Magna Concursos
790122 Ano: 2015
Disciplina: Português
Banca: FEPESE
Orgão: Câm. Içara-SC
Texto
Se bem os jornais não tenham noticiado, em um pequeno município de um estado brasileiro, um burro, por sinal de nome Tonare, conhecido e estimado por todos, de repente caiu num estado de angústia profunda. O medo devorava-lhe a alma sensitiva. Considerava-se tolerado, criticado, espezinhado. Tornou-se agressivo e, porque sua agressividade era intolerável, o chicote de titio descia-lhe solto pelas ancas roliças.
Sábado de manhã, talvez por não se sentir amado, deixou-se ficar budamente imóvel no meio do pasto. Tonare parecia uma estátua asinina com o olhar devorando distâncias.
— Está doente, disse titia, chamem o veterinário.
O veterinário veio, fez-lhe um check-up e, embora não tivesse conseguido que o burro virasse um nadinha a cabeça, concluiu: o animal está com perfeita saúde física. A mim me parece que deva existir um problema psicológico com ele. Mandem vir um psicólogo da Universidade.
Após a conclusão clínica do veterinário, titio tentou solucionar o problema psicológico do burro com uma série de relhadas que arrancavam pelos das nádegas redondas de Tonare. E Tonare, hirto.
Domingo amanheceu com a peregrinação VERO-BURRO. E da turba que aí estava saltavam os mais disparatados palpites:
— Foi o sol. Quem não sabe das emoções provocadas pelo sol?
— Isto é feitiçaria antitelepática. Olhem os nós na cauda e na crina.
— Burro sempre empaca. Aí está faltando chibata.
— Mas não vês que está perdendo sangue, o coitado, de tanto que apanhou?
E piedosas mulheres, enquanto lhe ofereciam pratadas de milho, mãozadas de alfafa, espigas de arroz, bacias de água fresca, deitavam-lhe beijos estalados na testa, e Tonare, em sua impassibilidade, nem se dignava arregaçar os beiços para comer, nem mexer os olhos para agradecer.
[…]
Foi pela tardinha que a professora do lugar chegou e enquanto todo mundo abria alas à aproximação da mestra, ela, a querida e amada de todos, disse: deixem comigo que eu vou dar um jeito nesse burro. Afastem-se bastante dele.
Com aquele jeitinho que só as mestras do interior possuem, aproximou-se do burro, inclinou-se amorosamente sobre um dos seus ouvidos e sussurrou-lhe…
O burro começou a estourar em relinchos, a virar a cabeça para todos os lados, a vibrar a cauda numa alegria embriagadora.
— Que disse? Que disse a ele, professora?! Diga-nos, santa, que disse?
E a mestra, alegando que o tratamento estava incompleto, achega-se de novo a Tonare e mais uma vez bisbilha-lhe…
O burro começou, então, a chorar desesperadamente, a bater nervosérrimo as patas no chão e a retorcer-se todo num desconsolo incrível.
— Que disse? Que disse agora? Por que não fala? Mestra, quer nos matar a todos de ansiedade?
E a professora, alegando de novo o tratamento não estar completo, sussurrou pela terceira vez ao ouvido de Tonare.
E Tonare, como alucinado, estonteado, levanta mais a cabeça, fixa o além-horizonte e desenrola uma corrida. Arrebenta a cerca, sangra e corre, corre e perde-se numa colina ao longe.
— Professora! Professora!
Esperavam-se os vivas e os aplausos, mas não vieram. O estupor tomou conta de todos.
Foi aí que a professora, com um sorriso ótimo-com-louvor, resolveu dar a chave do mistério. Mandou que todos se aproximassem dela:
— Quando me aproximei a primeira vez do burro, eu simplesmente disse a ele que eu era professora e a reação todos viram. Da segunda vez, disse a Tonare o quanto eu ganhava por mês, e aí ele chorou. Da terceira vez, pedi a ele que me substituísse e então…
Fonte: CURI, José. A Professora e o Burro. In: Juca Jacu & Cia.
Florianópolis: Lunardelli/Editora da UDESC, 1979, p. 62-65.
(Adaptado)
Identifique abaixo as afirmativas verdadeiras ( V ) e as falsas ( F ) de acordo com o texto.
( ) O veterinário foi chamado somente porque o burro estava muito agressivo.
( ) Por “deixou-se ficar budamente imóvel no pasto” entende-se que o burro ficou em estado de profunda apatia.
( ) O burro estava apanhando quando o psicólogo chegou.
( ) A palavra “aí”, em “Foi aí que a professora…”, (penúltimo parágrafo) poderia ser substituída por “então”, sem prejuízo do sentido do texto ou da norma culta da língua portuguesa escrita.
( ) O pronome “lhe”, em “bisbilha-lhe”, refere-se ao burro.
Assinale a alternativa que indica a sequência correta, de cima para baixo.
 

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