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2314632 Ano: 2021
Disciplina: Português
Banca: CEPUERJ
Orgão: UERJ

Texto I

Uso de palavras estrangeiras

Ariano Suassuna

Uma carta

No dia 10 deste mês de julho, o jornalista Cassiano Elek Machado lembrou que, em 1981, eu declarei que estava sentindo necessidade de me afastar "da monstruosa vaidade literária". E indagou: "Como o senhor, que lançou recentemente um CD com seus poemas, que tem programas de televisão no ar, que está escrevendo para jornal e trabalha em ficções inéditas, tem domado essa ‘vaidade’?".

Respondi que, agora, na velhice, aprendi a lidar melhor com os monstros e fantasmas que tanto me preocupavam na juventude. Aprendi, inclusive, a rir deles; e, sobretudo, a zombar de mim mesmo, para não ser possuído pelo "demônio da vaidade" que torna os escritores tão insuportavelmente antipáticos.

Ora, recentemente houve, no Recife, um Congresso de Jornalistas, do qual participei na qualidade de escritor avesso ao mundo dos computadores. Falei para uma plateia integrada em sua maioria por jovens estudantes, meu público predileto. E foi para zombar de mim, mais do que das pessoas que me criticam por meu "arcaísmo", que declarei, ali: "Para mim, a humanidade se divide em dois grupos: o dos que concordam comigo e o dos equivocados".

Faço referência a isso porque, na semana que passou, andei relendo os artigos aqui publicados e notei que neles quase que só fiz referência a cartas que me foram enviadas por pessoas do primeiro grupo. É tempo, então, de lutar contra a vaidade, falando com um "equivocado", Yves M. Albuquerque, que recentemente me mandou uma carta cujos trechos principais transcrevo a seguir:

"Meu caro Ariano: Lendo seus artigos, ouvindo suas palavras na TV, encontro vários tópicos em que discordo de sua opinião. Um deles, em particular, me desperta mais atenção: é o caso da ‘invasão’ da língua inglesa que, segundo entendi, está ameaçando de morte a nossa flor do lácio. Acho sua posição aí inteiramente exagerada e sem fundamento. Sua oposição ao uso de palavras em inglês é flagrante, é aberta. E é aí que discordo do ilustre escritor. Ao contrário do grande mestre, não vejo nisso ameaça à nossa língua vernácula, mesmo porque fato semelhante, e em muito maior amplitude, ocorreu e ocorre com a língua francesa, sem que uma voz sequer se levante em defesa da nossa língua".

Yves Albuquerque alinha várias palavras francesas usadas em nosso dia a dia, entre as quais restaurant, filet, manchette, garçon, vernissage, écharpe, tricot etc. Diz que, em minhas "andanças pelos nossos centros de cultura popular", eu devo já ter notado "a presença e o perigo que representa a ‘invasão’ francesa nas quadrilhas de São João tão típicas da nossa tradição popular e cujos dançarinos executam passos de dança sob o comando de alguém cujas palavras não entendem porque são pronunciadas em francês". Ajunta, em tom afetuosamente irônico: "Desconheço quem tenha protestado patrioticamente contra tal intromissão". E conclui: "O que nós precisamos, meu caro Ariano, não é ficar preocupados com a invasão de outras línguas, mas ajudar a buscar solução para os nossos graves problemas, como a fome, a miséria, o analfabetismo e outras mazelas que nos afligem. Se o Brasil sobreviveu a 500 anos de desgoverno e bandalheira, não será meia dúzia de vocábulos estrangeiros que vão acabar com ele".

Uma vez que Yves Albuquerque discorda de mim, não levará a mal que eu, de minha parte, passo a alinhar os motivos pelos quais não concordo com sua carta, tão simpática, mas tão "equivocada".

Em primeiro lugar, gostaria de dizer que, talvez por ser escritor, não considero a defesa e a preservação do nosso idioma um problema sem importância. Foi levando tal fato em conta que aqui publiquei, em 25 de abril deste ano, um artigo no qual dizia: "Sei perfeitamente que um idioma é uma coisa viva e pulsante. Não queremos isolar o português, que, como acontece com qualquer outra língua, se enriquece com as palavras e expressões das outras. Mas elas devem ser adaptadas à forma e ao espírito do idioma que as acolhe. Somente assim é que deixam de ser monstrengos que nos desfiguram e se transformam em incorporações que nos enriquecem".

Depois, lembraria que, sendo uma língua românica, o francês é muito mais próximo do português, de modo que suas palavras e expressões são facilmente adaptadas à forma e ao espírito da nossa língua. Por isso, nunca estranhei o uso de palavras como as citadas por Yves Albuquerque e que sempre vi como restaurante, filé, manchete, garçom, vernissagem, echarpe, tricô etc.

Quanto às quadrilhas, não são manifestações da nossa cultura popular. A quadrilha é uma dança europeia que, no século 19, passou para os salões da aristocracia e da classe média do Brasil. Não pode, portanto, ser colocada ao lado de espetáculos como o Cavalo-Marinho ou o Auto de Guerreiros; estes, sim, populares, e que, portanto, não adotam nenhuma palavra estrangeira.

Finalmente, pedindo desculpas pela brincadeira de ter incluído Yves Albuquerque no grupo dos "equivocados", gostaria de dizer-lhe que minha luta em defesa do português é entendida por mim como parte indispensável da outra, maior: a luta contra a entrega do nosso território, da nossa economia, da nossa identidade cultural. Porque para mim, como escritor, é por aí que a luta maior começa.

Fonte: Adaptada da Folha de São Paulo, 31 de julho de 2000. Disponível em:

https://www1.folha.uol.com.br/fsp/ilustrad/fq3107200024.htm

“A quadrilha é uma dança europeia que, no século 19, passou para os salões da aristocracia...”, os valores semânticos das preposições sublinhadas, no fragmento destacado, são respectivamente:

 

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2314631 Ano: 2021
Disciplina: Português
Banca: CEPUERJ
Orgão: UERJ

Texto I

Uso de palavras estrangeiras

Ariano Suassuna

Uma carta

No dia 10 deste mês de julho, o jornalista Cassiano Elek Machado lembrou que, em 1981, eu declarei que estava sentindo necessidade de me afastar "da monstruosa vaidade literária". E indagou: "Como o senhor, que lançou recentemente um CD com seus poemas, que tem programas de televisão no ar, que está escrevendo para jornal e trabalha em ficções inéditas, tem domado essa ‘vaidade’?".

Respondi que, agora, na velhice, aprendi a lidar melhor com os monstros e fantasmasC) que tanto me preocupavam na juventude. Aprendi, inclusive, a rir deles; e, sobretudo, a zombar de mim mesmo, para não ser possuído pelo "demônio da vaidade" que torna os escritores tão insuportavelmente antipáticos.

Ora, recentemente houve, no Recife, um Congresso de Jornalistas, do qual participei na qualidade de escritor avesso ao mundo dos computadores. Falei para uma plateia integrada em sua maioria por jovens estudantes, meu público predileto. E foi para zombar de mim, mais do que das pessoas que me criticam por meu "arcaísmo", que declarei, ali: "Para mim, a humanidade se divide em dois grupos: o dos que concordam comigo e o dos equivocados".

Faço referência a isso porque, na semana que passou, andei relendo os artigos aqui publicados e notei que neles quase que só fiz referência a cartas que me foram enviadas por pessoas do primeiro grupo. É tempo, então, de lutar contra a vaidade, falando com um "equivocado", Yves M. Albuquerque, que recentemente me mandou uma carta cujos trechos principais transcrevo a seguir:

"Meu caro Ariano: Lendo seus artigos, ouvindo suas palavras na TV, encontro vários tópicos em que discordo de sua opinião. Um deles, em particular, me desperta mais atenção: é o caso da ‘invasão’ da língua inglesa que, segundo entendi, está ameaçando de morte a nossa flor do lácio. Acho sua posição aí inteiramente exagerada e sem fundamento. Sua oposição ao uso de palavras em inglês é flagrante, é aberta. E é aí que discordo do ilustre escritor. Ao contrário do grande mestre, não vejo nisso ameaça à nossa língua vernácula, mesmo porque fato semelhante, e em muito maior amplitude, ocorreu e ocorre com a língua francesa, sem que uma voz sequer se levante em defesa da nossa língua".

Yves Albuquerque alinha várias palavras francesas usadas em nosso dia a dia, entre as quais restaurant, filet, manchette, garçon, vernissage, écharpe, tricot etc. Diz que, em minhas "andanças pelos nossos centros de cultura popular", eu devo já ter notado "a presença e o perigo que representa a ‘invasão’ francesa nas quadrilhas de São João tão típicas da nossa tradição popular e cujos dançarinos executam passos de dança sob o comando de alguém cujas palavras não entendem porque são pronunciadas em francês". Ajunta, em tom afetuosamente irônico: "Desconheço quem tenha protestado patrioticamente contra tal intromissão". E conclui: "O que nós precisamos, meu caro Ariano, não é ficar preocupadosB) com a invasão de outras línguas, mas ajudar a buscar solução para os nossos graves problemas, como a fome, a miséria, o analfabetismo e outras mazelas que nos afligem. Se o Brasil sobreviveu a 500 anos de desgoverno e bandalheira, não será meia dúzia de vocábulos estrangeiros que vão acabar com ele".

Uma vez que Yves Albuquerque discorda de mim, não levará a mal que eu, de minha parte, passo a alinhar os motivos pelos quais não concordo com sua carta, tão simpática, mas tão "equivocada".

Em primeiro lugar, gostaria de dizer que, talvez por ser escritor, não considero a defesa e a preservação do nosso idiomaA) um problema sem importância. Foi levando tal fato em conta que aqui publiquei, em 25 de abril deste ano, um artigo no qual dizia: "Sei perfeitamente que um idioma é uma coisa viva e pulsante. Não queremos isolar o português, que, como acontece com qualquer outra língua, se enriquece com as palavras e expressões das outras. Mas elas devem ser adaptadas à forma e ao espírito do idioma que as acolhe. Somente assim é que deixam de ser monstrengos que nos desfiguram e se transformam em incorporações que nos enriquecem".

Depois, lembraria que, sendo uma língua românica, o francês é muito mais próximo do portuguêsD), de modo que suas palavras e expressões são facilmente adaptadas à forma e ao espírito da nossa língua. Por isso, nunca estranhei o uso de palavras como as citadas por Yves Albuquerque e que sempre vi como restaurante, filé, manchete, garçom, vernissagem, echarpe, tricô etc.

Quanto às quadrilhas, não são manifestações da nossa cultura popular. A quadrilha é uma dança europeia que, no século 19, passou para os salões da aristocracia e da classe média do Brasil. Não pode, portanto, ser colocada ao lado de espetáculos como o Cavalo-Marinho ou o Auto de Guerreiros; estes, sim, populares, e que, portanto, não adotam nenhuma palavra estrangeira.

Finalmente, pedindo desculpas pela brincadeira de ter incluído Yves Albuquerque no grupo dos "equivocados", gostaria de dizer-lhe que minha luta em defesa do português é entendida por mim como parte indispensável da outra, maior: a luta contra a entrega do nosso território, da nossa economia, da nossa identidade cultural. Porque para mim, como escritor, é por aí que a luta maior começa.

Fonte: Adaptada da Folha de São Paulo, 31 de julho de 2000. Disponível em:

https://www1.folha.uol.com.br/fsp/ilustrad/fq3107200024.htm

“... Yves M. Albuquerque, que recentemente me mandou uma carta...”. O termo sublinhado é um pronome relativo. A expressão sublinhada que apresenta igual função sintática do pronome relativo em destaque é:

 

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2314630 Ano: 2021
Disciplina: Português
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Orgão: UERJ

Texto I

Uso de palavras estrangeiras

Ariano Suassuna

Uma carta

No dia 10 deste mês de julho, o jornalista Cassiano Elek Machado lembrou que, em 1981, eu declarei que estava sentindo necessidade de me afastar "da monstruosa vaidade literária". E indagou: "Como o senhor, que lançou recentemente um CD com seus poemas, que tem programas de televisão no ar, que está escrevendo para jornal e trabalha em ficções inéditas, tem domado essa ‘vaidade’?".

Respondi que, agora, na velhice, aprendi a lidar melhor com os monstros e fantasmas que tanto me preocupavam na juventude. Aprendi, inclusive, a rir deles; e, sobretudo, a zombar de mim mesmo, para não ser possuído pelo "demônio da vaidade" que torna os escritores tão insuportavelmente antipáticos.

Ora, recentemente houve, no Recife, um Congresso de Jornalistas, do qual participei na qualidade de escritor avesso ao mundo dos computadores. Falei para uma plateia integrada em sua maioria por jovens estudantes, meu público predileto. E foi para zombar de mim, mais do que das pessoas que me criticam por meu "arcaísmo", que declarei, ali: "Para mim, a humanidade se divide em dois grupos: o dos que concordam comigo e o dos equivocados".

Faço referência a isso porque, na semana que passou, andei relendo os artigos aqui publicados e notei que neles quase que só fiz referência a cartas que me foram enviadas por pessoas do primeiro grupo. É tempo, então, de lutar contra a vaidade, falando com um "equivocado", Yves M. Albuquerque, que recentemente me mandou uma carta cujos trechos principais transcrevo a seguir:

"Meu caro Ariano: Lendo seus artigos, ouvindo suas palavras na TV, encontro vários tópicos em que discordo de sua opinião. Um deles, em particular, me desperta mais atenção: é o caso da ‘invasão’ da língua inglesa que, segundo entendi, está ameaçando de morte a nossa flor do lácio. Acho sua posição aí inteiramente exagerada e sem fundamento. Sua oposição ao uso de palavras em inglês é flagrante, é aberta. E é aí que discordo do ilustre escritor. Ao contrário do grande mestre, não vejo nisso ameaça à nossa língua vernácula, mesmo porque fato semelhante, e em muito maior amplitude, ocorreu e ocorre com a língua francesa, sem que uma voz sequer se levanteC) em defesa da nossa língua".

Yves Albuquerque alinha várias palavras francesas usadas em nosso dia a dia, entre as quais restaurant, filet, manchette, garçon, vernissage, écharpe, tricot etc. Diz que, em minhas "andanças pelos nossos centros de cultura popular", eu devo já ter notado "a presença e o perigo que representa a ‘invasão’ francesa nas quadrilhas de São João tão típicas da nossa tradição popular e cujos dançarinos executam passos de dança sob o comando de alguém cujas palavras não entendem porque são pronunciadas em francês". Ajunta, em tom afetuosamente irônico: "Desconheço quem tenha protestado patrioticamente contra tal intromissão". E conclui: "O que nós precisamos, meu caro Ariano, não é ficar preocupados com a invasão de outras línguas, mas ajudar a buscar solução para os nossos graves problemas, como a fome, a miséria, o analfabetismo e outras mazelas que nos afligem. Se o Brasil sobreviveu a 500 anos de desgoverno e bandalheira, não será meia dúziaA) de vocábulos estrangeiros que vão acabar com ele".

Uma vez que Yves Albuquerque discorda de mim, não levará a mal que eu, de minha parteB), passo a alinhar os motivos pelos quais não concordo com sua carta, tão simpática, mas tão "equivocada".

Em primeiro lugar, gostaria de dizer que, talvez por ser escritor, não considero a defesa e a preservação do nosso idioma um problema sem importância. Foi levando tal fato em conta que aqui publiquei, em 25 de abril deste ano, um artigo no qual dizia: "Sei perfeitamente que um idioma é uma coisa viva e pulsante. Não queremos isolar o português, que, como acontece com qualquer outra língua, se enriquece com as palavras e expressões das outras. Mas elas devem ser adaptadas à forma e ao espírito do idioma que as acolhe. Somente assim é que deixam de ser monstrengos que nos desfiguram e se transformam em incorporações que nos enriquecem".

Depois, lembraria que, sendo uma língua românica, o francês é muito mais próximo do português, de modo que suas palavras e expressões são facilmente adaptadas à forma e ao espírito da nossa língua. Por isso, nunca estranhei o uso de palavras como as citadas por Yves Albuquerque e que sempre vi como restaurante, filé, manchete, garçom, vernissagem, echarpe, tricô etc.

Quanto às quadrilhas, não são manifestações da nossa cultura popular. A quadrilha é uma dança europeia que, no século 19, passou para os salões da aristocracia e da classe média do Brasil. Não pode, portanto, ser colocada ao lado de espetáculosD) como o Cavalo-Marinho ou o Auto de Guerreiros; estes, sim, populares, e que, portanto, não adotam nenhuma palavra estrangeira.

Finalmente, pedindo desculpas pela brincadeira de ter incluído Yves Albuquerque no grupo dos "equivocados", gostaria de dizer-lhe que minha luta em defesa do português é entendida por mim como parte indispensável da outra, maior: a luta contra a entrega do nosso território, da nossa economia, da nossa identidade cultural. Porque para mim, como escritor, é por aí que a luta maior começa.

Fonte: Adaptada da Folha de São Paulo, 31 de julho de 2000. Disponível em:

https://www1.folha.uol.com.br/fsp/ilustrad/fq3107200024.htm

Nos fragmentos a seguir, há correspondência entre a conjunção/ locução conjuntiva e o seu respectivo valor semântico em:

 

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2314629 Ano: 2021
Disciplina: Português
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Uma carta

No dia 10 deste mês de julho, o jornalista Cassiano Elek Machado lembrou que, em 1981, eu declarei que estava sentindo necessidade de me afastar "da monstruosa vaidade literária". E indagou: "Como o senhor, que lançou recentemente um CD com seus poemas, que tem programas de televisão no ar, que está escrevendo para jornal e trabalha em ficções inéditas, tem domado essa ‘vaidade’?".

Respondi que, agora, na velhice, aprendi a lidar melhor com os monstros e fantasmas que tanto me preocupavam na juventude. Aprendi, inclusive, a rir deles; e, sobretudo, a zombar de mim mesmo, para não ser possuído pelo "demônio da vaidade" que torna os escritores tão insuportavelmente antipáticos.

Ora, recentemente houve, no Recife, um Congresso de Jornalistas, do qual participei na qualidade de escritor avesso ao mundo dos computadores. Falei para uma plateia integrada em sua maioria por jovens estudantes, meu público predileto. E foi para zombar de mim, mais do que das pessoas que me criticam por meu "arcaísmo", que declarei, ali: "Para mim, a humanidade se divide em dois grupos: o dos que concordam comigo e o dos equivocados".

Faço referência a isso porque, na semana que passou, andei relendo os artigos aqui publicados e notei que neles quase que só fiz referência a cartas que me foram enviadas por pessoas do primeiro grupo. É tempo, então, de lutar contra a vaidade, falando com um "equivocado", Yves M. Albuquerque, que recentemente me mandou uma carta cujos trechos principais transcrevo a seguir:

"Meu caro Ariano: Lendo seus artigos, ouvindo suas palavras na TV, encontro vários tópicos em que discordo de sua opinião. Um deles, em particular, me desperta mais atenção: é o caso da ‘invasão’ da língua inglesa que, segundo entendi, está ameaçando de morte a nossa flor do lácio. Acho sua posição aí inteiramente exagerada e sem fundamento. Sua oposição ao uso de palavras em inglês é flagrante, é aberta. E é aí que discordo do ilustre escritor. Ao contrário do grande mestre, não vejo nisso ameaça à nossa língua vernácula, mesmo porque fato semelhante, e em muito maior amplitude, ocorreu e ocorre com a língua francesa, sem que uma voz sequer se levante em defesa da nossa língua".

Yves Albuquerque alinha várias palavras francesas usadas em nosso dia a dia, entre as quais restaurant, filet, manchette, garçon, vernissage, écharpe, tricot etc. Diz que, em minhas "andanças pelos nossos centros de cultura popular", eu devo já ter notado "a presença e o perigo que representa a ‘invasão’ francesa nas quadrilhas de São João tão típicas da nossa tradição popular e cujos dançarinos executam passos de dança sob o comando de alguém cujas palavras não entendem porque são pronunciadas em francês". Ajunta, em tom afetuosamente irônico: "Desconheço quem tenha protestado patrioticamente contra tal intromissão". E conclui: "O que nós precisamos, meu caro Ariano, não é ficar preocupados com a invasão de outras línguas, mas ajudar a buscar solução para os nossos graves problemas, como a fome, a miséria, o analfabetismo e outras mazelas que nos afligem. Se o Brasil sobreviveu a 500 anos de desgoverno e bandalheira, não será meia dúzia de vocábulos estrangeiros que vão acabar com ele".

Uma vez que Yves Albuquerque discorda de mim, não levará a mal que eu, de minha parte, passo a alinhar os motivos pelos quais não concordo com sua carta, tão simpática, mas tão "equivocada".

Em primeiro lugar, gostaria de dizer que, talvez por ser escritor, não considero a defesa e a preservação do nosso idioma um problema sem importância. Foi levando tal fato em conta que aqui publiquei, em 25 de abril deste ano, um artigo no qual dizia: "Sei perfeitamente que um idioma é uma coisa viva e pulsante. Não queremos isolar o português, que, como acontece com qualquer outra língua, se enriquece com as palavras e expressões das outras. Mas elas devem ser adaptadas à forma e ao espírito do idioma que as acolhe. Somente assim é que deixam de ser monstrengos que nos desfiguram e se transformam em incorporações que nos enriquecem".

Depois, lembraria que, sendo uma língua românica, o francês é muito mais próximo do português, de modo que suas palavras e expressões são facilmente adaptadas à forma e ao espírito da nossa língua. Por isso, nunca estranhei o uso de palavras como as citadas por Yves Albuquerque e que sempre vi como restaurante, filé, manchete, garçom, vernissagem, echarpe, tricô etc.

Quanto às quadrilhas, não são manifestações da nossa cultura popular. A quadrilha é uma dança europeia que, no século 19, passou para os salões da aristocracia e da classe média do Brasil. Não pode, portanto, ser colocada ao lado de espetáculos como o Cavalo-Marinho ou o Auto de Guerreiros; estes, sim, populares, e que, portanto, não adotam nenhuma palavra estrangeira.

Finalmente, pedindo desculpas pela brincadeira de ter incluído Yves Albuquerque no grupo dos "equivocados", gostaria de dizer-lhe que minha luta em defesa do português é entendida por mim como parte indispensável da outra, maior: a luta contra a entrega do nosso território, da nossa economia, da nossa identidade cultural. Porque para mim, como escritor, é por aí que a luta maior começa.

Fonte: Adaptada da Folha de São Paulo, 31 de julho de 2000. Disponível em:

https://www1.folha.uol.com.br/fsp/ilustrad/fq3107200024.htm

Por se tratar de um artigo de opinião, a função da comunicação predominante é a informativa. Portanto, o elemento da comunicação em destaque, nessa função, é o(a):

 

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2314628 Ano: 2021
Disciplina: Português
Banca: CEPUERJ
Orgão: UERJ

Texto I

Uso de palavras estrangeiras

Ariano Suassuna

Uma carta

No dia 10 deste mês de julho, o jornalista Cassiano Elek Machado lembrou que, em 1981, eu declarei que estava sentindo necessidade de me afastar "da monstruosa vaidade literária". E indagou: "Como o senhor, que lançou recentemente um CD com seus poemas, que tem programas de televisão no ar, que está escrevendo para jornal e trabalha em ficções inéditas, tem domado essa ‘vaidade’?".

Respondi que, agora, na velhice, aprendi a lidar melhor com os monstros e fantasmas que tanto me preocupavam na juventude. Aprendi, inclusive, a rir deles; e, sobretudo, a zombar de mim mesmo, para não ser possuído pelo "demônio da vaidade" que torna os escritores tão insuportavelmente antipáticos.

Ora, recentemente houve, no Recife, um Congresso de Jornalistas, do qual participei na qualidade de escritor avesso ao mundo dos computadores. Falei para uma plateia integrada em sua maioria por jovens estudantes, meu público predileto. E foi para zombar de mim, mais do que das pessoas que me criticam por meu "arcaísmo", que declarei, ali: "Para mim, a humanidade se divide em dois grupos: o dos que concordam comigo e o dos equivocados".

Faço referência a isso porque, na semana que passou, andei relendo os artigos aqui publicados e notei que neles quase que só fiz referência a cartas que me foram enviadas por pessoas do primeiro grupo. É tempo, então, de lutar contra a vaidade, falando com um "equivocado", Yves M. Albuquerque, que recentemente me mandou uma carta cujos trechos principais transcrevo a seguir:

"Meu caro Ariano: Lendo seus artigos, ouvindo suas palavras na TV, encontro vários tópicos em que discordo de sua opinião. Um deles, em particular, me desperta mais atenção: é o caso da ‘invasão’ da língua inglesa que, segundo entendi, está ameaçando de morte a nossa flor do lácio. Acho sua posição aí inteiramente exagerada e sem fundamento. Sua oposição ao uso de palavras em inglês é flagrante, é aberta. E é aí que discordo do ilustre escritor. Ao contrário do grande mestre, não vejo nisso ameaça à nossa língua vernácula, mesmo porque fato semelhante, e em muito maior amplitude, ocorreu e ocorre com a língua francesa, sem que uma voz sequer se levante em defesa da nossa língua".

Yves Albuquerque alinha várias palavras francesas usadas em nosso dia a dia, entre as quais restaurant, filet, manchette, garçon, vernissage, écharpe, tricot etc. Diz que, em minhas "andanças pelos nossos centros de cultura popular", eu devo já ter notado "a presença e o perigo que representa a ‘invasão’ francesa nas quadrilhas de São João tão típicas da nossa tradição popular e cujos dançarinos executam passos de dança sob o comando de alguém cujas palavras não entendem porque são pronunciadas em francês". Ajunta, em tom afetuosamente irônico: "Desconheço quem tenha protestado patrioticamente contra tal intromissão". E conclui: "O que nós precisamos, meu caro Ariano, não é ficar preocupados com a invasão de outras línguas, mas ajudar a buscar solução para os nossos graves problemas, como a fome, a miséria, o analfabetismo e outras mazelas que nos afligem. Se o Brasil sobreviveu a 500 anos de desgoverno e bandalheira, não será meia dúzia de vocábulos estrangeiros que vão acabar com ele".

Uma vez que Yves Albuquerque discorda de mim, não levará a mal que eu, de minha parte, passo a alinhar os motivos pelos quais não concordo com sua carta, tão simpática, mas tão "equivocada".

Em primeiro lugar, gostaria de dizer que, talvez por ser escritor, não considero a defesa e a preservação do nosso idioma um problema sem importância. Foi levando tal fato em conta que aqui publiquei, em 25 de abril deste ano, um artigo no qual dizia: "Sei perfeitamente que um idioma é uma coisa viva e pulsante. Não queremos isolar o português, que, como acontece com qualquer outra língua, se enriquece com as palavras e expressões das outras. Mas elas devem ser adaptadas à forma e ao espírito do idioma que as acolhe. Somente assim é que deixam de ser monstrengos que nos desfiguram e se transformam em incorporações que nos enriquecem".

Depois, lembraria que, sendo uma língua românica, o francês é muito mais próximo do português, de modo que suas palavras e expressões são facilmente adaptadas à forma e ao espírito da nossa língua. Por isso, nunca estranhei o uso de palavras como as citadas por Yves Albuquerque e que sempre vi como restaurante, filé, manchete, garçom, vernissagem, echarpe, tricô etc.

Quanto às quadrilhas, não são manifestações da nossa cultura popular. A quadrilha é uma dança europeia que, no século 19, passou para os salões da aristocracia e da classe média do Brasil. Não pode, portanto, ser colocada ao lado de espetáculos como o Cavalo-Marinho ou o Auto de Guerreiros; estes, sim, populares, e que, portanto, não adotam nenhuma palavra estrangeira.

Finalmente, pedindo desculpas pela brincadeira de ter incluído Yves Albuquerque no grupo dos "equivocados", gostaria de dizer-lhe que minha luta em defesa do português é entendida por mim como parte indispensável da outra, maior: a luta contra a entrega do nosso território, da nossa economia, da nossa identidade cultural. Porque para mim, como escritor, é por aí que a luta maior começa.

Fonte: Adaptada da Folha de São Paulo, 31 de julho de 2000. Disponível em:

https://www1.folha.uol.com.br/fsp/ilustrad/fq3107200024.htm

No sétimo parágrafo da carta, Ariano Suassuna utiliza a palavra “equivocada” entre aspas. Tal uso pode ser justificado pelo fato de o autor:

 

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Ariano Suassuna

Uma carta

No dia 10 deste mês de julho, o jornalista Cassiano Elek Machado lembrou que, em 1981, eu declarei que estava sentindo necessidade de me afastar "da monstruosa vaidade literária". E indagou: "Como o senhor, que lançou recentemente um CD com seus poemas, que tem programas de televisão no ar, que está escrevendo para jornal e trabalha em ficções inéditas, tem domado essa ‘vaidade’?".

Respondi que, agora, na velhice, aprendi a lidar melhor com os monstros e fantasmas que tanto me preocupavam na juventude. Aprendi, inclusive, a rir deles; e, sobretudo, a zombar de mim mesmo, para não ser possuído pelo "demônio da vaidade" que torna os escritores tão insuportavelmente antipáticos.

Ora, recentemente houve, no Recife, um Congresso de Jornalistas, do qual participei na qualidade de escritor avesso ao mundo dos computadores. Falei para uma plateia integrada em sua maioria por jovens estudantes, meu público predileto. E foi para zombar de mim, mais do que das pessoas que me criticam por meu "arcaísmo", que declarei, ali: "Para mim, a humanidade se divide em dois grupos: o dos que concordam comigo e o dos equivocados".

Faço referência a isso porque, na semana que passou, andei relendo os artigos aqui publicados e notei que neles quase que só fiz referência a cartas que me foram enviadas por pessoas do primeiro grupo. É tempo, então, de lutar contra a vaidade, falando com um "equivocado", Yves M. Albuquerque, que recentemente me mandou uma carta cujos trechos principais transcrevo a seguir:

"Meu caro Ariano: Lendo seus artigos, ouvindo suas palavras na TV, encontro vários tópicos em que discordo de sua opinião. Um deles, em particular, me desperta mais atenção: é o caso da ‘invasão’ da língua inglesa que, segundo entendi, está ameaçando de morte a nossa flor do lácio. Acho sua posição aí inteiramente exagerada e sem fundamento. Sua oposição ao uso de palavras em inglês é flagrante, é aberta. E é aí que discordo do ilustre escritor. Ao contrário do grande mestre, não vejo nisso ameaça à nossa língua vernácula, mesmo porque fato semelhante, e em muito maior amplitude, ocorreu e ocorre com a língua francesa, sem que uma voz sequer se levante em defesa da nossa língua".

Yves Albuquerque alinha várias palavras francesas usadas em nosso dia a dia, entre as quais restaurant, filet, manchette, garçon, vernissage, écharpe, tricot etc. Diz que, em minhas "andanças pelos nossos centros de cultura popular", eu devo já ter notado "a presença e o perigo que representa a ‘invasão’ francesa nas quadrilhas de São João tão típicas da nossa tradição popular e cujos dançarinos executam passos de dança sob o comando de alguém cujas palavras não entendem porque são pronunciadas em francês". Ajunta, em tom afetuosamente irônico: "Desconheço quem tenha protestado patrioticamente contra tal intromissão". E conclui: "O que nós precisamos, meu caro Ariano, não é ficar preocupados com a invasão de outras línguas, mas ajudar a buscar solução para os nossos graves problemas, como a fome, a miséria, o analfabetismo e outras mazelas que nos afligem. Se o Brasil sobreviveu a 500 anos de desgoverno e bandalheira, não será meia dúzia de vocábulos estrangeiros que vão acabar com ele".

Uma vez que Yves Albuquerque discorda de mim, não levará a mal que eu, de minha parte, passo a alinhar os motivos pelos quais não concordo com sua carta, tão simpática, mas tão "equivocada".

Em primeiro lugar, gostaria de dizer que, talvez por ser escritor, não considero a defesa e a preservação do nosso idioma um problema sem importância. Foi levando tal fato em conta que aqui publiquei, em 25 de abril deste ano, um artigo no qual dizia: "Sei perfeitamente que um idioma é uma coisa viva e pulsante. Não queremos isolar o português, que, como acontece com qualquer outra língua, se enriquece com as palavras e expressões das outras. Mas elas devem ser adaptadas à forma e ao espírito do idioma que as acolhe. Somente assim é que deixam de ser monstrengos que nos desfiguram e se transformam em incorporações que nos enriquecem".

Depois, lembraria que, sendo uma língua românica, o francês é muito mais próximo do português, de modo que suas palavras e expressões são facilmente adaptadas à forma e ao espírito da nossa língua. Por isso, nunca estranhei o uso de palavras como as citadas por Yves Albuquerque e que sempre vi como restaurante, filé, manchete, garçom, vernissagem, echarpe, tricô etc.

Quanto às quadrilhas, não são manifestações da nossa cultura popular. A quadrilha é uma dança europeia que, no século 19, passou para os salões da aristocracia e da classe média do Brasil. Não pode, portanto, ser colocada ao lado de espetáculos como o Cavalo-Marinho ou o Auto de Guerreiros; estes, sim, populares, e que, portanto, não adotam nenhuma palavra estrangeira.

Finalmente, pedindo desculpas pela brincadeira de ter incluído Yves Albuquerque no grupo dos "equivocados", gostaria de dizer-lhe que minha luta em defesa do português é entendida por mim como parte indispensável da outra, maior: a luta contra a entrega do nosso território, da nossa economia, da nossa identidade cultural. Porque para mim, como escritor, é por aí que a luta maior começa.

Fonte: Adaptada da Folha de São Paulo, 31 de julho de 2000. Disponível em:

https://www1.folha.uol.com.br/fsp/ilustrad/fq3107200024.htm

Yves Albuquerque, em carta enviada a Ariano Suassuna, afirma que o escritor se opõe ao uso de vocábulos em inglês, já que alega que tal fato pode ser uma ameaça à língua portuguesa. Para provar que o posicionamento de Suassuna está sendo parcial em sua visão, Albuquerque se utiliza do argumento de que a(s):

 

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2314626 Ano: 2021
Disciplina: Português
Banca: CEPUERJ
Orgão: UERJ

Texto I

Uso de palavras estrangeiras

Ariano Suassuna

Uma carta

No dia 10 deste mês de julho, o jornalista Cassiano Elek Machado lembrou que, em 1981, eu declarei que estava sentindo necessidade de me afastar "da monstruosa vaidade literária". E indagou: "Como o senhor, que lançou recentemente um CD com seus poemas, que tem programas de televisão no ar, que está escrevendo para jornal e trabalha em ficções inéditas, tem domado essa ‘vaidade’?".

Respondi que, agora, na velhice, aprendi a lidar melhor com os monstros e fantasmas que tanto me preocupavam na juventude. Aprendi, inclusive, a rir deles; e, sobretudo, a zombar de mim mesmo, para não ser possuído pelo "demônio da vaidade" que torna os escritores tão insuportavelmente antipáticos.

Ora, recentemente houve, no Recife, um Congresso de Jornalistas, do qual participei na qualidade de escritor avesso ao mundo dos computadores. Falei para uma plateia integrada em sua maioria por jovens estudantes, meu público predileto. E foi para zombar de mim, mais do que das pessoas que me criticam por meu "arcaísmo", que declarei, ali: "Para mim, a humanidade se divide em dois grupos: o dos que concordam comigo e o dos equivocados".

Faço referência a isso porque, na semana que passou, andei relendo os artigos aqui publicados e notei que neles quase que só fiz referência a cartas que me foram enviadas por pessoas do primeiro grupo. É tempo, então, de lutar contra a vaidade, falando com um "equivocado", Yves M. Albuquerque, que recentemente me mandou uma carta cujos trechos principais transcrevo a seguir:

"Meu caro Ariano: Lendo seus artigos, ouvindo suas palavras na TV, encontro vários tópicos em que discordo de sua opinião. Um deles, em particular, me desperta mais atenção: é o caso da ‘invasão’ da língua inglesa que, segundo entendi, está ameaçando de morte a nossa flor do lácio. Acho sua posição aí inteiramente exagerada e sem fundamento. Sua oposição ao uso de palavras em inglês é flagrante, é aberta. E é aí que discordo do ilustre escritor. Ao contrário do grande mestre, não vejo nisso ameaça à nossa língua vernácula, mesmo porque fato semelhante, e em muito maior amplitude, ocorreu e ocorre com a língua francesa, sem que uma voz sequer se levante em defesa da nossa língua".

Yves Albuquerque alinha várias palavras francesas usadas em nosso dia a dia, entre as quais restaurant, filet, manchette, garçon, vernissage, écharpe, tricot etc. Diz que, em minhas "andanças pelos nossos centros de cultura popular", eu devo já ter notado "a presença e o perigo que representa a ‘invasão’ francesa nas quadrilhas de São João tão típicas da nossa tradição popular e cujos dançarinos executam passos de dança sob o comando de alguém cujas palavras não entendem porque são pronunciadas em francês". Ajunta, em tom afetuosamente irônico: "Desconheço quem tenha protestado patrioticamente contra tal intromissão". E conclui: "O que nós precisamos, meu caro Ariano, não é ficar preocupados com a invasão de outras línguas, mas ajudar a buscar solução para os nossos graves problemas, como a fome, a miséria, o analfabetismo e outras mazelas que nos afligem. Se o Brasil sobreviveu a 500 anos de desgoverno e bandalheira, não será meia dúzia de vocábulos estrangeiros que vão acabar com ele".

Uma vez que Yves Albuquerque discorda de mim, não levará a mal que eu, de minha parte, passo a alinhar os motivos pelos quais não concordo com sua carta, tão simpática, mas tão "equivocada".

Em primeiro lugar, gostaria de dizer que, talvez por ser escritor, não considero a defesa e a preservação do nosso idioma um problema sem importância. Foi levando tal fato em conta que aqui publiquei, em 25 de abril deste ano, um artigo no qual dizia: "Sei perfeitamente que um idioma é uma coisa viva e pulsante. Não queremos isolar o português, que, como acontece com qualquer outra língua, se enriquece com as palavras e expressões das outras. Mas elas devem ser adaptadas à forma e ao espírito do idioma que as acolhe. Somente assim é que deixam de ser monstrengos que nos desfiguram e se transformam em incorporações que nos enriquecem".

Depois, lembraria que, sendo uma língua românica, o francês é muito mais próximo do português, de modo que suas palavras e expressões são facilmente adaptadas à forma e ao espírito da nossa língua. Por isso, nunca estranhei o uso de palavras como as citadas por Yves Albuquerque e que sempre vi como restaurante, filé, manchete, garçom, vernissagem, echarpe, tricô etc.

Quanto às quadrilhas, não são manifestações da nossa cultura popular. A quadrilha é uma dança europeia que, no século 19, passou para os salões da aristocracia e da classe média do Brasil. Não pode, portanto, ser colocada ao lado de espetáculos como o Cavalo-Marinho ou o Auto de Guerreiros; estes, sim, populares, e que, portanto, não adotam nenhuma palavra estrangeira.

Finalmente, pedindo desculpas pela brincadeira de ter incluído Yves Albuquerque no grupo dos "equivocados", gostaria de dizer-lhe que minha luta em defesa do português é entendida por mim como parte indispensável da outra, maior: a luta contra a entrega do nosso território, da nossa economia, da nossa identidade cultural. Porque para mim, como escritor, é por aí que a luta maior começa.

Fonte: Adaptada da Folha de São Paulo, 31 de julho de 2000. Disponível em:

https://www1.folha.uol.com.br/fsp/ilustrad/fq3107200024.htm

“... mais do que das pessoas que me criticam por meu arcaísmo, que declarei...”. A palavra sublinhada, nesse contexto, pode ser compreendida como:

 

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Disciplina: Português
Banca: CEPUERJ
Orgão: UERJ

Texto I

Uso de palavras estrangeiras

Ariano Suassuna

Uma carta

No dia 10 deste mês de julho, o jornalista Cassiano Elek Machado lembrou que, em 1981, eu declarei que estava sentindo necessidade de me afastar "da monstruosa vaidade literária". E indagou: "Como o senhor, que lançou recentemente um CD com seus poemas, que tem programas de televisão no ar, que está escrevendo para jornal e trabalha em ficções inéditas, tem domado essa ‘vaidade’?".

Respondi que, agora, na velhice, aprendi a lidar melhor com os monstros e fantasmas que tanto me preocupavam na juventude. Aprendi, inclusive, a rir deles; e, sobretudo, a zombar de mim mesmo, para não ser possuído pelo "demônio da vaidade" que torna os escritores tão insuportavelmente antipáticos.

Ora, recentemente houve, no Recife, um Congresso de Jornalistas, do qual participei na qualidade de escritor avesso ao mundo dos computadores. Falei para uma plateia integrada em sua maioria por jovens estudantes, meu público predileto. E foi para zombar de mim, mais do que das pessoas que me criticam por meu "arcaísmo", que declarei, ali: "Para mim, a humanidade se divide em dois grupos: o dos que concordam comigo e o dos equivocados".

Faço referência a isso porque, na semana que passou, andei relendo os artigos aqui publicados e notei que neles quase que só fiz referência a cartas que me foram enviadas por pessoas do primeiro grupo. É tempo, então, de lutar contra a vaidade, falando com um "equivocado", Yves M. Albuquerque, que recentemente me mandou uma carta cujos trechos principais transcrevo a seguir:

"Meu caro Ariano: Lendo seus artigos, ouvindo suas palavras na TV, encontro vários tópicos em que discordo de sua opinião. Um deles, em particular, me desperta mais atenção: é o caso da ‘invasão’ da língua inglesa que, segundo entendi, está ameaçando de morte a nossa flor do lácio. Acho sua posição aí inteiramente exagerada e sem fundamento. Sua oposição ao uso de palavras em inglês é flagrante, é aberta. E é aí que discordo do ilustre escritor. Ao contrário do grande mestre, não vejo nisso ameaça à nossa língua vernácula, mesmo porque fato semelhante, e em muito maior amplitude, ocorreu e ocorre com a língua francesa, sem que uma voz sequer se levante em defesa da nossa língua".

Yves Albuquerque alinha várias palavras francesas usadas em nosso dia a dia, entre as quais restaurant, filet, manchette, garçon, vernissage, écharpe, tricot etc. Diz que, em minhas "andanças pelos nossos centros de cultura popular", eu devo já ter notado "a presença e o perigo que representa a ‘invasão’ francesa nas quadrilhas de São João tão típicas da nossa tradição popular e cujos dançarinos executam passos de dança sob o comando de alguém cujas palavras não entendem porque são pronunciadas em francês". Ajunta, em tom afetuosamente irônico: "Desconheço quem tenha protestado patrioticamente contra tal intromissão". E conclui: "O que nós precisamos, meu caro Ariano, não é ficar preocupados com a invasão de outras línguas, mas ajudar a buscar solução para os nossos graves problemas, como a fome, a miséria, o analfabetismo e outras mazelas que nos afligem. Se o Brasil sobreviveu a 500 anos de desgoverno e bandalheira, não será meia dúzia de vocábulos estrangeiros que vão acabar com ele".

Uma vez que Yves Albuquerque discorda de mim, não levará a mal que eu, de minha parte, passo a alinhar os motivos pelos quais não concordo com sua carta, tão simpática, mas tão "equivocada".

Em primeiro lugar, gostaria de dizer que, talvez por ser escritor, não considero a defesa e a preservação do nosso idioma um problema sem importância. Foi levando tal fato em conta que aqui publiquei, em 25 de abril deste ano, um artigo no qual dizia: "Sei perfeitamente que um idioma é uma coisa viva e pulsante. Não queremos isolar o português, que, como acontece com qualquer outra língua, se enriquece com as palavras e expressões das outras. Mas elas devem ser adaptadas à forma e ao espírito do idioma que as acolhe. Somente assim é que deixam de ser monstrengos que nos desfiguram e se transformam em incorporações que nos enriquecem".

Depois, lembraria que, sendo uma língua românica, o francês é muito mais próximo do português, de modo que suas palavras e expressões são facilmente adaptadas à forma e ao espírito da nossa língua. Por isso, nunca estranhei o uso de palavras como as citadas por Yves Albuquerque e que sempre vi como restaurante, filé, manchete, garçom, vernissagem, echarpe, tricô etc.

Quanto às quadrilhas, não são manifestações da nossa cultura popular. A quadrilha é uma dança europeia que, no século 19, passou para os salões da aristocracia e da classe média do Brasil. Não pode, portanto, ser colocada ao lado de espetáculos como o Cavalo-Marinho ou o Auto de Guerreiros; estes, sim, populares, e que, portanto, não adotam nenhuma palavra estrangeira.

Finalmente, pedindo desculpas pela brincadeira de ter incluído Yves Albuquerque no grupo dos "equivocados", gostaria de dizer-lhe que minha luta em defesa do português é entendida por mim como parte indispensável da outra, maior: a luta contra a entrega do nosso território, da nossa economia, da nossa identidade cultural. Porque para mim, como escritor, é por aí que a luta maior começa.

Fonte: Adaptada da Folha de São Paulo, 31 de julho de 2000. Disponível em:

https://www1.folha.uol.com.br/fsp/ilustrad/fq3107200024.htm

“... é o caso da ‘invasão’ da língua inglesa que, segundo entendi, está ameaçando de morte a nossa flor do lácio.”. O sintagma sublinhado na passagem em destaque exerce igual função sintática daquele sublinhado em:

 

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Disciplina: Português
Banca: CEPUERJ
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Ariano Suassuna

Uma carta

No dia 10 deste mês de julho, o jornalista Cassiano Elek Machado lembrou que, em 1981, eu declarei que estava sentindo necessidade de me afastar "da monstruosa vaidade literária". E indagou: "Como o senhor, que lançou recentemente um CD com seus poemas, que tem programas de televisão no ar, que está escrevendo para jornal e trabalha em ficções inéditas, tem domado essa ‘vaidade’?".

Respondi que, agora, na velhice, aprendi a lidar melhor com os monstros e fantasmas que tanto me preocupavam na juventude. Aprendi, inclusive, a rir deles; e, sobretudo, a zombar de mim mesmo, para não ser possuído pelo "demônio da vaidade" que torna os escritores tão insuportavelmente antipáticos.

Ora, recentemente houve, no Recife, um Congresso de Jornalistas, do qual participei na qualidade de escritor avesso ao mundo dos computadores. Falei para uma plateia integrada em sua maioria por jovens estudantes, meu público predileto. E foi para zombar de mim, mais do que das pessoas que me criticam por meu "arcaísmo", que declarei, ali: "Para mim, a humanidade se divide em dois grupos: o dos que concordam comigo e o dos equivocados".

Faço referência a isso porque, na semana que passou, andei relendo os artigos aqui publicados e notei que neles quase que só fiz referência a cartas que me foram enviadas por pessoas do primeiro grupo. É tempo, então, de lutar contra a vaidade, falando com um "equivocado", Yves M. Albuquerque, que recentemente me mandou uma carta cujos trechos principais transcrevo a seguir:

"Meu caro Ariano: Lendo seus artigos, ouvindo suas palavras na TV, encontro vários tópicos em que discordo de sua opinião. Um deles, em particular, me desperta mais atenção: é o caso da ‘invasão’ da língua inglesa que, segundo entendi, está ameaçando de morte a nossa flor do lácio. Acho sua posição aí inteiramente exagerada e sem fundamento. Sua oposição ao uso de palavras em inglês é flagrante, é aberta. E é aí que discordo do ilustre escritor. Ao contrário do grande mestre, não vejo nisso ameaça à nossa língua vernácula, mesmo porque fato semelhante, e em muito maior amplitude, ocorreu e ocorre com a língua francesa, sem que uma voz sequer se levante em defesa da nossa língua".

Yves Albuquerque alinha várias palavras francesas usadas em nosso dia a dia, entre as quais restaurant, filet, manchette, garçon, vernissage, écharpe, tricot etc. Diz que, em minhas "andanças pelos nossos centros de cultura popular", eu devo já ter notado "a presença e o perigo que representa a ‘invasão’ francesa nas quadrilhas de São João tão típicas da nossa tradição popular e cujos dançarinos executam passos de dança sob o comando de alguém cujas palavras não entendem porque são pronunciadas em francês". Ajunta, em tom afetuosamente irônico: "Desconheço quem tenha protestado patrioticamente contra tal intromissão". E conclui: "O que nós precisamos, meu caro Ariano, não é ficar preocupados com a invasão de outras línguas, mas ajudar a buscar solução para os nossos graves problemas, como a fome, a miséria, o analfabetismo e outras mazelas que nos afligem. Se o Brasil sobreviveu a 500 anos de desgoverno e bandalheira, não será meia dúzia de vocábulos estrangeiros que vão acabar com ele".

Uma vez que Yves Albuquerque discorda de mim, não levará a mal que eu, de minha parte, passo a alinhar os motivos pelos quais não concordo com sua carta, tão simpática, mas tão "equivocada".

Em primeiro lugar, gostaria de dizer que, talvez por ser escritor, não considero a defesa e a preservação do nosso idioma um problema sem importância. Foi levando tal fato em conta que aqui publiquei, em 25 de abril deste ano, um artigo no qual dizia: "Sei perfeitamente que um idioma é uma coisa viva e pulsante. Não queremos isolar o português, que, como acontece com qualquer outra língua, se enriquece com as palavras e expressões das outras. Mas elas devem ser adaptadas à forma e ao espírito do idioma que as acolhe. Somente assim é que deixam de ser monstrengos que nos desfiguram e se transformam em incorporações que nos enriquecem".

Depois, lembraria que, sendo uma língua românica, o francês é muito mais próximo do português, de modo que suas palavras e expressões são facilmente adaptadas à forma e ao espírito da nossa língua. Por isso, nunca estranhei o uso de palavras como as citadas por Yves Albuquerque e que sempre vi como restaurante, filé, manchete, garçom, vernissagem, echarpe, tricô etc.

Quanto às quadrilhas, não são manifestações da nossa cultura popular. A quadrilha é uma dança europeia que, no século 19, passou para os salões da aristocracia e da classe média do Brasil. Não pode, portanto, ser colocada ao lado de espetáculos como o Cavalo-Marinho ou o Auto de Guerreiros; estes, sim, populares, e que, portanto, não adotam nenhuma palavra estrangeira.

Finalmente, pedindo desculpas pela brincadeira de ter incluído Yves Albuquerque no grupo dos "equivocados", gostaria de dizer-lhe que minha luta em defesa do português é entendida por mim como parte indispensável da outra, maior: a luta contra a entrega do nosso território, da nossa economia, da nossa identidade cultural. Porque para mim, como escritor, é por aí que a luta maior começa.

Fonte: Adaptada da Folha de São Paulo, 31 de julho de 2000. Disponível em:

https://www1.folha.uol.com.br/fsp/ilustrad/fq3107200024.htm

O texto de Ariano Suassuna apresenta como ponto de vista central a:

 

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2314742 Ano: 2021
Disciplina: TI - Redes de Computadores
Banca: CEPUERJ
Orgão: UERJ

Para criar uma associação com um determinado access point (AP), a estação sem fio possivelmente terá de realizar um processo de autenticação. Em relação às LANs sem fio 802.11, que dispõem de várias alternativas para autenticação e acesso, é correto afirmar que:

Questão Anulada e Desatualizada

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