Em 1992, Rigoberta Menchú Tum ganhou o prêmio Nobel da Paz, devido a sua luta dentro dos movimentos sociais e indígenas na Guatemala. Em 1983, aos 24 anos, lançou um livro de memórias que, com a ajuda da antropóloga venezuelana Elizabeth Burgos, consolidou-se como uma denúncia sobre a situação de vulnerabilidade vivida pelas comunidades indígenas do país. Rigoberta aprendeu a língua espanhola para comunicar a sua leitura de mundo neste livro em questão. Leia um fragmento dessa obra:

Meu pai lutou vinte e dois anos defendendo e liderando sua heroica luta contra os terratenentes que queriam tomar nossas terras, as nossas e as de nossos vizinhos. Quando nossa pequena terra começou a dar colheita, depois de muitos anos e quando o povoado já tinha grandes cultivos, apareceram os terratenentes. (...) Vivíamos em uma aldeia pequena. Nela cultivávamos milho, feijão, batata, todo tipo de legumes. Então, vieram os García, os terratenentes, e começaram a medir a terra de nossa aldeia. (...) Meu pai protestava pela forma como os terratenentes se apropriavam das terras. (...) Mandaram meu pai assinar um papel e ele não sabia o que o papel dizia. Porque meu pai nunca leu, nunca escreveu. Acontece que o papel dizia que os camponeses confirmavam (...) que tinham que deixar a terra. E como o líder da comunidade assinou aquele papel, então, os terratenentes detinham o poder.

Glossário

Terratenentes: proprietários de terra, pessoas com poder e influência.

(Traduzido e adaptado de Elizabeth Burgos, Me llamo Rigoberta Menchú y así me nació la conciencia. Buenos Aires: Siglo XXI, 2000, p. 129-130.)