Foram encontradas 30 questões.
Ana caminha diariamente em volta do parque
de seu bairro, que possui formato retangular
e perímetro 345 metros. Sabendo que o
comprimento do parque é de 77 metros,
quanto mede sua largura?
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Yan é um atleta entusiasta de atividades
extremas. Por isso, ele deve manter uma
dieta rígida com consumo diário de 4.500
calorias. Considerando que um adulto
comum e que não pratica atividades físicas
regularmente necessita de 2.000 calorias
diárias, qual é o percentual de calorias que
Yan consome em relação ao consumo de um
adulto comum durante o período de um
mês?
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A minha salamandra
Certa vez, escrevendo uma novela, precisei
saber se uma salamandra tinha quatro ou seis
pernas. Já não me lembro em que episódio
novelesco pretendia envolver as pernas da minha
salamandra, mas a verdade é que precisava
saber — e não fiquei sabendo.
Que sei eu a respeito de minhas próprias
pernas? Pensava então, deixando que elas me
levassem para outros caminhos, fora da ficção.
Um ficcionista às vezes precisa saber coisas
muito esquisitas. A experiência própria nem
sempre ajuda. Passei, por exemplo, a minha
infância nos galhos de uma mangueira,
chupando manga o dia todo, e não soube
responder a um meu amigo, excelente
romancista, quanto tempo levava para germinar
um caroço de manga.
Contou-me ele, na época, que andou
precisando saber este pormenor, em razão de
uma história que estava escrevendo. Depois de
perguntar a um e outro, e não obtendo senão
respostas vagas, telefonou para a repartição do
Ministério da Agricultura que lhe pareceu mais
apta a fornecer-lhe a informação. O funcionário
que o atendeu ficou simplesmente perplexo:
— Caroço de manga? Que brincadeira é
essa?
Como insistisse, informaram-lhe que, realmente,
havia quem talvez soubesse — um especialista no
assunto, lotado num departamento ao qual estava
afeto o setor de fruticultura. Discou para lá — mas só
conseguiu colher vagos palpites:
— Um caroço de manga? Bem, deve levar
um ou dois meses, o senhor não acha?
— Não acho nada: preciso saber com
exatidão.
— Por quê?
— Bem, porque...
Outros telefonemas, que somente
despertavam reminiscências infantis:
— Na minha casa tinha uma mangueira. A
manga-espada, por exemplo, se bem me
lembro...
— Boa é a manga carlota, aquela pequenina,
sem fibra nenhuma... Lá no Norte chamam de
itamaracá.
— O caroço? Bem, o caroço, para lhe dizer
com franqueza...
Resolveu telefonar para o Gabinete do
Ministro:
— Queria uma informaçãozinha de Vossa
Excelência.
O ministro não sabia. Que futuro tem um país
de economia essencialmente agrícola se
ninguém, nem o próprio Ministro da Agricultura,
sabe informar quanto tempo leva para germinar
um caroço de manga?
Volto à minha salamandra. Vejo-a esquiva e
silenciosa a deslizar por entre as pedras, quantas
pernas? Que futuro tenho eu como escritor, se
não sei dizer com quantas pernas se faz uma
salamandra? O mundo anda cheio de pernas, e
o coração do poeta já perguntou para que tanta
perna, meu Deus. As da salamandra — quatro,
ou seis — nada acrescentam ao meu mundo
interior, senão a ligeira desconfiança de que
acabo tendo quatro. No entanto, as de uma
jovem galgando comigo as pedras do Arpoador,
por exemplo, apenas duas, podem sustentar o
universo — vertiginoso universo onde as
sensações germinam bem mais depressa que
um caroço de manga. Onde se acendem estrelas
inexistentes e os astros desandam nas suas
órbitas. Onde se abrem abismos de uma
profundeza que nem a imaginação do romancista
ousa devassar. Onde vicejam plantas bem mais
exóticas que uma mangueira de quintal, em cujas
sombras se arrastam seres vorazes e bem mais
misteriosos que a salamandra, salamandras...
(SABINO, Fernando. As melhores crônicas. 14ª ed.
Rio de Janeiro: Record, 2010.)
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A minha salamandra
Certa vez, escrevendo uma novela, precisei
saber se uma salamandra tinha quatro ou seis
pernas. Já não me lembro em que episódio
novelesco pretendia envolver as pernas da minha
salamandra, mas a verdade é que precisava
saber — e não fiquei sabendo.
Que sei eu a respeito de minhas próprias
pernas? Pensava então, deixando que elas me
levassem para outros caminhos, fora da ficção.
Um ficcionista às vezes precisa saber coisas
muito esquisitas. A experiência própria nem
sempre ajuda. Passei, por exemplo, a minha
infância nos galhos de uma mangueira,
chupando manga o dia todo, e não soube
responder a um meu amigo, excelente
romancista, quanto tempo levava para germinar
um caroço de manga.
Contou-me ele, na época, que andou
precisando saber este pormenor, em razão de
uma história que estava escrevendo. Depois de
perguntar a um e outro, e não obtendo senão
respostas vagas, telefonou para a repartição do
Ministério da Agricultura que lhe pareceu mais
apta a fornecer-lhe a informação. O funcionário
que o atendeu ficou simplesmente perplexo:
— Caroço de manga? Que brincadeira é
essa?
Como insistisse, informaram-lhe que, realmente,
havia quem talvez soubesse — um especialista no
assunto, lotado num departamento ao qual estava
afeto o setor de fruticultura. Discou para lá — mas só
conseguiu colher vagos palpites:
— Um caroço de manga? Bem, deve levar
um ou dois meses, o senhor não acha?
— Não acho nada: preciso saber com
exatidão.
— Por quê?
— Bem, porque...
Outros telefonemas, que somente
despertavam reminiscências infantis:
— Na minha casa tinha uma mangueira. A
manga-espada, por exemplo, se bem me
lembro...
— Boa é a manga carlota, aquela pequenina,
sem fibra nenhuma... Lá no Norte chamam de
itamaracá.
— O caroço? Bem, o caroço, para lhe dizer
com franqueza...
Resolveu telefonar para o Gabinete do
Ministro:
— Queria uma informaçãozinha de Vossa
Excelência.
O ministro não sabia. Que futuro tem um país
de economia essencialmente agrícola se
ninguém, nem o próprio Ministro da Agricultura,
sabe informar quanto tempo leva para germinar
um caroço de manga?
Volto à minha salamandra. Vejo-a esquiva e
silenciosa a deslizar por entre as pedras, quantas
pernas? Que futuro tenho eu como escritor, se
não sei dizer com quantas pernas se faz uma
salamandra? O mundo anda cheio de pernas, e
o coração do poeta já perguntou para que tanta
perna, meu Deus. As da salamandra — quatro,
ou seis — nada acrescentam ao meu mundo
interior, senão a ligeira desconfiança de que
acabo tendo quatro. No entanto, as de uma
jovem galgando comigo as pedras do Arpoador,
por exemplo, apenas duas, podem sustentar o
universo — vertiginoso universo onde as
sensações germinam bem mais depressa que
um caroço de manga. Onde se acendem estrelas
inexistentes e os astros desandam nas suas
órbitas. Onde se abrem abismos de uma
profundeza que nem a imaginação do romancista
ousa devassar. Onde vicejam plantas bem mais
exóticas que uma mangueira de quintal, em cujas
sombras se arrastam seres vorazes e bem mais
misteriosos que a salamandra, salamandras...
(SABINO, Fernando. As melhores crônicas. 14ª ed.
Rio de Janeiro: Record, 2010.)
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Certa vez, escrevendo uma novela, precisei
saber se uma salamandra tinha quatro ou seis
pernas. Já não me lembro em que episódio
novelesco pretendia envolver as pernas da minha
salamandra, mas a verdade é que precisava
saber — e não fiquei sabendo.
Que sei eu a respeito de minhas próprias
pernas? Pensava então, deixando que elas me
levassem para outros caminhos, fora da ficção.
Um ficcionista às vezes precisa saber coisas
muito esquisitas. A experiência própria nem
sempre ajuda. Passei, por exemplo, a minha
infância nos galhos de uma mangueira,
chupando manga o dia todo, e não soube
responder a um meu amigo, excelente
romancista, quanto tempo levava para germinar
um caroço de manga.
Contou-me ele, na época, que andou
precisando saber este pormenor, em razão de
uma história que estava escrevendo. Depois de
perguntar a um e outro, e não obtendo senão
respostas vagas, telefonou para a repartição do
Ministério da Agricultura que lhe pareceu mais
apta a fornecer-lhe a informação. O funcionário
que o atendeu ficou simplesmente perplexo:
— Caroço de manga? Que brincadeira é
essa?
Como insistisse, informaram-lhe que, realmente,
havia quem talvez soubesse — um especialista no
assunto, lotado num departamento ao qual estava
afeto o setor de fruticultura. Discou para lá — mas só
conseguiu colher vagos palpites:
— Um caroço de manga? Bem, deve levar
um ou dois meses, o senhor não acha?
— Não acho nada: preciso saber com
exatidão.
— Por quê?
— Bem, porque...
Outros telefonemas, que somente
despertavam reminiscências infantis:
— Na minha casa tinha uma mangueira. A
manga-espada, por exemplo, se bem me
lembro...
— Boa é a manga carlota, aquela pequenina,
sem fibra nenhuma... Lá no Norte chamam de
itamaracá.
— O caroço? Bem, o caroço, para lhe dizer
com franqueza...
Resolveu telefonar para o Gabinete do
Ministro:
— Queria uma informaçãozinha de Vossa
Excelência.
O ministro não sabia. Que futuro tem um país
de economia essencialmente agrícola se
ninguém, nem o próprio Ministro da Agricultura,
sabe informar quanto tempo leva para germinar
um caroço de manga?
Volto à minha salamandra. Vejo-a esquiva e
silenciosa a deslizar por entre as pedras, quantas
pernas? Que futuro tenho eu como escritor, se
não sei dizer com quantas pernas se faz uma
salamandra? O mundo anda cheio de pernas, e
o coração do poeta já perguntou para que tanta
perna, meu Deus. As da salamandra — quatro,
ou seis — nada acrescentam ao meu mundo
interior, senão a ligeira desconfiança de que
acabo tendo quatro. No entanto, as de uma
jovem galgando comigo as pedras do Arpoador,
por exemplo, apenas duas, podem sustentar o
universo — vertiginoso universo onde as
sensações germinam bem mais depressa que
um caroço de manga. Onde se acendem estrelas
inexistentes e os astros desandam nas suas
órbitas. Onde se abrem abismos de uma
profundeza que nem a imaginação do romancista
ousa devassar. Onde vicejam plantas bem mais
exóticas que uma mangueira de quintal, em cujas
sombras se arrastam seres vorazes e bem mais
misteriosos que a salamandra, salamandras...
(SABINO, Fernando. As melhores crônicas. 14ª ed.
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Certa vez, escrevendo uma novela, precisei
saber se uma salamandra tinha quatro ou seis
pernas. Já não me lembro em que episódio
novelesco pretendia envolver as pernas da minha
salamandra, mas a verdade é que precisava
saber — e não fiquei sabendo.
Que sei eu a respeito de minhas próprias
pernas? Pensava então, deixando que elas me
levassem para outros caminhos, fora da ficção.
Um ficcionista às vezes precisa saber coisas
muito esquisitas. A experiência própria nem
sempre ajuda. Passei, por exemplo, a minha
infância nos galhos de uma mangueira,
chupando manga o dia todo, e não soube
responder a um meu amigo, excelente
romancista, quanto tempo levava para germinar
um caroço de manga.
Contou-me ele, na época, que andou
precisando saber este pormenor, em razão de
uma história que estava escrevendo. Depois de
perguntar a um e outro, e não obtendo senão
respostas vagas, telefonou para a repartição do
Ministério da Agricultura que lhe pareceu mais
apta a fornecer-lhe a informação. O funcionário
que o atendeu ficou simplesmente perplexo:
— Caroço de manga? Que brincadeira é
essa?
Como insistisse, informaram-lhe que, realmente,
havia quem talvez soubesse — um especialista no
assunto, lotado num departamento ao qual estava
afeto o setor de fruticultura. Discou para lá — mas só
conseguiu colher vagos palpites:
— Um caroço de manga? Bem, deve levar
um ou dois meses, o senhor não acha?
— Não acho nada: preciso saber com
exatidão.
— Por quê?
— Bem, porque...
Outros telefonemas, que somente
despertavam reminiscências infantis:
— Na minha casa tinha uma mangueira. A
manga-espada, por exemplo, se bem me
lembro...
— Boa é a manga carlota, aquela pequenina,
sem fibra nenhuma... Lá no Norte chamam de
itamaracá.
— O caroço? Bem, o caroço, para lhe dizer
com franqueza...
Resolveu telefonar para o Gabinete do
Ministro:
— Queria uma informaçãozinha de Vossa
Excelência.
O ministro não sabia. Que futuro tem um país
de economia essencialmente agrícola se
ninguém, nem o próprio Ministro da Agricultura,
sabe informar quanto tempo leva para germinar
um caroço de manga?
Volto à minha salamandra. Vejo-a esquiva e
silenciosa a deslizar por entre as pedras, quantas
pernas? Que futuro tenho eu como escritor, se
não sei dizer com quantas pernas se faz uma
salamandra? O mundo anda cheio de pernas, e
o coração do poeta já perguntou para que tanta
perna, meu Deus. As da salamandra — quatro,
ou seis — nada acrescentam ao meu mundo
interior, senão a ligeira desconfiança de que
acabo tendo quatro. No entanto, as de uma
jovem galgando comigo as pedras do Arpoador,
por exemplo, apenas duas, podem sustentar o
universo — vertiginoso universo onde as
sensações germinam bem mais depressa que
um caroço de manga. Onde se acendem estrelas
inexistentes e os astros desandam nas suas
órbitas. Onde se abrem abismos de uma
profundeza que nem a imaginação do romancista
ousa devassar. Onde vicejam plantas bem mais
exóticas que uma mangueira de quintal, em cujas
sombras se arrastam seres vorazes e bem mais
misteriosos que a salamandra, salamandras...
(SABINO, Fernando. As melhores crônicas. 14ª ed.
Rio de Janeiro: Record, 2010.)
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A minha salamandra
Certa vez, escrevendo uma novela, precisei
saber se uma salamandra tinha quatro ou seis
pernas. Já não me lembro em que episódio
novelesco pretendia envolver as pernas da minha
salamandra, mas a verdade é que precisava
saber — e não fiquei sabendo.
Que sei eu a respeito de minhas próprias
pernas? Pensava então, deixando que elas me
levassem para outros caminhos, fora da ficção.
Um ficcionista às vezes precisa saber coisas
muito esquisitas. A experiência própria nem
sempre ajuda. Passei, por exemplo, a minha
infância nos galhos de uma mangueira,
chupando manga o dia todo, e não soube
responder a um meu amigo, excelente
romancista, quanto tempo levava para germinar
um caroço de manga.
Contou-me ele, na época, que andou
precisando saber este pormenor, em razão de
uma história que estava escrevendo. Depois de
perguntar a um e outro, e não obtendo senão
respostas vagas, telefonou para a repartição do
Ministério da Agricultura que lhe pareceu mais
apta a fornecer-lhe a informação. O funcionário
que o atendeu ficou simplesmente perplexo:
— Caroço de manga? Que brincadeira é
essa?
Como insistisse, informaram-lhe que, realmente,
havia quem talvez soubesse — um especialista no
assunto, lotado num departamento ao qual estava
afeto o setor de fruticultura. Discou para lá — mas só
conseguiu colher vagos palpites:
— Um caroço de manga? Bem, deve levar
um ou dois meses, o senhor não acha?
— Não acho nada: preciso saber com
exatidão.
— Por quê?
— Bem, porque...
Outros telefonemas, que somente
despertavam reminiscências infantis:
— Na minha casa tinha uma mangueira. A
manga-espada, por exemplo, se bem me
lembro...
— Boa é a manga carlota, aquela pequenina,
sem fibra nenhuma... Lá no Norte chamam de
itamaracá.
— O caroço? Bem, o caroço, para lhe dizer
com franqueza...
Resolveu telefonar para o Gabinete do
Ministro:
— Queria uma informaçãozinha de Vossa
Excelência.
O ministro não sabia. Que futuro tem um país
de economia essencialmente agrícola se
ninguém, nem o próprio Ministro da Agricultura,
sabe informar quanto tempo leva para germinar
um caroço de manga?
Volto à minha salamandra. Vejo-a esquiva e
silenciosa a deslizar por entre as pedras, quantas
pernas? Que futuro tenho eu como escritor, se
não sei dizer com quantas pernas se faz uma
salamandra? O mundo anda cheio de pernas, e
o coração do poeta já perguntou para que tanta
perna, meu Deus. As da salamandra — quatro,
ou seis — nada acrescentam ao meu mundo
interior, senão a ligeira desconfiança de que
acabo tendo quatro. No entanto, as de uma
jovem galgando comigo as pedras do Arpoador,
por exemplo, apenas duas, podem sustentar o
universo — vertiginoso universo onde as
sensações germinam bem mais depressa que
um caroço de manga. Onde se acendem estrelas
inexistentes e os astros desandam nas suas
órbitas. Onde se abrem abismos de uma
profundeza que nem a imaginação do romancista
ousa devassar. Onde vicejam plantas bem mais
exóticas que uma mangueira de quintal, em cujas
sombras se arrastam seres vorazes e bem mais
misteriosos que a salamandra, salamandras...
(SABINO, Fernando. As melhores crônicas. 14ª ed.
Rio de Janeiro: Record, 2010.)
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A minha salamandra
Certa vez, escrevendo uma novela, precisei
saber se uma salamandra tinha quatro ou seis
pernas. Já não me lembro em que episódio
novelesco pretendia envolver as pernas da minha
salamandra, mas a verdade é que precisava
saber — e não fiquei sabendo.
Que sei eu a respeito de minhas próprias
pernas? Pensava então, deixando que elas me
levassem para outros caminhos, fora da ficção.
Um ficcionista às vezes precisa saber coisas
muito esquisitas. A experiência própria nem
sempre ajuda. Passei, por exemplo, a minha
infância nos galhos de uma mangueira,
chupando manga o dia todo, e não soube
responder a um meu amigo, excelente
romancista, quanto tempo levava para germinar
um caroço de manga.
Contou-me ele, na época, que andou
precisando saber este pormenor, em razão de
uma história que estava escrevendo. Depois de
perguntar a um e outro, e não obtendo senão
respostas vagas, telefonou para a repartição do
Ministério da Agricultura que lhe pareceu mais
apta a fornecer-lhe a informação. O funcionário
que o atendeu ficou simplesmente perplexo:
— Caroço de manga? Que brincadeira é
essa?
Como insistisse, informaram-lhe que, realmente,
havia quem talvez soubesse — um especialista no
assunto, lotado num departamento ao qual estava
afeto o setor de fruticultura. Discou para lá — mas só
conseguiu colher vagos palpites:
— Um caroço de manga? Bem, deve levar
um ou dois meses, o senhor não acha?
— Não acho nada: preciso saber com
exatidão.
— Por quê?
— Bem, porque...
Outros telefonemas, que somente
despertavam reminiscências infantis:
— Na minha casa tinha uma mangueira. A
manga-espada, por exemplo, se bem me
lembro...
— Boa é a manga carlota, aquela pequenina,
sem fibra nenhuma... Lá no Norte chamam de
itamaracá.
— O caroço? Bem, o caroço, para lhe dizer
com franqueza...
Resolveu telefonar para o Gabinete do
Ministro:
— Queria uma informaçãozinha de Vossa
Excelência.
O ministro não sabia. Que futuro tem um país
de economia essencialmente agrícola se
ninguém, nem o próprio Ministro da Agricultura,
sabe informar quanto tempo leva para germinar
um caroço de manga?
Volto à minha salamandra. Vejo-a esquiva e
silenciosa a deslizar por entre as pedras, quantas
pernas? Que futuro tenho eu como escritor, se
não sei dizer com quantas pernas se faz uma
salamandra? O mundo anda cheio de pernas, e
o coração do poeta já perguntou para que tanta
perna, meu Deus. As da salamandra — quatro,
ou seis — nada acrescentam ao meu mundo
interior, senão a ligeira desconfiança de que
acabo tendo quatro. No entanto, as de uma
jovem galgando comigo as pedras do Arpoador,
por exemplo, apenas duas, podem sustentar o
universo — vertiginoso universo onde as
sensações germinam bem mais depressa que
um caroço de manga. Onde se acendem estrelas
inexistentes e os astros desandam nas suas
órbitas. Onde se abrem abismos de uma
profundeza que nem a imaginação do romancista
ousa devassar. Onde vicejam plantas bem mais
exóticas que uma mangueira de quintal, em cujas
sombras se arrastam seres vorazes e bem mais
misteriosos que a salamandra, salamandras...
(SABINO, Fernando. As melhores crônicas. 14ª ed.
Rio de Janeiro: Record, 2010.)
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Questão presente nas seguintes provas
A minha salamandra
Certa vez, escrevendo uma novela, precisei
saber se uma salamandra tinha quatro ou seis
pernas. Já não me lembro em que episódio
novelesco pretendia envolver as pernas da minha
salamandra, mas a verdade é que precisava
saber — e não fiquei sabendo.
Que sei eu a respeito de minhas próprias
pernas? Pensava então, deixando que elas me
levassem para outros caminhos, fora da ficção.
Um ficcionista às vezes precisa saber coisas
muito esquisitas. A experiência própria nem
sempre ajuda. Passei, por exemplo, a minha
infância nos galhos de uma mangueira,
chupando manga o dia todo, e não soube
responder a um meu amigo, excelente
romancista, quanto tempo levava para germinar
um caroço de manga.
Contou-me ele, na época, que andou
precisando saber este pormenor, em razão de
uma história que estava escrevendo. Depois de
perguntar a um e outro, e não obtendo senão
respostas vagas, telefonou para a repartição do
Ministério da Agricultura que lhe pareceu mais
apta a fornecer-lhe a informação. O funcionário
que o atendeu ficou simplesmente perplexo:
— Caroço de manga? Que brincadeira é
essa?
Como insistisse, informaram-lhe que, realmente,
havia quem talvez soubesse — um especialista no
assunto, lotado num departamento ao qual estava
afeto o setor de fruticultura. Discou para lá — mas só
conseguiu colher vagos palpites:
— Um caroço de manga? Bem, deve levar
um ou dois meses, o senhor não acha?
— Não acho nada: preciso saber com
exatidão.
— Por quê?
— Bem, porque...
Outros telefonemas, que somente
despertavam reminiscências infantis:
— Na minha casa tinha uma mangueira. A
manga-espada, por exemplo, se bem me
lembro...
— Boa é a manga carlota, aquela pequenina,
sem fibra nenhuma... Lá no Norte chamam de
itamaracá.
— O caroço? Bem, o caroço, para lhe dizer
com franqueza...
Resolveu telefonar para o Gabinete do
Ministro:
— Queria uma informaçãozinha de Vossa
Excelência.
O ministro não sabia. Que futuro tem um país
de economia essencialmente agrícola se
ninguém, nem o próprio Ministro da Agricultura,
sabe informar quanto tempo leva para germinar
um caroço de manga?
Volto à minha salamandra. Vejo-a esquiva e
silenciosa a deslizar por entre as pedras, quantas
pernas? Que futuro tenho eu como escritor, se
não sei dizer com quantas pernas se faz uma
salamandra? O mundo anda cheio de pernas, e
o coração do poeta já perguntou para que tanta
perna, meu Deus. As da salamandra — quatro,
ou seis — nada acrescentam ao meu mundo
interior, senão a ligeira desconfiança de que
acabo tendo quatro. No entanto, as de uma
jovem galgando comigo as pedras do Arpoador,
por exemplo, apenas duas, podem sustentar o
universo — vertiginoso universo onde as
sensações germinam bem mais depressa que
um caroço de manga. Onde se acendem estrelas
inexistentes e os astros desandam nas suas
órbitas. Onde se abrem abismos de uma
profundeza que nem a imaginação do romancista
ousa devassar. Onde vicejam plantas bem mais
exóticas que uma mangueira de quintal, em cujas
sombras se arrastam seres vorazes e bem mais
misteriosos que a salamandra, salamandras...
(SABINO, Fernando. As melhores crônicas. 14ª ed.
Rio de Janeiro: Record, 2010.)
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Questão presente nas seguintes provas
A minha salamandra
Certa vez, escrevendo uma novela, precisei
saber se uma salamandra tinha quatro ou seis
pernas. Já não me lembro em que episódio
novelesco pretendia envolver as pernas da minha
salamandra, mas a verdade é que precisava
saber — e não fiquei sabendo.
Que sei eu a respeito de minhas próprias
pernas? Pensava então, deixando que elas me
levassem para outros caminhos, fora da ficção.
Um ficcionista às vezes precisa saber coisas
muito esquisitas. A experiência própria nem
sempre ajuda. Passei, por exemplo, a minha
infância nos galhos de uma mangueira,
chupando manga o dia todo, e não soube
responder a um meu amigo, excelente
romancista, quanto tempo levava para germinar
um caroço de manga.
Contou-me ele, na época, que andou
precisando saber este pormenor, em razão de
uma história que estava escrevendo. Depois de
perguntar a um e outro, e não obtendo senão
respostas vagas, telefonou para a repartição do
Ministério da Agricultura que lhe pareceu mais
apta a fornecer-lhe a informação. O funcionário
que o atendeu ficou simplesmente perplexo:
— Caroço de manga? Que brincadeira é
essa?
Como insistisse, informaram-lhe que, realmente,
havia quem talvez soubesse — um especialista no
assunto, lotado num departamento ao qual estava
afeto o setor de fruticultura. Discou para lá — mas só
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— Um caroço de manga? Bem, deve levar
um ou dois meses, o senhor não acha?
— Não acho nada: preciso saber com
exatidão.
— Por quê?
— Bem, porque...
Outros telefonemas, que somente
despertavam reminiscências infantis:
— Na minha casa tinha uma mangueira. A
manga-espada, por exemplo, se bem me
lembro...
— Boa é a manga carlota, aquela pequenina,
sem fibra nenhuma... Lá no Norte chamam de
itamaracá.
— O caroço? Bem, o caroço, para lhe dizer
com franqueza...
Resolveu telefonar para o Gabinete do
Ministro:
— Queria uma informaçãozinha de Vossa
Excelência.
O ministro não sabia. Que futuro tem um país
de economia essencialmente agrícola se
ninguém, nem o próprio Ministro da Agricultura,
sabe informar quanto tempo leva para germinar
um caroço de manga?
Volto à minha salamandra. Vejo-a esquiva e
silenciosa a deslizar por entre as pedras, quantas
pernas? Que futuro tenho eu como escritor, se
não sei dizer com quantas pernas se faz uma
salamandra? O mundo anda cheio de pernas, e
o coração do poeta já perguntou para que tanta
perna, meu Deus. As da salamandra — quatro,
ou seis — nada acrescentam ao meu mundo
interior, senão a ligeira desconfiança de que
acabo tendo quatro. No entanto, as de uma
jovem galgando comigo as pedras do Arpoador,
por exemplo, apenas duas, podem sustentar o
universo — vertiginoso universo onde as
sensações germinam bem mais depressa que
um caroço de manga. Onde se acendem estrelas
inexistentes e os astros desandam nas suas
órbitas. Onde se abrem abismos de uma
profundeza que nem a imaginação do romancista
ousa devassar. Onde vicejam plantas bem mais
exóticas que uma mangueira de quintal, em cujas
sombras se arrastam seres vorazes e bem mais
misteriosos que a salamandra, salamandras...
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