Magna Concursos
1688673 Ano: 2010
Disciplina: Português
Banca: UFSM
Orgão: UFSM
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Leia parte de uma crônica de Sírio Possenti, para responder a questão.

Palavras sem sentido?

Martin Joos é um sociolinguista americano que escreveu um livro chamado The five clocks (Os cincos relógios). O livro se chama assim porque, segundo o autor, existem cinco diferentes estilos de falar inglês e, na verdade, seu livro é o desenvolvimento dessa metáfora, que se baseia numa anedota. Um senhor inglês vai viajar de trem. Chega à estação cinco minutos antes da hora do embarque, segundo seu relógio, que compara com a hora marcada pelos dois relógios da estação. Percebe que esses relógios não marcam a mesma hora. Dirige-se ao chefe da estação e lhe diz: “Senhor, os relógios da estação não estão marcando a mesma hora.” Ao que o chefe responde: “Se fosse para marcar a mesma hora, por que haveria dois relógios?”.

Assim, a ideia do livro fica óbvia, acho. E é que, se há várias maneiras de “dizer a mesma coisa”, então, um tanto paradoxalmente não dizem a mesma coisa. Pode até ocorrer que duas formas se refiram ao mesmo conceito. Empregando uma ou outra, o falante marca uma posição diferente através do estilo. Por exemplo, uma coisa é pedir “por favor”, outra é pedir “por obséquio”. Uma é dizer “morreu”, outra, “foi a óbito”. Às vezes, brinco com os verbos “comer” e “alimentar-se”. Se, numa festa, alguém controla muito o que vai ingerir, digo-lhe que, numa festa, a gente vai para comer, não para se alimentar. Não me digam que é a mesma coisa. A gente pode alimentar-se sem comer e, a rigor, pode comer sem alimentar-se. Por exemplo, ingerindo lanches fast food.

Se pensarmos dessa forma, concluiremos que não há palavras sem sentido. E que não se pode gratuitamente trocar uma construção por outra. O efeito será diferente. Às vezes apenas minimamente diferente. Mas, às vezes, a diferença é crucial. Os militantes do MST nunca dizem que “invadem”, mas que “ocupam”. Já a UDR não diz que os sem-terra “ocupam”, mas que “invadem”. Todos os eufemismos são, de alguma forma, exemplos desse comportamento discursivo. É que, a depender da posição que se ocupa, não se dizem certas palavras, seja porque são as palavras do adversário, seja porque não são socialmente aceitáveis etc. (...)

( adaptado de A cor da língua e outras croniquinhas de linguista. São Paulo: Editora Mercado das Letras, 2001)

Para atingir seus propósitos comunicativos, o autor recorreu às seguintes estratégias:

I - exemplificação, ilustrando suas ideias com comentários principalmente sobre verbos;
II - introdução de uma pequena narrativa para esclarecer uma metáfora de sua autoria;
III - testemunho pessoal, marcado pelo emprego da primeira pessoa;
IV - apresentação de argumentos contrários aos defendidos pelo estudioso americano referido na abertura do texto.

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