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Foram encontradas 50 questões.

1322750 Ano: 2011
Disciplina: Português
Banca: Marinha
Orgão: Marinha

A nomenclatura marítima é um capítulo à parte na atividade marinheira. Chamar antepara de parede, cabo de corda, vigia de janela, camarote de quarto, ferro de âncora ou agulha de bússola, são gafes imperdoáveis e soam muito estranhas aos ouvidos dos marinheiros.

A linguagem marinheira requer dicionário específico. Um leigo, ou até mesmo praticantes recém-saídos da escola, têm dificuldade de entender os termos empregados no dia a dia da vida de bordo. Explicar para um leigo que uma enxárcia é um conjunto de ovéns é não dizer absolutamente nada. É falar grego. E não se trata de afetação ou tentativa de resguardar a profissão para iniciados. Trata-se simplesmente de nomear, com termos próprios, uma atividade diversificada que envolve inúmeras designações sem paralelo em ocupações terráqueas, como dizem os marítimos.[...].

(LIMA, Carlos Nardin. Comte - CLC. Essa nomenclatura marítima...

In: Língua portuguesa: leitura e produção de texto.

Rio de Janeiro: Marinha do Brasil, Escola Naval, 2011. p. 21).

Qual afirmativa sobre variação linguística se aplica ao texto de Carlos Nardin Lima?

 

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1318841 Ano: 2011
Disciplina: Português
Banca: Marinha
Orgão: Marinha

Trouxeste a chave?

Queremos sempre chegar ao coração das coisas. Nunca chegamos e é melhor que seja assim. No coração das coisas estão os loucos, que fitam uma realidade limpa e iluminada, sem nuances e sem consolo. Os loucos não suportam a ideia de que viver é rondar as coisas, é dançar em torno delas. Às vezes lhes roçamos a face, por outras lhes roubamos pequenos nacos. Nunca realmente as possuímos.

Uma excelente metáfora para esta prudente distância é o véu de Ísis, aquele que, dizia a deusa egípcia, nenhum mortal ousou levantar. Nunca encaramos o rosto da realidade, ficamos sempre à distância, na periferia. É estranho o mundo em que vivemos: um mundo sem centro, como um rio que não tivesse águas, mas apenas margens. Em consequência, todo esforço de conhecimento, de leitura do mundo, não passa de uma lenta e interminável ronda em torno de um enigma.

Resta-nos uma "leitura cerrada" da realidade. Uma leitura que se agarra às coisas como um leão que finca suas garras no pescoço da vítima, ou em seu lombo, sem, no entanto, lhe devorar as vísceras, sem chegar a seu coração.[...].

(CASTELO, José. o Globo, Prosa e verso, 12 jun., 2010. p.4.)

Que opção apresenta a tese argumentativa principal do texto?

 

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1317974 Ano: 2011
Disciplina: Português
Banca: Marinha
Orgão: Marinha

TEXTO II

Escrever

Eu disse uma vez que escrever é uma maldição. Não me lembro por que exatamente eu o disse, e com sinceridade. Hoje repito: é uma maldição, mas uma maldição que salva.

Não estou me referindo muito a escrever para jornal. Mas escrever aquilo que eventualmente pode se transformar num conto ou num romance. É uma maldição porque obriga e arrasta como um vício penoso do qual é quase impossível se livrar, pois nada o substitui. E é uma salvação.

Salva a alma presa, salva a pessoa que se sente inútil, salva o dia que se vive e que nunca se entende a menos que se escreva. Escrever é procurar entender, é procurar reproduzir o irreproduzível, é sentir até o último fim o sentimento que permaneceria apenas vago e sufocador. Escrever é também abençoar uma vida que não foi abençoada.

Que pena que só sei escrever quando espontaneamente a "coisa" vem. Fico assim à mercê do tempo. E, entre um verdadeiro escrever e outro, podem-se passar anos.

Lembro-me agora com saudade da dor de escrever livros.

(LISPECTOR, Clarice. In: A descoberta do mundo, Rio de

Janeiro:Rocco, 1999. p. 134.)

Em que opção o comentário sobre o termo sublinhado está correto?

 

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1313235 Ano: 2011
Disciplina: Português
Banca: Marinha
Orgão: Marinha

A arte da improvisação

Quem não admira um ator cujas improvisações fluem com espontaneidade? Ou um conferencista com ideias que borbulham ao sabor do momento e de sua inspiração? Assisti a uma conferência do Amyr Klink. No princípio, ele nem sabia bem o que iria dizer, mas, ao cabo de alguns minutos, as ideias magicamente se juntaram, compondo uma apresentação brilhante. Nossa cultura valoriza as artes da improvisação, seja no palco, seja nos repentistas do Nordeste, seja nas salas de aula. Genial é aquilo que brota da mente criativa, sem as peias do ensaio e da preparação exaustiva. Só que não é bem assim. A arte da improvisação é uma farsa. Os mais notáveis improvisadores são os que mais se preparam. Amyr Klink planeja detalhadamente as suas expedições e ensina isso a executivos. Será que a aparência de improvisação não seria parte da preparação e do charme?

Os cômicos e os repentistas improvisam sobre linhas que já praticaram. Como disse sua filha, para Fernanda Montenegro, "memorizar uma obra é um ato de loucura, uma luta bestial... é no cansaço e na repetição... que se atinge a tão cobiçada mestria". Marx levou dez anos burilando a forma literária de O Capital. Durante a guerra,. De Gaulle falava pelo rádio para o povo francês. Poderia ler o discurso, quem iria saber? Mas não, era todo decorado, para parecer mais espontâneo. Há uma escola de pintura chinesa em que os quadros são pintados em poucos minutos. Mas, para isso, é preciso praticar por décadas a fio.

Na educação, é a mesma coisa. Richard Feynman, prêmio Nobel de Física, foi um dos homens mais versáteis e brilhantes do século XX. Em suas memórias, descreve o trabalho exaustivo requerido para preparar suas aulas e encontrar bons exemplos e exercícios. Para seu livro (Aula Nota 10), Doug Lemov observou metodicamente como agem os professores americanos mais eficazes do ensino básico. Concluiu que os mestres geniais preparam minuciosamente as suas aulas. Relatos de bons professores brasileiros mostram o mesmo. Esses exemplos contradizem uma seita pedagógica que prega um ensino cujas aulas são "criadas" pelos professores e vocifera contra os livros-texto, passo a passo, que escravizariam o mestre a um script pré-empacotado. O pior dos crimes são cursos que ensinam a usar os livros. Os inimigos prediletos dessa seita são os chamados ''sistemas de ensino", operados pelos sinistros "apostiladores". Não obstante, pesquisas recentes indicam claramente que, nos municípios em que foram adotados tais sistemas, os alunos estão meio ano à frente dos que não os adotaram.

Pensemos bem, os comandantes de aviões Boeing fazem cursos para pilotar o Airbus (ou vice-versa) empregando os detalhadíssimos manuais da fábrica. Se pilotos experientes precisam aprender a manejar os novos equipamentos, por que os professores não teriam de aprender a usar os novos livros? Na verdade, sólida pesquisa mostra que os alunos aprendem mais quando os professores foram instruídos nas artes de utilizar os livros adotados. De duas uma, ou a improvisação é a crença em uma teoria pedagógica totalmente equivocada, ou é a desculpa esfarrapada dos malandros. Sabemos com segurança: quanto mais planejada a aula, mais os alunos aprendem. E, para bem planejar, nada como usar as melhores práticas, acumuladas ao longo dos anos. Pouquíssimos têm ou vocação ou tempo para inventar boas aulas.

Vendo a questão de outro ângulo, a partir da Revolução Industrial, todo o processo produtivo se baseia na divisão de trabalho, para que cada etapa seja feita por quem melhor dominou as suas artes. No caso da educação, alguns são melhores para buscar as maneiras mais eficazes de ensinar, seja regra de três, concordância ou circuitos elétricos. Alguém saberá fazer as melhores ilustrações ou PowerPoints. Sendo difícil preparar provas que puxem pelo intelecto, e não pela decoreba, esse é trabalho para profissionais de testes. Ao contrário do que se pensa, tudo isso pode ser feito por outrem, sem engessar o ensino. Nesse caso, o que mediocriza o ensino são as perguntas improvisadas, que acabam por requerer apenas dotes de memória. Perguntas e exercícios bem concebidos, pelo contrário, podem dar asas à imaginação.

Em suma, quanto melhores e mais detalhados os materiais disponíveis, mais o professor pode se preparar para o momento da aula, ajudando a afastar o Brasil de um ensino catastrófico. E, no fundo, a aula é o elo mais nobre e crítico do processo de ensino.

(Claudio de Moura Castro. Veja, 12/01/2011. p. 24.)

Em que opção a substituição do elemento sublinhado pelo conector indicado mantém a coesão e a coerência da frase?

 

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1304253 Ano: 2011
Disciplina: Português
Banca: Marinha
Orgão: Marinha

Trouxeste a chave?

Queremos sempre chegar ao coração das coisas. Nunca chegamos e é melhor que seja assim. No coração das coisas estão os loucos, que fitam uma realidade limpa e iluminada, sem nuances e sem consolo. Os loucos não suportam a ideia de que viver é rondar as coisas, é dançar em torno delas. Às vezes lhes roçamos a face, por outras lhes roubamos pequenos nacos. Nunca realmente as possuímos.

Uma excelente metáfora para esta prudente distância é o véu de Ísis, aquele que, dizia a deusa egípcia, nenhum mortal ousou levantar. Nunca encaramos o rosto da realidade, ficamos sempre à distância, na periferia. É estranho o mundo em que vivemos: um mundo sem centro, como um rio que não tivesse águas, mas apenas margens. Em consequência, todo esforço de conhecimento, de leitura do mundo, não passa de uma lenta e interminável ronda em torno de um enigma.

Resta-nos uma "leitura cerrada" da realidade. Uma leitura que se agarra às coisas como um leão que finca suas garras no pescoço da vítima, ou em seu lombo, sem, no entanto, lhe devorar as vísceras, sem chegar a seu coração.[...].

(CASTELO, José. o Globo, Prosa e verso, 12 jun., 2010. p.4.)

Em que opção o termo destacado possui função diferente da dos demais?

 

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1301748 Ano: 2011
Disciplina: Português
Banca: Marinha
Orgão: Marinha

Escrever

Começa com a gramática e acaba na cama

A estudante perguntou como era essa coisa de escrever. Eu fiz gênero fofo. Moleza, disse.

Primeiro, evite estes coloquialismos de "fofo" e "moleza", passe longe das gírias ainda não dicionarizadas e de todo mais que soe mais falado do que escrito. Isso aqui não é rádio FM. De vez em quando, para não acharem que você mora trancado com o Domingos Paschoal Cegalla ou outro gramático de chicote, aplique uma gíria como se fosse um piparote de leve no cangote do texto, mas, em geral, evite. Fuja dessas rimas bobinhas, desses motes sonoros. O leitor pode se achar diante de um rapper frustrado e dar cambalhotas. Mas, atenção, se soar muito escrito, reescreva.

Quando quiser aplicar um "mas", tome fôlego, ligue para o 0800 do Instituto Fernando Pessoa, peça autorização ao bispo de plantão e, por favor, volte atrás. É um cacoete facilitador. Dele deve ter vindo a expressão "cheio de mas-mas", ou seja, uma pessoa cheia de "não é bem assim", uma chata que usa o truque de afirmar e depois, como se fosse estilo, obtemperar.

Não tergiverse, não diga palavras complicadas, não escreva nas entrelinhas. Seja acima de tudo afirmativo, reto no assunto. Nada de passar páginas descrevendo o clima da estação, esse aborrecimento suportável apenas quando vemos as curvas da Garota do Tempo recortadas contra o chroma-key do "Jornal Nacional".

Abaixo o prólogo com a lente aberta, nada daquelas observações sensíveis sobre a paisagem e, a não ser que você seja Dashiell Hammett ou o Raymond Chandler, esqueça o queixo quadrado do bandido ou a descrição pormenorizada dos personagens. Corte o que for possível. Depois dê uma de Raymond Carver e, nem aí para os pruridos da vaidade, mande o resto para o editor acabar de cortar. Sempre cabe uma linha a menos no texto, é o efeito Rexona aplicado na axila gramatical.

Evite essas metáforas complicadas, passe por cima de expressões como "em geral", como está no primeiro parágrafo, pois elas têm a mesma função-paralelepípedo dos parênteses, dos travessões. Chute para fora da página tudo mais que faça as pessoas tropeçarem na leitura ou darem aquela ré em busca do verdadeiro sentido da frase que passou. Deixe tudo em pratos limpos, sem tamanho lugar-comum. Ouça a voz do flanelinha semântico gritando a chave para o bom texto. "Deixa solto, doutor."

É mais ou menos por aí, eu disse para a menina que me perguntou como é essa coisa de escrever.

Para sinalizar o trânsito das ideias, use apenas o ponto e a vírgula, nunca juntos. Faça com que o primeiro chegue logo, e a outra apareça o mínimo possível. Vista Hemingway, só frases curtas. Ouça João Cabral, nada de perfumar a rosa com adjetivos. Mergulhe Rubem Braga, palavras, de preferência com até três sílabas. "Pormenorizada", vista acima, é palavrão absoluto. Dispense, sem pormenores.

O texto deve correr sem obstáculos, interjeições, dois pontos, reticências e sinais que só confundem o passageiro que quer chegar logo ao ponto final. Cuidado com o "que quer" da frase anterior, pois da plateia um gaiato pode ecoar um "quequerequé" e estará coberto de razão quando lhe aparecer um clichê desses pela frente.

Você já se livrou do "mas", agora vai cuidar do "que" e em breve ficará livre da tentação de sofisticar o texto com uma expressão estrangeira. É out. Escreva em português. Aproveite e diga ao diagramador para colocar o título da matéria na horizontal e não de cabeça para baixo, como está na moda, como se estivesse num jornal japonês.

Pode-se escrever baixinho, como faz o Veríssimo, que ouviu muito Mario Reis para chegar àquela perfeição de texto de câmara. Outra opção é desabafar pelos cinco mil alto-falantes o que lhe vai na pena da alma, como faz o Xico Sá, que aprendeu a escrever com o Waldick Soriano. Escreva com a sonoridade que lhe aprouver, nunca com cacófatos assim ou verbos que façam o leitor perguntar para o vizinho do lado que maluquice é essa de "aprouver". Fuja da voz passiva, da forma negativa, do gerundismo e principalmente da voz dos

outros. Se falo fino, se falo grosso, ninguém tem nada com isso. O orgulho do próprio "falo", e fazê-lo firme e com charme, é uma das chaves do ofício.

De vez em quando, abra um parágrafo para o leitor respirar. Alguns deles têm mania de pegar o bonde no meio do caminho e, com mais parágrafos abertos, mais possibilidades de ele embarcar na viagem que o texto oferece. Escrever é dar carona.

Eu disse isso e outro tanto do mesmo para a menina. Jamais afirmei, jamais expliquei, jamais contei ou usei qualquer outro verbo de carregação da frase que não fosse o dizer. Evitei também qualquer advérbio em seguida, como "enfaticamente", "seriamente" ou "bem-humoradamente". Antes do ponto final, eu disse para a menina que tantas regras, e outras tantas a serem ditas num próximo encontro, serviam apenas de lençol. Elas forram o texto, deixam tudo limpo e dão conforto. Escrever é desarrumar a cama.

(SANTOS, Joaquim Ferreira dos. O Globo, Segundo Caderno, 10

jan., 2011. p. 10)

Ao aconselhar a menina a fugir "da voz passiva [...] e principalmente da voz dos outros." (11 º §), o autor faz referência a que recurso linguístico?

 

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1296247 Ano: 2011
Disciplina: Português
Banca: Marinha
Orgão: Marinha

Trouxeste a chave?

Queremos sempre chegar ao coração das coisas. Nunca chegamos e é melhor que seja assim. No coração das coisas estão os loucos, que fitam uma realidade limpa e iluminada, sem nuances e sem consolo. Os loucos não suportam a ideia de que viver é rondar as coisas, é dançar em torno delas. Às vezes lhes roçamos a face, por outras lhes roubamos pequenos nacos. Nunca realmente as possuímos.

Uma excelente metáfora para esta prudente distância é o véu de Ísis, aquele que, dizia a deusa egípcia, nenhum mortal ousou levantar. Nunca encaramos o rosto da realidade, ficamos sempre à distância, na periferia. É estranho o mundo em que vivemos: um mundo sem centro, como um rio que não tivesse águas, mas apenas margens. Em consequência, todo esforço de conhecimento, de leitura do mundo, não passa de uma lenta e interminável ronda em torno de um enigma.

Resta-nos uma "leitura cerrada" da realidade. Uma leitura que se agarra às coisas como um leão que finca suas garras no pescoço da vítima, ou em seu lombo, sem, no entanto, lhe devorar as vísceras, sem chegar a seu coração.[...].

(CASTELO, José. o Globo, Prosa e verso, 12 jun., 2010. p.4.)

Que conector pode unir os dois últimos períodos do primeiro parágrafo, mantendo-se a coesão e a coerência?

 

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564576 Ano: 2011
Disciplina: Português
Banca: Marinha
Orgão: Marinha

Escrever

Começa com a gramática e acaba na cama

A estudante perguntou como era essa coisa de escrever. Eu fiz gênero fofo. Moleza, disse.

Primeiro, evite estes coloquialismos de "fofo" e "moleza", passe longe das gírias ainda não dicionarizadas e de todo mais que soe mais falado do que escrito. Isso aqui não é rádio FM. De vez em quando, para não acharem que você mora trancado com o Domingos Paschoal Cegalla ou outro gramático de chicote, aplique uma gíria como se fosse um piparote de leve no cangote do texto, mas, em geral, evite. Fuja dessas rimas bobinhas, desses motes sonoros. O leitor pode se achar diante de um rapper frustrado e dar cambalhotas. Mas, atenção, se soar muito escrito, reescreva.

Quando quiser aplicar um "mas", tome fôlego, ligue para o 0800 do Instituto Fernando Pessoa, peça autorização ao bispo de plantão e, por favor, volte atrás. É um cacoete facilitador. Dele deve ter vindo a expressão "cheio de mas-mas", ou seja, uma pessoa cheia de "não é bem assim", uma chata que usa o truque de afirmar e depois, como se fosse estilo, obtemperar.

Não tergiverse, não diga palavras complicadas, não escreva nas entrelinhas. Seja acima de tudo afirmativo, reto no assunto. Nada de passar páginas descrevendo o clima da estação, esse aborrecimento suportável apenas quando vemos as curvas da Garota do Tempo recortadas contra o chroma-key do "Jornal Nacional".

Abaixo o prólogo com a lente aberta, nada daquelas observações sensíveis sobre a paisagem e, a não ser que você seja Dashiell Hammett ou o Raymond Chandler, esqueça o queixo quadrado do bandido ou a descrição pormenorizada dos personagens. Corte o que for possível. Depois dê uma de Raymond Carver e, nem aí para os pruridos da vaidade, mande o resto para o editor acabar de cortar. Sempre cabe uma linha a menos no texto, é o efeito Rexona aplicado na axila gramatical.

Evite essas metáforas complicadas, passe por cima de expressões como "em geral", como está no primeiro parágrafo, pois elas têm a mesma função-paralelepípedo dos parênteses, dos travessões. Chute para fora da página tudo mais que faça as pessoas tropeçarem na leitura ou darem aquela ré em busca do verdadeiro sentido da frase que passou. Deixe tudo em pratos limpos, sem tamanho lugar-comum. Ouça a voz do flanelinha semântico gritando a chave para o bom texto. "Deixa solto, doutor."

É mais ou menos por aí, eu disse para a menina que me perguntou como é essa coisa de escrever.

Para sinalizar o trânsito das ideias, use apenas o ponto e a vírgula, nunca juntos. Faça com que o primeiro chegue logo, e a outra apareça o mínimo possível. Vista Hemingway, só frases curtas. Ouça João Cabral, nada de perfumar a rosa com adjetivos. Mergulhe Rubem Braga, palavras, de preferência com até três sílabas. "Pormenorizada", vista acima, é palavrão absoluto. Dispense, sem pormenores.

O texto deve correr sem obstáculos, interjeições, dois pontos, reticências e sinais que só confundem o passageiro que quer chegar logo ao ponto final. Cuidado com o "que quer" da frase anterior, pois da plateia um gaiato pode ecoar um "quequerequé" e estará coberto de razão quando lhe aparecer um clichê desses pela frente.

Você já se livrou do "mas", agora vai cuidar do "que" e em breve ficará livre da tentação de sofisticar o texto com uma expressão estrangeira. É out. Escreva em português. Aproveite e diga ao diagramador para colocar o título da matéria na horizontal e não de cabeça para baixo, como está na moda, como se estivesse num jornal japonês.

Pode-se escrever baixinho, como faz o Veríssimo, que ouviu muito Mario Reis para chegar àquela perfeição de texto de câmara. Outra opção é desabafar pelos cinco mil alto-falantes o que lhe vai na pena da alma, como faz o Xico Sá, que aprendeu a escrever com o Waldick Soriano. Escreva com a sonoridade que lhe aprouver, nunca com cacófatos assim ou verbos que façam o leitor perguntar para o vizinho do lado que maluquice é essa de "aprouver". Fuja da voz passiva, da forma negativa, do gerundismo e principalmente da voz dos

outros. Se falo fino, se falo grosso, ninguém tem nada com isso. O orgulho do próprio "falo", e fazê-lo firme e com charme, é uma das chaves do ofício.

De vez em quando, abra um parágrafo para o leitor respirar. Alguns deles têm mania de pegar o bonde no meio do caminho e, com mais parágrafos abertos, mais possibilidades de ele embarcar na viagem que o texto oferece. Escrever é dar carona.

Eu disse isso e outro tanto do mesmo para a menina. Jamais afirmei, jamais expliquei, jamais contei ou usei qualquer outro verbo de carregação da frase que não fosse o dizer. Evitei também qualquer advérbio em seguida, como "enfaticamente", "seriamente" ou "bem-humoradamente". Antes do ponto final, eu disse para a menina que tantas regras, e outras tantas a serem ditas num próximo encontro, serviam apenas de lençol. Elas forram o texto, deixam tudo limpo e dão conforto. Escrever é desarrumar a cama.

(SANTOS, Joaquim Ferreira dos. O Globo, Segundo Caderno, 10

jan., 2011. p. 10)

"Fuja da voz passiva, da forma negativa, do gerundismo e principalmente da voz dos outros." (11º §). Que opção CONTRADIZ a recomendação expressa nesta passagem?

 

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528109 Ano: 2011
Disciplina: Português
Banca: Marinha
Orgão: Marinha

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Começa com a gramática e acaba na cama

A estudante perguntou como era essa coisa de escrever. Eu fiz gênero fofo. Moleza, disse.

Primeiro, evite estes coloquialismos de "fofo" e "moleza", passe longe das gírias ainda não dicionarizadas e de todo mais que soe mais falado do que escrito. Isso aqui não é rádio FM. De vez em quando, para não acharem que você mora trancado com o Domingos Paschoal Cegalla ou outro gramático de chicote, aplique uma gíria como se fosse um piparote de leve no cangote do texto, mas, em geral, evite. Fuja dessas rimas bobinhas, desses motes sonoros. O leitor pode se achar diante de um rapper frustrado e dar cambalhotas. Mas, atenção, se soar muito escrito, reescreva.

Quando quiser aplicar um "mas", tome fôlego, ligue para o 0800 do Instituto Fernando Pessoa, peça autorização ao bispo de plantão e, por favor, volte atrás. É um cacoete facilitador. Dele deve ter vindo a expressão "cheio de mas-mas", ou seja, uma pessoa cheia de "não é bem assim", uma chata que usa o truque de afirmar e depois, como se fosse estilo, obtemperar.

Não tergiverse, não diga palavras complicadas, não escreva nas entrelinhas. Seja acima de tudo afirmativo, reto no assunto. Nada de passar páginas descrevendo o clima da estação, esse aborrecimento suportável apenas quando vemos as curvas da Garota do Tempo recortadas contra o chroma-key do "Jornal Nacional".

Abaixo o prólogo com a lente aberta, nada daquelas observações sensíveis sobre a paisagem e, a não ser que você seja Dashiell Hammett ou o Raymond Chandler, esqueça o queixo quadrado do bandido ou a descrição pormenorizada dos personagens. Corte o que for possível. Depois dê uma de Raymond Carver e, nem aí para os pruridos da vaidade, mande o resto para o editor acabar de cortar. Sempre cabe uma linha a menos no texto, é o efeito Rexona aplicado na axila gramatical.

Evite essas metáforas complicadas, passe por cima de expressões como "em geral", como está no primeiro parágrafo, pois elas têm a mesma função-paralelepípedo dos parênteses, dos travessões. Chute para fora da página tudo mais que faça as pessoas tropeçarem na leitura ou darem aquela ré em busca do verdadeiro sentido da frase que passou. Deixe tudo em pratos limpos, sem tamanho lugar-comum. Ouça a voz do flanelinha semântico gritando a chave para o bom texto. "Deixa solto, doutor."

É mais ou menos por aí, eu disse para a menina que me perguntou como é essa coisa de escrever.

Para sinalizar o trânsito das ideias, use apenas o ponto e a vírgula, nunca juntos. Faça com que o primeiro chegue logo, e a outra apareça o mínimo possível. Vista Hemingway, só frases curtas. Ouça João Cabral, nada de perfumar a rosa com adjetivos. Mergulhe Rubem Braga, palavras, de preferência com até três sílabas. "Pormenorizada", vista acima, é palavrão absoluto. Dispense, sem pormenores.

O texto deve correr sem obstáculos, interjeições, dois pontos, reticências e sinais que só confundem o passageiro que quer chegar logo ao ponto final. Cuidado com o "que quer" da frase anterior, pois da plateia um gaiato pode ecoar um "quequerequé" e estará coberto de razão quando lhe aparecer um clichê desses pela frente.

Você já se livrou do "mas", agora vai cuidar do "que" e em breve ficará livre da tentação de sofisticar o texto com uma expressão estrangeira. É out. Escreva em português. Aproveite e diga ao diagramador para colocar o título da matéria na horizontal e não de cabeça para baixo, como está na moda, como se estivesse num jornal japonês.

Pode-se escrever baixinho, como faz o Veríssimo, que ouviu muito Mario Reis para chegar àquela perfeição de texto de câmara. Outra opção é desabafar pelos cinco mil alto-falantes o que lhe vai na pena da alma, como faz o Xico Sá, que aprendeu a escrever com o Waldick Soriano. Escreva com a sonoridade que lhe aprouver, nunca com cacófatos assim ou verbos que façam o leitor perguntar para o vizinho do lado que maluquice é essa de "aprouver". Fuja da voz passiva, da forma negativa, do gerundismo e principalmente da voz dos

outros. Se falo fino, se falo grosso, ninguém tem nada com isso. O orgulho do próprio "falo", e fazê-lo firme e com charme, é uma das chaves do ofício.

De vez em quando, abra um parágrafo para o leitor respirar. Alguns deles têm mania de pegar o bonde no meio do caminho e, com mais parágrafos abertos, mais possibilidades de ele embarcar na viagem que o texto oferece. Escrever é dar carona.

Eu disse isso e outro tanto do mesmo para a menina. Jamais afirmei, jamais expliquei, jamais contei ou usei qualquer outro verbo de carregação da frase que não fosse o dizer. Evitei também qualquer advérbio em seguida, como "enfaticamente", "seriamente" ou "bem-humoradamente". Antes do ponto final, eu disse para a menina que tantas regras, e outras tantas a serem ditas num próximo encontro, serviam apenas de lençol. Elas forram o texto, deixam tudo limpo e dão conforto. Escrever é desarrumar a cama.

(SANTOS, Joaquim Ferreira dos. O Globo, Segundo Caderno, 10

jan., 2011. p. 10)

Essencialmente, segundo o autor, escrever é

 

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527093 Ano: 2011
Disciplina: Português
Banca: Marinha
Orgão: Marinha

Escrever

Começa com a gramática e acaba na cama

A estudante perguntou como era essa coisa de escrever. Eu fiz gênero fofo. Moleza, disse.

Primeiro, evite estes coloquialismos de "fofo" e "moleza", passe longe das gírias ainda não dicionarizadas e de todo mais que soe mais falado do que escrito. Isso aqui não é rádio FM. De vez em quando, para não acharem que você mora trancado com o Domingos Paschoal Cegalla ou outro gramático de chicote, aplique uma gíria como se fosse um piparote de leve no cangote do texto, mas, em geral, evite. Fuja dessas rimas bobinhas, desses motes sonoros. O leitor pode se achar diante de um rapper frustrado e dar cambalhotas. Mas, atenção, se soar muito escrito, reescreva.

Quando quiser aplicar um "mas", tome fôlego, ligue para o 0800 do Instituto Fernando Pessoa, peça autorização ao bispo de plantão e, por favor, volte atrás. É um cacoete facilitador. Dele deve ter vindo a expressão "cheio de mas-mas", ou seja, uma pessoa cheia de "não é bem assim", uma chata que usa o truque de afirmar e depois, como se fosse estilo, obtemperar.

Não tergiverse, não diga palavras complicadas, não escreva nas entrelinhas. Seja acima de tudo afirmativo, reto no assunto. Nada de passar páginas descrevendo o clima da estação, esse aborrecimento suportável apenas quando vemos as curvas da Garota do Tempo recortadas contra o chroma-key do "Jornal Nacional".

Abaixo o prólogo com a lente aberta, nada daquelas observações sensíveis sobre a paisagem e, a não ser que você seja Dashiell Hammett ou o Raymond Chandler, esqueça o queixo quadrado do bandido ou a descrição pormenorizada dos personagens. Corte o que for possível. Depois dê uma de Raymond Carver e, nem aí para os pruridos da vaidade, mande o resto para o editor acabar de cortar. Sempre cabe uma linha a menos no texto, é o efeito Rexona aplicado na axila gramatical.

Evite essas metáforas complicadas, passe por cima de expressões como "em geral", como está no primeiro parágrafo, pois elas têm a mesma função-paralelepípedo dos parênteses, dos travessões. Chute para fora da página tudo mais que faça as pessoas tropeçarem na leitura ou darem aquela ré em busca do verdadeiro sentido da frase que passou. Deixe tudo em pratos limpos, sem tamanho lugar-comum. Ouça a voz do flanelinha semântico gritando a chave para o bom texto. "Deixa solto, doutor."

É mais ou menos por aí, eu disse para a menina que me perguntou como é essa coisa de escrever.

Para sinalizar o trânsito das ideias, use apenas o ponto e a vírgula, nunca juntos. Faça com que o primeiro chegue logo, e a outra apareça o mínimo possível. Vista Hemingway, só frases curtas. Ouça João Cabral, nada de perfumar a rosa com adjetivos. Mergulhe Rubem Braga, palavras, de preferência com até três sílabas. "Pormenorizada", vista acima, é palavrão absoluto. Dispense, sem pormenores.

O texto deve correr sem obstáculos, interjeições, dois pontos, reticências e sinais que só confundem o passageiro que quer chegar logo ao ponto final. Cuidado com o "que quer" da frase anterior, pois da plateia um gaiato pode ecoar um "quequerequé" e estará coberto de razão quando lhe aparecer um clichê desses pela frente.

Você já se livrou do "mas", agora vai cuidar do "que" e em breve ficará livre da tentação de sofisticar o texto com uma expressão estrangeira. É out. Escreva em português. Aproveite e diga ao diagramador para colocar o título da matéria na horizontal e não de cabeça para baixo, como está na moda, como se estivesse num jornal japonês.

Pode-se escrever baixinho, como faz o Veríssimo, que ouviu muito Mario Reis para chegar àquela perfeição de texto de câmara. Outra opção é desabafar pelos cinco mil alto-falantes o que lhe vai na pena da alma, como faz o Xico Sá, que aprendeu a escrever com o Waldick Soriano. Escreva com a sonoridade que lhe aprouver, nunca com cacófatos assim ou verbos que façam o leitor perguntar para o vizinho do lado que maluquice é essa de "aprouver". Fuja da voz passiva, da forma negativa, do gerundismo e principalmente da voz dos

outros. Se falo fino, se falo grosso, ninguém tem nada com isso. O orgulho do próprio "falo", e fazê-lo firme e com charme, é uma das chaves do ofício.

De vez em quando, abra um parágrafo para o leitor respirar. Alguns deles têm mania de pegar o bonde no meio do caminho e, com mais parágrafos abertos, mais possibilidades de ele embarcar na viagem que o texto oferece. Escrever é dar carona.

Eu disse isso e outro tanto do mesmo para a menina. Jamais afirmei, jamais expliquei, jamais contei ou usei qualquer outro verbo de carregação da frase que não fosse o dizer. Evitei também qualquer advérbio em seguida, como "enfaticamente", "seriamente" ou "bem-humoradamente". Antes do ponto final, eu disse para a menina que tantas regras, e outras tantas a serem ditas num próximo encontro, serviam apenas de lençol. Elas forram o texto, deixam tudo limpo e dão conforto. Escrever é desarrumar a cama.

(SANTOS, Joaquim Ferreira dos. O Globo, Segundo Caderno, 10

jan., 2011. p. 10)

"O texto deve correr sem obstáculos, interjeições, dois pontos, reticências e sinais que só confundem o passageiro que quer chegar logo ao ponto final." (9º §). Em que opção a classificação apresentada está correta?

 

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