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O Prêmio

Cláudio e Vera tinham uma filha de quase um ano. Um dia, conversando, Vera falou que desejava ter mais filhos. Ele, disfarçando a resistência, dizia:

– Claro, mais pra frente, quem sabe.

Ela, firme, argumentava que “mais pra frente” até tudo bem, mas queria mais duas crianças, para pelo menos completarem três. Era uma conversa descontraída, nenhum acordo seria firmado e ninguém estava no cartório.

De repente, a verdade nua e crua era uma só e Vera tinha que dizer:

– Quer saber? Eu preciso ter mais filhos e pronto.

– Como assim? – ele respondeu, intrigado.

– Olha, eu sonhava em viajar para África, cuidar dos pobres, sonhava em descobrir a cura de alguma doença, ser astronauta, magnata ou presidente, e já não fui nada disso.

Ele começou a andar devagar, atento. Ela continuava:

– Eu queria fazer coisas grandiosas na minha vida, mas, veja, tenho só uma filha. Se fosse para não ter filhos, eu queria, no mínimo, um prêmio Nobel. E preferencialmente da Paz. Eu não fui Nobel nem serei. Também não vou parar em Hollywood. Quero filhos. Quero ensinar alguém a falar “obrigado”, “por favor”, “me desculpe”. Isso sim é grandioso, isso é o que eu posso fazer ainda pela vida, pela humanidade, entende?

Cláudio não respondeu, mas Vera notou que ele esboçou um sorriso, calado, enquanto empurrava o carrinho da pequena filha. Tempos depois, algumas horas antes de nascer o segundo filho do casal, Vera teve a impressão de ter sido premiada com algo muito maior que o Nobel da Paz. Sentia aquele misto de alegria e susto, excitação e pânico, uma tempestade doce e intensa, que só aqueles que fizeram coisas grandiosas puderam conhecer.

(Kika Coutinho. In: http://crondia.blogspot.com . 29.12.2011. Adaptado)

O título do texto, juntamente com o último parágrafo, confirmam a ideia de que o prêmio refere-se