O GARIMPEIRO

Ofélia e Narbal Fontes

À margem dos rios diamantíferos, isto é, daqueles cujas areias existem diamantes, reúnem-se homens audaciosos e aventureiros animados por um grande sonho: o encontro de pedras valiosas.

Quincas Venâncio era um desses garimpeiros. Levava uma vida de pobre, vida difícil e sem conforto, em seu rancho humilde, mas uma esperança enriquecia-lhe o coração: um dia – e quem sabe não estaria perto? – um achado precioso o arrancaria daquela . E então haveria de bendizer os sacrifícios corajosamente feitos! Tinha visto chegar a vez de muitos companheiros. Outros veriam chegar a sua!

A fortuna podia demorar um pouco, mas sempre vinha. A sorte experimentava a paciência dos garimpeiros; as compensações que oferecia, porém, pagavam tudo. O que era era trabalhar continuamente, sem desânimo. E Quincas Venâncio era pertinaz.

Trabalhava no rio Poxoréu e morava com seu filho Quinquim perto da mata virgem, tão perto que, à noite, ouviam miados de onça rondando o curral, que era feito de grossos paus bem unidos e fechado por cima como uma jaula.

Certas noites, o atrevimento da “pintada” passava da conta, e vacas, bezerros, mulas, cabritas e galinhas faziam um alarido medonho. Quincas Venâncio abria a janela e dava tiros de carabina para o ar, afugentando a fera. Tudo silenciava e os animais repousavam tranquilos até o amanhecer.

Na casinha, apesar de coberta de sapé, pai e filho se sentiam seguros. O menino se acostumara às noturnas da “pintada”: ao ouvir o miado, à distância, sentava-se na rede e avisava o pai:

– Pai, aí vem o gatão!

– Durma sossegado, meu filho. Não tenha medo, que aqui ele não entra.

(Cem Noites Tapuias, 4ª edição, págs. 5-7, Editora Ática, São Paulo, 1977)