Homem gosta é de homem?

- Homem gosta é de homem! disse, corajosamente, o cartunista Miguel Paiva, em um programa de entrevista. É preciso ter peito para se fazer uma declaração dessa em público.

Minha peça de teatro Besame mucho tratava desse assunto: a relação de ternura entre dois homens. Da infância até a maturidade. Antes que alguém viesse dizer que era coisa de homossexual, tive de inventar uma palavra para explicar a relação entre os dois personagens masculinos. A palavra era "homoternurismo" e, para minha infelicidade, até hoje não se incorporou no dicionário.

Mulher é bom, é ótimo, não se discute. Mas que os homens preferem os homens também não se discute. Desde a infância, menino gosta de brincar com menino. Clube do Bolinha. Menina não entra! Na adolescência é a mesma coisa; temos os olhos nos seios e nos bumbuns das meninas, mas no meu time de futebol elas não entravam. Era rapaz de um lado e as meninas, do outro.

A gente casa, ama a esposa, tem filhos, mas não vê a hora de ir para o botequim tomar umas e outras com os amigos. Os amigos do peito. Já notaram que os homens não têm amigas do peito? Têm amigas com peito.

Na hora da confidência mais confidencial, na hora do aperto, é o amigo do peito que está ali. E a gente vai formando o time de amigos eternos e confiáveis.

O domingo, por exemplo, foi feito para se passar com os amigos: o jogo de futebol, os gols na tv, a cervejinha gelada. Mas qual é a mulher que não que ir a um "cineminha" no domingo? Deveria ser proibido mulheres aos domingos, dizia um amigo meu.

Toda esta tese é válida até certa idade - a que estou agora. Aos 50 anos, cheio de amigos e sem nenhuma mulher.

Outro dia, comentava isso com um velho amigo velho 84 anos que me jogou na cara:

- Na velhice você vai ficar chato, intransigente, metódico, sistemático. E não tem amigo do peito para te socorrer. Quem sempre cuidou de você foram as mulheres. Mulheres é o que há, menino! Trate logo de arrumar uma, enquanto você está vivo... E quer saber de uma coisa? Esse papo de homoternurismo, para mim, é coisa de homossexual!

(Mário Prata, in 100 crônicas. Adaptado)