjunta entre o MCTI e a Secretaria de Políticas Digitais
da Secretaria de Comunicação Social da Presidência da
República, com a colaboração das entidades científicas, de
educação midiática, democratização das mídias e de
promoção de direitos nas redes.
205 CH: Este ano (2024) teremos a Conferência Nacional de
Ciência, Tecnologia e Inovação. As conferências anteriores da
área, em contraste com conferências de outros campos,
como saúde, educação e cultura, acabam mobilizando apenas
acadêmicos e cientistas, sem engajamento dos movimentos
210 sociais e com pouca participação popular. O campo da
popularização da ciência pode ajudar a dar uma cara
diferente à conferência deste ano?
JN: Com certeza! A popularização da ciência é feita por
estudantes, professores das escolas e divulgadores, que são
215 verdadeiros militantes na construção de ações em diferentes
níveis e com o lançamento do decreto estão em diálogo
permanente com o MCTI. Além disso, estamos articulando e
mobilizando conferências livres para a 5ª Conferência
Nacional e a construção das Conferências Temáticas para o
220 Desenvolvimento Social e de meninas e mulheres na ciência,
promovendo a participação popular e o engajamento social
desse público.
CH: O departamento que a senhora dirige inclui a área da
educação científica. Sabemos pelos exames do Pisa e outras
225 formas de avaliação que a formação em ciências na educação
básica é muito deficiente em comparação com outros países.
Quais são as estratégias do ministério para contribuir com
essa área?
JN: O MCTI está trabalhando em colaboração com o MEC
230 para fortalecer a formação em ciências na educação básica.
Em breve vamos lançar o Programa “Mais Ciência na Escola”,
que tem a finalidade de disseminar a educação científica e o
letramento digital na educação básica, por meio da
implantação de laboratórios makers em escolas públicas,
235 acompanhados de planos de atividades, formação de
professores e bolsas para professores e estudantes nas
escolas que conduzirão as atividades. A ideia é estimular a
parceria entre escolas e iniciativas científicas, tecnológicas e
de inovação. É nosso objetivo também contribuir com o
240 processo de fortalecimento da educação em tempo integral,
para oportunizar o desenvolvimento de competências e
habilidades relacionadas a conhecimentos em ciência e
tecnologia com abordagem STEAM (sigla em inglês para
ciência, tecnologia, engenharia, artes e matemática) com
245 vistas à inclusão produtiva e ao fomento do uso pedagógico
de tecnologias digitais nas escolas. Vamos incentivar
metodologias ativas para o ensino, como aprendizagem por
investigação e experimentação científica voltados à solução
de problemas estimulando o interesse dos estudantes pelas
250 carreiras científicas e tecnológicas. O programa também vai
fomentar a organização de clubes de ciência e a participação
dos estudantes em atividades como feiras de ciências e
olimpíadas científicas. Queremos incentivar as universidades
a adotarem as vagas olímpicas, a exemplo da Unicamp, USP,
255 Unesp, Unifei, Instituto Federal Sul de Minas e UFMS, que são
referências no Brasil na concessão de cotas para alunos
medalhistas de olimpíadas científicas.
CH: Historicamente, a ciência foi muito pouco permeável
a contribuições de fora, e sempre manteve posição
260 hierarquizada em relação aos outros conhecimentos. Mesmo
a divulgação científica, em seu modelo dominante, ou de
déficit como também é chamado, desconsidera os outros
saberes. Como pensar em modelos de popularização da
ciência que de fato mobilizem e incluam a população no
265 processo de produção da ciência?
JN: A ciência tem sido historicamente percebida como
um domínio especializado e muitas vezes distante da
compreensão pública. A abordagem tradicional de divulgação
científica, conhecida como o modelo de déficit,
270 frequentemente falha em reconhecer e valorizar os
conhecimentos e perspectivas que as comunidades fora do
meio acadêmico podem oferecer. Estamos cientes da
importância de mudar essa dinâmica. A popularização da
ciência, como buscada pelo Pop Ciência, não deve ser apenas
275 uma via de mão única, onde os cientistas comunicam
resultados para o público. Em vez disso, é crucial criar um
ambiente que promova a cocriação do conhecimento,
incorporando as experiências e saberes das comunidades
tradicionais. Isso envolve a adoção de práticas de ciência
280 cidadã, na qual membros da comunidade participam
ativamente do processo científico, desde a formulação de
perguntas de pesquisa até a coleta de dados e a interpretação
dos resultados. Iniciativas como essa não apenas
democratizam o acesso à ciência, mas também enriquecem a
285 pesquisa ao integrar diferentes perspectivas e
conhecimentos. Além disso, é fundamental reconhecer e
respeitar os saberes tradicionais e indígenas, integrando
essas formas de conhecimento na produção científica. Isso
contribui para a diversidade epistemológica e fortalece a
290 sustentabilidade e a relevância das pesquisas. O Pop Ciência
está comprometido em avançar nessa direção, construindo
uma cultura científica mais diversa, colaborativa e acessível a
todos.
(Elisa Martins. Valquiria Daher. https://cienciahoje.org.br/artigo/por-uma-ciencia-mais-pop-e-diversa/. Abril 2024)
CH: Segundo a ministra Luciana Santos, em entrevista à CH, a cada quatro anos o MCTI encomenda uma pesquisa sobre a Percepção Pública da Ciência. A última foi em 2019. Será realizada nova pesquisa neste ano? Na de 2018, apesar de o nível de confiança na ciência ser bastante alto (73%), ficou evidente que a maioria dos brasileiros desconhece os pesquisadores, os laboratórios e as nossas unidades de pesquisas. Espera que esses ponteiros tenham se movido? (L.134-141)
Os pronomes sublinhados no segmento acima desempenham, no texto, papel, respectivamente,
Provas
Leia atentamente o texto a seguir e responda às questões de 1 a 13.
Por uma ciência mais pop e diversa
O nome já diz tudo. O Pop Ciência, Programa Nacional de
Popularização da Ciência do Ministério de Ciência, Tecnologia
e Inovação (MCTI), foi lançado em outubro passado (2023)
com a meta de superar dois desafios recorrentes na ciência
5 brasileira: criar iniciativas para aproximá-la do público em
geral e facilitar o acesso de jovens de grupos sociais
vulneráveis a carreiras científicas e tecnológicas. À frente do
projeto, Juana Nunes reconhece os obstáculos. “Precisamos
de ampla divulgação científica para romper com os
10 estereótipos da branquitude, óculos e jaleco”, diz a diretora
de Popularização da Ciência, Tecnologia e Educação Científica
da Secretaria de Ciência e Tecnologia para o Desenvolvimento
Social (Sedes/MCTI).
Entre os esforços para evoluir nessas questões estão
15 parcerias com redes estaduais para ações locais e mais
colaboração com os ministérios da Educação e da Cultura.
Este último faz parte da trajetória de Juana, que, formada em
História da Arte e professora da rede dos institutos federais,
foi gestora de políticas culturais. “Minha passagem pelo
20 Ministério da Cultura foi marcada pela coordenação de
políticas de cidadania, diversidade cultural e comunicação.
Essa experiência proporcionou uma compreensão profunda
da importância de integrar diferentes perspectivas e saberes
na construção de políticas públicas”, afirma. O objetivo agora,
25 diz, é transformar a popularização da ciência em uma política
pública de Estado.
CIÊNCIA HOJE: O Programa Nacional de Popularização da
Ciência (Pop Ciência) foi lançado em outubro passado pelo
MCTI. Que balanço faz dos meses iniciais? E o que podemos
30 esperar no futuro?
JUANA NUNES: O decreto Pop Ciência é resultado de um
diálogo com a comunidade científica e a sociedade civil. Ele
nasce do desejo de fortalecer as ações de popularização da
ciência que já existiam, como olimpíadas, feiras de ciência e
35 mostras científicas, dentre outras, promovendo a
institucionalidade necessária para a popularização se tornar
uma política pública de Estado. Isso se expressou na
assinatura do decreto pelo presidente Lula e pela definição
do maior orçamento direto da história por parte da ministra
40 Luciana Santos (da pasta de Ciência, Tecnologia e Inovação).
O Pop Ciência permite potencializar o alcance do que já
existia ao mesmo tempo em que propõe uma atuação mais
sistemática por parte do MCTI, com a criação dos Pontos de
Ciência, que vão reconhecer e apoiar quem já atua nessa área
45 e novos atores divulgadores da ciência; a Virada da Ciência, e
o fomento a espaços científicos culturais permanentes.
Os primeiros meses do Pop Ciência foram de muito
engajamento e interesse da sociedade e observamos uma
receptividade positiva a iniciativas que visam a aproximar a
50 ciência do público em geral. Em dezembro, realizamos em
Brasília o Encontro Nacional de Popularização da Ciência,
onde reunimos mais de 450 divulgadores de ciência de todo
o Brasil, discutindo desafios e estratégias para a
implementação do Pop Ciência. A criação de redes estaduais
55 já está em andamento com adesão e já é uma realidade no
Ceará e no Paraná. As redes estaduais visam a fortalecer o
conjunto de instituições públicas e privadas que realizam
ações de popularização da ciência. Serão estimuladas ações
para a criação de clubes de ciência, participação de
60 estudantes em feiras de ciências e olimpíadas científicas,
dentre outras iniciativas.
Nossa meta é consolidar esta rede com todas as 27
unidades da federação. Para o futuro, planejamos
implementar as novas ações do Pop Ciência, ampliando o
65 público-alvo da política, para além do universo escolar.
Queremos chegar a toda a sociedade com recorte claro de
inclusão e diversidade dialogando mais com o campo da
cultura e da comunicação.
CH: Apesar dos muitos esforços e transformações dos
70 últimos anos, a comunidade acadêmica ainda é
predominantemente branca, principalmente nos postos de
liderança. Como o Pop Ciência contribui para mudar essa
realidade?
JN: Temos uma ação voltada para fomentar maior
75 participação de grupos sociais vulneráveis e historicamente
excluídos para garantir mais diversidade na ciência. Teremos
chamadas específicas com esse objetivo, com cotas para
negros, indígenas e mulheres. A chamada da Semana
Nacional de Ciência e Tecnologia de 2023, por exemplo, teve
80 50% das vagas para coordenadoras mulheres. Nesse sentido,
procuramos estimular projetos em diálogo com os povos e
comunidades tradicionais, moradores de áreas rurais e
periferias urbanas, população negra, quilombolas, povos
indígenas, pessoas com deficiência.
85 CH: Dos grupos menos representados na comunidade
acadêmica, há algum que veja como ponto mais crítico e que
encara maiores obstáculos para seguir a carreira científica?
JN: Certamente, grupos menos representados enfrentam
desafios significativos. Temos como grande desafio atender a
90 um percentual significativo de jovens em situação de
desalento, objetivando o reingresso, a permanência nos
estudos e a qualificação profissional. Segundo estudo da FGV
(Fundação Getulio Vargas) e dados do IBGE (Instituto
Brasileiro de Geografia e Estatística), temos atualmente no
95 Brasil um universo de 7,1 milhões de jovens em desalento,
dos quais 73% são pretos/pardos, e em sua maioria,
mulheres. Isso demonstra o tamanho dos desafios que temos
para promover ações indutoras que permitam a esses jovens
o acesso às carreiras científicas e tecnológicas.
100 Quero destacar o desafio de mais meninas e mulheres na
ciência. Lançamos agora em março uma chamada via CNPq
(Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e
Tecnológico) de R$ 100 milhões para fomentar projetos de
educação científica para meninas dos anos finais do ensino
105 fundamental e ensino médio em diálogo com pesquisadoras
para estimular o ingresso, a formação, a permanência e a
ascensão de meninas e mulheres nas carreiras científicas.
CH: A necessidade de mais diversidade nesses espaços
acaba se refletindo na percepção que a população tem dos
110 cientistas. O que está sendo e pode ser feito para que no
imaginário da população o cientista não seja apenas um
homem branco, de óculos, vestindo jaleco em um
laboratório?
JN: Precisamos de ampla divulgação científica para
115 romper com os estereótipos da branquitude, óculos e jaleco.
A representação diversificada na ciência é fundamental para
mudar a percepção pública. O Pop Ciência realizará esforços
contínuos para representar a pluralidade de cientistas na
mídia, contribuindo para uma imagem mais realista e
120 inclusiva da comunidade científica. Temos um compromisso
de estimular a comunicação pública da ciência. Isso foi
destacado no decreto, quando definimos que serão
realizadas ações que promovam a comunicação pública da
ciência, em linguagem simples, que valorizem o engajamento
125 do público na ciência e visem a alcançar diversas camadas da
população. Precisamos dar visibilidade à ciência brasileira.
Temos excelentes cientistas que contribuíram no passado,
como Oswaldo Cruz, Carlos Chagas, Johanna Döbereiner,
Cesar Lattes, e também cientistas contemporâneos, como
130 Thaisa Bergmann, Mayana Zatz, Miguel Nicolelis, Suzana
Herculano-Houzel, Niède Guidon, Jaqueline Goes de Jesus
(cientista que mapeou o genoma do coronavírus), e tantos
outros que o Brasil precisa conhecer.
CH: Segundo a ministra Luciana Santos, em entrevista à
135 CH, a cada quatro anos o MCTI encomenda uma pesquisa
sobre a Percepção Pública da Ciência. A última foi em 2019.
Será realizada nova pesquisa neste ano? Na de 2018, apesar
de o nível de confiança na ciência ser bastante alto (73%),
ficou evidente que a maioria dos brasileiros desconhece os
140 pesquisadores, os laboratórios e as nossas unidades de
pesquisas. Espera que esses ponteiros tenham se movido?
JN: A Pesquisa de Percepção Pública da Ciência está
ocorrendo neste ano em todo o Brasil, em parceria com o
Centro de Gestão e Estudos Estratégicos. Acreditamos que
145 ainda é muito cedo para observarmos uma mudança no
comportamento do cidadão brasileiro acerca da percepção
da ciência. Precisamos de uma política de popularização da
ciência mais robusta. É o que estamos buscando com o Pop
Ciência. Esse é um trabalho que deve começar na base, com
150 ação massiva nas escolas. E para isso a parceria com o MEC é
estratégica. As políticas públicas de ciência e tecnologia e a
de educação devem andar juntas, para o desenvolvimento
científico tecnológico do país.
CH: O trabalho de muitos divulgadores de ciência nas
155 redes sociais mostra que a ciência pode, sim, ser pop. Como
vê esse tipo de iniciativa? Contribui para a educação científica
e o interesse por ciência pelos mais jovens? Há riscos de fazer
uma comunicação superficial demais?
JN: A popularização da ciência nas redes sociais é uma
160 ferramenta valiosa. Iniciativas online podem despertar o
interesse dos jovens e proporcionar acesso fácil à informação
científica de qualidade. Devemos, porém, enfatizar que o
“despertar o interesse pela ciência” é um primeiro passo para
uma alfabetização científica. Em muitos casos, esse despertar
165 do interesse passa por uma informação simples, direta,
encantadora, que em primeiro plano pode ser interpretada
como uma comunicação superficial, porém é um processo
educativo que envolve diversas etapas, no qual nas fases
iniciais se constrói um conhecimento que vai sendo
170 aprimorado com o decorrer do tempo. Em janeiro, criamos o
grupo de Embaixadores Mirins do Pop Ciência, que são
crianças e jovens cientistas com idades entre seis e 15 anos
que realizam e divulgam experimentos, conteúdos e ações de
popularização da ciência nas suas redes. O objetivo é
175 fomentar a educação científica junto à infância e juventude.
CH: Além de termos grupos menos representados na
ciência, há também grande diferença entre as regiões do país.
O Pop Ciência tem o foco de desenvolver mais as áreas que
costumam ser menos favorecidas pelos investimentos?
180 JN: Sim, o Pop Ciência considera as desigualdades
regionais. Em nossas ações, a prioridade de atendimento
ocorrerá nas regiões Norte, Nordeste e Centro-Oeste, onde
há um menor número de equipamentos científicos em
detrimento das regiões Sul e Sudeste, onde há maior
185 concentração. Pretende-se atender de forma igualitária todas
as cinco regiões do Brasil, respeitando-se, portanto, as
desigualdades regionais.
CH: Um dos grandes desafios da contemporaneidade é a
proliferação da desinformação através das redes sociais.
190 Como efetivamente a popularização da ciência pode
combater a desinformação? De que forma isso está presente
no Pop Ciência?
JN: A popularização da ciência é um instrumento
poderoso contra a desinformação. Fornecer informações
195 cientificamente embasadas e promover a literacia científica
são estratégias-chave do Pop Ciência para combater a
propagação de informações falsas. No decreto, por exemplo,
instituímos o “Hackathon contra Desinformação”, ação do
Programa Pop Ciência a ser realizada anualmente. Esta ação
200 será conjunta entre o MCTI e a Secretaria de Políticas Digitais
da Secretaria de Comunicação Social da Presidência da
República, com a colaboração das entidades científicas, de
educação midiática, democratização das mídias e de
promoção de direitos nas redes.
205 CH: Este ano (2024) teremos a Conferência Nacional de
Ciência, Tecnologia e Inovação. As conferências anteriores da
área, em contraste com conferências de outros campos,
como saúde, educação e cultura, acabam mobilizando apenas
acadêmicos e cientistas, sem engajamento dos movimentos
210 sociais e com pouca participação popular. O campo da
popularização da ciência pode ajudar a dar uma cara
diferente à conferência deste ano?
JN: Com certeza! A popularização da ciência é feita por
estudantes, professores das escolas e divulgadores, que são
215 verdadeiros militantes na construção de ações em diferentes
níveis e com o lançamento do decreto estão em diálogo
permanente com o MCTI. Além disso, estamos articulando e
mobilizando conferências livres para a 5ª Conferência
Nacional e a construção das Conferências Temáticas para o
220 Desenvolvimento Social e de meninas e mulheres na ciência,
promovendo a participação popular e o engajamento social
desse público.
CH: O departamento que a senhora dirige inclui a área da
educação científica. Sabemos pelos exames do Pisa e outras
225 formas de avaliação que a formação em ciências na educação
básica é muito deficiente em comparação com outros países.
Quais são as estratégias do ministério para contribuir com
essa área?
JN: O MCTI está trabalhando em colaboração com o MEC
230 para fortalecer a formação em ciências na educação básica.
Em breve vamos lançar o Programa “Mais Ciência na Escola”,
que tem a finalidade de disseminar a educação científica e o
letramento digital na educação básica, por meio da
implantação de laboratórios makers em escolas públicas,
235 acompanhados de planos de atividades, formação de
professores e bolsas para professores e estudantes nas
escolas que conduzirão as atividades. A ideia é estimular a
parceria entre escolas e iniciativas científicas, tecnológicas e
de inovação. É nosso objetivo também contribuir com o
240 processo de fortalecimento da educação em tempo integral,
para oportunizar o desenvolvimento de competências e
habilidades relacionadas a conhecimentos em ciência e
tecnologia com abordagem STEAM (sigla em inglês para
ciência, tecnologia, engenharia, artes e matemática) com
245 vistas à inclusão produtiva e ao fomento do uso pedagógico
de tecnologias digitais nas escolas. Vamos incentivar
metodologias ativas para o ensino, como aprendizagem por
investigação e experimentação científica voltados à solução
de problemas estimulando o interesse dos estudantes pelas
250 carreiras científicas e tecnológicas. O programa também vai
fomentar a organização de clubes de ciência e a participação
dos estudantes em atividades como feiras de ciências e
olimpíadas científicas. Queremos incentivar as universidades
a adotarem as vagas olímpicas, a exemplo da Unicamp, USP,
255 Unesp, Unifei, Instituto Federal Sul de Minas e UFMS, que são
referências no Brasil na concessão de cotas para alunos
medalhistas de olimpíadas científicas.
CH: Historicamente, a ciência foi muito pouco permeável
a contribuições de fora, e sempre manteve posição
260 hierarquizada em relação aos outros conhecimentos. Mesmo
a divulgação científica, em seu modelo dominante, ou de
déficit como também é chamado, desconsidera os outros
saberes. Como pensar em modelos de popularização da
ciência que de fato mobilizem e incluam a população no
265 processo de produção da ciência?
JN: A ciência tem sido historicamente percebida como
um domínio especializado e muitas vezes distante da
compreensão pública. A abordagem tradicional de divulgação
científica, conhecida como o modelo de déficit,
270 frequentemente falha em reconhecer e valorizar os
conhecimentos e perspectivas que as comunidades fora do
meio acadêmico podem oferecer. Estamos cientes da
importância de mudar essa dinâmica. A popularização da
ciência, como buscada pelo Pop Ciência, não deve ser apenas
275 uma via de mão única, onde os cientistas comunicam
resultados para o público. Em vez disso, é crucial criar um
ambiente que promova a cocriação do conhecimento,
incorporando as experiências e saberes das comunidades
tradicionais. Isso envolve a adoção de práticas de ciência
280 cidadã, na qual membros da comunidade participam
ativamente do processo científico, desde a formulação de
perguntas de pesquisa até a coleta de dados e a interpretação
dos resultados. Iniciativas como essa não apenas
democratizam o acesso à ciência, mas também enriquecem a
285 pesquisa ao integrar diferentes perspectivas e
conhecimentos. Além disso, é fundamental reconhecer e
respeitar os saberes tradicionais e indígenas, integrando
essas formas de conhecimento na produção científica. Isso
contribui para a diversidade epistemológica e fortalece a
290 sustentabilidade e a relevância das pesquisas. O Pop Ciência
está comprometido em avançar nessa direção, construindo
uma cultura científica mais diversa, colaborativa e acessível a
todos.
(Elisa Martins. Valquiria Daher. https://cienciahoje.org.br/artigo/por-uma-ciencia-mais-pop-e-diversa/. Abril 2024)
O Pop Ciência, Programa Nacional de Popularização da Ciência do Ministério de Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI), foi lançado em outubro passado (2023) com a meta de superar dois desafios recorrentes na ciência brasileira: criar iniciativas para aproximá-la do público em geral e facilitar o acesso de jovens de grupos sociais vulneráveis a carreiras científicas e tecnológicas. (L.1-7)
O segmento sublinhado no período acima, em relação ao enunciado anteriormente, aponta uma
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