Texto II
A graça da vida é não saber. Fica sereno quem
arruma, com os entes e as coisas, o seu museu de
encantamentos. Sem fichas. Nunca que eu quis
explicações sobre o que eu tenho sentido. Vejo os
5 meus sonhos. Ouço as minhas músicas. Ando pelos
meus jardins. Dou à minha gulodice o prazer que ela me
fantasia. Estas mãos, tantas vezes pousadas em livros,
em flores, em outros alimentos terrestres, continuam
mãos abertas a todas as surpresas. Um dia, na praia, o
10 cavalheiro erudito, indo até lá, como disse: “para sorver
o ar isolado”, porque me encontrou adorando a cor do
céu, logo se manifestou: — Sabe por que é azul a cor
do céu?— Confessei humilde: — Não. E não me conte,
pelo amor de Deus!
MOREYRA, Álvaro. As amargas, não. RJ: Editora Lux, 2ª ed., 1955
Assinale a frase com que o narrador apresenta para si próprio a conseqüência de "A graça da vida é não saber." (l. 1).