Leia o texto para responder à questão.
Aos quarenta anos, depois de três casamentos e incontáveis namoros, Mara se considerava uma mulher preparada para enfrentar as surpresas da vida. Não tenho medo do desconhecido, dizia às amigas. Assim, não estranhou quando, num bar, o rapaz começou a olhá-la de maneira insistente e sedutora. Era um legítimo gatão, como se dizia antigamente. Com um gesto, convidou-o para sua mesa.
Ele veio, chamava-se André. Descreveu-se como um jovem refinado, que gostava de música, cinema, que tinha viajado muito e que estava á espera do grande amor de sua vida.
Ela não acreditou em nada daquilo, naquele momento não estava interessada em qualquer tipo de ligação, mesmo porque daí a dois dias viajaria para o exterior. Esperava que ele fosse embora logo, mas André tinha uma proposta: ali perto havia um restaurante que adotara a moda do jantar de olhos vendados, onde poderiam apreciar aromas e pequenos detalhes da comida, que passam desapercebidos do convencional cliente ou frequentador de restaurante comum.
O primeiro impulso dela foi de recusar o convite, mas jantar de olhos vendados lhe dava a sensação de uma experiência fascinante. Vamos, decidiu. Arrumou-se e foram.
O restaurante, para ela desconhecido, não ficava longe. Era um lugar pequeno, mas cheio de gente. Sentaram, veio o garçom, deu-lhes duas vendas para os olhos e o cardápio. André escolheu um prato sofisticado. O garçom trouxe o prato e eles colocaram as venda nos olhos. Com um sorriso, André fez um pedido: gostaria que comessem em silêncio, sem conversar, para que pudessem se concentrar melhor nos aromas e pequenos detalhes da comida. Maria riu e concordou. E quando, finalmente, terminou de comer, tirou a venda dos olhos.
O rapaz já não estava, havida sumido bem assim a sua bolsa, recheada de dinheiro que levaria na viagem. Suspirou. Tinha aprendido uma lição: no escuro, para provar a melhor comida, todos os gatos, inclusive gatões, são pardos.
(Moarcyr Scliar, Folha de S. Paulo, 08.03.10. Adaptado)
De acordo com o texto, Mara
