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Foram encontradas 51 questões.

Leia atentamente o texto a seguir e responda às questões de 1 a 13.

Por uma ciência mais pop e diversa

O nome já diz tudo. O Pop Ciência, Programa Nacional de

Popularização da Ciência do Ministério de Ciência, Tecnologia

e Inovação (MCTI), foi lançado em outubro passado (2023)

com a meta de superar dois desafios recorrentes na ciência

5 brasileira: criar iniciativas para aproximá-la do público em

geral e facilitar o acesso de jovens de grupos sociais

vulneráveis a carreiras científicas e tecnológicas. À frente do

projeto, Juana Nunes reconhece os obstáculos. “Precisamos

de ampla divulgação científica para romper com os

10 estereótipos da branquitude, óculos e jaleco”, diz a diretora

de Popularização da Ciência, Tecnologia e Educação Científica

da Secretaria de Ciência e Tecnologia para o Desenvolvimento

Social (Sedes/MCTI).

Entre os esforços para evoluir nessas questões estão

15 parcerias com redes estaduais para ações locais e mais

colaboração com os ministérios da Educação e da Cultura.

Este último faz parte da trajetória de Juana, que, formada em

História da Arte e professora da rede dos institutos federais,

foi gestora de políticas culturais. “Minha passagem pelo

20 Ministério da Cultura foi marcada pela coordenação de

políticas de cidadania, diversidade cultural e comunicação.

Essa experiência proporcionou uma compreensão profunda

da importância de integrar diferentes perspectivas e saberes

na construção de políticas públicas”, afirma. O objetivo agora,

25 diz, é transformar a popularização da ciência em uma política

pública de Estado.

CIÊNCIA HOJE: O Programa Nacional de Popularização da

Ciência (Pop Ciência) foi lançado em outubro passado pelo

MCTI. Que balanço faz dos meses iniciais? E o que podemos

30 esperar no futuro?

JUANA NUNES: O decreto Pop Ciência é resultado de um

diálogo com a comunidade científica e a sociedade civil. Ele

nasce do desejo de fortalecer as ações de popularização da

ciência que já existiam, como olimpíadas, feiras de ciência e

35 mostras científicas, dentre outras, promovendo a

institucionalidade necessária para a popularização se tornar

uma política pública de Estado. Isso se expressou na

assinatura do decreto pelo presidente Lula e pela definição

do maior orçamento direto da história por parte da ministra

40 Luciana Santos (da pasta de Ciência, Tecnologia e Inovação).

O Pop Ciência permite potencializar o alcance do que já

existia ao mesmo tempo em que propõe uma atuação mais

sistemática por parte do MCTI, com a criação dos Pontos de

Ciência, que vão reconhecer e apoiar quem já atua nessa área

45 e novos atores divulgadores da ciência; a Virada da Ciência, e

o fomento a espaços científicos culturais permanentes.

Os primeiros meses do Pop Ciência foram de muito

engajamento e interesse da sociedade e observamos uma

receptividade positiva a iniciativas que visam a aproximar a

50 ciência do público em geral. Em dezembro, realizamos em

Brasília o Encontro Nacional de Popularização da Ciência,

onde reunimos mais de 450 divulgadores de ciência de todo

o Brasil, discutindo desafios e estratégias para a

implementação do Pop Ciência. A criação de redes estaduais

55 já está em andamento com adesão e já é uma realidade no

Ceará e no Paraná. As redes estaduais visam a fortalecer o

conjunto de instituições públicas e privadas que realizam

ações de popularização da ciência. Serão estimuladas ações

para a criação de clubes de ciência, participação de

60 estudantes em feiras de ciências e olimpíadas científicas,

dentre outras iniciativas.

Nossa meta é consolidar esta rede com todas as 27

unidades da federação. Para o futuro, planejamos

implementar as novas ações do Pop Ciência, ampliando o

65 público-alvo da política, para além do universo escolar.

Queremos chegar a toda a sociedade com recorte claro de

inclusão e diversidade dialogando mais com o campo da

cultura e da comunicação.

CH: Apesar dos muitos esforços e transformações dos

70 últimos anos, a comunidade acadêmica ainda é

predominantemente branca, principalmente nos postos de

liderança. Como o Pop Ciência contribui para mudar essa

realidade?

JN: Temos uma ação voltada para fomentar maior

75 participação de grupos sociais vulneráveis e historicamente

excluídos para garantir mais diversidade na ciência. Teremos

chamadas específicas com esse objetivo, com cotas para

negros, indígenas e mulheres. A chamada da Semana

Nacional de Ciência e Tecnologia de 2023, por exemplo, teve

80 50% das vagas para coordenadoras mulheres. Nesse sentido,

procuramos estimular projetos em diálogo com os povos e

comunidades tradicionais, moradores de áreas rurais e

periferias urbanas, população negra, quilombolas, povos

indígenas, pessoas com deficiência.

85 CH: Dos grupos menos representados na comunidade

acadêmica, há algum que veja como ponto mais crítico e que

encara maiores obstáculos para seguir a carreira científica?

JN: Certamente, grupos menos representados enfrentam

desafios significativos. Temos como grande desafio atender a

90 um percentual significativo de jovens em situação de

desalento, objetivando o reingresso, a permanência nos

estudos e a qualificação profissional. Segundo estudo da FGV

(Fundação Getulio Vargas) e dados do IBGE (Instituto

Brasileiro de Geografia e Estatística), temos atualmente no

95 Brasil um universo de 7,1 milhões de jovens em desalento,

dos quais 73% são pretos/pardos, e em sua maioria,

mulheres. Isso demonstra o tamanho dos desafios que temos

para promover ações indutoras que permitam a esses jovens

o acesso às carreiras científicas e tecnológicas.

100 Quero destacar o desafio de mais meninas e mulheres na

ciência. Lançamos agora em março uma chamada via CNPq

(Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e

Tecnológico) de R$ 100 milhões para fomentar projetos de

educação científica para meninas dos anos finais do ensino

105 fundamental e ensino médio em diálogo com pesquisadoras

para estimular o ingresso, a formação, a permanência e a

ascensão de meninas e mulheres nas carreiras científicas.

CH: A necessidade de mais diversidade nesses espaços

acaba se refletindo na percepção que a população tem dos

110 cientistas. O que está sendo e pode ser feito para que no

imaginário da população o cientista não seja apenas um

homem branco, de óculos, vestindo jaleco em um

laboratório?

JN: Precisamos de ampla divulgação científica para

115 romper com os estereótipos da branquitude, óculos e jaleco.

A representação diversificada na ciência é fundamental para

mudar a percepção pública. O Pop Ciência realizará esforços

contínuos para representar a pluralidade de cientistas na

mídia, contribuindo para uma imagem mais realista e

120 inclusiva da comunidade científica. Temos um compromisso

de estimular a comunicação pública da ciência. Isso foi

destacado no decreto, quando definimos que serão

realizadas ações que promovam a comunicação pública da

ciência, em linguagem simples, que valorizem o engajamento

125 do público na ciência e visem a alcançar diversas camadas da

população. Precisamos dar visibilidade à ciência brasileira.

Temos excelentes cientistas que contribuíram no passado,

como Oswaldo Cruz, Carlos Chagas, Johanna Döbereiner,

Cesar Lattes, e também cientistas contemporâneos, como

130 Thaisa Bergmann, Mayana Zatz, Miguel Nicolelis, Suzana

Herculano-Houzel, Niède Guidon, Jaqueline Goes de Jesus

(cientista que mapeou o genoma do coronavírus), e tantos

outros que o Brasil precisa conhecer.

CH: Segundo a ministra Luciana Santos, em entrevista à

135 CH, a cada quatro anos o MCTI encomenda uma pesquisa

sobre a Percepção Pública da Ciência. A última foi em 2019.

Será realizada nova pesquisa neste ano? Na de 2018, apesar

de o nível de confiança na ciência ser bastante alto (73%),

ficou evidente que a maioria dos brasileiros desconhece os

140 pesquisadores, os laboratórios e as nossas unidades de

pesquisas. Espera que esses ponteiros tenham se movido?

JN: A Pesquisa de Percepção Pública da Ciência está

ocorrendo neste ano em todo o Brasil, em parceria com o

Centro de Gestão e Estudos Estratégicos. Acreditamos que

145 ainda é muito cedo para observarmos uma mudança no

comportamento do cidadão brasileiro acerca da percepção

da ciência. Precisamos de uma política de popularização da

ciência mais robusta. É o que estamos buscando com o Pop

Ciência. Esse é um trabalho que deve começar na base, com

150 ação massiva nas escolas. E para isso a parceria com o MEC é

estratégica. As políticas públicas de ciência e tecnologia e a

de educação devem andar juntas, para o desenvolvimento

científico tecnológico do país.

CH: O trabalho de muitos divulgadores de ciência nas

155 redes sociais mostra que a ciência pode, sim, ser pop. Como

vê esse tipo de iniciativa? Contribui para a educação científica

e o interesse por ciência pelos mais jovens? Há riscos de fazer

uma comunicação superficial demais?

JN: A popularização da ciência nas redes sociais é uma

160 ferramenta valiosa. Iniciativas online podem despertar o

interesse dos jovens e proporcionar acesso fácil à informação

científica de qualidade. Devemos, porém, enfatizar que o

“despertar o interesse pela ciência” é um primeiro passo para

uma alfabetização científica. Em muitos casos, esse despertar

165 do interesse passa por uma informação simples, direta,

encantadora, que em primeiro plano pode ser interpretada

como uma comunicação superficial, porém é um processo

educativo que envolve diversas etapas, no qual nas fases

iniciais se constrói um conhecimento que vai sendo

170 aprimorado com o decorrer do tempo. Em janeiro, criamos o

grupo de Embaixadores Mirins do Pop Ciência, que são

crianças e jovens cientistas com idades entre seis e 15 anos

que realizam e divulgam experimentos, conteúdos e ações de

popularização da ciência nas suas redes. O objetivo é

175 fomentar a educação científica junto à infância e juventude.

CH: Além de termos grupos menos representados na

ciência, há também grande diferença entre as regiões do país.

O Pop Ciência tem o foco de desenvolver mais as áreas que

costumam ser menos favorecidas pelos investimentos?

180 JN: Sim, o Pop Ciência considera as desigualdades

regionais. Em nossas ações, a prioridade de atendimento

ocorrerá nas regiões Norte, Nordeste e Centro-Oeste, onde

há um menor número de equipamentos científicos em

detrimento das regiões Sul e Sudeste, onde há maior

185 concentração. Pretende-se atender de forma igualitária todas

as cinco regiões do Brasil, respeitando-se, portanto, as

desigualdades regionais.

CH: Um dos grandes desafios da contemporaneidade é a

proliferação da desinformação através das redes sociais.

190 Como efetivamente a popularização da ciência pode

combater a desinformação? De que forma isso está presente

no Pop Ciência?

JN: A popularização da ciência é um instrumento

poderoso contra a desinformação. Fornecer informações

195 cientificamente embasadas e promover a literacia científica

são estratégias-chave do Pop Ciência para combater a

propagação de informações falsas. No decreto, por exemplo,

instituímos o “Hackathon contra Desinformação”, ação do

Programa Pop Ciência a ser realizada anualmente. Esta ação

200 será conjunta entre o MCTI e a Secretaria de Políticas Digitais

da Secretaria de Comunicação Social da Presidência da

República, com a colaboração das entidades científicas, de

educação midiática, democratização das mídias e de

promoção de direitos nas redes.

205 CH: Este ano (2024) teremos a Conferência Nacional de

Ciência, Tecnologia e Inovação. As conferências anteriores da

área, em contraste com conferências de outros campos,

como saúde, educação e cultura, acabam mobilizando apenas

acadêmicos e cientistas, sem engajamento dos movimentos

210 sociais e com pouca participação popular. O campo da

popularização da ciência pode ajudar a dar uma cara

diferente à conferência deste ano?

JN: Com certeza! A popularização da ciência é feita por

estudantes, professores das escolas e divulgadores, que são

215 verdadeiros militantes na construção de ações em diferentes

níveis e com o lançamento do decreto estão em diálogo

permanente com o MCTI. Além disso, estamos articulando e

mobilizando conferências livres para a 5ª Conferência

Nacional e a construção das Conferências Temáticas para o

220 Desenvolvimento Social e de meninas e mulheres na ciência,

promovendo a participação popular e o engajamento social

desse público.

CH: O departamento que a senhora dirige inclui a área da

educação científica. Sabemos pelos exames do Pisa e outras

225 formas de avaliação que a formação em ciências na educação

básica é muito deficiente em comparação com outros países.

Quais são as estratégias do ministério para contribuir com

essa área?

JN: O MCTI está trabalhando em colaboração com o MEC

230 para fortalecer a formação em ciências na educação básica.

Em breve vamos lançar o Programa “Mais Ciência na Escola”,

que tem a finalidade de disseminar a educação científica e o

letramento digital na educação básica, por meio da

implantação de laboratórios makers em escolas públicas,

235 acompanhados de planos de atividades, formação de

professores e bolsas para professores e estudantes nas

escolas que conduzirão as atividades. A ideia é estimular a

parceria entre escolas e iniciativas científicas, tecnológicas e

de inovação. É nosso objetivo também contribuir com o

240 processo de fortalecimento da educação em tempo integral,

para oportunizar o desenvolvimento de competências e

habilidades relacionadas a conhecimentos em ciência e

tecnologia com abordagem STEAM (sigla em inglês para

ciência, tecnologia, engenharia, artes e matemática) com

245 vistas à inclusão produtiva e ao fomento do uso pedagógico

de tecnologias digitais nas escolas. Vamos incentivar

metodologias ativas para o ensino, como aprendizagem por

investigação e experimentação científica voltados à solução

de problemas estimulando o interesse dos estudantes pelas

250 carreiras científicas e tecnológicas. O programa também vai

fomentar a organização de clubes de ciência e a participação

dos estudantes em atividades como feiras de ciências e

olimpíadas científicas. Queremos incentivar as universidades

a adotarem as vagas olímpicas, a exemplo da Unicamp, USP,

255 Unesp, Unifei, Instituto Federal Sul de Minas e UFMS, que são

referências no Brasil na concessão de cotas para alunos

medalhistas de olimpíadas científicas.

CH: Historicamente, a ciência foi muito pouco permeável

a contribuições de fora, e sempre manteve posição

260 hierarquizada em relação aos outros conhecimentos. Mesmo

a divulgação científica, em seu modelo dominante, ou de

déficit como também é chamado, desconsidera os outros

saberes. Como pensar em modelos de popularização da

ciência que de fato mobilizem e incluam a população no

265 processo de produção da ciência?

JN: A ciência tem sido historicamente percebida como

um domínio especializado e muitas vezes distante da

compreensão pública. A abordagem tradicional de divulgação

científica, conhecida como o modelo de déficit,

270 frequentemente falha em reconhecer e valorizar os

conhecimentos e perspectivas que as comunidades fora do

meio acadêmico podem oferecer. Estamos cientes da

importância de mudar essa dinâmica. A popularização da

ciência, como buscada pelo Pop Ciência, não deve ser apenas

275 uma via de mão única, onde os cientistas comunicam

resultados para o público. Em vez disso, é crucial criar um

ambiente que promova a cocriação do conhecimento,

incorporando as experiências e saberes das comunidades

tradicionais. Isso envolve a adoção de práticas de ciência

280 cidadã, na qual membros da comunidade participam

ativamente do processo científico, desde a formulação de

perguntas de pesquisa até a coleta de dados e a interpretação

dos resultados. Iniciativas como essa não apenas

democratizam o acesso à ciência, mas também enriquecem a

285 pesquisa ao integrar diferentes perspectivas e

conhecimentos. Além disso, é fundamental reconhecer e

respeitar os saberes tradicionais e indígenas, integrando

essas formas de conhecimento na produção científica. Isso

contribui para a diversidade epistemológica e fortalece a

290 sustentabilidade e a relevância das pesquisas. O Pop Ciência

está comprometido em avançar nessa direção, construindo

uma cultura científica mais diversa, colaborativa e acessível a

todos.

(Elisa Martins. Valquiria Daher. https://cienciahoje.org.br/artigo/por-uma-ciencia-mais-pop-e-diversa/. Abril 2024)

Em relação às informações inferidas do texto, analise as afirmativas a seguir:

I. Com a realidade e prevalência de branquitude masculina na ciência brasileira hoje, o programa do Governo foi criado a fim de gerar diversidade nos quadros científicos.

II. A ideia de popularizar a ciência, por meio do decreto, visa a estimular que, por meio de visita a museus, as crianças possam entender o que é de fato a produção científica.

III. A perspectiva do decreto reside em buscar diversidade na atividade científica, valorizando outros saberes que não somente os convencionais.

Assinale

 

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