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1343161 Ano: 2013
Disciplina: Português
Banca: FAUEL
Orgão: Câm. Guaratuba-PR
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OLHADOR DE ANÚNCIO
Eis que se o inverno, pelo menos nas revistas, cheias de anúncios de cobertores, lãs e malhas. O que é o desenvolvimento! Em outros tempos, se o indivíduo sentia frio passava na loja, e adquiria os seus agasalhos. Hoje são os agasalhos que lhe batem à porta, em belas mensagens coloridas.
E nunca vêm sós. O cobertor traz consigo uma linda mulher, que se apresta para se recolher de sua nova “textura antialérgica”, e a legenda: “Nosso cobertor aquece os corpos de quem já tem o coração quente.” A mulher parece convidar-nos: “Venha também”. Ficamos perturbados. Faz calor, um calor daqueles. Mas a página instala imediatamente o inverno, e sentimo-nos na aflita necessidade de proteger o irmão corpo sob a maciez desse cobertor, e...
Não. A mulher absolutamente não faz parte do cobertor, que é que o senhor estava pensando? Nem adianta telefonar para a loja ou para a agência de publicidade, pedindo o endereço da moça do cobertor antialérgico de textura nova. Modelo fotográfico é categoria profissional respeitável, como outra qualquer. Tome juízo, amigo. E leve só o cobertor.
São decepções de olhador de anúncios. Em cada anúncio uma sugestão erótica. Identificam-se o produto e o ser humano. A tônica do interesse recai sobre este último. É logo desviada para aquele. Operada a transferência, fecha-se o negócio. O erotismo fica sendo agente de vendas.
Mas sempre é bom tomar conhecimento das mensagens, passada a frustração. É o mundo visto através da arte de vender. “As lojas tal fazem tudo por amor.” Já sabemos, pela estória do cobertor mulher (uma palavra só) que esse tudo é muito relativo. “Em nossas vitrinas a japona é irresistível.” Então, precavidos, não passaremos diante das vitrinas. E essa outra mensagem é, mesmo, de alta prudência: “Aprenda a ver com dois olhos.” Precisamos deles para navegar na maré de surrealismo que cobre outro setor da publicidade: “Na liquidação nacional, a casa x tritura preços.” Os preços virando pó, num país inteiramente líquido: vejam a força da imagem. Rara espécie animal aparece de repente: “Comprar na loja y é super galinha morta.”
O olhador sente o prazer de novas associações de coisas, animais e pessoas; e esse prazer é poético. Quem disse que a poesia anda desvalorizada? A bossa dos anúncios prova o contrário. E ao vender-nos qualquer mercadoria, eles nos dão de presente “algo mais”, que é produto da imaginação e tem serventia, como as coisas concretas, que também de pão abstrato se nutre o homem.
(Carlos Drummond de Andrade. O poder ultrajovem e mais 79 textos em prosa e verso. Rio de Janeiro, José Olympio, 1982)
Em relação à coesão construída no texto, marque (V) para as afirmativas verdadeiras e (F) para as falsas:
( ) Em: “que lhe batem à porta”. o pronome “lhe” remete a indivíduos que sentia frio em outros tempos.
( ) O conector “Mas” relaciona uma ideia adversa à outra já dita.
( ) O conector “Mas sempre” soma argumentos explicativos a ideia anteriormente exposta.
( ) Em “como outra qualquer" o elemento coesivo estabelece relação específica de explicação.
Assinale a alternativa que apresenta a sequência correta de cima para baixo:
 

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