Foram encontradas 30 questões.
A minha salamandra
Certa vez, escrevendo uma novela, precisei
saber se uma salamandra tinha quatro ou seis
pernas. Já não me lembro em que episódio
novelesco pretendia envolver as pernas da minha
salamandra, mas a verdade é que precisava
saber — e não fiquei sabendo.
Que sei eu a respeito de minhas próprias
pernas? Pensava então, deixando que elas me
levassem para outros caminhos, fora da ficção.
Um ficcionista às vezes precisa saber coisas
muito esquisitas. A experiência própria nem
sempre ajuda. Passei, por exemplo, a minha
infância nos galhos de uma mangueira,
chupando manga o dia todo, e não soube
responder a um meu amigo, excelente
romancista, quanto tempo levava para germinar
um caroço de manga.
Contou-me ele, na época, que andou
precisando saber este pormenor, em razão de
uma história que estava escrevendo. Depois de
perguntar a um e outro, e não obtendo senão
respostas vagas, telefonou para a repartição do
Ministério da Agricultura que lhe pareceu mais
apta a fornecer-lhe a informação. O funcionário
que o atendeu ficou simplesmente perplexo:
— Caroço de manga? Que brincadeira é
essa?
Como insistisse, informaram-lhe que, realmente,
havia quem talvez soubesse — um especialista no
assunto, lotado num departamento ao qual estava
afeto o setor de fruticultura. Discou para lá — mas só
conseguiu colher vagos palpites:
— Um caroço de manga? Bem, deve levar
um ou dois meses, o senhor não acha?
— Não acho nada: preciso saber com
exatidão.
— Por quê?
— Bem, porque...
Outros telefonemas, que somente
despertavam reminiscências infantis:
— Na minha casa tinha uma mangueira. A
manga-espada, por exemplo, se bem me
lembro...
— Boa é a manga carlota, aquela pequenina,
sem fibra nenhuma... Lá no Norte chamam de
itamaracá.
— O caroço? Bem, o caroço, para lhe dizer
com franqueza...
Resolveu telefonar para o Gabinete do
Ministro:
— Queria uma informaçãozinha de Vossa
Excelência.
O ministro não sabia. Que futuro tem um país
de economia essencialmente agrícola se
ninguém, nem o próprio Ministro da Agricultura,
sabe informar quanto tempo leva para germinar
um caroço de manga?
Volto à minha salamandra. Vejo-a esquiva e
silenciosa a deslizar por entre as pedras, quantas
pernas? Que futuro tenho eu como escritor, se
não sei dizer com quantas pernas se faz uma
salamandra? O mundo anda cheio de pernas, e
o coração do poeta já perguntou para que tanta
perna, meu Deus. As da salamandra — quatro,
ou seis — nada acrescentam ao meu mundo
interior, senão a ligeira desconfiança de que
acabo tendo quatro. No entanto, as de uma
jovem galgando comigo as pedras do Arpoador,
por exemplo, apenas duas, podem sustentar o
universo — vertiginoso universo onde as
sensações germinam bem mais depressa que
um caroço de manga. Onde se acendem estrelas
inexistentes e os astros desandam nas suas
órbitas. Onde se abrem abismos de uma
profundeza que nem a imaginação do romancista
ousa devassar. Onde vicejam plantas bem mais
exóticas que uma mangueira de quintal, em cujas
sombras se arrastam seres vorazes e bem mais
misteriosos que a salamandra, salamandras...
(SABINO, Fernando. As melhores crônicas. 14ª ed.
Rio de Janeiro: Record, 2010.)
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A minha salamandra
Certa vez, escrevendo uma novela, precisei
saber se uma salamandra tinha quatro ou seis
pernas. Já não me lembro em que episódio
novelesco pretendia envolver as pernas da minha
salamandra, mas a verdade é que precisava
saber — e não fiquei sabendo.
Que sei eu a respeito de minhas próprias
pernas? Pensava então, deixando que elas me
levassem para outros caminhos, fora da ficção.
Um ficcionista às vezes precisa saber coisas
muito esquisitas. A experiência própria nem
sempre ajuda. Passei, por exemplo, a minha
infância nos galhos de uma mangueira,
chupando manga o dia todo, e não soube
responder a um meu amigo, excelente
romancista, quanto tempo levava para germinar
um caroço de manga.
Contou-me ele, na época, que andou
precisando saber este pormenor, em razão de
uma história que estava escrevendo. Depois de
perguntar a um e outro, e não obtendo senão
respostas vagas, telefonou para a repartição do
Ministério da Agricultura que lhe pareceu mais
apta a fornecer-lhe a informação. O funcionário
que o atendeu ficou simplesmente perplexo:
— Caroço de manga? Que brincadeira é
essa?
Como insistisse, informaram-lhe que, realmente,
havia quem talvez soubesse — um especialista no
assunto, lotado num departamento ao qual estava
afeto o setor de fruticultura. Discou para lá — mas só
conseguiu colher vagos palpites:
— Um caroço de manga? Bem, deve levar
um ou dois meses, o senhor não acha?
— Não acho nada: preciso saber com
exatidão.
— Por quê?
— Bem, porque...
Outros telefonemas, que somente
despertavam reminiscências infantis:
— Na minha casa tinha uma mangueira. A
manga-espada, por exemplo, se bem me
lembro...
— Boa é a manga carlota, aquela pequenina,
sem fibra nenhuma... Lá no Norte chamam de
itamaracá.
— O caroço? Bem, o caroço, para lhe dizer
com franqueza...
Resolveu telefonar para o Gabinete do
Ministro:
— Queria uma informaçãozinha de Vossa
Excelência.
O ministro não sabia. Que futuro tem um país
de economia essencialmente agrícola se
ninguém, nem o próprio Ministro da Agricultura,
sabe informar quanto tempo leva para germinar
um caroço de manga?
Volto à minha salamandra. Vejo-a esquiva e
silenciosa a deslizar por entre as pedras, quantas
pernas? Que futuro tenho eu como escritor, se
não sei dizer com quantas pernas se faz uma
salamandra? O mundo anda cheio de pernas, e
o coração do poeta já perguntou para que tanta
perna, meu Deus. As da salamandra — quatro,
ou seis — nada acrescentam ao meu mundo
interior, senão a ligeira desconfiança de que
acabo tendo quatro. No entanto, as de uma
jovem galgando comigo as pedras do Arpoador,
por exemplo, apenas duas, podem sustentar o
universo — vertiginoso universo onde as
sensações germinam bem mais depressa que
um caroço de manga. Onde se acendem estrelas
inexistentes e os astros desandam nas suas
órbitas. Onde se abrem abismos de uma
profundeza que nem a imaginação do romancista
ousa devassar. Onde vicejam plantas bem mais
exóticas que uma mangueira de quintal, em cujas
sombras se arrastam seres vorazes e bem mais
misteriosos que a salamandra, salamandras...
(SABINO, Fernando. As melhores crônicas. 14ª ed.
Rio de Janeiro: Record, 2010.)
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A minha salamandra
Certa vez, escrevendo uma novela, precisei
saber se uma salamandra tinha quatro ou seis
pernas. Já não me lembro em que episódio
novelesco pretendia envolver as pernas da minha
salamandra, mas a verdade é que precisava
saber — e não fiquei sabendo.
Que sei eu a respeito de minhas próprias
pernas? Pensava então, deixando que elas me
levassem para outros caminhos, fora da ficção.
Um ficcionista às vezes precisa saber coisas
muito esquisitas. A experiência própria nem
sempre ajuda. Passei, por exemplo, a minha
infância nos galhos de uma mangueira,
chupando manga o dia todo, e não soube
responder a um meu amigo, excelente
romancista, quanto tempo levava para germinar
um caroço de manga.
Contou-me ele, na época, que andou
precisando saber este pormenor, em razão de
uma história que estava escrevendo. Depois de
perguntar a um e outro, e não obtendo senão
respostas vagas, telefonou para a repartição do
Ministério da Agricultura que lhe pareceu mais
apta a fornecer-lhe a informação. O funcionário
que o atendeu ficou simplesmente perplexo:
— Caroço de manga? Que brincadeira é
essa?
Como insistisse, informaram-lhe que, realmente,
havia quem talvez soubesse — um especialista no
assunto, lotado num departamento ao qual estava
afeto o setor de fruticultura. Discou para lá — mas só
conseguiu colher vagos palpites:
— Um caroço de manga? Bem, deve levar
um ou dois meses, o senhor não acha?
— Não acho nada: preciso saber com
exatidão.
— Por quê?
— Bem, porque...
Outros telefonemas, que somente
despertavam reminiscências infantis:
— Na minha casa tinha uma mangueira. A
manga-espada, por exemplo, se bem me
lembro...
— Boa é a manga carlota, aquela pequenina,
sem fibra nenhuma... Lá no Norte chamam de
itamaracá.
— O caroço? Bem, o caroço, para lhe dizer
com franqueza...
Resolveu telefonar para o Gabinete do
Ministro:
— Queria uma informaçãozinha de Vossa
Excelência.
O ministro não sabia. Que futuro tem um país
de economia essencialmente agrícola se
ninguém, nem o próprio Ministro da Agricultura,
sabe informar quanto tempo leva para germinar
um caroço de manga?
Volto à minha salamandra. Vejo-a esquiva e
silenciosa a deslizar por entre as pedras, quantas
pernas? Que futuro tenho eu como escritor, se
não sei dizer com quantas pernas se faz uma
salamandra? O mundo anda cheio de pernas, e
o coração do poeta já perguntou para que tanta
perna, meu Deus. As da salamandra — quatro,
ou seis — nada acrescentam ao meu mundo
interior, senão a ligeira desconfiança de que
acabo tendo quatro. No entanto, as de uma
jovem galgando comigo as pedras do Arpoador,
por exemplo, apenas duas, podem sustentar o
universo — vertiginoso universo onde as
sensações germinam bem mais depressa que
um caroço de manga. Onde se acendem estrelas
inexistentes e os astros desandam nas suas
órbitas. Onde se abrem abismos de uma
profundeza que nem a imaginação do romancista
ousa devassar. Onde vicejam plantas bem mais
exóticas que uma mangueira de quintal, em cujas
sombras se arrastam seres vorazes e bem mais
misteriosos que a salamandra, salamandras...
(SABINO, Fernando. As melhores crônicas. 14ª ed.
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Certa vez, escrevendo uma novela, precisei
saber se uma salamandra tinha quatro ou seis
pernas. Já não me lembro em que episódio
novelesco pretendia envolver as pernas da minha
salamandra, mas a verdade é que precisava
saber — e não fiquei sabendo.
Que sei eu a respeito de minhas próprias
pernas? Pensava então, deixando que elas me
levassem para outros caminhos, fora da ficção.
Um ficcionista às vezes precisa saber coisas
muito esquisitas. A experiência própria nem
sempre ajuda. Passei, por exemplo, a minha
infância nos galhos de uma mangueira,
chupando manga o dia todo, e não soube
responder a um meu amigo, excelente
romancista, quanto tempo levava para germinar
um caroço de manga.
Contou-me ele, na época, que andou
precisando saber este pormenor, em razão de
uma história que estava escrevendo. Depois de
perguntar a um e outro, e não obtendo senão
respostas vagas, telefonou para a repartição do
Ministério da Agricultura que lhe pareceu mais
apta a fornecer-lhe a informação. O funcionário
que o atendeu ficou simplesmente perplexo:
— Caroço de manga? Que brincadeira é
essa?
Como insistisse, informaram-lhe que, realmente,
havia quem talvez soubesse — um especialista no
assunto, lotado num departamento ao qual estava
afeto o setor de fruticultura. Discou para lá — mas só
conseguiu colher vagos palpites:
— Um caroço de manga? Bem, deve levar
um ou dois meses, o senhor não acha?
— Não acho nada: preciso saber com
exatidão.
— Por quê?
— Bem, porque...
Outros telefonemas, que somente
despertavam reminiscências infantis:
— Na minha casa tinha uma mangueira. A
manga-espada, por exemplo, se bem me
lembro...
— Boa é a manga carlota, aquela pequenina,
sem fibra nenhuma... Lá no Norte chamam de
itamaracá.
— O caroço? Bem, o caroço, para lhe dizer
com franqueza...
Resolveu telefonar para o Gabinete do
Ministro:
— Queria uma informaçãozinha de Vossa
Excelência.
O ministro não sabia. Que futuro tem um país
de economia essencialmente agrícola se
ninguém, nem o próprio Ministro da Agricultura,
sabe informar quanto tempo leva para germinar
um caroço de manga?
Volto à minha salamandra. Vejo-a esquiva e
silenciosa a deslizar por entre as pedras, quantas
pernas? Que futuro tenho eu como escritor, se
não sei dizer com quantas pernas se faz uma
salamandra? O mundo anda cheio de pernas, e
o coração do poeta já perguntou para que tanta
perna, meu Deus. As da salamandra — quatro,
ou seis — nada acrescentam ao meu mundo
interior, senão a ligeira desconfiança de que
acabo tendo quatro. No entanto, as de uma
jovem galgando comigo as pedras do Arpoador,
por exemplo, apenas duas, podem sustentar o
universo — vertiginoso universo onde as
sensações germinam bem mais depressa que
um caroço de manga. Onde se acendem estrelas
inexistentes e os astros desandam nas suas
órbitas. Onde se abrem abismos de uma
profundeza que nem a imaginação do romancista
ousa devassar. Onde vicejam plantas bem mais
exóticas que uma mangueira de quintal, em cujas
sombras se arrastam seres vorazes e bem mais
misteriosos que a salamandra, salamandras...
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Os quase 8.400 médicos cubanos que
atendiam no Brasil começaram a deixar o
pais. O governo cubano rompeu com Brasil
após as declarações “ameaçadoras e
depreciativas” do presidente eleito, Jair
Bolsonaro, que anunciou modificações
“inaceitáveis” no projeto. Os médicos
cubanos atuavam no
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Milhares de pessoas, a maioria delas de
Honduras, retomaram no domingo sua
marcha rumo aos Estados Unidos. Logo no
início do dia, a enorme caravana saiu de
Ciudad Hidalgo, a caminho da fronteira do
_________ com o território americano. Elas
dizem fugir da violência e da pobreza em seu
país, em busca do que acreditam que ser
uma vida melhor.
(Disponível em:
https://www.terra.com.br/noticias/mundo.
Publicado em: 21/10/2018.)
Assinale a alternativa que completa corretamente a afirmativa anterior.
Assinale a alternativa que completa corretamente a afirmativa anterior.
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Adélio Bispo de Oliveira foi preso em
flagrante, após esfaquear Jair Bolsonaro. O
agressor foi denunciado pelo Ministério
Público Federal pelo crime de “atentado
pessoal por inconformismo político”, previsto
no artigo 20, da Lei de Segurança Nacional.
O fato mencionado ocorreu na cidade de
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O hexa não veio. Os brasileiros comandados
por Tite caíram em Kazan diante da Bélgica
por 2 a 1 no dia 6 de julho de 2018. Com o
craque Neymar voltando de lesão e com
atuações marcadas por disputas com a
equipe de arbitragem, a seleção canarinho
fez uma campanha pouco brilhante. A Copa
do Mundo de 2018 foi disputada na
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A economia da Argentina entrou, oficialmente,
em recessão entre julho e setembro, após ter
apresentado dois trimestres consecutivos de
declínio econômico, de acordo com dados
apresentados pelo Instituto Nacional de
Estatísticas e Censos (INDEC) do país. A
Argentina foi obrigada a pedir ajuda à(ao):
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Com mais de 57 milhões de votos, Jair
Bolsonaro foi eleito presidente do Brasil ao
derrotar Fernando Haddad (PT) no segundo
turno. O presidente eleito nomeou o Juiz
Sérgio Moro como Ministro
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