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1055347 Ano: 2015
Disciplina: Português
Banca: UFSM
Orgão: UFSM
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Não sorria. Você está sendo fotografado

Ninguém, com exceção de Mona Lisa, ria nos retratos antigos. Já nas selfies de hoje...

Como observaram acuradamente aqueles que fizeram a pergunta ao Google, não vemos sorrisos nas antigas fotografias. O retrato foi uma das principais atrações da fotografia desde a sua invenção. Em 1852, por exemplo, uma menina posouI) para um daguerreótipo com a cabeça ligeiramente inclinada, dando à lente um olhar firme, confiante, grave. Ela estáI) preservada para sempre como uma garota realmente muito séria.

Essa seriedade é onipresente nas fotografias vitorianas. Charles Darwin, que, segundo todos os relatos, era uma personalidade calorosa e um pai brincalhão e amoroso, parece congelado em tristeza nas fotografias. No grande retrato feito por Julia Margaret Cameron, em 1867, do astrônomo John Frederick William Herschel, sua profunda introspecção melancólica e o cabelo revolto, beijado pela luz, lhe dão o ar de um trágico Rei Lear.

Por que nossos ancestrais, desde os desconhecidos sentados em retratos de família até os grandes e famosos, ficam tão sem graça diante das lentes? Não é preciso olhar por muito tempo para essas antigas fotos sérias para ver quão incompleta é a resposta aparentemente óbvia – que eles estão congelando seus rostos para se manterem imóveis durante os longos tempos de exposição.

No retrato de Alfred Tennyson, por Julia Margaret Cameron, o poeta medita e sonha, seu rosto é uma máscara de gênio sombreada. E isso não é simplesmente um truque técnico. É uma opção estética e emocional. As pessoas do passado não eram necessariamente mais tristonhas que nós. Elas não andavam por aí em um perpétuo estado de lamentação – embora pudessem ser perdoadas por fazê-lo, em um mundo com índices de mortalidade muito mais altos do que no Ocidente hoje e uma medicina que era realmente inferior pelos nossos padrões.

O riso e a alegria simplesmente não apenas eram comuns no passado, como eram muito mais institucionalizados que hoje, desde os carnavais medievais em que comunidades inteiras se entregavam a pantomimas cômicas às oficinas de gravura georgianas, onde as pessoas se reuniam para ver as últimas caricaturas. Longe de suprimir os festivais e a diversão, os vitorianos, que inventaram a fotografia, também criaram o Natal como a festa secular que é hoje.

Por isso, a severidade das pessoas nas fotos do século XIX não pode ser evidência de uma tristeza e depressão generalizadas. Não era uma sociedade em permanente desespero. A verdadeira resposta tem a ver com as atitudes em relação ao próprio retrato. As pessoas que posaram para as primeiras fotografias,desde famílias simples de classe média, registrando seu status, a celebridades capturadas pelas lentes, compreendiam que era um momento importante. A fotografia ainda era rara. Ter sua foto tirada não era algo que aconteciaII) todos os diasII). Para muitas pessoas podia ser uma experiência única na vida.

Posar para a câmera, em outras palavras, não parecia tão diferente de ter seu retrato pintado. Era mais barato, mais rápido (mesmo com os longos tempos de exposição) e significava que pessoas que nunca tiveram a chance de ser pintadas podiam agora ser retratadas, mas as pessoas parecem levar isso a sério da mesma maneira que fariam com um retrato pintado. Não era um “instantâneo”. Como um retrato pintado, pretendia ser um registro atemporal de uma pessoa.

Na verdade, a pergunta poderia ser reformulada: por que as antigas fotografias são tão mais comoventes que as modernas? Pois a grandeza existencial do retrato tradicional, a gravitas de Rembrandt, ainda sobrevive na fotografia vitoriana. Hoje tiramos tantos instantâneos sorridentes que a ideia de alguém encontrar profundidade e poesia na maioria deles é absurda.

As fotos têm relação com sociabilidade. Queremos nos comunicar como seres sociais felizes. Por isso sorrimos, rimos e gargalhamos em selfies interminavelmente compartilhadas. Uma selfie sorridente é o oposto de um retrato sério. É apenas uma apresentação de felicidade momentânea. Ela tem profundidade zero e, portanto, valor artístico zero. Como documento humano é perturbadoramente descartável. (Na verdade, nem sequer é sólido o suficiente para se jogar fora – basta clicar delete.).

Como são belas e assombrosas as antigas fotografias, em comparação com nossas tolas selfies. Aquelas pessoas sérias, provavelmente, se divertiam tanto quanto nós, ou mais. Mas não sentiam uma necessidade histérica de provar isso com imagens. Ao contrário, quando posavam para uma fotografia, pensavam no tempo, na morte e na memória.

A presença dessas graves realidades nas fotografias antigas as faz valer muito mais que nossos instantâneos ridiculamente felizes no Instagram. TalvezIII) nós também devêssemosIII) parar de sorrir um pouco.

Fonte: JONES, Jonathan. Não sorria. Você está sendo fotografado. Disponível em: <www.cartacapital.com.br/revista/870/nao-sorria-voce-esta-sendofotografado-
8773.html>. Acesso em: out. 2015. (Adaptado)

Em relação ao emprego dos verbos no texto, analise as afirmativas a seguir.

I → O tempo presente em “está” é usado porque a informação remete ao momento que vai além do episódio relatado no segmento anterior, conforme se verifica em “posou”.

II → O pretérito imperfeito em “acontecia” indica uma ação inacabada e passível de repetição, reforçada pela circunstância “todos os dias”.

III → O pretérito imperfeito em “devêssemos” associado ao advérbio “talvez” exprime uma hipótese.

Está(ão) correta(s)

 

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