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2332928 Ano: 2021
Disciplina: Português
Banca: DSEA UERJ
Orgão: UERJ

Um filme

Esta é a maior qualidade do filme “Spotlight: segredos revelados”: ele dura 128 minutos. E nenhum deles parece estar além da conta. É o tempo de que o diretor Tom McCarthy precisava para contar sua históriaa. E ele conta de uma maneira que o espectador nunca sente tédio. Não tem sexo, não tem humor, não tem violência, não tem perseguição de carros, não tem efeitos especiais. É só uma história bem contada. E que história!

“Spotlight: segredos revelados” segue o dia a dia de um grupo de jornalistas da publicação americana The Boston Globe durante a apuração, em 2001, de uma reportagem que entraria para a História. São quatro repórteres que formam a equipe chamada de Spotlight. Eles trabalham em reportagens especiais, sem prazo para ficarem prontas. Aqui no Brasil também há equipes assim. Costumamos chamar de Tropa de Choque. Nos meus 40 anos de jornalismo, vi várias serem formadas. Mas nunca vi uma dar certo. Elas costumam ganhar a antipatia do resto da redaçãoa. Afinal, enquanto a maioria dos repórteres faz uma, duas, até três reportagens por dia, seguindo a pauta, o pessoal da Tropa de Choque fica um mês ou mais sem publicar nada. O desgaste acaba encerrando as atividades das Tropas de Choque.

A tropa americana deu certo. E o assunto era cabeludo. Cabia aos repórteres descobrir se a cúpula da Igreja Católica em Boston tinha conhecimento dos atos de pedofilia que alguns padres da cidade cometiam contra crianças de famílias carentes. A cada informação conseguida, a reportagem fica mais assustadora. Há advogados envolvidos na defesa das vítimas que acabam trabalhando para as acusações serem esquecidas. Há pressão da alta sociedade local para que o escândalo não chegue às páginas do jornal (Boston tem uma das maiores comunidades católicas dos Estados Unidos). O que parecia ser um crime praticado por um ou outro padre se transforma numa denúncia contra quase 90 padresb pedófilos. A Spotlight publicou mais de 600 reportagens sobre o assunto no Boston Globe. O filme acaba quando o jornal chega às bancas com a primeira dessas reportagens. Foi a partir do material do jornal que os padres molestadores se transformaram numa questão da Igrejab Católica em todo o mundo.

Sempre gostei de filmesc sobre jornalistas, mesmo antes de ser um deles. A profissão não é muito bem vista pelo cinema. Dois dos meus filmes preferidos no gênero são dirigidos por Billy Wilder, um cineasta que tinha uma visão cínica do mundo e, consequentemente, do jornalismo também. “A montanha dos sete abutres” traz um Kirk Douglas sem ética, mostrando até onde um profissional pode ir em nome do sensacionalismo. O outro é “A primeira página”, com Jack Lemmon e Walter Matthau. Esse, pelo menos, é uma comédiac, mas, apesar do humor, não deixa de mostrar do que é capaz um repórter para conseguir um furo.

Em “Spotlight: segredos revelados”, os jornalistas estão do lado do bem. Para quem se acostumou a ver a profissão apedrejada, é um alento. “Spotlight” não é só um filme sobre jornalismo. É um filme sobre o bom jornalismo. Não há dúvida de que os quatro repórteresd da Spotlight são os mocinhosd da trama. Uma reportagem bem feita é capaz de mudar a História. E isso é bom, não é? Pode ser que os tempos de jornalismo na internet não deem mais lugar para apurações demoradas e textos longos como os que o Boston Globe produziu. Pior para o leitor.

ARTUR XEXÉO Adaptado de O Globo, 10/01/2016.

Dentre os mecanismos de coesão lexical presentes no texto, o par que representa o emprego de hiperônimo e seu respectivo hipônimo está indicado em:

 

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